Não me faz te pegar nojo, Sam Altman

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Sou o que costumam chamar de ‘early adopters’. Perdão pelo anglicismo logo na abertura do texto, mas é assim que a turma que fala de tecnologia prefere chamar aquilo que lá no meu Rio Grande do Sul denominaríamos de ‘guri metido’ — aquele cara que não pode ver uma novidade e já se atreve a usar. Foi assim com o ChatGPT. No dia em que ouvi falar, já estava fuçando suas funcionalidades. Virei embaixador do negócio. Sugeri para colegas, amigos e parentes — até para o cunhado.

Fiz o primeiro curso que apareceu. Comprei o primeiro livro sobre o assunto. Entrevistei as fontes que entendi serem mais relevantes e acessíveis. O negócio cresceu em uma velocidade exponencial e tomou uma dimensão que não dei conta diante de todas as possibilidades. Mesmo assim, apaixonei!

As primeiras polêmicas se tornaram públicas. O CEO Sam Altman foi demitido e recontratado em um movimento tão rápido quanto as respostas que a inteligência artificial é capaz de nos oferecer. Questionamentos sobre segurança e responsabilidade causaram tanta ‘alucinação’ quanto o ChatGPT pode produzir frente a um ‘prompt’ impreciso.

A última polêmica foi a situação envolvendo Scarlett Johansson.  Após quase um ano de negociações para que a atriz emprestasse sua voz ao ChatGPT 4.0o, Johansson recusou. No entanto, a OpenAI lançou uma voz incrivelmente semelhante à dela, chamada Sky, sem sua autorização. Quando a estrela de “Encontros e desencontros” ouviu a demo, ficou chocada e irritada. Mesmo com a negativa clara da atriz, Altman pareceu brincar com a situação ao sugerir no Twitter uma referência ao filme “Her”, onde Johansson dubla uma assistente de IA.

Essa atitude de Altman lembra muito o que Elon Musk fez com o Twitter, agora rebatizado de X. Musk, em sua gestão tumultuada e desrespeitosa com o cliente, transformou a plataforma, outrora um espaço de troca de ideias e informações, em um terreno de controvérsias e desinformação. A marca Twitter, construída ao longo de anos, foi profundamente danificada pela conduta errática e decisões questionáveis de Musk. E agora, Altman parece trilhar um caminho semelhante com a OpenAI.

A comparação é inevitável. Ambas as situações envolvem líderes carismáticos que, ao invés de preservar e fortalecer as instituições que dirigem, parecem mais interessados em promover seus próprios egos e preferências pessoais. No caso de Altman, a obsessão com o filme “Her” e a tentativa de replicar a voz de Johansson sem sua permissão demonstra um desrespeito pelas normas éticas e pelos direitos individuais. Isso não só prejudica a imagem da OpenAI como também levanta questões sérias sobre a integridade da empresa.

A saída de Ilya Sutskever, cofundador da OpenAI, e de outros membros da equipe de superalinhamento, reflete o ambiente conturbado dentro da empresa. Eles faziam parte do time focado em garantir a segurança de possíveis futuros sistemas de inteligência artificial ultra-qualificados

A OpenAI, que deveria ser um exemplo de pesquisa e desenvolvimento seguro de IA, agora parece mais preocupada em lançar produtos chamativos e ganhar mercado a qualquer custo. Essa mudança de foco é preocupante, especialmente com relatos de acordos de confidencialidade abusivos e uma cultura de segredo.

Assim como Musk transformou o Twitter em um campo minado de controvérsias, Altman está levando a OpenAI por um caminho perigoso. A empresa, que nasceu com a missão de desenvolver IA de forma segura e ética, agora parece mais interessada em ganhar visibilidade e lucro rápido. As ações de Altman, como no caso de Scarlett Johansson, mostram um desrespeito pelos princípios que deveriam nortear a OpenAI.

A postura de “vencer a qualquer custo” não é apenas insustentável, mas também prejudicial. Quando líderes colocam seus interesses pessoais acima das responsabilidades institucionais, a confiança do público e a integridade da organização são comprometidas. O caso de Johansson é um alerta para todos nós sobre os perigos de uma liderança que negligencia a ética em favor do ganho pessoal.

Sam Altman precisa reconsiderar suas ações e prioridades antes que a OpenAI sofra danos irreparáveis, assim como o Twitter nas mãos de Musk. A comunidade global de tecnologia e os usuários — especialmente aqueles que como eu nos apaixonamos pelo tema — querem confiar que essas ferramentas sejam desenvolvidas com responsabilidade e respeito. É hora de voltar aos princípios fundamentais e garantir que a OpenAI se alinhe novamente com sua missão original.

Recorrendo a um jargão consagrado pelo conterrâneo e humorista Andre Damasceno, criador do personagem o “Magro do Bonfa”: Altman, “não me faz te pegar nojo”, porque a OpenAI merece mais do que isso!

Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: o fator X das marcas

“Nome se constrói evitando erros de origem, o que pode impedir esse nome de um bom desenvolvimento, mas principalmente se constrói na gestão do dia a dia, nas múltiplas camadas de significado que vão sendo construídas, pouco a pouco”

Cecília Russo

No cenário digital em constante evolução, as marcas enfrentam desafios para se reinventar e acompanhar as demandas de um público em constante mutação. Duas recentes mudanças de nome ganharam destaque tanto no cenário nacional quanto internacional, levantando questões sobre o poder das marcas e o impacto de decisões tão audaciosas. Jaime Troiano e Cecília Russo, no Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, analisaram as estratégias de Elon Musk que trocou o consagrado Twitter pelo nome “X”e do Banco Central ao lançar a moeda digital “Drex”.

A ousadia de Elon Musk

O Twitter, uma das redes sociais mais reconhecíveis e utilizadas globalmente, surpreendeu ao anunciar sua mudança de nome para “x”. Essa mudança, comandada por Elon Musk, chamou atenção tanto pela ousadia quanto pelos questionamentos que levanta sobre a importância da identidade e do significado na construção de uma marca.

Cecília, destaca que a alteração do nome do Twitter parece mais um resultado da vontade pessoal de Musk do que uma estratégia de posicionamento de marca madura. A mudança, que substituiu um nome icônico e reconhecível por uma designação genérica, gerou críticas por perder parte da identidade da marca. O “passarinho azul” associado ao Twitter, por exemplo, tornou-se uma memória, substituído por um nome mais impessoal e menos relacionável:

“Em sua lógica, manter Twitter seria permanecer algo sem sua marca pessoal, sem o seu DNA. Mas a meu ver isso é um grande equívoco porque jogou fora o bebê junto com a água do banho. Matou algo que tinha identidade, cor, cara, o passarinho, uma marca que estava no dicionário, o tuitar, por algo genérico, batido, com significados ruins que é a marca X”

Cecília Russo

O Banco Central criou a marca Drex

No contexto brasileiro, outra mudança de nome também chamou a atenção: o Banco Central lançou sua moeda digital com o nome “Drex”. Para Jaime Troiano, essa mudança é uma estratégia mais sólida. Antes, o projeto era chamado de “moeda digital brasileira”, uma nomenclatura genérica que não carregava uma identidade própria. Com a criação do nome “Drex”, o Banco Central alinhou a moeda digital à família de marcas relacionadas ao “Pix”, uma iniciativa já bem estabelecida.

“A meu ver, a lógica da criação do nome traz bons aprendizados que a marca PIX conseguiu construir. Por ser da mesma família, ela segue dois direcionamentos que começaram com o PIX. Um nome curto, agora com 4 letras e com o X em sua última letra. O X, tanto em PIX como em DREX traz uma força e personalidade ao nome que são interessantes”.

Jaime Troiano

Além disso, Jaime enfatiza que o processo de construção da marca não se limita apenas ao nome, mas envolve uma narrativa que se desdobra com o tempo, incorporando símbolos, cores e comunicação.

Cada qual com seu X

As duas mudanças de nome – a do Twitter para “x” e a criação da moeda digital “Drex” pelo Banco Central – ilustram diferentes abordagens no mundo das marcas digitais. Enquanto uma mudança parece basear-se em uma visão mais personalista e arrojada, a outra busca alinhar-se a uma estratégia já consolidada. O significado e a identidade de uma marca são ativos valiosos que devem ser cuidadosamente considerados em qualquer movimento de mudança. O tempo dirá qual abordagem se provará mais bem-sucedida, à medida que essas marcas enfrentam o desafio de manter uma conexão sólida com seus públicos em um mundo em constante transformação.

Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: