Em pleno século 21 existem pessoas que não tem o direito de ler um livro. E o fato não ocorre em nenhuma cultura totalitária ou sob qualquer religião ultra-ortodoxa. É aqui no Brasil, país que restringe a leitura às pessoas com deficiência apesar de o Congresso Nacional ter aprovado a lei 10.753/03 que obriga a produção de livros em formato universal, permitindo o acesso de pessoas cegas, com baixa visão, paralisadas ou amputadas de membros superiores, disléxicos entre outros.
Cid Torquato, comentarista do Cidade Inclusiva, que vai ao ar às segundas, no CBN SP, lembrou que no caso dele, paraplégico, ler livros convencionais apenas se estiver sentado e mesmo assim com dificuldade para folhear. Deitado, nem pensar.
Em nosso bate-papo dessa semana, Cid chamou atenção para o site Livro Acessível, criado por Naziberto Lopes, deficiente visual, que reúne volume considerável de informações sobre políticas de inclusão. Uma das sessões interessantes é a que reúne depoimentos de “excluídos da leitura”, pessoas como Virgínia Menezes que realiza pós-graduação em Educação Especial Inclusiva e, imagine, não tem acesso aos muitos textos que necessita para concluir o curso.
Navegando no trabalho de Naziberto sabe-se, por exemplo, que boa parte das pessoas cegas não usa braile, sistema eficaz quando o cidadão nasce sem visão. “Tendo ficado cego em vida adulta, ser novamente alfabetizado em um outro sistema de comunicação foi impensável e praticamente impossível”, relata na primeira pessoa. Com isto, o computador passa a ser a principal ferramenta.
No site existe acesso ao abaixo-assinado que pede a regulamentação da Lei do Livro, a fim de que esta garanta o direito de acesso universal à leitura por parte de pessoas que por alguma deficiência não podem acessar os livros em seu formato convencional (impressos a tinta); e defende que estas pessoas possam negociar diretamente com as editoras e livrarias, sem necessitarem a “terceirização” por uma entidade de assistência; além de propor a existência deste material acessível nas bibliotecas.
Um dos aspectos defendidos por Naziberto é que a pessoa com deficiência não tenha de recorrer a terceiros para obter o que é de direito. Em vários depoimentos e em e-mails enviados para editoras, torna claro que a maior parte da sociedade ainda o enxerga como um pobre coitado e imagina que ele está em busca de esmola.
Mais sugestões
O ouvinte-internauta Wilson Benites Jr. escreveu para sugerir que as pessoas com dificuldade de acesso a leitura procurem a Fundação Dorina Nowill para cegos, instituição que põe a disposição livros e revistas faladas. Além disso, divulga o site Worldwide Association of Jehovah’s Witnesses no qual é possível baixar arquivos de áudio da Bíblia.