Doutorado: sem preconceitos

 

Por Carlos Magno Gibrail

Galeria do Flickr de Marco Gomes

“O doutorando brasileiro está cada vez mais interessado em Machado de Assis e menos em relatividade”. Roberto Mioto, jornalista da Folha em artigo na seção Ciências, reflete com esta frase o corporativismo
existente nos cientistas. Setor no qual não deveria se alojar
sentimento tão distante da realidade do conhecimento. Afinal de contas
a separação entre as ciências atende apenas ao aspecto didático, pois
a interdependência é inequívoca.

Se o novo levantamento do governo sugere que a expansão da pós –
graduação é puxada, em primeiro lugar, pelo aumento de doutores nas
ciências humanas, e não nas ciências exatas e biológicas, o problema
está nestas.

Na matéria de Roberto Mioto temos que o Ministério da Ciência e
Tecnologia através do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos realizou a pesquisa coordenada por Eduardo Viotti, que aponta uma queda entre 1996 e 2008 nos doutores em exatas de 16,1% para 10,6%. Especificamente nas engenharias houve queda menor de 13,7% para 11,4%, a mesma ocorrida nas biológicas.

Seguindo a linha de Mioto, Viotti extrapola: “É difícil criar doutorados em áreas de ciências exatas, da Terra e engenharias. Eles exigem laboratórios, não são cursos que precisam apenas de cuspe e giz”.

A fala de Viotti indica mesmo que o pessoal de exatas deve realmente
se preocupar com as ciências humanas, inclusive para melhor entendê-
las e aplicá-las. Ao mesmo tempo explica: “Nos últimos 20 anos o país
não cresceu muito, não havia muito emprego ou interesse nas áreas de
engenharia ou ciências da Terra. Direito, economia e administração,
por exemplo, eram as áreas onde havia mais possibilidade de os
doutores se empregarem”.

De qualquer forma a situação é positiva, pois enquanto o número de
doutores e mestres tem subido de forma geral, há medidas de incentivo
ao crescimento de pesquisas nas áreas das exatas. Carlos Aragão
presidente do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – ressalta que tem apoiado a formação de engenheiros e
cientistas facilitando o acesso a bolsas para corrigir as distorções.

Embora no contexto mundial a relação entre a população e o número de
doutores no Brasil seja de 1,4 doutores por mil habitantes, e nos
Estados Unidos seja de 8,4 e na Alemanha seja de 15,4, a participação
nacional na produção científica colocou-nos em 13º lugar em 2008 à
frente da Holanda 14º e da Rússia 15º, ao mesmo tempo em que subimos do 20º em 2000.

Recado maior aos corporativistas das exatas pode ser extraído do
Financial Times no artigo de Tyler Brulé : “Marca Brasil está
preparada para ação: suas empresas de energia podem ser o motor, mas são os elementos soft ( música,moda,hospitalidade,design) que tornarão o Brasil mais sedutor e sensual do que Rússia, Índia e China”.

Precisamos ou não de doutores e mestres em música, moda, hospitalidade e design?

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve às
quartas no Blog do Mílton Jung


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