À desesperança dos jovens, temos nossa capacidade de sonhar

 

Por Simone Domingues
(@simonedominguespsicologa)

 

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Imagem: PIXABAY

 

“Ontem o menino que brincava me falou
Que hoje é semente do amanhã…
Para não ter medo que esse tempo vai passar
Não se desespere não, nem pare de sonhar…”
Gonzaguinha

 

Outro dia numa conversa com minhas filhas adolescentes, lancei a seguinte pergunta: “vocês acham que os adolescentes estão mais desesperançosos com o futuro?”. Acreditando que falariam sobre como se sentem ou percebem seus amigos diante desta quarentena, confesso que a resposta me causou certa surpresa:

 

“A nossa geração é marcada pela desesperança. Desde que somos crianças, ouvimos que quando formos adultas, não haverá comida para todos os habitantes da terra, que faltará água potável para bebermos, que o homem está destruindo o planeta e não há outro para vivermos… como ter esperanças em meio a tanta tragédia anunciada?”

 

Fiquei pensando na responsabilidade que temos com as gerações mais novas. Logo os jovens, que representam em si a capacidade poética da esperança, sendo endurecidos com as nossas previsões apocalípticas.

 

Então não devemos comunicar às crianças e adolescentes sobre o que acontece no mundo?

 

Comunicar é muito diferente de catastrofizar. Comunicar é a troca de informações. E troca pressupõe que falo e permito que o outro também se manifeste, com suas dúvidas, seu ponto de vista, suas possibilidades para solucionar problemas.

 

Como adultos, podemos auxiliar os adolescentes com um ambiente seguro, conversas sinceras e um incentivo enorme à sua capacidade de sonhar. E não seria isso a esperança? Acreditar naquilo que se deseja alcançar?

 

Santo Agostinho nos ensinou:

 

“A esperança tem duas filhas lindas: a indignação e a coragem. A indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”.

 

Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, e escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung

De quê?

 

Por Maria Lucia Solla

 

 

E vou falar de quê; de esperança?

 

Ando lendo notícia demais e acho que, por isso, a esperança pulou mais alto para ser escolhida como tema. Pulou é fraqueza de expressão. Ela se apoderou de mim. Na verdade está agarrada ao meu pescoço. Não sozinha; ela e seu lado escuro, a desesperança. As duas. Inseparáveis. E eu de língua de fora. Preciso da primeira para me salvar do abismo da segunda, e da segunda para me salvar do falso pódio da primeira. Preciso que esperança e desesperança se calibrem, para não viver uma vida cor-de-rosa esperando que a vida me viva, ou desistindo dela. Na inércia e no medo.

 

Esperança rima com criança e é uma marca infantil porque não cresce naturalmente em nós. Na área da esperança, quando adultos, vivemos infantilmente, e ela continua de calças curtas e de fita no cabelo. Continua uma esperança pidona, ausente sempre do presente.

 

Esperança foi colocada no nosso pacote de viagem não para que sentássemos e esperássemos. Seu nome confunde Não veio no kit principal para que dependêssemos da benevolência de papai e mamãe que podem transformar esperança em realidade; numa bicicleta, na tenra idade, ou num carro, mais tarde. Esperança vem na medida de cada um e cresce na medida em que cada um cresce. Para o lado que cada um crescer. Esperança é impulso, e não razão para sentar e esperar.

 

E vou falar de desesperança? Falar dela é chover no molhado, é dar trela ao tinhoso, é cutucar o vespeiro, é surfar na onda da queixa. Me deixa! Todo mundo se queixa de tudo. Do governo e do desgoverno, do crime grande e do pequeno, do que tem e do que não tem. Um dia é porque eu quero que a vida seja assim, no dia seguinte porque quero assado.

 

Mas antes assim; foi melhor olhar de perto o pacote das des-esperanças e deixar de lado violência, tornado, seca, enchente, vandalismo, corrupção, filha que mata mãe, pai que mata filho, ser-humano que queima ser-humano, arrancando, uns dos outros, o osso do dia. Em todas as áreas e classes. Em toda a espécie humana. É pandêmico.

 

Pai, esvazio aos teus pés o meu cálice de des-Esperança, e Você me preenche de Fé. Combinado?

 

Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung