Inclusão e Desafios: como a inteligência artificial pode mudar a realidade da população com deficiência no Brasil

Por Mia Codegeist 

Foto de cottonbro studio

No Brasil, a inclusão e a garantia dos direitos das pessoas com deficiência são temas de extrema importância. De acordo com estimativas recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem uma população de 18,6 milhões de indivíduos com deficiência, representando 8,9% da população com dois anos de idade ou mais. Diante dessa realidade, é crucial buscar soluções que promovam a inclusão e melhorem a qualidade de vida dessas pessoas. A Inteligência Artificial traz recursos que podem ser explorados pelos governos, instituições e pessoas que trabalham por respostas que atendam as necessidades das pessoas com deficiência. Antes de falarmos desse tema, vamos ao cenário que o IBGE acaba de revelar com base na Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2022.

Desigualdades na Educação:

Uma das áreas em que as desigualdades são mais evidentes é a educação. Infelizmente, crianças e jovens com deficiência enfrentam maiores obstáculos para acessar a educação formal em comparação com aqueles sem deficiência. Dados do IBGE revelam que apenas 89,3% das crianças com deficiência entre 6 e 14 anos frequentam o ensino fundamental, enquanto essa taxa é de 93,9% para crianças sem deficiência. A disparidade se mantém no ensino médio e superior, demonstrando a necessidade de políticas inclusivas e recursos adequados para garantir o direito à educação de qualidade para todos.

Desafios no Mercado de Trabalho:

Outro aspecto preocupante é o acesso ao mercado de trabalho. A taxa de ocupação para pessoas com deficiência é de apenas 26,6%, em contraste com a média de 60,7% da população total. Essa discrepância reflete barreiras que ainda persistem, como preconceitos, falta de acessibilidade física e falta de oportunidades adequadas. É essencial que as empresas e órgãos governamentais se comprometam em criar ambientes inclusivos, promovendo a diversidade e garantindo oportunidades iguais para todos os profissionais, independentemente de suas habilidades ou limitações.

Desigualdades na Renda

As desigualdades também são evidentes quando analisamos a renda das pessoas com deficiência. O rendimento médio do trabalho para essa população é de R$ 1.860, enquanto para aqueles sem deficiência é de R$ 2.690. Além disso, existem diferenças regionais significativas. O Nordeste apresenta o menor rendimento médio, com uma diferença de R$ 508 entre pessoas com e sem deficiência. É fundamental que sejam implementadas políticas públicas que visem à redução dessas disparidades e à garantia de um salário digno para todos os trabalhadores.

O poder transformador da IA

A inteligência artificial tem um potencial transformador na promoção da inclusão e melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência no Brasil. Por meio de tecnologias de acessibilidade, aprendizado personalizado, acessibilidade digital aprimorada, robótica assistiva e diagnóstico precoce, a IA pode ajudar a superar as barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência, proporcionando maior autonomia, independência e igualdade de oportunidades. A seguir, falamos sobre cada uma dessas cinco abordagens em que a inteligência artificial pode ser explorada em benefício das pessoas com deficiência.

1. Tecnologias de acessibilidade impulsionadas pela IA:

A IA tem o potencial de impulsionar o desenvolvimento de tecnologias de acessibilidade inovadoras. Por meio de avanços em reconhecimento de voz, tradução automática e próteses inteligentes, a IA pode auxiliar pessoas com deficiência de fala, audição ou mobilidade, proporcionando maior autonomia e inclusão social.

2. Aprendizado personalizado para a inclusão educacional:

A IA pode desempenhar um papel fundamental na promoção da inclusão educacional. Sistemas de aprendizado personalizado baseados em IA podem adaptar o conteúdo e as estratégias de ensino de acordo com as necessidades individuais dos alunos com deficiência, facilitando seu acesso à educação e promovendo um aprendizado mais eficaz e envolvente.

3. Acessibilidade digital aprimorada:

A IA pode ser usada para melhorar a acessibilidade de plataformas digitais, tornando-as mais inclusivas para pessoas com deficiência visual, auditiva ou cognitiva. Algoritmos de IA podem analisar e adaptar automaticamente o conteúdo, fornecendo descrições de imagens, legendas em vídeos e recursos de navegação simplificados, garantindo que todos tenham igual acesso à informação e aos serviços online.

4. Automação e robótica assistiva:

A IA tem o potencial de impulsionar o desenvolvimento de robôs e sistemas autônomos para auxiliar pessoas com deficiência em suas atividades diárias. Desde a locomoção e a realização de tarefas domésticas até o suporte emocional, essas tecnologias podem ampliar a independência e a autonomia, proporcionando uma maior qualidade de vida.

5. Prevenção e diagnóstico precoce:

Algoritmos de IA podem ser utilizados para analisar grandes volumes de dados médicos, permitindo a identificação de padrões e indicadores precoces de deficiências. Dessa forma, é possível realizar diagnósticos precoces e intervenções mais eficazes, melhorando os resultados de saúde e garantindo acesso adequado aos cuidados desde o início.

Dito isso, não esqueça: ao pensar em formas de explorar a inteligência artificial em favor das pessoas com deficiência é fundamental garantir uma implementação ética e inclusiva da IA, envolvendo essas pessoas em todas as fases do processo, para que suas necessidades e perspectivas sejam devidamente consideradas. Criar soluções inclusivas sem a abordagem das pessoas com deficiência não é inclusivo!

Mia Codegeist é autor que abusa da inteligência artificial para compartilhar conhecimento sobre temas relevantes à sociedade.

Mundo Corporativo: viés, assédio e desrespeito têm de ser enfrentados para garantir igualdade de gênero nas empresas, defende a advogada Cláudia Securato

“Empresas que tem mais mulheres, e mais mulheres na liderança tem 30% a mais de lucro e têm mais chance de sair de uma crise”.

Cláudia Securato, advogada

“Filha única” de uma família de quatro irmãos, com uma pai “complicado” – seja lá o que isso possa significar -, e sem jamais ter acatado a ideia de que cuidar da casa é coisa de mulher. Cláudia Securato levou à advocacia o legado desse desafio que se impôs em criança. Hoje, lidera um escritório que é predominantemente feminino e se dedica a estudar o tema da igualdade de gênero – ela é sócia do Securato & Abdul Ahad Advogados. Foi esse o foco de seu mestrado de Direito na FGV, em São Paulo, e o assunto da nossa conversa no Mundo Corporativo, da CBN. Que fique claro, Cláudia está à frente de tantas outras causas jurídicas quantas forem possíveis e interessantes, assim como jamais imaginou ser advogada de uma “nota só”. Porém, especialmente depois da maternidade entendeu que havia a necessidade de ajudar às pessoas a se conscientizarem da existência das diferenças de tratamento e da importância de combatê-las: 

“Eu vi mulheres brilhantes desistindo de tudo, desistindo exatamente por sentir as discriminações, por sentir os assédios, por sentir as microagressões, por sentir que não iam conseguir lidar com essa desigualdade”.

O desrespeito não aparece necessariamente no salário que homens e mulheres com funções e responsabilidades iguais recebem. Nesse caso, a folha de pagamento da empresa deixa explícita a desigualdade. A discriminação é menos perceptível no cotidiano do trabalho, no comportamento que as pessoas dedicam, na falta de espaço para a fala da mulher e nas promoções que são realizadas. A maternidade, por exemplo, segue sendo uma barreira para muitas profissionais, especialmente as com menos escolaridade. De acordo com o IBGE, 40% das mulheres com 14 anos ou mais de estudo não têm filhos; enquanto apenas 20% das mulheres com três anos de estudo não têm filhos. A medida que têm mais conhecimento, essas mulheres preferem deixar a maternidade de lado para seguirem crescendo profissionalmente. 

Outro ponto que aflige às mulheres, de acordo com Cláudia, são os assédios sexual e moral, que mesmo coibidos por lei não deixam de se realizar nos ambientes de trabalho. Apesar de haver jurisprudência na punição a esses atos, ela diz que são centenas de juízes e desembargadores que podem dar decisões completamente diferentes conforme a queixa — centenas de juízes e desembargadores homens, faço questão de lembrar, para deixar evidente como os vieses, inconscientes ou não, pesam nessas decisões, em prejuízo às mulheres.

“Sem dúvida, existe viés de gênero e nas decisões judiciais existe inclusive um protocolo de julgamento com perspectiva de gênero que é uma recomendação do CNJ – Conselho Nacional de Justiça para que os juízes magistrados entendam e olhem com outras lentes as questões que envolvem raça, gênero, diversidade religiosa e todas as outras questões que a gente vem tratando por aí. Então, existe sim um movimento para isso, mas também não é uma obrigação. O CNJ recomenda que exista uma tela, um olho para igualdade de gênero e para raça nos julgamentos”.

O Governo Lula apresentou no dia 8 de Maio projeto de lei que reforça o direito a igualdade salarial entre homens e mulheres e pune o empregador com multa equivalente a dez vezes o maior salário desembolsado pelas empresas. Multa que dobra diante da reincidência.  Cláudia, no entanto, alerta: esse valor vai para o cofre da União e não para a mulher discriminada. Mesmo considerando que esse dinheiro deverá ser usado nos programas de amparo ao trabalho, ela defende que parte desse valor beneficie a mulher que foi vítima da desigualdade. A despeito de melhorias que a legislação precisa, Cláudia vê de forma positiva a criação, por exemplo, de um grupo de trabalho no governo, com participação da sociedade civil, que poderá avançar nos aspectos que ainda impedem que a igualdade de gênero se realize.

Alguns números que surgiram na nossa conversa e gostaria de compartilhar com você:

  • O Fórum Econômico Mundial identificou que existe uma diferença salarial entre homens e mulheres de 40%, no mundo;
  • As mulheres levarão 70 anos para alcançar a igualdade salarial, conforme estudo da Universidade de Coimbra com a OIT — a Organização Internacional do Trabalho
  • Um estudo global diz que empresas que têm mais mulheres e mais mulheres na liderança têm 30% a mais de lucro e tem mais chance de sair de uma crise (sim, eu já escrevi isso lá no alto, mas repito para não esquecer)
  • E se nada disso o convence da necessidade de juntos lutarmos por essa igualdade, pense no dinheiro que seu negócio está perdendo: mulheres são 54% da força de trabalho no Brasil e são grandes consumidoras;

Algumas dicas de como eu e você podemos participar desta transformação:

  • Olhe as pessoas que estão trabalhando com você
  • Entenda o sentimento delas no ambiente de trabalho
  • Exercite a escuta ativa (talvez você não tenha percebido, mas há microagressões se realizando aí na sua empresa)
  • Conscientize-se da necessidade de mudar este cenário

“Endereçar o tema! Eu acho que a conscientização é mais importante. A pessoa que está preocupada com isso, ela tem muito mais chance de acertar do que a pessoa que tá achando que isso é desnecessário, que a gente já tá em 2023 e não precisa mais falar disso, que as mulheres já chegaram lá. Não é verdade!”

Para saber mais, assista agora à entrevista completa do Mundo Corporativo que tem as participações do Renato Barcellos, do Bruno Teixeira, da Priscila Gubiotti e do Rafael Furugen:

Crime sem castigo

 

Como meu editor, da Contexto, sempre foi caridoso em permitir a reprodução de seus artigos aqui no blog, hoje tomei a liberdade de compartilhar seu pensamento sem antes ter-lhe pedido autorização. Que Deus me perdoe por esse pecado. Se não, que você me absolva deste crime, Jaime, porque estou longe de ser um dos poderosos protegidos pela justiça!

 

Por Jaime Pinsky

 

Teve um tempo em que acreditei na Justiça. Ou melhor, nas justiças, na dos homens e na divina. Parecia-me razoável que cada pecado cometido fosse devidamente punido. Que cada desobediência implicasse algum castigo. Claro que isso me custou muito sofrimento. Aquele dia em que me isolei no quarto alegando necessidade de estudar e fiquei jogando botão (quem nem botão era, mas plásticos rijos que cobriam relógios de pulso) a tarde toda, e no dia seguinte me saí muito mal na prova de latim… O outro em que briguei com um colega de escola, rolei com ele na terra aos socos e pontapés, entrei quietinho em casa, me lavei, joguei a camisa rasgada e encardida no cesto de roupa suja e fui almoçar sem contar nada aos meus pais (desta vez não tive muita sorte, o olho roxo e as escoriações no joelho me traíram miseravelmente). Os castigos me pareceram razoáveis: uma semana passa depressa, embora eu adorasse jogar bolinha de gude com a turma da Vila Gagliardi, rua sem saída, nosso empoeirado parque e praça esportiva improvisada.

A vida, à época, fazia sentido: a cada pecado, uma punição. Uma das coisas que eu fazia, esporadicamente, era dar uns sopapos no meu irmão “do meio” (éramos três meninos) sempre que ele, sob qualquer pretexto, agredia o caçula. Quando eu me entusiasmava nos sopapos e o chorão abria o berreiro, o cinto do meu pai fazia o papel de juiz, entrava na contenda e meu traseiro ganhava algumas faixas avermelhadas. Meu pai averiguava, julgava e aplicava o castigo, sem delongas. Já o castigo divino… Desse eu tinha mais medo, mas devo reconhecer, por outro lado, e à distância, que era bem menos eficiente. Eu me lembro até hoje da vez que fiquei um tempão tentando espiar uma freguesa, quando ela provava blusas na loja do meu pai. A moça ficou muito tempo experimentando cores, modelos e tamanhos diferentes, enquanto eu, nos meus heroicos nove anos, rondava a porta do provador improvisado. Um pirralho como eu certamente não representava ameaça alguma ao pudor dela… Mesmo assim, e mesmo não tendo tido nenhum sucesso na minha precoce atividade de voyeur, eu sabia que havia pecado. Talvez o sexto mandamento, ou outro qualquer, mas alguma lei de Deus. Esperei conformado o castigo, ficando em troca apenas com o azul-claro do enorme sutiã que vislumbrara. Mas o castigo nunca veio. Bem diferente de um colega de colégio, que ao confessar ao padre a prática da masturbação, foi aconselhado a se autopunir para ficar limpo. O resultado da queimadura que J.B. provocou em si próprio o acompanhou até sua morte precoce.

Já adulto me dei conta de que a Justiça tem cor, sexo e leva em conta fatores que, anteriormente, nunca imaginei que pudessem influenciar na decisão de quem julga. Algumas pessoas são julgadas logo, outras nunca. Alguns têm ótimos defensores em todas as numerosas instâncias, outros mal conseguem defensores razoáveis e se dão mal por erros técnicos, esquecimento de prazos legais para apresentar a defesa, má vontade dos cartórios e até dos próprios juízes. A lei, embora nominalmente coloque todos os cidadãos no mesmo patamar de direitos e obrigações, é muito mais generosa com uma parte da população, os que têm poder. Um complexo e lento sistema de defesa composto de numerosas etapas tem a função de protelar qualquer julgamento definitivo e respectiva punição. Recursos infindáveis, muito bem apresentados por equipes afiadas, lideradas por advogados muito hábeis, fazem com que o medo de punição não atemorize criminosos conhecidos. E, se algum juiz do andar de baixo comete a “irresponsabilidade” de sugerir prisão a um figurão, corre o risco de cair  em desgraça. Não importa o que diz a constituição sobre igualdade de direitos. Temos uma cultura estabelecida e ai de quem ousar questioná-la.

Uma amiga, promotora em São Paulo, me disse uma vez que a justiça de classe no Brasil nunca permitiria que tivéssemos um verdadeiro país de cidadãos. Ela tinha razão. Olhamos os iguais, ou supostos iguais, de modo distinto do que fazemos com pessoas “diferentes”, seja por sua origem social, cor da pele, religião, grau de instrução, tipo de roupa que usam. Isso é uma flagrante violação à letra e ao espírito da Constituição Brasileira, à  democracia e à cidadania. Deixar o tempo passar para que os crimes prescrevam, colocar ricos em prisão domiciliar, mesmo quando cometeram crimes horríveis, enquanto abandonamos  dezenas de milhares de pobres presos sem julgamento, é comum por aqui.
 
Aos iguais tudo, aos demais a força da lei.

 

Jaime PinskyHistoriador, professor titular da Unicamp, autor ou coautor de 30 livros, diretor editorial da Editora Contexto
 

É um privilégio viver em São Paulo, para alguns

 


Texto publicado, originalmente, no Blog Adote São Paulo, da Revista Época São Paulo

Favela do Moinho

 

Encontre um conterrâneo morando fora da terra natal e você notará nele uma ponta de desejo de voltar para casa um dia qualquer. É um sentimento normal para quem decidiu tocar sua vida distante de onde nasceu. De muitos amigos do Rio Grande do Sul que já vivem em São Paulo há algum tempo, costumo ouvir planos para o retorno – um trabalho que pretendem fazer, uma casinha que vão comprar ou uma história mal acabada que imaginam dar o ponto final. Tenho um amigo em especial que é carioca, fala com forte sotaque e torce para o Flamengo, estudou no interior paulista e mora na capital muito mais tempo do que viveu na cidade do Rio. Brinco com ele: “só você não sabe que é paulista”. Vive aqui, trabalha aqui, é feliz aqui, mas um dia, quem sabe, talvez …

 

Confesso que eu mesmo muitas vezes me refiro a casa em que morei na infância, no bairro do Menino Deus, em Porto Alegre, como “lá na minha casa” quando, na realidade, minha casa fica bem aqui na zona Sul de São Paulo, fui eu quem construí ao lado da minha mulher e onde meus filhos nasceram (perdão, filho nascer em casa é modo de se expressar, há muito que eles nascem nos hospitais). Ao contrário da maioria dos amigos que veio de outros Estados, não desenho meu futuro ou aposentadoria na capital gaúcha e não vai aqui nenhum sentimento de frustração com o Rio Grande do Sul, estado que admiro por uma série de fatores, apenas tenho dificuldade, neste momento, de imaginar minha vida longe de São Paulo, onde ganhei personalidade profissional e desenvolvi meu conhecimento. São tantas as oportunidades que encontramos e tão ricas as experiências que trocá-las por qualquer outro lugar não me parece viável.

 

Este sentimento, porém, não é compartilhado pela maioria das pessoas que vive em São Paulo, incluindo aqui os paulistanos de nascença, conforme mostrou com clareza a pesquisa IRBEM 2012, feita pelo Ibope e encomendada pela Rede Nossa São Paulo, na qual 56% dos entrevistados disseram que gostariam de deixar a cidade, índice que chega a incríveis 66% quando ouvidos moradores dos distritos de Aricanduva e Mooca. A diferença entre o que penso e o que pensa a maioria me parece facilmente explicável. São Paulo não é uma cidade para todos, beneficia muito mais uns do que outros e oferece oportunidades diferentes, muito diferentes como mostram os índices de desigualdade que fazem parte da mesma pesquisa. O índice de satisfação média na questão desigualdade social é de apenas 4,3 quando se trata de conseguir emprego, em uma escala de 1 a 10. O de acesso à saúde é de 3,9 e o à moradia de 3,8. Nem todos tem os mesmos serviços à disposição. Veja que dos 96 distritos em que a cidade é dividida 45 não têm biblioteca infanto-juvenil e 44 não têm biblioteca para adultos. As diferenças também ocorrem nas áreas de lazer, educação, transporte, saúde e tantas outras. Como alertou Oded Grajew, um dos fundadores da Rede Nossa São Paulo, em comentário no programa CBN São Paulo: “esta desigualdade é insustentável, causa de muitos dos males que enfrentamos”.

 

Sinto-me um privilegiado por morar em São Paulo, e aqui pretendo viver por muito tempo ainda, mas adoraria saber que nossos gestores públicos e todos os demais que se oferecem para encarar este desafio tivessem projetos para diminuir estas desigualdades. Seria um presente e tanto para a cidade que completa 458 anos, no dia 25 de janeiro, saber que um dia todos terão os mesmos privilégios que tive desde que cheguei por aqui, em 1991.