Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: nem tudo que vale para empresas serve para você

Não basta seguir o manual das grandes corporações se a marca que você quer construir é a sua própria. Branding pessoal não é uma cópia reduzida do branding corporativo. É o que mostra o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, apresentado por Jaime Troiano e Cecília Russo, no Jornal da CBN.

Jaime e Ceícilia alertam que, embora compartilhem algumas diretrizes, o branding de pessoas exige um olhar mais cuidadoso e menos mecanizado. “A marca pessoal nunca nasce do zero. Ela carrega uma herança, por mais jovem que seja”, afirma Cecília Russo, ao lembrar que, diferentemente de uma empresa, uma pessoa já tem identidade, histórico e contradições antes mesmo de pensar em posicionamento.

Outro ponto importante: marcas pessoais envelhecem. Literalmente. Por mais que a comunicação tente manter uma imagem jovem, a passagem do tempo impõe ajustes naturais à narrativa. “Mesmo com todos os esforços, a cronologia da vida muda os atributos de uma marca pessoal”, reforça Cecília. Já a marca corporativa pode durar mais de um século — e continuar atual. Basta lembrar da Coca-Cola.

Jaime Troiano, por sua vez, destaca as semelhanças. Segundo ele, tanto no mundo pessoal quanto no corporativo, é fundamental ter um foco claro. “Não dá para ir mudando a toda hora e deixar seu público sem entender o que esperar de você.” Ele também cita a necessidade de diálogo permanente e da escuta ativa para manter a relação viva com o público, além do cuidado com a reputação. “É saber o que falam de você quando você sai da sala”, diz Jaime, citando a famosa frase de Jeff Bezos.

A marca do Sua Marca

A principal mensagem do quadro desta semana é o equilíbrio: ao construir uma marca pessoal, não basta copiar o modelo corporativo, mas também não se deve rejeitar completamente o que nele funciona. “Pondere e reforce aquilo que faz sentido em cada caso”, recomenda Cecília.

Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso

O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso vai ao ar aos sábados, logo após às 7h50 da manhã, no Jornal da CBN. A apresentação é de Jaime Troiano e Cecília Russo.

Avalanche Tricolor: e a vida depois do túnel?

Grêmio 1 x 0 Vitória

Copa do Brasil —- Arena Grêmio, Porto Alegre

*este não é um texto sobre futebol

Jean Pyerre em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

A  bola mal havia começado a rolar na Arena, e eu ainda tinha compromissos profissionais a cumprir. Online como têm sido todos os que realizo desde o ano passado. Alinhei a tela de dois computadores e mantive um olho no futebol e o outro na mesa redonda. Aliás, uma mesa bem interessante de debate —- bem mais do que o jogo que estava sendo jogado.

Debate rico, pelo tema e pelos convidados. Na série “Paisagens na pandemia”, Jaime Troiano, colega do Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, era o técnico, escalou o time e nos botou a jogar: a Cecília Russo, pelo lado da psicologia; o Emerson Bento, da educação; e o Fernando Jucá, das organizações. Fosse vôlei, eu era o levantador. Como a analogia é com o futebol, sem o talento de Jean Pyerre, mas suando a camisa muito mais do que ele, minha função era distribuir o jogo. Fazer perguntas. Provocar a discussão, no bom sentido.

O jogo que nós estávamos jogando tinha três tempos e nós entramos no terceiro. “Religião e o desamparo humano” pautou o  primeiro capítulo da série, “Casa e família: um reencontro”, o segundo; e a nós ou aos meus companheiros de mesa redonda, coube responder a seguinte pergunta:  “E a vida depois do túnel?”.

Muito mais pela experiência de cada um do que pelas assistências que fiz, Cecília, Emerson e Jucá bateram um bolão, jogaram com  as palavras, fizeram embaixadinhas com o conhecimento e deixaram, cada um do seu jeito, um golaço registrado no placar.

A preleção foi do Jaime que, em lugar de fazer essa pobre analogia com o futebol, nos proporcionou uma viagem ao litoral paulista, em caminho que fazia quando criança, no banco de trás do carro, e para passar o tempo contava quantos túneis havia na estrada. Nunca tinha certeza se haveria, na jornada,  um outro túnel —- alguns intermináveis para ansiedade infantil , como acontece com a gente diante desta pandemia. Lembremos que não é o primeiro túnel que enfrentamos, apesar de ser o mais longo de nossas vidas. Talvez não seja o último, e Jaime chamou atenção para isso e nos propôs pensarmos que lições aprendemos para usarmos assim que este acabar e, quem sabe, um próximo túnel se apresentar.

Cecília aproveitou-se do título de um dos seus livros, “Vida de equilibrista: dores e delícias das mães que trabalham”, para, em vez de dar uma resposta definitiva, apresentar outra pergunta provocativa: 

“Sairemos do túnel com uma prática mais equilibrada da divisão de papéis entre gêneros?”. 

A persistirem os sintomas, não. Mesmo que possamos encontrar casos simbólicos em que homens, tendo de trabalhar em casa, perceberam a necessidade de assumirem uma série de tarefas que antes eram realizadas apenas pela “mulher da casa”, pesquisa do Ibope realizada, neste ano, escancara a realidade doméstica. Ao perguntar para o casal quem organizava determinadas tarefas, o instituto identificou que, de 13 atividades descritas, em apenas duas os homens apareceram como os principais responsáveis: tirar o lixo (53%) e fazer o que precisa de manutenção na casa (69%). Cuidar dos filhos (88%), dos idosos (79%) e dos animais de estimação (59%), preparar a refeição (87%), limpar (87%) e lavar (77%), ficaram por conta das mulheres.

Emerson tem a vivência de mais de 20 anos como executivo de um dos mais tradicionais colégios de São Paulo, o Bandeirantes. Pegou o gancho da Cecília para lembrar que homens e mulheres, pais e mães, tiveram um choque de realidade ao serem obrigados a ficar em casa com seus filhos e acompanharem o ensino à distância. A começar pelo fato de que, na avaliação dele, muitos dos adultos usavam a escola como uma espécie de depósito de corpos, onde  deixavam os filhos armazenados em um período do dia para poderem fazer suas atividades. Houve casos em que tentou-se repetir essa estratégia, querendo que as crianças cumprissem seu horário de expediente diante do computador, com a escola reproduzindo a grade das aulas presenciais —- não deu certo, é claro. Professores e alunos foram muito mais flexíveis nas tomadas de decisões e conseguiram se adaptar bem melhor do que os pais àquela nova situação. Para Emerson, a experiência do ensino à distância e a expansão do uso da tecnologia serão suportes para o projeto pedagógico a ser realizado assim que sairmos do túnel. No entanto, ‘vai rodar’ quem não investir nas relações socioemocionais: 

“Quando sairmos do túnel, a tecnologia sustentará uma educação mais humana para os humanos”

Emerson

Pensava cá com meus botões analógicos, se seguirmos enxergando a escola como este ‘depósito de corpos’ e terceirizando a educação dos nossos filhos, que seres humanos estaremos preparando para o futuro —- que para alguns está logo ali, na saída do túnel? Nem bem tinha absorvido essa reflexão, o Jucá entrou na jogada. Pegou a bola, colocou embaixo do braço e pediu um tempo, esse produto raro no ambiente organizacional: 

“O ambiente corporativo hoje é uma máquina de fazer loucos ou um espaço fértil para nosso desenvolvimento pessoal?”

Fernando Jucá

A pergunta abriu caminho para ele contar histórias corporativas que ilustravam luz e sombra no mundo do trabalho. Dramas de pessoas que se perderam entre o “home” e o “office” quando os dois cenários se misturaram; de gente que sem ter o “olhar do dono” no cangote do escritório, tentou mostrar produtividade trabalhando muito além da conta; mas também de gestores que perceberam que as relações humanas deveriam prevalecer, a partir do desenvolvimento de uma prática até então pouco comum: a escuta ativa. Ouvir o que outro tem a dizer, auscultar sua alma e compartilhar os sentimentos — tudo aquilo que não aprendemos em anos de ensino superior, cursos de extensão, mestrados e doutorados. Boa lição desta tragédia que vivemos em sociedade.

Como era de se esperar, na conversa que durou hora e meia não se ofereceu uma resposta definitiva. Nem mesmo que tivessem acréscimos, prorrogação, cobrança de penaltis ou jogo de volta, esta reposta seria definitiva. Porque ela não existe. A começar pelo fato de que a pandemia mais do que transformar pessoas, expressou o que as pessoas têm, pensam e são, para o bem e para o mal. Ou seja, o túnel não tem uma só saída. Existem várias. Caberá a cada um de nós fazermos a escolha certa.

E aí, concluo eu, coisa que aliás não consegui fazer enquanto estava embevecido com a fala dos meus colegas: a nós cabe criarmos na família, na escola e no trabalho ambientes eticamente saudáveis porque assim, quando aqueles que estão ao nosso entorno tiverem de decidir qual caminho seguir no fim do túnel terão a oportunidade de fazerem escolhas mais qualificadas.

E quanto ao jogo? Bem, primeiro disse que esta coluna, apesar de vir sob o selo de Avalanche, não seria sobre futebol; segundo, que a vitória mirrada de um a zero contra um time que jogou metade do tempo com um a menos, não me estimulou a qualquer texto; terceiro, confesso, com cinco minutos de bola rolando no nosso debate até esqueci de olhar para a tela em que o Grêmio estava jogando. Lendo alguns comentários esportivos quero crer que ainda termos um longo túnel a percorrer.

Já não se faz mais como antigamente

 

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Em conversas frequentes com estudantes de jornalismo, esforço-me para mostrar que a escolha que fizeram faz muito sentido em uma época na qual a informação e, por conseguinte, o desenvolvimento de conteúdo são essenciais. Tento não repetir o que ouvia já nos meus tempos de faculdade – e lá se vão mais de 30 anos – quando éramos visitados por profissionais, alguns bastante respeitados pelos jovens, que insistiam em nos desestimular pela falta de perspectiva que haveria na profissão: “já não se faz mais jornalismo como antigamente”. E não se fazia mesmo. Como hoje, aliás. Esse, porém, é assunto para outro texto.

 

Escrevo sobre o saudosismo que me parece permear as emoções de muitos dos profissionais já estabelecidos no mercado, e alguns, inclusive, afastados por aposentadoria consentida ou forçada, para destacar opinião do ex-jogador Tostão, publicada em reportagem do jornal O Globo, na edição de sábado, 21 de novembro. O gancho para o texto do jornalista Carlos Eduardo Mansur foi a reclamação de alguns dos atuais jogadores da seleção brasileira, expressa em entrevista por Daniel Alves, quanto as críticas proferidas por comentaristas esportivos que já jogaram futebol.

 

É verdade que a seleção brasileira, treinada por Dunga, não é empolgante e o porre do 7×1, sob comando de Luis Felipe Scolari, deixou-nos com uma ressaca que será eterna enquanto dure. Mas também é verdadeiro o fato de que projetar as glórias, táticas e dribles do passado para os gramados atuais é uma injustiça, pois a forma de jogar futebol mudou por completo diante de estratégias mais bem organizadas e pelo desenvolvimento físico de atletas – haja vista a força e a velocidade com que atuam hoje.

 

Não quero, porém, me ater ao futebol. O que me interessa na opinião de Tostão é a explicação que dá para esta reação comum na maioria de nós quando nos referimos a realidade vivida no passado, às vezes, recente:

 

“Isso não é pecado, não é deturpação, não é vigarice. É da vida, é de todo tipo de atividade. Há o ex-jogador que vive ligado ao passado, não assume ou não se identifica com a sua vida atual. Vive enamorado do que ele foi: “Na minha época era melhor”. É a tal memória afetiva. O sujeito vive uma época de glória e tem dificuldade de viver o momento. São componentes humanos habituais, até mesmo o receio de que surja alguém melhor do que ele foi”.

 

Gosto de ler o craque – do jogo e das palavras – porque sintetiza com clareza pensamentos que minha capacidade de se expressar, muitas vezes, não permite.

 

A reflexão feita por Tostão deve servir de alerta para profissionais de todas as áreas, independentemente de onde atue. Em nome do saudosismo, criticamos o que é feito aqui e agora, ficamos a nos lamentar e a praguejar o novo com o qual nos deparamos no escritório e na empresa (ou na redação, no caso dos jornalistas). Exaltamos o passado por temer nossa incapacidade de se adaptar ao que está para acontecer. Assim como remetemos o pensamento ao que foi porque a memória é seletiva e nos faz esquecer quanto difícil eram os processos e quantos erros cometíamos.

 


Sem perder as referências que ajudaram a construir seu conhecimento, deixe o saudosismo para trás, prepara-se para as mudanças e se adapte a regra do jogo. Ou invente o seu próprio jogo. Pois já não se faz mais nada como antigamente.

 

A foto que ilustra este post é do álbum de Rhea Monique, no Flickr, e segue as recomendações de criação comum