Quando o céu ameaça, o jogo muda: o alerta que falta no futebol brasileiro

O jogo entre Palmeiras e Al Ahly, pela Copa do Mundo de Clubes, foi interrompido no MetLife Stadium, em Nova Jersey, não por uma falta dura nem por um apagão no VAR. A partida parou por causa de um alerta meteorológico — que contrastava com o céu azul e o sol que causava um calor absurdo. O aviso chegou pelos celulares dos torcedores, foi exibido no telão e, quase sem discussão, jogadores e público se afastaram do campo: “Para a sua segurança, por favor, deixe o assento externo e a área do campo…”. A orientação era clara, objetiva e respeitada. Era uma questão de segurança, de cuidado com a vida.

A cena, que se repetiu três vezes em três dias durante o torneio, contrasta com o que estamos acostumados a ver no Brasil, onde jogos seguem mesmo com o gramado alagado, raios cortando o céu e torcedores encharcados nas arquibancadas. A bola rola, ainda que boie.

Por aqui, o futebol resiste ao temporal como se fosse uma prova de virilidade nacional. Jogadores deslizando na lama são lidos como heróis épicos e o torcedor que não abandona o estádio, mesmo sob chuva torrencial, vira exemplo de paixão. Poucos se perguntam: e a segurança? E os protocolos? E o direito à proteção?

Aqui, faço uma confissão. Sou apaixonado por jogadores bravos e corajosos, como Kannemann, meu eterno zagueiro do Grêmio, que, numa partida contra o Huachipato, do Chile, pela Libertadores da América, no ano passado, protagonizou uma imagem que me marcou profundamente. Ele aparece com o uniforme branco tomado pela lama — símbolo da entrega total, da luta até o fim, do espírito de um guerreiro. A fotografia é espetacular (lamento não ter descoberto o nome do fotógrafo que fez o registro). Mas ela só é possível, e talvez por isso mesmo tão incômoda, porque há uma estrutura que impõe aos jogadores essa condição extrema. O que leio como bravura também é, em certa medida, um retrato da imprudência.

A diferença de postura entre os dois países não se resume à organização de um evento. Ela revela o quanto o alerta, como política pública, é uma ferramenta poderosa de cultura preventiva. Nos Estados Unidos, sistemas de monitoramento climático estão integrados a eventos esportivos, e a decisão de interromper uma partida é técnica, não emocional. Parte-se do princípio de que nenhuma paixão justifica o risco à integridade física.

No Brasil, os alertas existem — o sistema da Defesa Civil funciona e pode ser acionado por SMS, por exemplo — mas sua articulação com o cotidiano das grandes aglomerações ainda é frágil. O futebol, que movimenta milhões e mobiliza multidões, não tem como rotina a checagem climática como critério para iniciar ou suspender uma partida. Espera-se que o céu caia — literalmente — para tomar alguma decisão.

Esse episódio na Copa do Mundo de Clubes serve como um lembrete: é possível agir antes do pior acontecer. É possível levar o torcedor a sério. É possível interromper um espetáculo esportivo em nome do bem-estar coletivo, sem que isso seja visto como fraqueza ou desrespeito ao jogo.

Quem dera os estádios brasileiros se preparassem para o tempo ruim não apenas com drenagem no gramado, mas com cultura de prevenção. Porque quando a sirene toca e a chuva cai, o que está em jogo é muito mais do que os três pontos. É a capacidade de um país proteger seus cidadãos — dentro ou fora de campo.

Avalanche Tricolor: Grêmio joga leve, vence bem e até o cusco dá show

Grêmio 3×0 Monsoon
Gaúcho – Estádio do Vale, Novo Hamburgo (RS)

Foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Antes de mais nada, meu protesto: jogo do Campeonato Gaúcho às dez da noite de uma quarta-feira deveria ser proibido — especialmente se esse jogo é sempre do seu time.

Ainda bem que o Grêmio tornou menos árdua a tarefa de assistir à partida até depois da meia-noite. E o fez jogando um futebol leve, com boa movimentação no ataque, troca de passes eficiente e uma defesa segura. Até chegou a assustar o torcedor nos primeiros segundos, com a falha de marcação do estreante Cuéllar, mas o gol não saiu porque o atacante adversário estava impedido.

A partir daquele instante, o Grêmio colocou a bola no chão e, mesmo com um time bastante modificado em relação à partida anterior, esboçou o estilo de jogo que Gustavo Quinteros busca nesse começo de trabalho. Sem cair na ilusão típica de início de temporada, arrisco dizer que nosso técnico está moldando um time mais bonito e produtivo do que no ano passado, mesmo com um elenco aparentemente mais enxuto.

É cedo para uma análise definitiva — especialmente vinda de mim, mais torcedor do que entendedor. Sabemos que o time precisa de reforços, principalmente na defesa. Também falta enfrentar adversários mais qualificados para um teste real. Mas o fato é que, até aqui, o Grêmio tem entregado bons resultados com bom futebol.

Arezo marcou seus dois primeiros gols com a camisa tricolor; Monsalve mostrou qualidade no toque de bola no meio de campo; Edmilson jogou intensamente; Aravena se movimentou bem, apesar de desperdiçar algumas chances; André Henrique deu sinais de que pode ser um jogador importante para o grupo e ainda deixou o dele. E teve também Gabriel Mec, estreando no time principal aos 16 anos.

Tudo isso faz valer a pena dormir apenas quatro horas antes de encarar a quinta-feira de trabalho.

Ah, e não podemos esquecer: três jogos sem sofrer gols e, de quebra, a diversão de ver um cusco driblando jogadores e gandulas ao invadir o campo no primeiro tempo.

Rádio, João Fonseca e um capítulo para guardar

O rádio ao vivo é uma paixão antiga, dessas que o tempo só faz crescer. Em quase 40 anos de jornalismo, já vivi de tudo: tensão, tragédia e êxtase. Cada transmissão é como uma corda bamba, e o equilíbrio depende do improviso, da escuta e da alma. Planejar? Quase sempre é apenas um desejo.

Foi assim na manhã desta terça-feira, 14 de janeiro de 2025 — guarde essa data. Enquanto apresentava o Jornal da CBN, algo especial aconteceu. Eu compartilhava com os ouvintes os momentos decisivos de uma partida de tênis. Mas não era uma partida qualquer. Era a estreia de João Fonseca, uma promessa de 18 anos, no Aberto da Austrália, um dos torneios mais importantes do circuito internacional.

João enfrentava Andrey Rublev, o número 9 do mundo. E, no instante do match point, bem no momento em que falávamos sobre economia e a fake news da taxação do PIX (não haverá taxação, que fique claro), pedi licença à Cássia Godoy e à Marcella Lourenzetto. Não dava para deixar aquele momento escapar.

Ali, com o microfone em mãos, vivi algo que só o rádio pode proporcionar. Era como se estivéssemos todos na beira da quadra, testemunhando um jovem brasileiro escrevendo sua primeira página em um Grand Slam. A vitória veio: 3 sets a 0. João Fonseca, que muitos já apontam como a grande revelação do tênis internacional, deu um passo gigante para cravar seu nome na história.

Em meio a tudo isso, chegou uma mensagem de Ribeirão Preto. Um ouvinte dizia que, ao ouvir sobre João, sentiu-se transportado para os tempos de Gustavo Kuerten, quando o Guga surgia como um furacão no tênis mundial. “Revivi a emoção de acompanhar a CBN nos anos 90”, escreveu ele.

Por sugestão do Paschoal Junior, nosso mestre das operações de áudio, decidi guardar no meu arquivo pessoal o anúncio dessa vitória. Não é sempre que temos o privilégio de contar, ao vivo, o começo de algo que pode se tornar histórico.

E, como bem sabe quem ama o rádio, o histórico começa sempre com uma voz.

Avalanche Tricolor: uma carta à Dona Eliane Geromel

Geromel se despede do Grêmio Foto: reprodução GZH

Dona Eliane:

Foi seu o abraço mais inusitado que recebi e retribuí em todos os meus tempos de arquibancada. Estávamos em Al Ain, nos Emirados Árabes Unidos, e Everton havia marcado um golaço que nos levaria à final do Mundial de Clubes, em 2017. Todos corremos alucinados para comemorar o feito e, entre o choro imediato com os meus filhos e o agradecimento aos céus, nosso abraço se encontrou. Não nos conhecíamos pessoalmente; havia ali apenas o manto tricolor nos unindo em celebração.

Passado o primeiro instante de êxtase, você se apresentou como ouvinte do meu programa de rádio e mãe de Pedro Geromel — foi essa a ordem que escolheu para justificar o abraço entre desconhecidos, como se a felicidade de um gol daquele tamanho precisasse de explicação. Sua fala tornou-se um troféu particular para este torcedor. Claro que tê-la como ouvinte me envaidece; mas ser abraçado pela mãe daquele que mais admiramos e respeitamos nesses anos todos era demais para o meu coração tricolor.

Poucos jogadores fizeram por merecer tanto respeito do torcedor — os nossos e os adversários — quanto Geromel. Ele se fez líder pela personalidade entre os colegas; se fez ídolo pela performance em campo; se fez mito ao nos proporcionar os títulos mais importantes deste século; e se fez humano pela conduta íntegra e pelo comportamento irretocável, mesmo nos momentos mais difíceis que vivemos. Ele se tornou próximo com um sorriso sincero e uma fala genuína que destoam daqueles moldados pelo marketing e pelo uso exagerado das redes sociais.

Gustavo Poli, comentarista esportivo do jornal O Globo, escreveu certa vez, e eu anotei no caderninho que tenho sobre a mesa:

“Entre o homem e o ídolo há uma distância que não queremos percorrer. Porque o ídolo é nosso amor íntimo, um parente próximo. Nos abraçamos ao ídolo. O ídolo nos move e emociona. O ídolo não tem os defeitos do homem. Entre o homem e o ídolo existe a realidade — mas no futebol, a realidade comezinha importa menos. Para o torcedor, a realidade acontece entre quatro linhas.”

A definição é perfeita para os ídolos. E quantos temos no futebol. Ídolos que admiramos pelo que fazem em campo, não pelo que representam fora dele. Mas Geromel transcende essa descrição. Por isso o chamamos de GeroMito. E se assim o é, dona Eliane, isso tem muito a ver com a forma como Geromel — que imagino ser apenas o Pedrinho, na casa da Vila Mariana — foi educado e preparado para a vida pelos pais.

Pode parecer coincidência estar escrevendo esta carta a uma mãe no domingo em que, na Igreja Católica, celebramos Nossa Senhora da Imaculada Conceição, um momento de veneração à mãezinha que, além de ter sido submetida a um dom sobrenatural, seguiu o Cristo de modo perfeito, como na oração que ecoa nas igrejas em 8 de dezembro. Jung, o psiquiatra, defendia que não existem casualidades, mas uma força do universo que atua para que os fatos se expliquem de maneira racional. Ter assistido à despedida de Geromel, neste domingo, me inspirou a ousar escrever este texto – especialmente depois de vê-la em campo ao lado do marido, dos filhos, da nora e dos netos. 

Dona Eliane, Geromel se eternizou no coração de todos nós, torcedores gremistas. E você — que tomei a liberdade de não chamar de senhora por imaginar que sou mais velho — foi primordial para que essa história se realizasse. Se um dia Maria foi convocada por Deus para conceber Jesus, a você coube a missão de nos dar Geromel.

E, assim como Maria entregou ao mundo o maior exemplo de amor e sacrifício, a senhora, dona Eliane, nos entregou um homem que, embora mortal, nos ensinou o que é ser eterno no coração de um povo. Não apenas pelo que fez dentro das quatro linhas, mas pelo que representou fora delas. Geromel não é apenas um ídolo; é um símbolo de tudo que desejamos ver no futebol e, mais ainda, na vida.

Enquanto o apito final ecoava no estádio e a torcida gritava seu nome, percebi que não estávamos nos despedindo de um jogador, mas celebrando uma lenda que escolheu caminhar ao nosso lado. Seu legado ficará em cada faixa hasteada, em cada canto entoado e no brilho emocionado dos olhos de quem teve a sorte de vê-lo jogar.

Por isso, obrigado, dona Eliane, por ter permitido que o Pedro, aquele menino da Vila Mariana, se tornasse o nosso Geromel. Hoje e sempre, ele será um pedaço de todos nós. E aquele abraço que trocamos, no calor de um gol histórico, simboliza o que Geromel é: um laço eterno entre a paixão e a gratidão.

Com carinho,
Um torcedor que, como tantos, nunca se esquecerá da família Geromel.

Mílton Jung

Avalanche Tricolor: só faltam seis jogos

Fluminense 2×2 Grêmio
Brasileiro – Maracanã, Rio de Janeiro/RJ

Time comemora gol de Braithwaite. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Minhas redes sociais têm reproduzido nestes últimos dias uma série de momentos memoráveis do Grêmio. Revi o gol de Luan contra o Lanús, na Libertadores de 2017. Rolando a tela do Instagram, encontrei lances da batalha contra o Peñarol, em 1983. Por uma dessas circunstâncias que só o destino é capaz de explicar, até a vitória contra a Portuguesa, em 1996, quando conquistamos pela segunda vez o Brasileiro, apareceu na tela do meu celular. Todas são cenas que mexem com minha memória afetiva e me fazem pensar quantas glórias tivemos o privilégio de assistir nessas mais de seis décadas de vida.

Aqueles tempos estão distantes do futebol que assistimos recentemente. Libertadores e Copa do Brasil vemos apenas pelo retrovisor. O Campeonato Brasileiro, que no ano passado ainda conseguimos chegar em segundo lugar, tem sido um martírio atrás do outro. Cada partida é um drama. Nunca se tem certeza do que seremos capazes. Conquistamos um ponto aqui e outro acolá. Quando fazemos três, torcemos para os demais concorrentes empacarem no lugar.

Hoje, nos restou festejar um resultado alcançado na bacia das almas. Após sairmos na frente em um contra-ataque com boa participação de Aravena e conclusão de Braithwaite, não suportamos a pressão do adversário e tomamos a virada. O gol de empate, já nos acréscimos, veio de uma jogada fortuita de ataque em que Nathan Fernandes, que andava esquecido no elenco, conseguiu alcançar a bola com calcanhar e a fez, inadvertidamente, encontrar Arezo dentro da área. Reinaldo, em uma excelente cobrança de pênalti, igualou o placar.

Sei que já fui bem mais feliz ao comemorar Libertadores, Brasileiros e Copas do Brasil. Já sofri com viradas históricas, assim como vibrei em partidas heróicas. Mas, atualmente, na escassez de resultados e conquistas, o que me resta é valorizar cada ponto conquistado, ainda que na bacia das almas, e lembrar que, por mais que o Grêmio esteja distante das glórias de outros tempos, a paixão tricolor permanece intacta. Porque torcer é isso: é saber festejar o mínimo, é não desistir diante das dificuldades e é manter viva a esperança de que um dia o ciclo das vitórias voltará a girar ao nosso favor. Diante das atuais circunstâncias, não tem como exigir muito mais do que um empate no Maracanã. Só faltam seis jogos!

Avalanche Tricolor: só faltam sete

Grêmio 3×1 Atlético GO

Brasileiro – Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Villasanti comemora o gol. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

A temporada 2024 não tem sido fácil para o torcedor do Grêmio. A tragédia provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul nos atingiu de forma contundente. Fomos obrigados a jogar fora do nosso estado e do nosso estádio, muito mais do que qualquer outro time gaúcho. Voltamos a Arena há menos de dois meses e a Arena voltou a ser toda nossa apenas na tarde deste sábado, na trigésima-primeira rodada do Campeonato Brasileiro.

O prejuízo técnico e tático que a equipe sofreu foi enorme, mesmo que não explique a baixa qualidade do futebol apresentado em muitos dos jogos. Boa parte dos melhores reforços chegou apenas no meio da temporada, o que tornou mais complexo o funcionamento daquela engrenagem que os times bem treinados costumam apresentar. Verdade que a essa altura do campeonato já deveríamos estar oferecendo um trabalho coletivo mais competente, mas o time tem enfrentado dificuldades para “pegar no tranco”, como costuma-se dizer no popular.

A sequência de fatos e defeitos reduziu nossas expectativas. A equipe que começou o ano prometendo presença competitiva em todas as disputas, encerrará apenas com a comemoração do Hexacampeonato Gaúcho, nos primeiros meses de 2024. Na Copa do Brasil e na Libertadores fomos despachados nas disputas eliminatórias. No Brasileiro, depois de um esforço para não correr o risco de rebaixamento, nos contentaremos com uma classificação à Copa Sul-Americana, o que me parece garantido após a vitória deste sábado.

A partida que marcou a volta definitiva da Arena, com quase 37 mil torcedores presentes, apresentou muito do que temos assistido neste ano de futebol mediano. Cometemos pênalti com uma facilidade de chamar atenção. E os vemos ser convertidos quase sem reação. Temos uma fragilidade defensiva capaz de transformar o lanterna do campeonato em uma equipe perigosa no ataque.

Dependemos de jogadas individuais como a que nos levou ao gol de empate, porque falta entrosamento. Nossos destaques são Soteldo e Villasanti, não por acaso dois dos que marcaram nossos gols. Justiça seja feita ao esforço de Braithwaite que luta contra os zagueiros e se entrega de uma maneira cativante. O primeiro e o terceiro gols tiveram a participação importante dele.

Como escrevi, a vitória de hoje foi crucial para eliminar as possibilidades de rebaixamento e nos colocar na Sul-Americana, apesar de matematicamente ainda haver condições para o pior dos cenários.  Mesmo que algumas partidas que nos restem sejam de alta periculosidade, acredito que ocupamos agora o quinhão que nos está reservado para esta temporada. Desejo apenas que saibamos mantê-lo até o fim, que, felizmente, está próximo. Só faltam sete partidas para nos despedirmos de 2024.

Avalanche Tricolor: me ilude que eu gosto!

Grêmio 3×1 Fortaleza
Campeonato Brasileiro – Arena do Grêmio, Porto Alegre/RS

Aravena comemora primeiro gol. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

O Grêmio enfrentou três dos clubes mais bem classificados do Campeonato Brasileiro nas últimas quatro rodadas. Hoje, venceu o Fortaleza (3º); no domingo passado, havia empatado com o Botafogo (1º); e, há menos de duas semanas, superou o Flamengo (4º).

Vai entender um time assim!

É verdade que a campanha nesse segundo turno da competição é uma das melhores entre todos os participantes. Porém, convenhamos, quem nos vê na tabela, com “aquela-zona-que-você-sabe-qual-é” no retrovisor, não deveria esperar sucesso contra as equipes que estão disputando o título. O fato é que, apesar dos defeitos, o Grêmio se afasta do maior risco e ocupa um lugar no meio da tabela.

Nesta sexta-feira à noite, a articulação da bola, do meio para a frente, foi de qualidade, com velocidade nos passes, deslocamentos pelos lados e intensa participação dos atacantes. Braithwaite praticamente não desperdiçou uma bola que chegou aos seus pés. Distribuiu o jogo e abriu espaço para os companheiros entrarem na área. E, como se não bastasse, ainda fez o gol que encaminhou a vitória.

Aravena demonstrou talento, movimentação e precisão no chute, o que o levou a marcar o primeiro gol, após jogada entre Braithwaite e Cristaldo pelo lado direito. Edmilson também apareceu bem no ataque, além de fechar o meio de campo para conter as investidas do adversário.

A vitória foi ratificada com um chute de Soteldo, que entrou na parte final da partida e, mais uma vez, teve uma participação intensa no ataque. Fez o gol após uma assistência de Igor, um garoto de apenas 19 anos, que teve importante presença na marcação e se apresentou com qualidade na frente.

Ver a dupla de zaga Geromel e Kannemann de volta, uma contingência da lesão de Gustavo Martins – justamente na semana em que nosso capitão anunciou que se aposentará do futebol no fim do ano –, foi um presente extra para os torcedores, exaustos de tanto sofrimento nesta temporada. Faz bem ao coração vê-los lado a lado, dominando a área por cima e por baixo, mesmo com todos os problemas do sistema defensivo e sabendo que a condição física, especialmente de Geromel, já não é a mesma do passado.

Temos problemas a serem resolvidos e ainda não dá para respirar aliviado, imaginando que estamos livres do perigo maior. Mas nós, torcedores, estávamos merecendo um resultado como este.

Grêmio, me ilude que eu gosto!

Avalanche Tricolor: empate para se comemorar!

Botafogo 0x0 Grêmio

Brasileiro – Mané Garrincha, Brasília/DF

Aravena ensaia um ataque em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

O Grêmio estava irreconhecível na noite deste sábado. 

A marcação precisa, quase infalível, surpreendeu tanto o torcedor gremista quanto o líder do campeonato. Essa foi apenas a décima vez em 27 jogos disputados na competição que o time não tomou gols. O feito se torna ainda maior se considerarmos que o adversário tem o melhor ataque da competição, ao lado do Palmeiras. 

A mudança no meio de campo, especialmente no posicionamento e na atitude dos jogadores, e a maneira com que o time escolheu ficar mais tempo com a bola no pé, diminuiu a pressão sobre a defesa. Corremos riscos, lógico. E chegamos a levar um gol. Mas até isso esteve a nosso favor, em Brasília. O VAR identificou posição irregular do atacante e anulou o que seria uma injustiça para com a equipe que soube ser resiliente e já causou sofrimento suficiente a nós torcedores.

Especialmente no primeiro tempo e em alguns poucos momentos no segundo, chegamos a impor perigo ao adversário. Estivemos prestes a assistir a um gol que entraria para a história, no minuto final do jogo, quando Walter Kannemann fez o desarme lá atrás e disparou com a bola para o ataque, atropelando os marcadores e concluindo para fora. Seria pedir muito!

O time foi guerreiro para impedir as investidas na sua área e aparentou tranquilidade para trocar passes. Villasanti e Pepê souberam tocar a bola colocando Cristaldo em jogo. Edmilson apareceu bem lá atrás, fechando o meio de campo, e na frente, entrando na área e arriscando a gol. O time, de uma maneira geral, superou a expectativa de um torcedor que tem bons motivos (ou seriam maus?) para estar desconfiado. 

Por mais que a posição na tabela de classificação exigisse três pontos, principalmente depois da derrota em casa no meio da semana, ter saído  de Brasília com um 0 a 0 é  motivo de comemoração. Ou, ao menos, de alívio. 

Avalanche Tricolor: o Grêmio renasce nas águas de Chapecó

Grêmio 1×0 Vasco

Brasileiro – Arena Condá, Chapecó SC

reprodução canal Premiere

O Grêmio escolheu Chapecó e sua Arena, símbolos de superação e resiliência, diante de um desastre que marcou o futebol e nossas vidas, para enfrentar o adversário desta noite de domingo. Sabia da importância do resultado e do impacto que teria no ânimo e nas possibilidades do time para o restante da temporada. Avizinham-se as decisões da Copa do Brasil e da Libertadores. Encarar as duas competições fora daquela zona-que-você-sabe-qual-é no Campeonato Brasileiro seria fundamental para nossas pretensões.

Como se a pressão do resultado e as dificuldades enfrentadas devido à tragédia ambiental no Rio Grande do Sul não fossem suficientes, nos deparamos mais uma vez com uma tempestade no caminho. Já havia sido assim em momento decisivo da Libertadores, quando garantimos passagem à fase seguinte, em junho, no Chile. Hoje, um temporal se formou, tornando o futebol uma batalha arriscada e marcada pela lama e coragem.

Forjado no drama da enchente, o Grêmio parece se agigantar nesses momentos, apesar das dificuldades técnicas. Mesmo com o gramado encharcado e o domínio da bola sendo um desafio extraordinário no campo de jogo, o time se impôs. Fez o que pôde para ameaçar o adversário e se colocar em condições de marcar. Esteve quase sempre com a bola no pé e com o domínio da partida. 

Apesar de uma defesa consistente, com três zagueiros deixando pouco espaço ao adversário, e um meio de campo que logo entendeu como deveria jogar frente às intempéries, ninguém foi maior do que Soteldo. O venezuelano secou o gramado por onde passou, como bem disse Ledio Carmona, em transmissão do Premiere. No primeiro tempo, jogou pela direita e entortou quem se atreveu a marcá-lo. Trocou de lado no segundo tempo, e foi por lá que encontrou o gol que deu a vitória para o Grêmio.

Soteldo é polêmico por onde passa. Atrasou seu retorno ao time após a Copa América. E na última partida esbravejou ao ser substituído. Quando está em campo, porém, não há do que reclamar dele. Tem sido decisivo, especialmente depois de se recuperar da lesão que o afastou dos gramados, ainda no Campeonato Gaúcho. Fez gol domingo passado, quando abriu o placar para vencermos o Vitória, e voltou a marcar neste domingo. Foi fundamental nesse primeiro alívio que tivemos desde que entramos naquela zona-que-você-sabe-qual-é.

Sabemos que novas batalhas teremos pela frente e precisaremos de muito mais futebol para vencê-las. Os reforços estão chegando e os lesionados, especialmente Diego Costa, estão se recuperando. Nossa Arena, em breve ,estará reaberta. Das águas de Chapecó, renasce a esperança de tempos melhores em nossa caminhada. O Grêmio está vivo!

Avalanche Tricolor: de volta!

Grêmio 2×0 Vitória

Brasileiro – Centenário, Caxias do Sul/RS

Matías Arezo está chegando e fez diferença. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Estava de malas prontas e nos preparativos para o retorno ao Brasil quando o Grêmio entrara em campo para uma partida fundamental diante das suas pretensões de deixar aquela zona-que-você-sabe-qual-é, e voltar a disputar de verdade o Campeonato Brasileiro. 

Precisei contar com conexões nem sempre seguras de internet e sinais de vídeo claudicantes no meu caminho até o aeroporto de Curaçao de onde partiria para o Panamá, para acompanhar em “tempo real” o nosso desempenho. A demora na atualização das informações e das imagens colaboraram bastante com a ansiedade de quem estava a espera de um resultado positivo, assim como eu e toda a torcida gremista.

O Centenário lotado sinalizava que os torcedores haviam aceitado o desafio feito pelo time, especialmente após a entrevista coletiva da sexta-feira que colocou os dois maiores ídolos da atualidade, Geromel e Kannemann, ao lado de Renato, que é o maior deles, goste-se ou não de sua forma de falar, treinar e escalar a equipe. A impressão que fiquei, desde que a bola começou a rolar, é que a entrega dos jogadores também estava sintonizada com o apoio das arquibancadas. Digo impressão porque seria injusta uma análise mais aprofundada com base no que lia nos sites que atualizam as informações do jogo e os rompantes de imagens que recebia no meu celular.

(em tempo: avise às marcas que patrocinam as transmissões que é irritante ter de esperá-las se apresentar até podermos pular o anúncio toda vez que precisamos reconectar)

Dava para perceber o esforço em fazer a bola chegar ao ataque e de reduzir ao máximo os riscos impostos pelo adversário com uma marcação forte. A falta de precisão nos chutes, porém, impedia que o domínio em campo se traduzisse em gols – este maldito gol que teima em não sair na quantidade necessária para nos dar um respiro no campeonato.

As estatísticas eram gritantes: dez chutes a gol contra apenas dois do adversário, muito mais escanteios, passes trocados e posse de bola a nosso favor. Mesmo assim terminamos o primeiro tempo no zero a zero e levamos para o vestiário o temor de que o roteiro das últimas partidas se repetiria.

Eu já despachara as malas, quando o segundo tempo havia se iniciado e o que mais buscávamos nessa partida começava a se construir. A visão de jogo de Edenílson deu início a jogada que terminaria nos pés de Soteldo, que driblou duas vezes seus marcadores para chutar de dentro da área. Pouco me importou o sinal da internet deixar a imagem travada ainda antes do chute do venezuelano. Ver o 1 a 0 no placar do APP de esportes era o suficiente aquela altura.

Enquanto apresentava o passaporte no setor de  imigração e submetia as malas ao escaner da fiscalização, minha única preocupação era que o Grêmio, lá em Caxias, não deixasse nenhuma bola passar pela nossa defesa. Pelo que ouvi dos críticos, Rodrigo Ely e Geromel — que entrou ainda no início da partida devido a lesão de Kannemann — deram conta do recado.

A caminho do embarque, minha torcida era só pelo apito final. O um a zero seria o suficiente nesta altura da viagem. Fosse meio a zero, comemoraria igual os necessários três pontos ganhos. Tudo que queria era a vitória de volta. O árbitro, então, resolveu esticar a partida por mais cinco minutos. E o sofrimento pelo tempo estendido foi compensado: o sinal de WI-FI de uma sala VIP me permitiu assistir à jogada que culminaria no pênalti.

Claro que a cobrança de Reinaldo, de pé esquerdo, forte e no alto, me fez vibrar. Mas o que mais me fez feliz no lance, foi ver a presença de Matías Arezo dentro da área. O jovem atacante, que chegou nestes dias e mal desfez as suas malas, recebeu a bola e girou com velocidade em direção ao gol, levando o zagueiro a derrubá-lo. 

Sem ilusões, quero crer que tenhamos encontrado um jogador que sabe o que significa ser um número 9. E o lance tenha sido a primeira escala de uma longa e ótima viagem do uruguaio com a camisa do Grêmio. 

Dito isso, deseje-me boa viagem, também, porque assim como a vitória, eu estou voltando!