Para onde vamos?

 

Por Julio Tannus

 

Monteiro Lobato fez parte de minha infância e de toda uma geração de crianças. Em nenhum momento fui impelido a qualquer tipo de preconceito. A revista Época, em novembro de 2011, publicou um texto de Celso Masson, Humberto Maia Junior e Rodrigo Turrer: “Como qualquer fábula, as de Monteiro Lobato (1882-1948) apresentam seres encantados, bichos falantes e situações inverossímeis. Foram escritas para despertar na criança o gosto pela leitura e fecundar a imaginação. Desde a década de 1920, as histórias do criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo têm sido adotadas nas escolas públicas de todo o país. Agora, o Conselho Nacional de Educação acolheu uma acusação de racismo contra uma dessas fábulas e pode bani-la das salas de aula por, de acordo com essa acusação, não “se coadunar com as políticas públicas para uma educação antirracista”. Ficar sem Monteiro Lobato é evidentemente ruim para as crianças – mas proibi-lo é pior ainda para o Brasil”.

 

Friedrich Nietzsche foi considerado, pela Alemanha nazista, um autor nazista por suas considerações sobre o ser humano. Isto não quer dizer que o autor tenha sido nazista. Ao contrário, o professor Osvaldo Giacóia-Júnior, um dos autores brasileiros com excelente capacidade de interpretação da obra de Nietzsche, apresenta algumas considerações sobre Nietzsche e o Nazismo: “Nem mesmo entre os críticos da obra de Nietzsche, em sentido acadêmico, utilizam o falso argumento de que o filósofo sustenta o Nazismo. Há sim, evidentemente, as apropriações que o Nazismo fez da obra de Nietzsche, o que de nada representa ao filósofo”.

 

Cotas raciais nas universidades brasileiras. Por que ao invés do investimento público para estabelecimento de cotas, não investir na educação pública básica propiciando um nível adequado de educação as camadas pobres da população? Para a antropóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Yvonne Maggie, tais projetos não promoverão a inclusão nem resolverão as desigualdades que existem no país: “Sabemos que a sociedade é dividida em classes e é aí que reside a fonte de toda a desigualdade. O Brasil optou por um sistema econômico altamente concentrador de renda. Sem lutar contra isso, sem lutar pela igualdade de direitos e pelos direitos universais não há como construir uma sociedade mais igualitária e justa”. A professora explica que é contra a proposta de cotas raciais nas universidades porque ela produz divisões perigosas: “Essa política exige que o cidadão se defina perante o Estado segundo sua ‘raça’ ou sua origem. Sabemos que toda vez que o Estado se imiscuiu nos assuntos de identidade dos indivíduos, obrigando-os a se definirem, o resultado foi a produção da violência.”

 

Manifesto “Todos têm direitos iguais na República”, assinado por 114 intelectuais e artistas contrários à aprovação da Lei de Cotas e do Estatuto da Igualdade Racial: “Políticas dirigidas a grupos ‘raciais’ estanques em nome da justiça social não eliminam o racismo e podem até mesmo produzir o efeito contrário, dando respaldo legal ao conceito de raça e possibilitando o acirramento do conflito e da intolerância. O principal caminho para o combate à exclusão social é a construção de serviços públicos universais de qualidade nos setores de educação, saúde e Previdência, em especial a criação de empregos”.

 

Thomas Mann, escritor alemão cuja mãe, Julia Mann, nasceu em Paraty no final do século 19, onde seu pai (avô de Thomas Mann) era fazendeiro, nasceu na Alemanha porque seu avô, desgostoso por estar sendo pressionado por alguns fazendeiros da região que eram contra a abolição da escravatura, voltou para sua terra natal. Isto não quer dizer que os fazendeiros do século 20 sejam escravocatras.

 

E Hannah Arendt nos diz: “a cultura se encontra ameaçada quando todos os objetos do mundo produzidos atualmente ou no passado são tratados unicamente como funções dos processos sociais vitais – como se não tivessem outra razão a não ser a satisfação de alguma necessidade – e não importa se as necessidades em questão são refinadas ou básicas”.

 


Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada, co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier) e escreve às terças-feiras no Blog do Mílton Jung