Avalanche Tricolor: Carta à Dona Dirma

 

 

Corinthians 0 x 1 Grêmio

Brasileiro – Pacaembu (SP)

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Dona Dirma,

Como está a senhora ? Imagino que tenha tido um sábado bastante agradável, apesar da chuva forte em Porto Alegre.

Confesso que eu andava preocupado com a senhora, desde que seu filho me encontrou há pouco mais de uma semana e falou de um telefonema que a senhora havia feito para ele. Disse que não estava muito bem, voz baixa, um pouco triste, incomodada com o desempenho do nosso time.

Seu filho também não parecia muito legal. O baixo astral da mãe e os resultados do time dele – que não é o mesmo que o nosso – estavam deixando-o cabisbaixo, apesar do sucesso no trabalho que realiza aqui em São Paulo.

Em meio a um encontro de autoridades e especialistas, ele interrompeu o almoço e veio até minha mesa. Pegou-me pelo braço e me perguntou: “O que eu digo pra minha mãe ? O que está acontecendo com o Grêmio ?”. Nem tanto pela surpresa da pergunta, muito mais pelas coisas que aconteciam em campo (e fora dele), fiquei sem resposta. Ao menos, sem resposta convincente.

Lembro que ensaiei algumas possibilidades como a falta de organização do time, jogadores pouco engajados, gente não muito preparada para tomar as decisões e crença de mais na mística de nossa camisa. Nenhuma delas, porém, foi apresentada com a segurança que o momento solene exigia.

Saí daquele encontro pensando na senhora e no seu filho. É triste a gente não ter uma palavra de consolo para a mãe, ou um pensamento animador, ou um gesto capaz de oferecer esperanças de melhora.

Cheguei a começar uma carta para lhe explicar o que vinha acontecendo. Ou o que eu achava que vinha acontecendo. Deletei antes do primeiro parágrafo nas duas vezes. É Dona Dirma, agora as cartas são deletadas, não mais rasgadas como antigamente.

Pensei comigo: tem que haver algum sinal, um momento mágico capaz de virar as coisas a nosso favor; quem sabe um lance que me anime a escrever para a senhora sem que meus olhos fujam dos seus como fazem os meninos que contam lorota.

Fim de semana passado, quando fizemos o gol de empate contra o Botafogo no finzinho do jogo, cheguei a me entusiasmar. Mas resolvi esperar um pouco mais. Nesse meio de semana quando vencemos o Guarani em casa, achei que estava bom, mas ainda não era o ideal.

Hoje, Dona Dirma, a magia se realizou diante de nós. E logo aqui em São Paulo, onde seu filho trabalha há tanto tempo. Bem pertinho dele, para que tivesse oportunidade de pegar o telefone e contar à senhora de viva voz: “Mãe, eu vi !”. Sei lá se ele já teve tempo para ligar para sua casa nesta noite de sábado. Ou vai esperar o Palmeiras dele jogar amanhã.

Mas eu não tive dúvida de que o momento para lhe escrever era esse.

E comecei a pensar nestas linhas no momento em que Douglas carregou a bola em direção a defesa corintiana. A forma como ele conduziu a jogada, a maneira como se deslocou e apareceu diante do gol adversário, o movimento que fez para chutar longe do alcance do goleiro e a rede estufando no estádio do Pacaembu foram demais para mim.

Comemorei como nos tempos de menino, sozinho no meu quarto, com uma satisfação quase rídicula, distante de todos da casa, mas pensando na forma como a senhora deveria estar feliz, também, aí em Porto Alegre. Repeti os gestos e sentimentos ao assistir ao Vitor se esticar todo naquele cobrança de penâlti. E guardada suas dimensões, festejei cada despachada de bola de nossa área para segurar um time centenário e forte como é o Corinthians com apenas 10 em campo.

No apito final de um jogo interminável corri para o computador para lhe escrever. Hoje eu teria algo verdadeiro para lhe dizer. Uma resposta sincera, encorajadora, que a levasse a continuar acreditando no nosso Grêmio.

Pois agora que estou diante do computador fico pensando se ainda preciso lhe dar alguma explicação ou se seu filho precisa telefonar para lhe contar como foi esta vitória heróica, depois de tudo que o rádio já contou.

A senhora e seus 87 anos de torcedora gremista sabem mais do que ninguém o que acontece com o nosso time, o que nos leva a sofrer tanto um dia e vibrarmos como loucos no outro. Sabe quantos momentos de provação tivemos de enfrentar nestes 107 anos de história.

Dona Dirma, como a senhora mesmo já deve ter dito para tantas outras pessoas – inclusive para seu filho – isto só acontece com a gente porque somos o Imortal Tricolor!

Com carinho e respeito,

Mílton Jung