Jornal da Tarde

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

 

Em 1966 o mundo já sabia que a massificação de consumo era coisa do passado e, que boa parte dos produtos e serviços teria que respeitar a segmentação de mercado. Não somente a de preços, mas a de comportamento. Pessoalmente,com 24 anos, iniciava uma nova vida familiar e profissional. De solteiro a casado, de estudante a economista. Atuando no jovem e promissor mundo da moda, ávido por conhecimento, novidades, e viciado em leitura. Sentia falta apenas na informação diária, de um jornal que correspondesse à atualidade em forma e conteúdo. Nesta época música, artes, cinema e teatro mostravam a sua criatividade, num momento de extraordinária ruptura. Talvez em resposta ao regime de força então vigente.

 

E, em quatro de janeiro de 1966 tivemos a surpreendente aparição do Jornal da Tarde. O mais belo e funcional jornal brasileiro. Revolucionário na paginação e no texto. Segundo Mino Carta, seu criador, a inspiração veio do jornalismo em “forma de literatura” surgido nos Estados Unidos na década de 60 com Norman Mailer, Tom Wolfe e Truman Capote, dentre outros. Além disso, era um periódico vespertino, com a proposta de trazer alguma informação nova em relação aos jornais matutinos. Foi assim até 1988 quando a família Mesquita decidiu transformá-lo em matutino com a justificativa de enquadrá-lo em publicação nacional.

 

A proposta de contemporaneidade e de absoluta criatividade dentro dos parâmetros da “literatura” citada por Mino, aliada a uma fotografia artística, não é fácil de ser mantida. Ficar no clássico e tradicional é sempre mais seguro. Dos 46 anos de vida, encerrados no dia 29 de outubro, se nem todos foram bem vividos pelo Jornal da Tarde, ao menos a maioria o foram, e deixaram um vazio. Talvez com a mesma similaridade da música, da arte, do cinema e do teatro que vivemos hoje. Muito menos em função de saudosismo e muito mais uma questão de ciclo. Tom Jobim, Vinicius de Morais, Anselmo Duarte, Glauber Rocha, Nelson Rodrigues deverão surgir numa próxima geração. É o que esperamos. Juntamente, é claro, com um jornal que seduza a geração Z. Ou será A?

 


Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos, e escreve às quartas-feiras, no Blog do Mílton Jung