Por Carlos Magno Gibrail
Reduzir benefícios trabalhistas para aumentar empregos e salários. São proposições que poderiam ficar como utopia capitalista ou liberal, não fosse a Dinamarca.
Melhor ambiente de negócios do mundo, menor corrupção do mundo, menor taxa de desemprego do mundo ” quase o sonho do pleno emprego ” 1,5% , maior flexibilidade do mercado de trabalho do mundo. Seguro-desemprego de 2.000 euros durante quatro anos, apoio total ao novo empreendedor durante um ano e meio. Se não der certo, a empresa é fechada sem nenhum ônus.
Não existe salário mínimo, garantias ou benefícios no emprego e a demissão pode ser feita a critério da empresa. Não há contribuições sobre a folha de pagamento dos salários.
O primeiro-ministro dinamarquês Anders Fogh Rasmussen está em seu terceiro mandato, e cada vez mais popular está convicto que o livre mercado é bom para todos.
Com meta de inflação em 2%, sendo que ela sempre fica abaixo, com cautela em relação à burocracia da UE e crítica permanente ao excesso de medidas, com redução da dívida pública, que hoje esta em 23,2% do PIB, e em rota decrescente, e com
superávit nominal e receitas superando as despesas em 7%, caminha para uma invejável posição de liderança.
É a passagem do estado bem-feitor” para o estado possibilitador”.
Economia forte, com sindicatos e empresas fortes, governo atuante , gerando trabalhadores qualificados e muito paparicados pelas companhias recrutadoras.
O presidente Lula esteve o ano passado em Copenhagen, pela segunda vez, talvez para estudar um pouco mais o fenômeno nórdico, embora especialistas considerem difícil a exportação para o Brasil devido a diferenças quantitativas e qualitativas.
A população é de 5 milhões contra 190 milhões, os impostos são da ordem de 50%, embora os dinamarqueses, dada a quantidade dos benefícios sociais, estejam satisfeitos com o seu peso.
A cultura também é diferente, são pessoas muito ligadas ao meio ambiente, com muita consciência sustentável, preocupadas com o coletivo. A mão de obra é qualificada e se concentra em design, logística, comunicação e em novas fontes de energia, principalmente a eólica.
De todo modo Erik Nielsen, conselheiro para assuntos internacionais da LO, a central sindical que Lula visitou, disse que os trabalhadores não devem temer as reformas trabalhista ou sindical ” desde que elas venham para fortalecer a posição de empregados em uma economia mais flexível. Esse tipo de reforma não é ruim”
Diferenças à parte, é claro que vale a pena estudar o fenômeno dinamarquês. Pelo menos fica evidenciado o acerto do sistema aberto com suporte do governo garantindo os benefícios sociais de emprego, escola e saúde.
Ponto crucial nem é a diferença, que pode receber adaptação, mas o início. Ovo ou galinha? Tostines?
Com certeza a partida não será o homem grávido”, mas a liberação para desagravar os encargos trabalhistas e mudanças na justiça do trabalho. Que visitem mais a Dinamarca!
Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda, escreve toda quarta-feira aqui no blog e ainda não visitou a Dinamarca, mas já viajou na idéia dele.