Avalanche Tricolor: orgulho e cantoria, aos trapos e farrapos

Grêmio 0x2 Bragantino

Brasileiro – Couto Pereira, Curitiba/PR

Torcedor gremista no Couto Pereira, foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Eram mais de 60 minutos de jogo jogado e a narradora da Globo Isabelly Morais tascou um “a torcida do Coritiba (?) canta forte”. Ato falho de quem assim como a maioria de nós vivenciamos esta partida de futebol cercada pela estranheza. 

O time da casa não estava em campo; o time que tinha o mando do campo não estava em casa; e a maior parte da torcida que ocupou as arquibancadas veio de fora para apoiar seu time que não tem casa para jogar.

Quando ouviu a cantoria forte ressoando pelas arquibancadas do estádio Couto Pereira, em Curitiba, a narradora foi traída pela memória. Com sua voz sempre bem colocada, trocou Grêmio por Coritiba, sem perceber nem corrigir. Falha justificada: convenhamos, por que seriam os gremistas a cantar forte naquela “altura do campeonato” em que seu time perdia por dois a zero e pouco havia a fazer para desfazer o placar? Só se fossem loucos! Em tempo: somos.

As circunstâncias que levam o Grêmio a disputar sua segunda partida em três dias, após ter juntado seus trapos e farrapos nas enchentes do Rio Grande do Sul, seguiram a surpreender a promissora narradora de futebol da Globo. 

Quando o jogo se encerrava e o resultado estava sacramentado, o editor de TV cortou a cena para a arquibancada onde se concentravam a maior parte dos quase sete mil torcedores que foram ao estádio. Isabelly fez o que lhe cabia: na descrição da cena, disse que o torcedor gremista festejava. Mais não disse porque talvez não tenha entendido bem o que comemorávamos.

Que fique claro, caro e cada vez mais raro leitor, esta Avalanche não se escreve para criticar a narradora da boa safra de vozes femininas que surge no jornalismo esportivo brasileiro. Apenas usa-a como personagem para justificar como tem sido e ainda será estranha a nossa vida nos próximos três meses, ao menos —- foi a previsão mais otimista que ouvimos do presidente Alberto Guerra, em entrevista que se antecipou a partida desta tarde, em Curitiba. 

O Grêmio está condenado a levar seu mando de campo para um estádio distante do Rio Grande do Sul. Fez isso na decisiva partida pela Libertadores, na quarta-feira à noite, e conseguiu golear seu adversário e transformar o Couto Pereira em uma espécie de Olímpico Monumental redivivo. Deve repetir a façanha semana que vem contra o Estudiantes: se Deus quiser ainda com chances de classificação à próxima fase da competição. Dependerá de vencermos a batalha de Talcahuano, no Chile, na terça-feira.

Mobilizar seu torcedor e levar mais de 20 mil ou até 30 mil pessoas tão distante de Porto Alegre, muitos com dificuldades de transporte e infraestrutura para deixar o Rio Grande do Sul, é tarefa superlativa. Por isso, já se esperava menos pessoas na arquibancada do Couto Pereira, na partida deste sábado. Sabíamos que enfrentaríamos nosso adversário em condições de desigualdade. Em campo, teríamos de contar com reservas, recém reunidos para treinar e, portanto, pouco entrosados. 

Apesar deste cenário de esfarrapados e desabrigados, do qual somos protagonistas, a cantoria que confundiu a narradora e a festa que se fazia nas arquibancadas, registrada pelas imagens da TV, não era nem do time da casa, o Coritiba, nem do time que vencia a partida, o Bragantino. Era do Grêmio. Dos torcedores gremistas que reconhecem o esforço que fazemos para cumprir nossas obrigações no futebol.

Os torcedores gremistas cantávamos a vitória de estarmos de volta aos gramados e o orgulho de sabermos que, independentemente, das condições que nos submetam jamais fugiremos da luta. Mesmo que estejamos aos farrapos.

Avalanche Tricolor: vitória deixa o Grêmio na briga pelo título

 

Atlético(PR) 1×2 Grêmio
Brasileiro – Couto Pereira/Curitiba

 

Time comemora o gol da vitória em Curitiba (foto Portal Grêmio.net)

Time comemora o gol da vitória em Curitiba (foto Portal Grêmio.net)

 

Dos gremistas que andam por São Paulo, é o Sílvio quem compartilha comigo as percepções sobre o Grêmio com mais frequência. Praticamente toda a semana trocamos telefonema para falar de nosso time, em geral nos dias que antecedem a partida e, com certeza, no dia seguinte. Hoje não foi diferente, e quando o Sílvio me ligou querendo saber o que seria desta noite, em Curitiba, não tive dúvida em dizer que era o jogo definitivo.

 

Explico porque resposta tão drástica (ou definitiva): depois de duas partidas sem vitória, de vermos o líder do campeonato se distanciar e, principalmente, os demais concorrentes à vaga para Libertadores se aproximarem, teríamos pela frente duas disputas fora de casa. Vencer, hoje, poderia não nos deixar mais próximo do topo, mas nos manteria na briga do título, fora do alcance daqueles que vêm logo atrás e, fundamentalmente, dentro da Libertadores. Perder ou empatar, além de revelar uma fragilidade que ainda não havia se revelado desde a chegada de Roger, passaria a se ver ameaçado por uma quantidade grande de times que vêm reagindo nas últimas rodadas.

 

O que vimos no Couto Pereira foi a manutenção de um futebol que tem sido jogado desde que Roger assumiu o Grêmio. Até tivemos momentos de baixa produção neste campeonato, mas o tipo de jogo imposto pela nova gestão se manteve durante toda a competição: intensa troca de passe e movimentação de jogadores, além de marcação eficiente desde a área adversária. Isso se repetiu nesta noite, mesmo diante da forte pressão. Até poderíamos ter ficado mais tempo com a bola no pé, mas houve um ingrediente que me chamou atenção e agradou muito: privilegiamos o passe para frente em detrimento do recuo de bola. Isso faz com que o time se torne mais ofensivo ainda e fique mais perto do gol.

 

Os dois gols que assistimos foram resultado do mesmo tipo de jogo. Deslocamento de jogadores com troca de posição constante, confundindo a marcação, e passes precisos que deixaram nossos atacantes na cara do gol. Tudo isso se somou a categoria e a tranquilidade com que Douglas e Luan concluíram as duas jogadas fatais.

 

Em resumo: estamos na briga!

Avalanche Tricolor: quanto mais treina, mais sorte o Grêmio tem

 

Coritiba 0 x 1 Grêmio
Copa do Brasil – Couto Pereira (PR)

 

Marcelo Oliveira em imagem reproduzida da transmissão da SporTV

Marcelo Oliveira em imagem reproduzida da transmissão da SporTV

 

Ouve-se cada coisa no futebol. Algumas explicam bem o que acontece dentro de campo, outras se distanciam da realidade. A primeira história que lembro nesta Avalanche, aliás, sequer do futebol é, faz parte do folclore do esporte mundial. O protagonista teria sido Michael Jordan, astro do basquete americano, que, consta, falou, certa vez, que quanto mais treina, mais sorte tem no esporte. Teria dito assim – e falo no condicional porque nunca vi a afirmação de fonte oficial – para chamar a atenção para a importância de treinar exaustivamente arremessos à longa distância, o que o levava acertar bolas consideradas impossíveis. Lance de sorte, comentavam alguns. Muito treino, ensinava Jordan.

 

Outra história, bem mais antiga, que lembrei hoje, é de Neném Prancha, roupeiro, massagista e técnico de futebol, chamado pelo jornalista Armando Nogueira de o ‘Filósofo do Futebol” devido as suas frases engraçadas e definitivas. Uma delas surgiu quando tentava ensinar um jogador qualquer a tocar a bola para seus companheiros em lugar de despachá-la de qualquer maneira: “bola tem que ser rasteira, porque o couro vem da vaca e a vaca gosta de grama”. Na verdade, há quem diga que a frase nunca foi proferida por ele, mas criada por jornalistas que o admiravam. Seja qual for a verdade, o certo é que entrou para a história como sendo de sua autoria.

 

E você, caro e raro leitor deste blog, deve estar me perguntando por que abro esta Avalanche com lembranças do passado se a ideia é falarmos sobre a presente vitória gremista em gramados da Copa do Brasil? Porque as duas histórias me vieram à lembrança enquanto assistia ao Grêmio vencer, fora de casa, a primeira partida das oitavas-de-final da competição.

 

Apesar de o mau desempenho, a dificuldade para nos encontrarmos em campo e a pressão do adversário desesperado atrás de um gol no primeiro tempo, tivemos a sorte de irmos para o intervalo com o empate em zero a zero.
Mais uma vez, foi lá no vestiário que Roger acertou os ponteiros do time, literalmente. Trocou Rocha por Fernandinho, jogadores que atuam como antigamente faziam os ponteiros esquerdos, esses que o tempo aboliu, disparando com dribles pelo lado do campo. E essa troca fez uma baita diferença (aliás, mais uma vez). Que sorte que o Roger fez a mudança, não?

 

Nossa sorte voltou a prevalecer no segundo tempo, assim como a lição de Neném Prancha, pois resolvemos colocar a bola no chão e fazê-la girar com velocidade e precisão, marca deste time armado por Roger. Foi em uma dessas trocas de passe, seguindo a risca o ensinamento do “Filósofo”, que Douglas encontrou Marcelo Oliveira chegando livre, sem marcação e com espaço para disparar um bomba, que resultou no primeiro, único e necessário gol da partida. Pegou bem no pé e colocou a bola distante do goleiro. Um lance de sorte, dirão alguns. Resultado de muito treino, lembrará Oliveira.

 

Por falar em coisas que ouvimos no futebol. Hoje, acompanhei o bate-papo de meus colegas de rádio CBN, Juca Kfouri e Roberto Nonato, no Jornal da CBN 2a. Edição. O primeiro apostou na vitória do Coritiba e o segundo, no empate. Ambos concordaram com a ideia de que o time paranaense teria mais chances por seu bom histórico na Copa do Brasil e a necessidade de se recuperar do fraco desempenho no Campeonato Brasileiro. Erraram os dois, talvez porque ainda não tenham percebido que o Grêmio não segue a lógica do futebol (como, aliás, já escrevi em Avalanches anteriores). Diríamos que o Grêmio é um time de sorte, principalmente quando entende que a “bola tem que ser rasteira, porque o couro vem da vaca e a vaca gosta de grama”.