Mundo Corporativo: Tatyane Lucah, da EBEM, ensina como transformar a economia do cuidado em oportunidade às mulheres empreendedoras

Tatyane Lucah em gravação do Mundo Corporativo, foto: Pricila Gubiotti

“O empreendedorismo é uma maneira de você remunerar a sua paixão”

Tatyane Lucah, Escola Brasileira de Empreendedorismo

Ser empreendedor no Brasil exige coragem, resiliência e uma série de outras habilidades para superar as barreiras que surgem na construção do próprio negócio. Se for uma empreendedora, haverá desafios ainda mais específicos, ressalta Tatyane Lucah, fundadora da Escola Brasileira de Empreendedorismo, em entrevista ao programa Mundo Corporativo, da CBN. Ela cita que a mulher está sujeita à “economia do Cuidado”, na qual, frequentemente, assume responsabilidades domésticas, precisa dar atenção aos filhos e até mesmo aos pais idosos.

Ela destaca que, de acordo com estatísticas de 2022, as mulheres têm 18% a menos de tempo disponível em comparação aos homens devido a essas responsabilidades. Tatyane enfatiza a importância de aprender a dividir o tempo entre tarefas urgentes, importantes e circunstanciais.

“Circunstancial é aquilo que dá para fazer? Ótimo! Não dá? Aprenda a dizer não. O urgente é você apagando fogo, você sendo uma empresária bombeira. E a questão do importante é, sim, meninas, sempre respeitem a sua agenda. Está na agenda, missão cumprida! Não está na agenda, não se culpe por não ter dado tempo ou não ter feito.”

Tatyane também discute como o empreendedorismo pode ser uma alternativa para as mulheres que buscam equilibrar suas vidas profissionais e pessoais, permitindo que elas sejam relevantes no mercado enquanto cuidam da economia do cuidado. Além disso, ela menciona a diferença entre empreendedoras e empresárias, ressaltando a importância da capacitação e da gestão empresarial para que as mulheres possam não apenas iniciar seus negócios, mas também torná-los bem-sucedidos e relevantes no mercado.

Uma Trajetória Empreendedora

A jornada de trabalho de Tatyane Lucah começou cedo, aos 11 anos, vendendo pastel na CEAGESP, com o apoio do pai. Aos 15, foi office girl em uma empresa que vendia molas para a Auto Latina (a junção da Ford e da Volkswagen). Posteriormente, trabalhou no SBT por dois anos antes de entrar na área de eventos.

Ela destaca a importância de seu pai e de um namorado que a incentivaram a buscar conhecimento e excelência em tudo o que fazia. Tatyane enfatiza que o conhecimento foi fundamental para acelerar o processo de crescimento e sucesso:

“Você quer dar certo, estude! Eu sei porque eu já ganhei muito dinheiro, já tive muito sucesso financeiro, mas por falta de educação empreendedora, eu já perdi muito dinheiro nesses meus 22 anos de empreendedorismo. E eu falo que é super desnecessário. Se eu tivesse o acesso à metodologia desenhada que eu tenho hoje, teria ido muito além.”

A partir dessa base de experiência, Tatyane fundou o Grupo Projeto Figital aos 21 anos, inicialmente como organizadora de eventos corporativos. Ao longo de 22 anos, expandiu a empresa para áreas como marketing digital, branding e logística, atendendo a clientes de grande porte, incluindo multinacionais.

Um dos principais aprendizados que Tatyane compartilha é a importância das conexões e do atendimento excepcional ao cliente. Ela enfatiza que as pessoas compram de pessoas, e a confiança e o relacionamento desempenham um papel fundamental no sucesso empresarial. Independentemente das barreiras que enfrentou ao longo de sua jornada, Tatyane sempre se concentrou no resultado final e acreditou que alcançaria seus objetivos.

A educação empreendedora é essencial

A ideia de fundar a EBEM – Escola Brasileira de Empreendedorismo surgiu de uma necessidade premente. Durante a pandemia, Tatyane viu seu mercado de eventos ser drasticamente afetado, perdendo contratos no valor de mais de 8 milhões de reais. Esse momento de crise a levou a refletir sobre o que poderia fazer para ajudar outras empresárias que estavam passando por dificuldades semelhantes.

Foi nesse contexto que ela decidiu criar uma metodologia e um curso digital chamado “Gestão Lucrativa”. No entanto, a economia do Cuidado e as preocupações decorrentes da pandemia fizeram com que muitas empresárias não conseguissem concluir o curso. Tatyane então adaptou a metodologia e trouxe um grupo de 20 empresárias para uma versão presencial do curso. Segundo ela, os resultados foram impressionantes, com empresas experimentando um crescimento significativo, incluindo escritórios de arquitetura, advocacia e varejo.

A fundação da Escola Brasileira de Empreendedorismo foi uma resposta à necessidade de oferecer educação e apoio às empresárias, focando em sua essência e bem-estar emocional como um primeiro pilar. Tatyane enfatiza que uma empresária bem cuidada é fundamental para o sucesso de seu negócio.

A escola oferece uma abordagem híbrida com aulas presenciais e online, incluindo um grande evento anual, formação em gestão lucrativa e uma mentoria de um ano chamada “Miss Mind” (Mente Mestra), onde a colaboração e a troca de experiências desempenham um papel fundamental no desenvolvimento das empresárias.

Desafios e princípios do empreendedorismo feminino

Na entrevista, Tatyane identificou três aspectos-chave para que as mulheres não repitam erros comuns na jornada empreendedora, que muitas vezes impedem o crescimento rápido de seus negócios.

  • Construção de Equipe: Ela enfatiza a importância de construir uma equipe sólida, destacando que um empreendedor não pode fazer tudo sozinho. Contratar as pessoas certas e atribuí-las às funções adequadas é fundamental. Tatyane recomenda a avaliação de perfis comportamentais ao contratar para garantir um encaixe adequado.

  • Treinamento: O treinamento é outra peça-chave do quebra-cabeça. Empresárias precisam estar dispostas a investir tempo e recursos no treinamento de sua equipe. Além disso, é importante gostar de pessoas e estar disposta a ensinar, pois o sucesso de um negócio depende em grande parte do engajamento e do encantamento dos colaboradores.

“Primeiro você constrói um time e esse time constrói a sua empresa. É um erro muito grande você achar que sozinha você vai construir o teu negócio. A contratação, o engajamento, o encantamento de pessoas vai fazer com que você se torne uma grande empresária”.

  • Liderança Inspiradora: Tatyane destaca que uma liderança inspiradora é essencial para capacitar e inspirar aqueles que buscam empreender. Ser congruente e autêntico em sua liderança é fundamental, pois as pessoas sentem a energia de um líder. Ela também faz um convite para que as mulheres adotem mais princípios femininos, como compartilhamento, co-criação e intuição, para equilibrar as energias masculinas presentes no mundo dos negócios.

Assista ao Mundo Corporativo

O Mundo Corporativo pode ser assistido ao vivo, todas as quartas-feiras, às 11 horas da manhã, no canal da CBN no YouTube. O programa vai ao ar aos sábados, às 8h10 da manhã, e aos domingos, às 22h, em horário alternativo. Você também pode ouvir em podcast. Colaboram com o Mundo Corporativo: Priscila Gubiotti, Letícia Veloso, Renato Barcellos e Rafael Furugen.

Mundo Corporativo: Sandra Nalli, da Escola do Mecânico, ensina que lugar de mulher é onde ela quiser

Foto divulgação da Escola do Mecânico

“Quanto mais você estuda,  mais capacitado você se torna”

Sandra Nalli, Escola do Mecânico

Loira, baixinha e mulher! Diante desse perfil, homens — especialmente homens — se espantavam quando chegavam no centro automotivo em que Sandra Nalli trabalhava, em Mogi Mirim, interior de São Paulo. Ela não era a recepcionista. Era a mecânica! Era quem dava as ordens no local. Com a sabedoria de alguém que começou cedo na profissão e sempre apostou no conhecimento como diferencial, Sandra se agigantava assim que passava a ensinar os motoristas sobre o que impedia que seu carro estivesse funcionando bem.

Tinha apenas 14 anos quando começou a receber aulas de  mecânica na oficina em que trabalhou. Foi jovem aprendiz. Depois, decidiu levar a prática para jovens internos da Fundação Casa. Nesse momento, percebeu o quanto poderiam ser transformadores na vida daqueles meninos e meninas os ensinamentos que havia acumulado até então: 

“A empresa que eu gerenciava, que era uma rede de serviços automotivos, precisava contratar profissionais qualificados e eu não encontrava no mercado. Aí, comecei a fazer esse trabalho dentro da fundação. E a observar que tinham meninos que de alguma forma poderiam ser recuperados, voltar à sociedade e, até mesmo, serem incluso no mercado de trabalho”.

Ao programa Mundo Corporativo, Sandra Nalli disse que o trabalho voluntário na Fundação Casa, começou a ganhar forma de negócio quando alugou um pequeno escritório no centro de Campinas e mandou grafitar na parede: “Escola do Mecânico”.

“Eu acabei quebrando algumas barreiras e hoje eu tenho bastante orgulho em dizer que eu sou a fundadora da Escola do Mecânico e que nós temos um grupo de mulheres que estudam com a gente também e que a gente pretende incluí-las no mercado de trabalho”

A sala transformou-se em escola, e a escola em uma rede que, atualmente, tem 35 unidades, em nove estados brasileiros. Naturalmente, a escola passou a ter “cadeiras” ocupadas por meninas, inspiradas na história de Sandra. O sucesso e protagonismo dela também abriram o olhar de parceiros de negócios que entenderam que não existe reserva de mercado para homens:

“A gente tem depoimentos aqui de alguns colegas, donos de oficinas, que em um primeiro momento tinham restrições em contratar mulheres mecânicas. Hoje, a gente tá com o segundo pedido de colocação de mão de obra (feminina) para mesma mesma oficina. Significa dizer que que foi bem sucedido, né?”.

Em 2018, Sandra deu mais um passo na sua jornada para criar oportunidades no mercado de trabalho, criou o “Emprega Mecânico”, um aplicativo que conecta empresas e oficinas com profissionais em busca de emprego:

“O mecânico não está no Linkedin, e a nossa ferramenta é adaptada para esse tipo de ofício”.

Além de mecânico, a intenção da Escola é preparar os alunos para serem gestores dos seus negócios. Assim como Sandra foi aprender no Sebrae sobre a necessidade de criação de um plano de negócios, identificação de barreiras e oportunidades, localização do empreendimento e fluxo de caixa, agora transfere esse conhecimento aos estudantes. De acordo com a executiva, 20% dos alunos querem empreender, abrir um negócio próprio — uma oficina de motocicleta, de reparos automotivos, de caminhões, ônibus e maquinário agrícola. 

Além do conhecimento técnico e das estratégias de gestão, Sandra Nalli ensina na Escola do Mecânico, que é preciso ser resiliente diante das dificuldades que se tem para empreender no Brasil, especialmente se forem mulheres; disciplina, muito estudo e muita coragem:

“Eu me lembro quando eu fui empreender. As pessoas diziam assim: você tá louca, vai sair de um emprego, você tem um emprego extremamente interessante, você levou 20 anos para chegar nessa posição e agora vai pedir demissão. Se eu acredito no  que eu vou fazer, então, tem de quebrar o paradigma do medo, também!”

Em tempo: “loira, baixinha e mulher”, foi assim que Sandra Nalli se descreveu durante a entrevista, tá!

Assista ao programa Mundo Corporativo da CBN com Sandra Nalli, fundadora da Escola do Mecânico

O Mundo Corporativo pode ser assistido ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã, no canal da CBN no YouTube, no Facebook e no site da CBN. Colaboram com o programa: Renato Barcellos, Bruno Teixeira, Priscila Gubiotti e Rafael Furugen.