Mundo Corporativo: Carolina Junqueira, do Grupo Globo, ensina que compliance começa com o diagnóstico dos riscos da empresa

Gravação da entrevista de Carolina Junqueira. Foto: Priscila Gubiotti/CBN

“Não se apaixone pelo seu programa de compliance.”

Carolina Junqueira, Grupo Globo

A reputação de uma empresa pode ser abalada por uma única falha ética. E manter o comportamento institucional alinhado com a lei e os princípios morais não depende apenas de cartilhas formais, mas da atuação consistente de lideranças e da criação de um sistema de governança que vá além do discurso. Esse é o foco da entrevista com Carolina Junqueira, diretora de riscos e compliance do Grupo Globo, no programa Mundo Corporativo.

“Entender qual o perfil de risco da empresa e concentrar os seus recursos no enfrentamento daquelas questões é a melhor forma de criar um programa de compliance eficiente”, afirma Carolina. Segundo ela, o compliance não deve ser visto como uma área distante, e muito menos como um “repositório” de problemas que ninguém sabe resolver. “Compliance não pode ser um instrumento de resolução de conflitos, se não existem outros mecanismos na empresa para isso.”

Liderança, confiança e regras claras

A diretora do Grupo Globo destaca que o papel das lideranças é “fundamental para pautar o tom das relações, identificar questões nas equipes e criar um ambiente em que a resolução de conflitos seja possível antes que vire uma questão ética”. Essa perspectiva reforça a ideia de que o compliance não pode ser isolado num departamento, mas deve permear toda a cultura organizacional.

Na prática, isso se traduz em três pilares: clareza das regras, canais seguros de denúncia e atuação independente do compliance. “Quando você tem uma regra clara, fica mais fácil cobrar o cumprimento dessa regra”, afirma. Na Globo, esse conjunto está formalizado no código de ética e conduta, que é conhecido por funcionários, parceiros e prestadores de serviço.

Outro ponto sensível é o sigilo no tratamento das denúncias. “Essa confidencialidade é uma forma de proteger o sistema como um todo”, explica Carolina, ao lembrar que o cuidado com os envolvidos garante a confiança no processo. “As pessoas se sentem mais estimuladas a nos procurar quando sabem que o relato será tratado com respeito e discrição.”

Compliance é para todos

Ainda que muitas vezes seja visto como algo restrito às grandes empresas, o compliance é igualmente relevante para pequenos negócios. “Primeiro, olha o risco que você corre”, alerta Carolina. Até mesmo um pequeno comércio pode ter interações com agentes públicos, estar sujeito a legislações trabalhistas ou correr o risco de falhas éticas no ambiente interno. “Compliance é conformidade com as leis e regulamentos que se aplicam ao seu negócio.”

A recomendação é que, independentemente do porte, o empreendedor identifique os principais riscos do seu setor e adote mecanismos simples para prevenir desvios. Isso pode começar com um código de conduta, um canal seguro de escuta e um comitê ético com autonomia para analisar relatos. “Mesmo em empresas menores, a estrutura pode existir de forma proporcional à realidade”, reforça.

Carolina também aponta que a diversidade nas equipes de compliance é uma vantagem estratégica. “Esse conhecimento do dia a dia, da realidade das pessoas, ajuda muito na avaliação dos casos e gera acolhimento para quem nos procura.”

Ouça o Mundo Corporativo

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã pelo canal da CBN no YouTube. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN e aos domingos, às 10 da noite, em horário alternativo. Você pode ouvir, também, em podcast.

Colaboram com o Mundo Corporativo: Carlos Grecco, Rafael Furugen, Débora Gonçalves, Priscila Gubiotti e Letícia Valente.

STF deve desmembrar apuração contra Bolsonaro e Moro pedida pela PGR

 

O ministro Celso de Mello anuncia hoje a sua decisão sobre o pedido de autorização feito pelo procurador geral da República para que se investigue a possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, terem cometido diversos crimes.

 

O procurador Augusto Aras, pediu autorização ao Supremo Tribunal Federal, na sexta-feira, para abrir um inquérito sobre os fatos narrados por Sérgio Moro, quando anunciou a saída dele do Ministério da Justiça.

 

Surpreendeu o tom do pedido; pois Augusto Aras não pediu apenas que se investigue o que o ex-ministro disse sobre Bolsonaro. Pediu que Moro seja ouvido em depoimento para detalhar as acusações e apresentar documentos que sustentem essas acusações, se estas existirem, e imputa a ele também a possibilidade de crimes.

 

Quais crimes que foram elencados pelo procurador, que podem recair ou sobre Bolsonaro ou sobre Moro, dependendo o caso: “falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de justiça, corrupção passiva privilegiada, denunciação caluniosa e crime contra a honra”.

 

A análise do pedido está sendo feita pelo ministro decano Celso de Mello que hoje deve anunciar sua decisão autorizando a investigação e desmembrando a investigação. A persistirem os sintomas, fica no STF a investigação sobre as acusações contra o presidente Jair Bolsonaro. E as acusações contra Sérgio Moro, vão para a primeira instância —- isso ocorrerá porque Moro não tem foro privilegiado.

 

Nestas circunstância e tomada a decisão, é muito provável que o pedido do Procurador Augusto Aras torne ainda mais complicada a situação do presidente Jair Bolsonaro, do que imaginava quando entrou com o pedido de autorização de investigação. Bolsonaro estará muito mais exposto em um palco relevante como o STF, onde não goza de muita simpatia. E Moro ficará a cargo da primeira instância, em processo mais longo, que tende a ser extinto por arquivamento.

 

A decisão pelo desmembramento deve ser anunciada ainda nesta segunda-feira.

“É de cair o queixo” e “vem mais por aí”, diz Lauro Jardim, que revelou informações das delações da JBS

 

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Foram três semanas de busca de informação, confirmação de fatos, checagem de dados, viagens para Brasília e muitos telefonemas. Pouco sono, também, especialmente nesse três dias que antecederam a revelação do caso que abalou a República, está prestes a derrubar um governo e já atingiu em cheio um Senador.

 

Como se percebe, foi intenso o trabalho do jornalista Lauro Jardim, de O Globo, desde que soube pela primeira vez que os irmãos Batista, donos da JBS, tinham decidido contar a verdade sobre a relação deles com alguns dos homens mais poderosos do País.

 

Apesar de acompanhar passo a passo o processo que culminou com a homologação da delação premiada de Joesley e Wesley Batista, Jardim disse, em entrevista ao Jornal da CBN, que ficou perplexo, assim como o povo brasileiro, com o material que teve acesso, em primeira mão. “É de cair o queixo, muito impressionante”, comentou, antes de confirmar que muito mais vem aí.

 

Assim como chamou atenção dele e de seu adjunto, Guilherme Amado, que colaborou na investigação jornalística, eu, você e, imagino, toda torcida brasileira ficamos estarrecidos com o fato de, mesmo após as denúncias, prisões e condenações que assistimos na Operação Lava Jato, autoridades como o presidente da República Michel Temer (PMDB) e o presidente do PSDB – a esta altura ex-presidente -, senador Aécio Neves, continuassem exercitando práticas irregulares.

 

Os casos denunciados em gravação ocorreram em março, agora há pouco, sem pudor nem prevenção.

 

Aécio é acusado, por exemplo, de pedir R$ 2 milhões a Joesley para pagar as custas de seu advogado de defesa na Lava Jato. Ou seja, pediu dinheiro por fora para se defender da denúncia de ter recebido dinheiro sujo, no dia 24 de março.

 

Temer, após insistência de Joesley, o recebeu em casa e na conversa com o empresário tratou de uma mesada para calar a boca de Eduardo Cunha, na cadeia em Curitiba. “Tem que manter isso, viu?” – alertou o ainda presidente da República diante da possibilidade do dinheiro deixar de ser pago ao deputado cassado.

 

Ouça a entrevista com o jornalista Lauro Jardim, que foi ao ar no Jornal da CBN:

 

“Olha bem para minha cara”

 

Foi surpreendente a coragem da mulher que denunciou e encarou policiais militares que executaram um homem, no terreno de um cemitério, em Ferraz de Vasconcelos, região metropolitana de São Paulo. A fala dela ficou gravada no sistema de comunicação da PM e revelou atitude pouco comum na sociedade brasileira.


Ouça a reportagem que foi ao ar no Jornal da CBN

Impulsionada pela indignação, não teve medo de narrar ao policial que a atendeu por telefone o que havia assistido, nem mesmo de peitar os PMs que tinham recém cometido o crime: “olha bem para minha cara”, ameaçou ela ao ouvir de um deles que a pessoa assassinada tinha reagido à prisão.

“Viu só que mulher burra?” – foi o que acabei de ouvir de alguém que discorda da atitude pois entende que ela teve morte decretada a partir da denúncia feita. Ela e parentes dela que serão ameaçados pelos policiais agora presos ou por comparsas da dupla.

Muito pior, com certeza, foi a reação de gente que condena o comportamento da mulher por dar razão aos policiais-executores. Parcela de uma sociedade que defende o Esquadrão da Morte como forma de combater a violência no País. Como se isto já não existisse e com os resultados que conhecemos muito bem.

Há alguns meses foi uma câmera que testemunhou um garoto de favela sendo baleado covardemente por policiais, no Amazonas. Desta vez, uma mulher. Amanhã, pode ser você. Qual será a sua reação ?

As opções são poucas e definitivas: a coragem da mulher que denunciou, o medo do cidadão que não crê na segurança pública ou a covardia daquele que defende o assassinato.

De todas as poucas certezas que tenho neste caso, a última jamais terá meu aval, mesmo que isto vá na contramão do que pensam muitos dos que se pronunciam. Toda a sociedade que se pauta pelo desejo de vingança e ódio tende a pagar muito caro por isso.

O “olha bem para minha cara”, dito por esta mulher vítima e heroína, soa como uma tabefe na nossa cara.

Eleitor2010 é o cidadão controlando a campanha

 

Eleitor2010

Monitorar as eleições de 2010 em todo o Brasil pode parecer um desafio impossível de ser enfrentado. Não para Paula Góes e Diego Casaes que acreditam na capacidade de mobilização e na participação coletiva do cidadão pela internet. Eles desenvolveram e colocaram no ar o site Eleitor2010 com um mapa das denúncias de fraudes, compra de votos e outras irregularidades que possam ser cometidas durante a campanha eleitoral, neste ano.

Para a tarefa atingir seu objetivo, porém, é preciso que o eleitor forneça estas informações que serão reunidas por cidade, estado e região, construindo assim uma visão nacional sobre as infrações de partidos e candidatos. O uso da internet de forma colaborativa já teve sucesso em outras iniciativas, mas esta é a primeira vez que este modelo será explorado na eleição brasileira.

Com o site tendo sido lançado recentemente, as denúncias ainda são poucas, mas é possível, por exemplo, saber de denúncia de propaganda eleitoral em culto religioso, pagamento para participação em recepção política ou mobilização de uma pequena cidade pelo voto nulo e branco.

Conheça o Eleitor2010 e acompanhe a entrevista que faremos hoje com os construtores e idealizadores do site, no CBN SP.