Dez Por Cento Mais: Gabi Roncatti fala do poder transformador do riso nos hospitais

Foto Divulgação


“O hospital é um palco pouco iluminado, mas grandiosamente iluminado pelo resultado que ele dá.”

Gabi Roncatti

Pode um nariz azul abrir portas que uma expressão séria jamais conseguiria? Para Gabi Roncati, atriz, humorista e fundadora do projeto Humor Riso, essa é uma certeza construída em anos de trabalho em hospitais, onde a arte se transforma em companhia, escuta e cuidado. Gabi leva o riso como terapia a pacientes em situação de fragilidade, transformando ambientes marcados pela dor em espaços de acolhimento. Essa experiência foi o centro da conversa com Abigail Costa no programa Dez Por Cento Mais.

Nariz azul, escuta ativa e um show particular

Formada em risoterapia, Gabi desenvolveu um modo próprio de atuação nos corredores hospitalares. Tudo começa com o respeito: “A gente sempre vai pedir licença para entrar no quarto. Se o paciente disser não, a gente agradece e vai embora. Isso devolve a ele o direito de dizer o que quer.” É o primeiro passo de uma abordagem sensível, pensada em cada detalhe — da maquiagem suave ao nariz azul — para não assustar, mas conectar.

A escuta ativa, mais do que o riso em si, é um dos pilares do trabalho. “Tem dias em que a pessoa só precisa falar. O desabafo já é um alívio enorme. E quando você vê, já está batendo um papo muito mais risonho do que no começo.” Gabi entende que, antes de provocar uma gargalhada, é preciso se fazer presente: “A presença ativa também cura.”

Cada encontro é único. Não há roteiro. “O riso é singular, é cultural. O que funciona com um não funciona com o outro.” É por isso que Gabi prefere dizer que sua metodologia é intuitiva, alimentada por conhecimentos em psicologia, neurociência, arte e espiritualidade. “Eu testo tudo em mim antes de testar nos outros. Acordar sorrindo muda o seu dia. Eu garanto.”

Felicidade é treino

Segundo Gabi, o riso é uma musculação da alma. “Você precisa praticar. Ele pode ser provocado, mesmo sem estímulo externo. Seu cérebro não distingue se é uma risada genuína ou forçada — os benefícios são os mesmos.” E completa: “Se você escolher encarar seus problemas com mau humor, seu dia vai ser insuportável. Se encarar com bom humor, ele vai ser muito mais leve.”

Essa filosofia a acompanha mesmo diante dos momentos mais difíceis. Como quando visitou uma menina em estado terminal que, com esforço, sentou na cama e sorriu. “A mãe dela chorava, emocionada por ver a filha brincar mais uma vez. Isso me marcou profundamente. Às vezes, o que a gente faz ali é só permitir que o último sorriso aconteça.”

Assista ao Dez Por Cento Mais

O Dez Por Cento Mais, apresentado pela jornalista e psicóloga Abigail Costa, pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, ao meio-dia, pelo YouTube. Você pode ouvir, também, no Spotify.

Mundo Corporativo: Ana Menegotto, da Sodexo, diz quais competências não podem faltar ao líder

Ana Menegotto em entrevista ao Mundo Corporativo. Foto: Priscila Gubiotti/CBN

“A escuta e a humildade deveriam ser coisas que não saem nunca da lista.”

Ana Menegotto, Sodexo Brasil

Em tempos de transformações aceleradas, discutir qualidade de vida no trabalho deixou de ser um diferencial e passou a ser uma exigência estratégica para empresas que pretendem prosperar. Para Ana Menegotto, vice-presidente de Pessoas, Comunicação e ESG da Sodexo Brasil, essa mudança de mentalidade começa pela liderança. “A liderança precisa ter essa consciência do papel dela como um facilitador, mas também como algo que pode ser um potencializador de estresse no dia a dia, se não bem trabalhado”. A executiva foi a entrevistada do programa Mundo Corporativo.

O papel das lideranças nas relações humanas

Com 48 mil colaboradores no Brasil, mais de 90% deles em funções operacionais, a Sodexo aposta em programas contínuos de formação e desenvolvimento de líderes como uma forma de promover ambientes mais saudáveis. “No dia a dia, a grande maioria dos conflitos — dos pequenos aos grandes — tem como causa raiz as relações humanas”, afirma Ana. O programa “Liderança Empática” é uma das iniciativas citadas por ela como fundamentais para garantir que os líderes saibam escutar, orientar, tomar decisões e fortalecer as conexões com suas equipes.

Segundo Ana, o tripé formado por Pessoas, Comunicação e ESG, áreas sob sua responsabilidade, precisa operar de forma integrada. “Não há um negócio rentável, sustentável de curto, médio e longo prazo sem pessoas. Sem olhar para os pilares do compromisso interno e externo”.

Diversidade, saúde mental e o desafio do pertencimento

A executiva destacou que a escuta ativa dos colaboradores ajudou a moldar programas de saúde integral, como o censo de saúde mental, que guia ações focadas no bem-estar físico, emocional, nutricional e até financeiro. “Se eu ousar achar que vou saber o que é qualidade de vida para um colaborador meu com base só no meu ponto de vista, fatalmente errarei”, diz.

Ela também falou sobre as políticas de equidade e inclusão da empresa, como ações afirmativas para pessoas negras, LGBTQIA+, refugiados e imigrantes. “Quando você encontra pessoas que vivenciam realidades próximas à sua dentro do ambiente de trabalho, isso contribui para o seu bem-estar e senso de acolhimento”.

Na Sodexo, 84% das lideranças nas unidades operacionais são mulheres — reflexo tanto das características da operação quanto de políticas intencionais para manter a equidade de gênero ao longo da pirâmide organizacional. “Mesmo em posições executivas, temos uma representatividade de mulheres maior que a média do mercado”, relata Ana.

Ela reconhece que todo esse investimento exige justificativas diante de contextos econômicos desafiadores, mas argumenta que os retornos são evidentes: menor rotatividade, maior engajamento e estímulo à inovação por meio da diversidade cognitiva.

Relacionamento e propósito como fundamentos da gestão

Formada em Psicologia, Ana defende que saúde mental deixou de ser um tabu dentro das corporações — ainda que o tema exija cuidado para não ser banalizado nem atribuído a um único fator. “O resultado é consequência. A forma como você faz a gestão das pessoas determina o que será colhido. Dá para ter boas relações e ter resultado ao mesmo tempo.”

Aos líderes de equipes pequenas que desejam construir culturas sólidas desde o início, o conselho é simples e direto: “Conheça as pessoas que você lidera. Isso não demanda investimento nenhum. Demanda boas conversas e tempo.”

Ao final da conversa, Ana sintetiza o que considera sua principal lição nos últimos anos: “No final das contas, são pessoas. E as relações importam”.

Assista ao Mundo Corporativo

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã, pelo canal da CBN no YouTube. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN, e aos domingos, às 10 da noite, em horário alternativo. Você pode ouvir, também, em podcast. Colaboram com o Mundo Corporativo: Carlos Grecco, Rafael Furugen, Débora Gonçalves e Letícia Valente.

O que The Bear nos ensina sobre escutar e falar

Cheguei tarde à série de TV The Bear (O Urso), uma das mais premiadas dos últimos anos. Antes tarde do que nunca. Aproveitei as férias e engatei um capítulo após o outro. Adorei o que assisti. Cheguei nesta semana ao fim da terceira temporada e alguém me contou que a quarta está prestes a estrear. Haja ansiedade! 

Não me atrevo a uma sinopse, menos ainda a uma crítica sobre a qualidade do trabalho do roteirista, produtor e diretor Christopher Storer e do elenco que reuniu. Os muitos prêmio que a série recebeu falam por si. Trago para esse espaço a experiência que tive ao assistir The Bear e dividir com você duas lições que considero fundamentais para uma comunicação qualificada. Ambas aparecem no capítulo em que o restaurante The Bear vai inaugurar, na segunda temporada.

A equipe se reúne para ouvir as orientações antes da abertura das portas. É uma espécie de preleção para motivar e alinhar todos com o padrão de excelência no atendimento que buscam alcançar. Richie, interpretado pelo ator Ebon Moss-Bachrach, responsável pelo salão, faz um pergunta instigante: o que Vasudeva disse a Sidarta, às margens do rio Ganges? Uma referência ao romance de  Herman Hesse, de 1922, que nos convida a refletir sobre escolhas, desapegos e caminhos que nos levam à sabedoria. 

Diante dos olhares de dúvida da equipe, Richie responde com a frase de Vasudeva: “Listen better” ou “escute melhor”. No livro, Sidarta percebe que a verdadeira sabedoria não se ensina com palavras, mas se vive e se sente. A escuta, nesse contexto, é uma metáfora para a abertura interior necessária ao autoconhecimento. No seriado, a intenção é mais prática:os funcionários devem devem escutar os clientes não apenas pelas palavras, mas pelas atitudes e reações. 

A prática da escuta é transformadora nas relações interpessoais. Arrisco dizer: é diferencial competitivo. Quando você aceita escutar o outro, se diferencia, aprende mais, entende melhor e constrói diálogos mais ricos e qualificados. Meu colega e coautor do livro Escute, expresse e fale! , Thomas Brieu, ensina  escutar é, por si só, uma forma poderosa de expressão. 

Na sequência da cena, em The Bear, Natalie “Sugar” Berzatto, protagonizada por Abby Eliott, reforça outra mensagem essencial: “Last reminder: ABC – always be communicating”.  O tradutor adaptou como “aplicar boa comunicação” apesar de, ao pé da letra, a expressão significar “esteja sempre se comunicando”. No original ou no esforço do tradutor, o recado é direto: comunicar-se é essencial para manter a equipe alinhada e informada sobre objetivos, mudanças e avanços. 

Escutar melhor e comunicar-se sempre são como os ingredientes básicos de um restaurante de sucesso: sem eles, o cardápio pode ser impecável, mas o serviço ficará abaixo do esperado. Escutar é como decifrar o pedido nas entrelinhas, e comunicar-se é servir a mensagem no ponto certo. No fim, são esses dois itens que transformam experiências, seja à mesa ou na vida. Inclua-os no seu cardápio diário. 

E se ainda não assistiu a The Bear, corre lá na Disney+ antes que a quarta temporada estreie.

Leia a nova edição de “Escute, expresse e fale”

A edição revisada e ampliada de Escute, expresse e fale! Domine a comunicação e seja um líder poderoso(Rocco), que escrevi com António Sacavém, Leny Kyrillos, Thomas Brieu, foi lançada nesta semana e tem dois capítulos inéditos: um que trata do impacto da IA na comunicação e outro que apresenta o método do storytelling ao vivo.

Conheça a certificação sobre comunicação estratégica

Aproveite que o ano está começando e se inscreva na Certificação Internacional de Comunicação Estratégica em Ambiente Profissional que lancei em parceria com a WCES, uma startup de consultoria e educação, com sede em Utah, nos EUA.

O curso que oferecemos é on-line e gravado, com todas as aulas e masterclasses já disponíveis. Além das aulas que preparei ao lado de Thiago Quintino, fundador da WCES, temos masterclasses com professores-convidados: Luiza Helena Trajano, Mário Sérgio Cortella, Leny Kyrillos, Martha Gabriel, Arthur Igreja, Michel Alcoforado, e Thomas Brieu.

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Mundo Corporativo: Antonella Satyro fala sobre autoconhecimento e o papel do líder que cura

Entrevista on-line com Antonella Satyro Foto: Priscila Gubiottiu/CBN

“Tudo começa no autoconhecimento. Eu só faço uma transformação na minha própria vida quando sei quem sou, o que trago à mesa e quais são meus talentos únicos.”

Antonella Satyro, consultora e escritora

O ambiente corporativo vive uma era em que o papel do líder vai além da gestão de tarefas. Antonella Satyro, CEO da Universidade Líderes que Curam e autora do livro que leva o mesmo nome, defende que a transformação dentro das empresas deve começar pela autoconsciência dos líderes. Em um cenário de alta pressão e produtividade, muitos líderes se esquecem de algo crucial: reservar tempo para o planejamento estratégico.  “O líder está tão focado no operacional que, muitas vezes, esquece de se preparar com perguntas profundas antes de uma reunião. É esse planejamento que traz resultados exponenciais lá na frente”, afirma Antonella.

No programa Mundo Corporativo, Antonella discutiu como o autoconhecimento e a escuta ativa são pilares fundamentais para uma liderança eficaz e humanizada.

A cura do ambiente organizacional começa pelo líder

Antonella destaca que a liderança não é apenas sobre cargo ou título, mas sim uma habilidade que pode ser desenvolvida independentemente da posição ocupada. “Nós, como líderes, precisamos investir no autoconhecimento para nos autoliderarmos. A liderança não é título, não é crachá. É uma habilidade”, diz ela.

Na entrevista, a CEO também abordou o impacto que a saúde mental tem nos ambientes corporativos. Segundo Antonella, cerca de 30% da força de trabalho no Brasil apresentou sinais de burnout em 2022, o que torna o tema mais urgente do que nunca. Ela sugere que as empresas realizem um diagnóstico para entender a saúde mental dos colaboradores e líderes, destacando que “um líder consciente e saudável cria um ambiente de trabalho mais engajado e produtivo”.

Antonella reforçou que, ao transformar a si mesmo, o líder pode transformar o ambiente ao seu redor. “Eu curo meus liderados quando me curo primeiro. A clareza que ganho sobre mim mesmo reverbera na minha equipe.”

A importância da escuta ativa

Um dos pontos centrais discutidos por Antonella foi a escuta ativa, que ela considera essencial para uma liderança eficaz. “O líder deve ouvir mais do que falar”, afirma. Para ela, saber fazer boas perguntas é a chave para extrair respostas mais profundas e promover uma verdadeira conexão com a equipe. “Quando dedicamos tempo para ouvir genuinamente, empoderamos as pessoas ao nosso redor. Um líder que escuta, antes de tudo, cria um ambiente mais aberto e colaborativo”, completa. Antonella defende que a escuta ativa é uma das ferramentas mais poderosas para fortalecer os laços entre líder e equipe, ampliando o engajamento e a inovação no ambiente de trabalho.

O trabalho da Universidade Líderes que Curam

A Universidade Líderes que Curam, fundada por Antonella, é uma escola de educação corporativa focada no desenvolvimento de lideranças humanizadas. Oferecendo programas de treinamento, workshops e mentorias, a universidade capacita líderes de todos os níveis a promoverem ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos. “Nosso objetivo é ajudar líderes a se tornarem agentes de transformação, impactando não apenas suas equipes, mas também a cultura organizacional como um todo”, explica Antonella.

Ouça o Mundo Corporativo

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã, pelo canal da CBN no YouTube. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN, e aos domingos, às 10 da noite, em horário alternativo. Você pode ouvir, também, em podcast. Colaboram com o Mundo Corporativo: Carlos Grecco, Rafael Furugen, Débora Gonçalves e Letícia Valente.

Mundo Corporativo: Shana Wajntraub fala do desafio de fazer com que suas palavras sejam ouvidas

Shana Wajntraub nos bastidores do Mundo Corporativo. Foto: Priscila Gubiotti/CBN

“Ser simples na sua mensagem vai fazer com que as pessoas te escutem.”

Shana Wajntraub

Estamos saturados de informações e repletos de desconfiança. Diante dessa realidade, a habilidade de se comunicar de maneira genuína tornou-se essencial, especialmente no ambiente corporativo. Para a especialista em comunicação Shana Wajntraub, o futuro da comunicação está diretamente ligado à autenticidade. “Naturalidade é irresistível”, afirma. No programa Mundo Corporativo, da CBN, ela explica  como a simplicidade e a verdade na comunicação podem ser ferramentas poderosas para qualquer profissional que deseja se destacar.

Shana, autora do livro “A Arte da Comunicação de Impacto”, ressalta também a importância de alinhar a comunicação ao perfil comportamental de cada indivíduo. “Quando a gente vai no mais natural, ainda que se prepare, você conecta com as pessoas, e as pessoas sentem.”

A importância de escutar e ser escutado

Para a mestra em Comunicação, Análise do Comportamento e Credibilidade, a eficácia na comunicação não se resume apenas à fala. Shana destaca a importância da escuta ativa e da leitura das nuances não-verbais durante uma interação. “Comunicação não é só falar, é muito além disso. É inclusive escutar”, observa. Segundo a especialista, compreender o comportamento do outro e ajustar a mensagem de acordo com essa percepção é o que realmente faz a diferença. 

Ela também abordou um dos maiores desafios da comunicação contemporânea: a dificuldade em ser ouvido. Shana explica que, diante de um interlocutor que parece não estar prestando atenção, é crucial adaptar a abordagem. “Às vezes eu vou para uma reunião preparada, mas percebo pelo não-verbal do cliente que ele está preocupado com outra coisa. Nesse momento, é essencial fazer uma checagem: ‘Como está a tua agenda? Quer que eu adapte a minha comunicação?’”. Ela sugere que, ao identificar essa desconexão, é preciso ajustar a mensagem em tempo real para manter a relevância e capturar a atenção. 

Shana ressalta que essa habilidade de adaptação é rara, mas pode ser desenvolvida com prática e disciplina. “A arte de ser relevante não é só o que você quer passar, mas o que o outro quer ouvir. Se você casar isso, está fazendo um bom storytelling”, afirma. Ela enfatiza a importância de estar presente no momento da comunicação, observando e reagindo às pistas do interlocutor para ajustar a mensagem de forma eficaz.

Ao discutir o cenário atual, Shana aponta para os desafios trazidos pela era da informação, onde o tempo e a atenção do público estão cada vez mais escassos. Nesse contexto, a habilidade de ser relevante e conciso torna-se crucial. “Ser relevante para quem está te ouvindo é a arte de um bom storytelling”, afirma.

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Mundo Corporativo: a comunicação consciente exige escuta genuína, diz a fonoaudióloga Mara Behlau

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“A comunicação profissional é treinada: comece escutando genuinamente o outro; confirme o que você escutou; lembre-se que em toda a comunicação, eu preciso ter um objetivo e um eixo condutor. Valorize quem ouve e faça uma associação entre a sua mensagem verbal e não verbal”

Mara Behlau, fonoaudióloga

A maior parte do tempo que nos comunicamos o fazemos de forma automática. E isso tende a causar uma série de desconfortos. Não por acaso, das reclamações mais ouvidas está a de que o outro não me entende — como se não fossemos os responsáveis pela mensagem transmitida. Comunicação inconsciente gera comunicação inconsistente. Porque não se faz de maneira plena. A começar pelo fato de praticamente eliminarmos dessa jornada o elemento mais importante que é a escuta, como alertou Martha Behlau, fonoaudióloga, entrevistada do programa Mundo Corporativo da CBN:

“Existe uma arquitetura estrutural na comunicação e o terreno dessa construção, dessa arquitetura é a escuta; então, a escuta é a base de uma boa comunicação. Lembrando que o ouvido ouve e quem escuta é o cérebro. A escuta é interpretativa”.

Doutora em distúrbio da comunicação humana e professora de comunicação para negócios e relações interpessoais do Insper, Mara escreveu em co-autoria com Marisa Bárbara, especialista em comunicação corporativa, o livro “Comunicação consciente, o que comunico quando me comunico”. Nesse trabalho, fica evidente a ênfase que devemos dar a prática da escuta, a ponto de terem sido identificados cinco tipos de escuta: 

  1. Passiva — quando escuto alguém que eu gosto, que me conta uma história bonita ou que me conta uma piada, eu não faço nada a não ser apreciar; e o outro gosta de se sentir apreciado.
  2. Empática — quando alguém desabafa, quando alguém conta um problema, o que a pessoa quer é acolhimento; não, necessariamente, a pessoa quer que você resolva o problema dela. 
  3. Organizativa — quando alguém conta uma história difícil, de um acidente, uma tragédia ou de uma crise pessoa, as mensagens vêm confusas e cheias de emoção. Quem ouve tem de parar o falante e organizar o roteiro de sua fala; e a pergunta principal é: de tudo o que você está me dizendo o que é o mais importante, o que eu preciso saber agora?
  4. Perspicaz — é a escuta do aprendizado; que ocorre, por exemplo, quando estamos conversando com a concorrência e avaliamos se aquela informação tem serventia, se é possível aplicá-la em alguma situação e se já ouviu algo semelhante.
  5. Avaliadora — é a escuta de julgamento; quando fazemos uma série de perguntas com objetivos bastante específico de julgar uma pessoa ou um colaborador que, por exemplo, não atingiu a sua meta. É quando escutamos para entender se nosso interlocutor deve ser desculpado, corrigido ou punido.

São fatores de sucesso, também, na comunicação a autenticidade, o respeito às regras, expressão de auto-estima, a atitude de resolução de problema e o foco duplo —- que vem a ser o cuidado que tenho tanto com a mensagem que transmito quanto com quem está recebendo essa mensagem. Mara aproveita para recomendar a você que está preocupado com a mensagem que vai transmitir e com quem vai receber essa mensagem: entre duas palavras, escolha a mais simples; entre duas palavras simples, escolha a mais curta; jamais infira o que o outro entendeu, certifique-se; e, acima de tudo, lembre-se:

“O impacto da comunicação é imediato e é enorme. Eu posso mudar com duas palavras no WhatsApp pressão sanguínea, batimento cardíaco, respiração e o humor de uma pessoa que está em Katmandu, em Nova Iorque ou em outro lugar”.

Ao não entender essa influência que pode ter sobre os outros é que muitos líderes acabam criando ambientes tóxicos de trabalho. Mara diz que esse tipo de liderança muitas vezes não percebe o mal que faz, até porque, por algum tempo, os resultados aparecem na empresa. Porém, costumam ter dificuldade de desenvolver pessoas e geram desafetos ao longo de sua jornada profissional.

Assista ao Mundo Corporativo com a fonoaudióloga Mara Behlau:

Colaboraram com o Mundo Corporativo Renato Barcellos, Bruno Teixeira, Débora Gonçalves e Rafael Furugen.