Política acima da inflação

 

Por Carlos Magno Gibrail

Dim Dim!

A inflação é hoje o prato do dia, para a mídia e para os agentes econômicos. Também pudera, ameaça toda a economia brasileira que vem fortalecida desde 1994, quando se estabeleceu as regras que controlaram a emissão de moeda.

E a ameaça vem mais pelos dirigentes do que pelos agentes, na medida em que os aumentos de impostos e os gastos do governo não foram controlados.

As chances de evitar a inflação de forma correta não são fáceis, pois os governos buscam objetivos pessoais, usando aumento de impostos e de gastos, enquanto os meios de comunicação, ou por interesses também pessoais ou por falta de competência técnica, não conseguem fortes e efetivas sugestões para a solução.

É um cenário que repete sistematicamente a questão do aumento da taxa de juros, opção preferida pelos governos nestes 16 anos, que como sabemos é o mesmo que dar remédio para baixar a febre sem buscar a causa, dado os resultados obtidos.

Clovis Rossi, na FOLHA de domingo, comenta que em maio de 2003 resumiu estudo do FMI enviado pelo leitor Jacques Dezelin, onde mostra que em 1.323 casos de 119 países entre 1982/98 a inflação caiu com ou sem aumento da taxa de juros em 62% dos 476 casos examinados. Em apenas 50% de 398 situações a inflação caiu após o aumento de juros.

E Rossi arremata: “conto tudo isso para dizer que não há ciência nas críticas ao BC por ter aumentado 0,25% a taxa de juros, em vez do 0,50% exigido pelos mercados. Ninguém pode decretar o efeito que terá o 0,25% ou que teria o 0,50%”.

Expondo estes fatos ao Professor Economista Nelson Barrizzelli, FEA USP, e solicitando análise e sugestões, ouvi:

“Com uma dívida pública já acima de 1,75 trilhões de reais, e crescendo diariamente, uma taxa de juros de 12% ao ano atrativo ao capital estrangeiro, um constante aumento do gasto de custeio para cobrir despesas, a solução não é o aumento da taxa de juros, mais atrativa do que empreender. Afinal 12% ao ano sem risco, superam a aventura de ser empresário”.

“Só o aumento na taxa Selic da semana passada (0,25%) acarretará este ano despesas adicionais de juros de R$ 4,37 bilhões, número nada desprezível para um país onde educação, saúde pública e infra-estrutura estão sucateadas. Aumentar os juros para conter a inflação gerada por um governo perdulário que gasta desbragadamente com o custeio de uma máquina pública emperrada e ineficiente, é o mesmo que receitar analgésico para curar o câncer. A dor pode ser menor por pouco tempo, mas a doença acaba matando o paciente”.

“A solução é o governo respeitar a base da teoria econômica não aumentando impostos e gastar o que se arrecada. Para controlar a execução é necessária uma imprensa sem necessidade de concessão governamental e sem medo de ferir ou perder fontes de informações. É preciso também discernir de economistas notáveis que estejam envolvidos no sistema, como manipuladores ou como operadores”.

Rossi e Barrizzelli colocam uma luz necessária no momento econômico nacional, neste momento em que vimos presenciando muitas críticas e poucas soluções.

Bom sinal, que jornalistas econômicos e economistas políticos poderiam fortalecer.


Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve, às quartas-feiras, no Blog do Mílton Jung


A imagem deste post é do álbum digital de Carlos Eduardo, no Flickr

Jornalismo à deriva*

 

Por Carlos Magno Gibrail

Do conhecimento concentrado do passado (Platão, Aristóteles, Descartes, Da Vinci) ao conhecimento especializado de hoje, não há dúvida que a quantidade de informação e de distribuição é intensamente diferente. Entretanto, a possibilidade de usá-lo através da mão de obra especializada, representada pelos profissionais contemporâneos, continua subordinada à estrutura de poder estabelecida. Tal qual no passado, quer pelo Estado, pela Igreja ou pelo poder econômico, travestido em grandes corporações ou até mesmo por forte corporativismo.
Fato incontestável é que, em junho, o STF por oito votos a um, optou pelo fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo e pela desregulamentação da profissão.

Já em abril o plenário do Supremo Tribunal Federal tinha declarado inválida, por sete votos a quatro, a Lei de Imprensa, que criara a profissão de jornalista e seu curso universitário de formação, em 1967.
O oligopólio da comunicação, concentrado em poucas famílias e agora entremeado por entidades religiosas, tal qual no passado, argumenta que a Lei de Imprensa e a profissão de jornalista são testemunhos da ditadura e atentam para a liberdade requerida em nossa Constituição.

Reprodução da capa O EconomistaEsquecida quase sempre, a História, testemunha que em 1918 os jornalistas, reunidos em Congresso no Rio de Janeiro, já defendiam a formação específica em jornalismo para o exercício da profissão. Em 1961, Jânio Quadros publicou decreto regulamentando a profissão. As empresas, no entanto, se mobilizaram e acabaram conseguindo, um ano depois, sob o governo Goulart, a revogação do decreto.

Não é, portanto condizente afirmar, que por ter sido criada pela ditadura tanto a Lei de Imprensa quanto o diploma, sejam obras do mal. Pior é tornar-se um dos raros países do mundo sem Lei de Imprensa, além de desqualificar o jornalista como profissional, deixando sem regulamentação a atividade e a profissão.

Em sua justificativa, Gilmar Mendes, presidente do STF afirmou que a exigência do diploma fere o direito de liberdade de expressão e a atividade não necessita de qualificações profissionais específicas para ser exercida.

É questionável esta questão do direito de liberdade de expressão. Basta uma experiência em qualquer tribunal para quem não é advogado. Você não pode se representar, independentemente de seu preparo. Você é obrigado a contratar um advogado.

O maniqueísmo do poder, não passou despercebido dos profissionais regulamentados, tal a mudança que estas desqualificações poderão acarretar no mercado de trabalho. A partir de OABs seccionais e outras entidades.

“Ora, chama a atenção do Conselho Regional de Economia de São Paulo o argumento de que merecem regulamentação apenas as profissões como disse o ministro, que ‘podem trazer perigo de dano à coletividade ou prejuízos diretos a direitos de terceiros, sem culpa das vítimas, tais como a medicina e demais profissões ligadas a área de saúde, a engenharia, a advocacia e a magistratura, dentre outras várias”. Antonio Luiz de Queiroz Silva, Presidente.

“Ao negar a cientificidade e a seriedade das demais ciências, em especial as humanas, o STF pode estar indicando que não será mais necessário exigir o diploma para História, Língua Portuguesa, Filosofia, Sociologia, Economia e demais áreas cuja cientificidade tenha como base teorias distintas das ciências exatas, aplicadas, naturais e formais”. Fabio Koifman, historiador e advogado.

E o Presidente do Corecon comenta a observação de Koifman:

“Muito bem observado pelo historiador, curiosa e contraditoriamente, tanto o relator como os demais juristas referenciados – não por acaso – não incluíram a profissão de advogado nesse bojo. Sem entrar no debate a respeito do Direito, vale lembrar que a base teórica das jurídicas está fincada nas ciências sociais, o que de imediato, seguindo a mesma lógica do STF, já incluiria a profissão de advogado como uma das que o exercício independeria de diploma. Negar a seriedade de tais profissões é fechar os olhos para o desenvolvimento propiciado pelo trabalho e pesquisas da área. É negar, sobretudo, a relevância de tais ciências. Visto isso, cabe- nos demonstrar solidariedade aos jornalistas que pertencem à sua instituição de classe, atuando com ética e competência.”

O cozinheiro do Ministro pode ser jornalista de cozinhas. Por que não? Desde que seja competente, na cozinha e na palavra .

A valorização do jornalista é vantagem para o público e para os veículos, embora, como os políticos, não os veja dessa forma.

*Título e imagem da reportagem de capa da revista O Economista, do Corecon-SP (Leia mais aqui)

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e usa de seu conhecimento jornalístico para escrever este artigo, às quartas, no Blog do Milton Jung