Por Carlos Magno Gibrail

A produção de roupas na era moderna sempre se caracterizou por gradativamente se afastar dos países centrais para os periféricos. Na medida em que as nações se desenvolveram e ficaram prósperas, as confecções as deixaram e se dirigiram onde existiam pessoas dispostas a trabalhar por um prato de comida.
Até mesmo o trabalho domiciliar nos grandes centros urbanos em metrópoles cosmopolitas, propiciado a pessoas que cuidavam de parentes idosos ou doentes, foi se extinguindo. Não foi capaz de concorrer com os países asiáticos e afins.
A oferta de baixa qualidade, baixa remuneração e alta produção pelo enorme contingente humano disponível resultava num invejável preço competitivo à moda que se confeccionava.
Enquanto o gado começou a ser policiado e para ser vendido é preciso provar que sua origem não é de áreas desmatadas. Enquanto a madeira precisa de certificado de origem para ser comercializada nos grandes centros contemporâneos. Enquanto as roupas são ofertadas sem rastreamento, embora a etiqueta que as acompanha o permita e, às vezes, o baixo preço as denuncie nada de expressivo se fez.
E, é neste cenário que o recente caso dos guetos latinos em São Paulo possa trazer uma expressiva contribuição para corrigir esta distorção. Lição que precisa ser levada principalmente aos consumidores, pois é através da decisão de compra que se efetivará o real controle da cadeia produtiva. É preciso criar uma identificação que premie as marcas que estão respeitando o ser humano. É hora de vigiar e premiar. Para vigiar, até que se estabeleça um controle oficial, é atentar à origem, ao preço e ao tamanho das organizações.
Se no mais evoluído estado brasileiro há regime de escravidão, podemos imaginar nos confins da China ou da Índia. Se grandes corporações de varejo já quebraram enorme quantidade de micros e pequenas empresas fornecedoras utilizando seu absoluto poder econômico, cancelando encomendas exclusivas ou pressionando preços, imagina-se o que podem fazer com indefesos trabalhadores terceirizados ou quarteirizados. E, se o preço baixo é importante, melhor será aproveitar as liquidações das marcas fora do eixo potencial de risco.
Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve, às quartas-feiras, no Blog do Mílton Jung