Conte Sua História de São Paulo: meu primeiro Salão da Criança foi no Ibirapuera

Luiz Eduardo Pesce de Arruda

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Em oito de outubro de 1966 seria aberta a sexta edição do Salão da Criança, no Pavilhão Internacional do Parque do Ibirapuera. O evento, criado em 1961 por Caio de Alcântara Machado, mexia com a imaginação da criançada. Todos nós prometíamos ser os melhores filhos do mundo — quase anjos, de aureola e tudo — nos meses que antecediam a festa. Era essa condição de nossos pais para nos trazerem a São Paulo. 

A TV, na época em preto e branco, dias antes da abertura, reproduzia anúncio e jingle do palhaço Carequinha convocando a molecada a ir ao Ibirapuera, onde haveria “competição, muita criançada e muita diversão”.

Uma semana depois da abertura oficial, no dia 16, um domingo saímos cedo de Araras, interior de São Paulo. Toda a família em um fusca, ainda de madrugada, seguindo pela Rodovia Anhanguera, que ainda era em pista única, ao menos até Campinas. Logo que chegamos ao Parque do Ibirapuera, na esquina da rua Abílio Soares com Pedro Alvares Cabral, ao lado da atual Assembleia Legislativa, meu pai estacionou o fusca. Minha mãe estendeu uma toalha xadrez, branca e vermelha, sobre o gramado. Eram umas nove horas da manhã quando fizemos um piquenique. Minha mãe havia preparado lanche de bife à milanesa, ovo cozido, Coca-Cola e café. 

Depois  de comermos à sombra do que me pareceu um espesso bosque  — hoje percebo que não era tanto assim — fomos, eu, meus pais e irmãos, todos ao Salão da Criança para nos divertir.

Como a vida da gente é engraçada: visitei muitos lugares, fui a tantos eventos, mas aquela manhã de outubro de 1966 nunca se perdeu ma memória.

Talvez, seja a evidência de que um passeio em família, tão simples,  temperado pela comida da mãe e pela presença das pessoas que amamos, escreva realmente a história dos momentos inesquecíveis de nossas vidas.

Veja aqui um dos anúncios de TV do Salão da Criança

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Luiz Eduardo Pesce de Arruda é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Seja você também personagem da nossa cidade. Envie seu texto para contesuahistoria@cbn.com.br Para ouvir outros capítulos, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Mundo Corporativo: Francisco Nogueira e Nina Campos propõem análise e diversão para simplificar as relações na empresa

Francisco e Nina em entrevista no Mundo Corporativo. Foto de Priscila Gubiotti

“O palhaço traz essa verdade do lúdico da leveza das relações e a psicanálise traz a verdade do sujeito essa verdade que vai ser revelada a partir do inconsciente ..”

Francisco Nogueira, psicanalista

O bobo da corte era uma figura comum na corte dos reis e rainhas medievais na Europa. Acredita-se que sua origem remonte ao antigo Egito, onde havia uma classe de pessoas chamadas “bufões sagrados”, que eram responsáveis por entreter os faraós e suas famílias. Durante a Idade Média, os bobos da corte eram contratados pelas cortes reais para entreter os membros da realeza e seus convidados. Tinham, também, uma função social importante. Eram frequentemente os únicos membros da corte que tinham permissão para falar livremente com o rei ou a rainha, sem medo de represálias. Eles eram muitas vezes considerados conselheiros informais e podiam fazer sugestões ou oferecer críticas construtivas que outros membros da corte não se atreveriam a fazer.

Os “reis” corporativos – donos, CEOs e presidentes de empresas – talvez devessem buscar naquela referência do passado uma solução para enfrentar os desafios do presente. É o que se deduz a partir da experiência de Francisco Nogueira e Nina Campos, sócios da consultoria Relações Simplificadas, entrevistados no programa Mundo Corporativo. Ele é psiquiatra e psicanalista, enquanto ela é palhaça, no caso a palhaça Consuelo. Em dupla e na união do conhecimento e da arte de ambos, Francisco e Nina desenvolvem treinamentos em algumas das principais corporações do Brasil:

“Quantas coisas as pessoas gostariam de dizer umas as outras que elas não dizem. O palhaço dá essa licença. Então, quando eu estou de Consuelo em geral a conversa da equipe flui melhor e é mais direta. Todo mundo se sente autorizado de uma forma acolhedora a dizer o que está pensando”

Nina Campos

É verdade que quando o palhaço entra no palco corporativo, muitos o rejeitam porque afinal quem tem tempo a perder com … palhaçadas. Daí a importância de o trabalho ser complementar, tendo o psicanalista para promover o conteúdo e realizar intervenções e o palhaço (no caso a palhaça) para desconstruir as pessoas, com leveza e bom humor.

“Esse trabalho na medida em que traz leveza pode falar coisas que estão circulando na cabeça das pessoas e pode precipitar essa informação, trazer o não dito para a consciência”

Francisco Nogueira

A ideia de criar relações simplificadas, que está no nome da consultoria mantida por eles, é uma alternativa à utopia de se ter relações perfeitas que, diante de toda a complexidade do ambiente corporativo, se torna inalcançável. Porém, não se engane: almejar o simples não é fácil. Exige um desenvolvimento pessoal e uma sofisticação do ser: O problema é que muitas vezes não se percebe que estamos vivendo em lugares de sofrimento, haja vista que boa parte das pessoas que deparam com a pergunta sofre com andam as coisas no ambiente empresarial, a resposta que Francisco e Nina mais ouvem é que está tudo normal.

“A gente está perdendo essa capacidade de investigação do nosso mundo interno. As relações sofrem, as pessoas sofrem, a ansiedade aumenta, a depressão se agrava. E aí começamos a ter problemas muito sérios de saúde mental dentro das organizações. Isso vai impactar a organização, isso vai impactar as pessoas, isso vai impactar produtividade e todo mundo vai sofrer”

Francisco Nogueira

Na combinação de experiências, a despeito de a empresa estar ou não preocupada com a sua saúde mental e com as relações internas, Francisco recomenda que as pessoas façam análise, cuidem do seu mundo interno, porque isso organiza os pensamentos e ajuda a entender melhor o sofrimento do outro e a sair de um padrão de cobrança para um padrão de tolerância. Enquanto isso, Nina sugere que as pessoas divirtam-se:

“Brincar vai trabalhar o pensamento não linear que é o que as empresas mais estão procurando: a capacidade de inovar, a capacidade de criar, que vai fazer com que as nossas relações sejam mais inteiras e leves”.

Nina Campos

Para aprender mais com a experiência da palhaça e do psicanalista, assista à entrevista completa do Mundo Corporativo:

O Mundo Corporativo tem as participações de Renato Barcellos, Bruno Teixeira, Priscila Gubiotti e Rafael Furugen.

Sábio Chico: só queremos “uma ofegante epidemia que se chamava Carnaval”

Por Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

Foto de Imagem de JL G por Pixabay

“E um dia, afinal

Tinham direito a uma alegria fugaz

Uma ofegante epidemia

Que se chamava carnaval

O carnaval, o carnaval”

Chico Buarque

Confesso que nunca fui das maiores folionas de Carnaval, mas admirava aqueles dias de festa, as pessoas nas ruas, a explosão de sons e cores. 

Esse ano nosso Carnaval está diferente, como todas as demais festas que foram canceladas por conta da pandemia. A maior manifestação cultural brasileira foi silenciada.

O Carnaval no Brasil teve início no período colonial, como uma brincadeira popular praticada pelos escravos, alguns dias antes da Quaresma, na qual as pessoas saiam às ruas e jogavam umas nas outras líquidos que poderiam ser desde água, café ou até mesmo urina.

No século XIX, houve uma campanha para reprimir essa brincadeira ao mesmo tempo em que surgiam os bailes em clubes e teatros criados pela elite do Império. Apesar disso, as camadas mais populares não desistiam das comemorações de Carnaval e criaram os cordões. Ainda no século XIX, surgiram as marchinhas de Carnaval. No século XX, o frevo, o maracatu, as escolas de samba, os trios elétricos… o Carnaval continuou fazendo história. Se tornou uma das peças da formação da identidade e símbolos do nosso povo.

Retratado em poesias e canções, o Carnaval serviu de inspiração para muitos artistas, com seus ideais de liberdade, de sonhos, de fantasias e do saudosismo trazido com a Quarta-Feira de Cinzas, anunciando o fim da festa.

Exatamente na Quarta-Feira de Cinzas, algumas religiões cristãs iniciam a Quaresma, momento dedicado ao recolhimento e à penitência.

Das inversões produzidas pela pandemia, temos um Carnaval com privações, distanciamento e silêncio. 

Quiçá isso seja capaz de reduzir as contaminações e, com as vacinas em curso, possamos logo nos livrar desse mal que nos atinge.

Me sinto como aqueles foliões que na Quarta-Feira de Cinzas ficavam sonhando com o próximo Carnaval. Não porque eu esteja desejando tal data, mas porque vislumbro o momento no qual poderemos sair às ruas, cantar, dançar e nos abraçar como fazíamos em outros carnavais. Parafraseando Chico Buarque, a única epidemia que queremos agora é de uma alegria contagiante: “Vai passar!”.

Saiba mais sobre saúde mental e comportamento no canal 10porcentomais

Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do perfil @dezporcentomais no Instagram. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung