Grêmio 2 x 0 Vasco Brasileiro – Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)
Gol de Carlos Vinícius Foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA
“É gol… Que felicidade!“
O verso que atravessou décadas na voz do Trio Esperança ganhou fama nas transmissões esportivas do rádio e ainda ecoa no imaginário do torcedor brasileiro. Mesmo narrando um gol fictício do Flamengo, a música virou trilha de quem vibra diante da bola que estufa a rede. O refrão traduz um gesto simples e universal: o sorriso que surge sem pedir licença quando o time marca.
A quarta-feira, em Porto Alegre, foi guiada por esse sorriso — o de Carlos Vinícius, centroavante à moda antiga, daqueles que vivem da área e para a área. Até o segundo tempo, o Grêmio fazia um jogo em que era melhor, ocupava o campo adversário, trocava passes, mas não encontrava o caminho do gol. Coube ao camisa 9(5) desfazer o nó.
Pavón cruzou, como quem acende uma luz. Carlos Vinícius dominou na marca do pênalti, cercado, sem espaço e sem tempo. Controlou com a direita, girou com a esquerda e bateu forte. A bola entrou. E o estádio abriu o sorriso que estava preso desde o início da partida.
Outro que parece carregar um sorriso como parte do uniforme é Amuzu. O ponta belga, nascido em Gana, trata o drible como diversão e a velocidade como ferramenta. Atacou o jogo inteiro, insistiu, incomodou. No lance que selou a vitória, correu atrás do lançamento de Dodi, deixou a marcação para trás e finalizou com talento acima da média, tirando o goleiro da jogada.
O segundo gol trouxe alívio e alegria. O tipo de alegria que o torcedor reconhece no ato: aquele sorriso involuntário de quem sabe que os três pontos não vão escapar.
Com a vitória na Arena, o Grêmio respira, se afasta do perigo maior, reencontra um lugar mais confortável na tabela e volta a mirar um espaço nas competições sulamericanas. A noite termina e o torcedor se dá o direito de voltar para casa cantarolando pelas ruas de Porto Alegre:
“É gol… Que felicidade! É gol o meu time é alegria da cidade…”
Gravação do Mundo Corporativo em foto de Priscila Gubiotti
“Quando eu tô feliz é que eu tomo decisões melhores, quando eu tô feliz é que eu alcanço minha meta com mais facilidade. Então, é importante que a gente crie o ambiente de trabalho feliz em primeiro lugar”
Luiz Gaziri, professor e pesquisador
Em um cenário corporativo cada vez mais desafiador, a saúde mental e o bem-estar dos profissionais se tornam aspectos cruciais para a eficiência e produtividade das equipes. Segundo Luiz Gaziri, especialista em comportamento humano e autor de livros sobre felicidade e polarização política, a liderança tem um papel fundamental nesse contexto. Ele ressalta a influência direta dos líderes na cultura organizacional e, consequentemente, no bem-estar dos funcionários.
Durante sua participação no programa Mundo Corporativo da rádio CBN, Gaziri enfatizou a necessidade de uma mudança de paradigma na liderança empresarial. Ele observa que, frequentemente, líderes não estão cientes de como suas estratégias e comportamentos influenciam negativamente o ambiente de trabalho. Gaziri, com sua experiência como executivo e consultor, notou uma persistência de modelos de gestão ultrapassados, focados em competição e individualismo, ignorando os impactos na saúde mental dos colaboradores.
“O mundo corporativo hoje ainda é muito pautado na competição, no individualismo, então esses líderes precisam se preparar melhor, entender o que traz bem-estar para o ser humano, como que a estratégia de uma empresa impacta no comportamento? O que é motivação? Sem esse conhecimento de comportamento humano torna-se Impossível a gente conseguir um ambiente de trabalho mais positivo.”
Gaziri destaca a relação direta entre estratégias empresariais e a felicidade dos trabalhadores. Ele cita pesquisas que demonstram como uma liderança inadequada pode ser a principal fonte de estresse para os funcionários, afetando negativamente a produtividade e a saúde mental.
Ajuste as metas e motive seus colaboradores
Gaziri lança “A Arte de Enganar a Si Mesmo”, foto de Priscila Gubiotti
Na entrevista, o autor do livro “A ciência da felicidade” (Faro Editora) também abordou a questão das metas inatingíveis, um problema comum no mundo corporativo. Gaziri explica que, quando as metas são excessivamente altas, os funcionários podem desenvolver a “desesperança aprendida”, uma sensação de impotência e falta de controle sobre os resultados, levando à desmotivação e ao declínio do desempenho.
Para melhorar esse cenário, o especialista sugere várias medidas, como ajustar as metas de acordo com a realidade, promover um ambiente de trabalho motivador e garantir a segurança financeira dos funcionários. Ele destaca a importância de um ambiente que promova a segurança psicológica, onde as pessoas não tenham medo de expressar suas opiniões e ideias.
“O ambiente molda inclusive a minha inteligência, mas a gente usa a estratégia de deixar as pessoas na insegurança financeira com bastante constância o que é ruim para o ambiente de trabalho. Sem falar na questão de metas, de prêmios, de ambientes que sejam motivadores. Então, a gente vê um caos aí muito grande no mundo corporativo por causa dessa falta de conhecimento sobre ser humano.”
Além disso, Gaziri aponta para a necessidade de uma liderança consciente e preparada para criar um ambiente de trabalho positivo e saudável. A capacitação dos líderes em entender e gerenciar aspectos relacionados ao comportamento humano é fundamental para impulsionar o bem-estar e a felicidade no ambiente de trabalho.
A polarização no ambiente de trabalho e como gerenciá-la
A polarização, um fenômeno amplamente discutido no contexto político, também se manifesta no ambiente corporativo, influenciando as dinâmicas de trabalho e a tomada de decisões. Luiz Gaziri, em seu livro “A Arte de Enganar a Si Mesmo: Uma Visão Científica da Polarização Política e Outros Males Nem Tão Modernos” (Alta Books), aborda essa questão, destacando como a polarização pode afetar negativamente as empresas.
O autor observa que a polarização nas empresas ocorre devido à tendência humana de se agrupar com indivíduos de opiniões semelhantes. Esse fenômeno leva as pessoas a reforçar suas crenças e ignorar perspectivas divergentes, criando um ambiente onde prevalece o viés de confirmação. Ele exemplifica isso com um experimento realizado por Lee Ross, da Universidade de Stanford, no qual israelenses e palestinos avaliaram propostas de paz de maneira diferente, dependendo de qual lado acreditavam que as propostas tinham vindo. Isso mostra como a origem de uma ideia pode influenciar sua aceitação, independentemente do seu mérito.
No ambiente de trabalho, essa polarização pode levar a conflitos e a uma falta de inovação, pois as ideias são avaliadas com base na afinidade com o grupo, e não em seu potencial. Para combater esse problema, Gaziri sugere a nomeação de um “Advogado do Diabo” em reuniões e decisões de grupo. Essa pessoa teria o papel de questionar e analisar criticamente todas as ideias apresentadas, promovendo um pensamento mais diversificado e crítico.
Embora essa abordagem possa tornar as reuniões menos agradáveis a curto prazo, ela conduz a decisões mais criativas e eficazes. A diversidade de pensamento, apesar de potencialmente desconfortável, é crucial para evitar a estagnação e promover a inovação.
Gaziri enfatiza a importância de gerenciar a polarização no ambiente de trabalho, especialmente em uma era de crescente diversidade. A inclusão de diferentes perspectivas e a promoção de um ambiente onde as ideias são julgadas pelo seu mérito, e não pela sua origem, são essenciais para o sucesso das empresas. Ele propõe que os líderes fomentem a segurança psicológica e a abertura às opiniões divergentes, garantindo assim que as melhores ideias prevaleçam, independentemente de onde venham.
Essas reflexões de Gaziri oferecem um olhar crítico sobre como a polarização pode afetar o ambiente corporativo e apontam caminhos para criar um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e inovador.
Assista ao Mundo Corporativo com Luiz Gaziri
O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã, no canal da CBN no YouTube e no site http://www.cbn.com.br. O programa vai ao ar, aos sábados, no Jornal da CBN, e domingo às 10 da noite, em horário alternativo. Você também pode ouvir a qualquer momento no podcast do Mundo Corporativo. Colaboram com o programa: Renato Barcellos, Letícia Valente, Priscila Gubiotti e Rafael e Furugen:
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ainda não apresentou o restante dos dados do Censo 2022 com um recorte, por exemplo, da população por faixa etária. Mas a SeniorLab Mercado & Consumo 60+ , que há quase dez anos atua exclusivamente neste segmento, mergulha nos números para projetar o cenário atual no Brasil.
Cruzamos dados do Censo IBGE total por cidades com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que atualiza mensalmente a quantidade de pessoas vivas na sua base e encontramos o seguinte:
No Brasil, 17% da população é 60+
No Estado de SP, 21% é 60+
Na cidade de São Paulo, 20% é 60+
Da população 60+ da cidade de São Paulo, 59% são de mulheres
Da população total com 79 anos ou mais, as mulheres são 62%
Ao associar os números com a observação das pessoas interagindo na cidade fica mais fácil entender o motivo de vermos tantos grisalhos em todo o lugar e com comportamentos de consumo bem distintos dos 60+ de dez ou 20 anos atrás.
Esse consumidor que começa a ser mais disputado pelo mercado é um desafio para marcas, produtos e serviços que ainda estão entendendo e aprendendo a como se relacionar com o multivariado grupo etário que, segundo o levantamento realizado pela SeniorLab, teve uma renda total de R$ 1,3 tri no ano passado, no Brasil.
Relação de planejamento financeiro e felicidade
Na “Trilha da Longevidade Brasileira”, que consolida 29 anos da mais duradoura pesquisa de corte populacional sobre o tema no Brasil, conduzida pelo Instituto Moriguchi, um dos 14 platôs de importância para alcançar a vida longa, plena e feliz é a organização financeira.
Desde manter um padrão de vida mais próximo possível da época que possuía os maiores rendimentos, passando pelos custos do envelhecimento no que diz respeito ao atendimento médico, hospitalar, medicamentos para controle de doenças comuns aos longevos e, por fim, o cuidado assistido.
Perceber, pensar nisso, planejar-se e fazer reservas para esta fase é determinante no nível de felicidade que será alcançado.
Vale destacar que um estudo, em mais de 80 países, identificou que a sensação de felicidade das pessoas com 60 anos ou mais é bem superior a das pessoas com 30 ou 40 anos.
A soma de toda sabedoria, do entendimento de como as coisas funcionam na vida, de ver seus filhos e netos crescendo nas suas carreiras e vidas acaba sendo a grande razão da vida.
A nota de zero a dez que sua sensação de felicidade vai receber quando tiver seus 60, 70 anos, precisa começar a ser planejada agora.
Martin Henkel é CEO da SeniorLab mercado & consumo 60+ e cofundador do Terra da Longevidade Produtos e Negócios. Escreveu este texto especialmente para o Blog do Mílton Jung.
“Uma empresa só funciona bem se todos tiverem consciência do que tem que fazer e estiverem engajados com o propósito da empresa”
André Luis Soares Pereira, empresário
Criar ambientes saudáveis no trabalho é um dos desafios das empresas interessadas em engajar seus funcionários, melhorar a performance dos colaboradores, aumentar a produtividade e gerar novas conexões com os parceiros de negócio. Para André Luis Soares Pereira, fundador do Grupo Soares Pereira, entrevistado no programa Mundo Corporativo, da CBN, apesar de algumas empresas já terem desenvolvido, há algum tempo, práticas nesse sentido, houve uma mudança significativa por influência da pandemia e fica evidente que agora um maior número de organizações revela preocupação em proporcionar um ambiente mais amistoso para seus colaboradores.
A felicidade e o bem-estar no trabalho, porém, não são apenas de responsabilidade da empresa, mas também do indivíduo. André Luis ressalta a importância de cuidarmos da mente, corpo e espírito para garantir um ambiente de trabalho positivo.
“Se você não trabalhar internamente a sua pessoa — mente, corpo e espírito —, você acaba chegando, às vezes, no ambiente de trabalho que, por melhor que ele seja, você não vai dar o resultado, você não vai fazer com que essa esse trabalho seja bem feito”
A Satisfação Profissional nos Resultados de Vendas no Varejo
O Grupo Soares Pereira, fundado em 1995, atua no setor de consultoria e serviços empresariais com a expansão de marcas no segmento de shoppings e franquias. Diante da experiência na área, André Luis lembra que no setor de varejo, onde o contato direto com os clientes é fundamental, a satisfação dos colaboradores desempenha um papel crucial nos resultados de vendas. Ele chama atenção para o fato de a felicidade no trabalho afetar a experiência do cliente.
“Você ter um produto bom é obrigatório, hoje. Não adianta você entrar na concorrência, se você não tem um produto satisfatório. Então, para você poder oferecer e se diferenciar no mercado tem que ter cada vez mais uma excelência no atendimento e essa excelência do atendimento é reflexo da de você ser feliz do trabalho”.
Fatores que Influenciam o Bem-Estar no Trabalho
Pesquisa realizada pela consultoria Robert Half, no Brasil, neste ano, mostra que 89% das companhias reconhecem que bons resultados estão diretamente ligados à motivação e à felicidade dos colaboradores. E existem cinco principais fatores que promovem esse sentimento:
Gostar muito da profissão (69%)
Bom equilíbrio entre vida pessoal e profissional (62%)
Ser tratado com igualdade e respeito (58%)
Sentir orgulho da organização (53%)
Sentir-se realizado com o trabalho (51%)
Como se percebe, a maior parte desses argumentos que geram satisfação está relacionada à sintonia entre o propósito das empresas e dos seus funcionários. André Luiz enfatiza a necessidade de uma comunicação interna eficaz e como o entendimento do propósito da empresa é fundamental para inspirar e engajar a equipe. Ele salienta a necessidade de se estabelecer claramente a missão, visão e valores da organização:
“Todo mundo precisa de dinheiro. A gente precisa vender, a gente precisa ter resultado. Mas se a gente focar só no resultado e não pensar na estrutura como um todo, você não vai chegar nesse resultado, entendeu? Então, são coisas que tem que caminhar juntas e a gente aqui faz muita questão de pregar isso diariamente no nosso cotidiano”.
Identificando Problemas de Saúde Mental no Trabalho
André Luis reconhece que o mercado de trabalho pode ser uma fonte de problemas de saúde mental, como burnout, ansiedade e depressão. Ele enfatiza a importância de se administrar a carga de trabalho e dar pausas quando necessário para evitar sobrecarregar os funcionários. Para isso é preciso estar muito atento ao comportamento das pessoas e aberto a ouvi-las. Por isso, ao discutir os erros comuns na gestão de empresas, André Luis aponta os papeis da liderança eficaz, comunicação transparente e valorização da equipe. Ele alerta contra líderes que não dão feedback ou que focam apenas em seus próprios interesses, destacando a necessidade de um ambiente colaborativo.
Flexibilidade no Ambiente de Trabalho
A flexibilidade no ambiente de trabalho precisa ser debatida internamente, a medida que pesquisas demonstram que esse é um fator relevante para os funcionários. No Grupo Soares Pereira, após a pandemia, os colaboradores retornaram ao trabalho presencial, ao passo que a maioria dos clientes prefere um contato direto. Porém, André Luis diz que há casos e situações específicas em que o ideal é que o funcionário possa trabalhar em casa. Deu o exemplo de uma colega que está grávida e se sentia mais confortável no home-office neste momento.
Investimento em Treinamento e Desenvolvimento
A criação de uma escola de negócios é um dos investimentos do Grupo Soares Pereira para o desenvolvimento contínuo dos colaboradores. André Luiz ressalta a importância do treinamento para o sucesso da empresa.
“A gente tem filosofia de treinar, treinar e treinar. Se você não treinar as pessoas você nunca evolui, você nunca melhora os resultados”
André Luiz recomenda os líderes empresariais a fazerem o que se ama, a manter atitude, entusiasmo, movimento e vibração para promover a felicidade no ambiente de trabalho.
Assista ao vídeo completo do Mundo Corporativo que tem as colaborações de Renato Barcellos, Letícia Valente, Priscila Gubiotti, Débora Gonçalves e Rafael Furugen:
Quer conhecer o verdadeiro caminho da sua felicidade?
Seja Fora-da-Lei. Corra das Leis Sociais.
“Tem que tirar carteira de motorista aos 18”;
“Tem que ter casa própria”;
“Tem que casar e viajar de lua de mel”;
“Tem que ter o primeiro filho antes dos 30, e engatar o segundo logo – porque não é bom ter um filho só”;
“Tem que subir de cargo na empresa”;
“Tem que juntar dinheiro pra aposentadoria”;
“Tem que viajar 1 vez por ano porque isso é curtir a vida”…
Nossa, quanta lei, quanta regra! Quando isso acaba???
A resposta é: nunca.
A sociedade humana adora criar ideias do que é certo e errado e todo mundo se sente pressionado a seguir porque… “Vai que me criticam? O que vão falar de mim? E se todo mundo me odiar e me abandonar?”
Entre na onda das Leis Sociais e pronto – sua felicidade acabou.
Tem como ser feliz fazendo coisas que você nem sabe se gosta nem sabe se vai conseguir e se sente pressionado o tempo todo pra fazer? Quem consegue ser feliz assim?
Seja Fora-da-Lei.
Dirija carros ou não; compre uma casa ou não; tenha filhos ou não…
Antes de fazer qualquer coisa, pare e pense: “Por que vou fazer isso? O que vou ganhar? Vale a pena o esforço, a dedicação, o tempo de vida?”
Quebre as Leis Sociais.
Crie suas próprias Leis.
“Eu, do alto do poder sobre minha própria vida, determino que minhas Leis são: … (preencha como quiser, como gostar, como fizer sentido pra você – use sua liberdade)”
Seja Fora-da-Lei.
Seja Dentro-das-Suas-Leis.
Seja, verdadeiramente, você;
seja, verdadeiramente, feliz
Dra. Nina Ferreira (@psiquiatrialeve) é médica psiquiatra, especialista em terapia do esquema, neurociências e neuropsicologia. Escreve este artigo a convite do jornalista Mílton Jung
A busca pela felicidade é um anseio comum a todos nós, e muitas vezes nos perguntamos se existe uma fórmula para alcançá-la. Em entrevista ao jornal O Globo, desse domingo (18/06), o sociólogo espanhol Luis Gallardo, presidente da Fundação Mundial da Felicidade, afirma que sim, essa fórmula já foi descoberta há muito tempo. No entanto, ele ressalta que muitas pessoas desconhecem ou não se atrevem a praticá-la. A entrevista explora as ideias de Gallardo sobre a felicidade e como podemos aplicá-las em nossa vida cotidiana — com base nas informações publicadas no jornal, destacamos aqui alguns aspectos relevantes. Ele é autor do livro “Happytalismo”, ainda não editado no Brasil, e participará do Congresso Internacional de Felicidade, em Curitiba, no mês de novembro,
A felicidade como uma técnica
Gallardo argumenta que existem diversas formas de alcançar um estado de calma, paz, esperança, perdão e compaixão, que são os ativadores da felicidade. Ele enfatiza que a felicidade é uma técnica e precisa ser praticada regularmente. Independentemente de quem somos, é crucial escolher algo que funcione para nós individualmente.
A ditadura do medo e o “happytalismo”
O sociólogo também critica a “ditadura do medo” na sociedade contemporânea. Medo de quê? Segundo ele, as pessoas têm medo de serem felizes. Gallardo destaca que a sociedade tem definido o sucesso em termos de poder, dinheiro e fama, o que leva à adoção de comportamentos prejudiciais à felicidade, como a comparação, a queixa e a competição. Ele propõe o conceito de “happytalismo”, que busca promover a felicidade como um novo sistema para um mundo mais feliz. O “happytalismo” prioriza a busca pela felicidade pessoal e coletiva, a liberdade do medo e a consciência elevada sobre o que acontece ao nosso redor.
“…as três piores ações para a felicidade: comparar-se, queixar-se e competir. Me comparo para ver quem tem mais poder, fama ou dinheiro, me queixo se não sou eu, e compito para ter isso”.
A prática da felicidade
Para alcançar a felicidade, Gallardo ressalta a importância de diferentes ações. A mais básica e comprovada é colocar-se a serviço dos outros, pois quanto mais ajudamos, mais felizes nos tornamos. Ele também destaca a importância de sermos gentis e compassivos conosco mesmos, praticando o perdão e a autocompaixão. A consciência da respiração e a prolongação da respiração são técnicas que podem ajudar a gerenciar nossas emoções e entrar em estados de felicidade.
“Todas são atividades que nos fazem entrar em um estado de fluidez, de admiração, de paz, que nos ajudam a conectar com a felicidade que temos. A felicidade é o óleo do motor. Todos nascemos com ela, é parte do nosso ser. Mas precisamos ativá-la”
A ciência e a felicidade
A ciência tem se dedicado ao estudo da felicidade, através de correntes como a psicologia positiva, a educação positiva e a ciência da felicidade, conta Gallardo. Pesquisas têm mostrado que elementos como a amabilidade, o perdão e a gratidão têm influência na felicidade. Universidades ao redor do mundo têm investigado os impactos do bem-estar, da meditação e da atenção plena na saúde mental e no bem-estar. A ciência comprova a conexão entre uma mente sã e a entrada em estados de fluidez e felicidade.
O tema não foi abordado na entrevista com Luis Gallardo, no jornal O Globo, porém sendo a Inteligência Artificial a base dos artigos publicados neste espaço, é preciso ressaltar que a felicidade não é experimentada por máquinas, robôs ou qualquer outro mecanismo tecnológico que assim possa ser identificado. A felicidade é um tema complexo e subjetivo, que varia de pessoa para pessoa. Envolve diversos fatores, como emoções, experiências, valores pessoais, relacionamentos, propósito de vida e bem-estar geral. Embora a inteligência artificial possa analisar dados e padrões, assim como fornecer insights e recomendações com base em informações prévias, a felicidade é um aspecto humano que vai além de dados e algoritmos. Ela envolve aspectos emocionais, subjetivos e até mesmo espirituais, que não podem ser completamente capturados por uma inteligência artificial.
No entanto, os recursos da IA podem desempenhar um papel auxiliar na promoção do bem-estar e da felicidade. Por exemplo, por meio da análise de dados de saúde mental, a inteligência artifical pode ajudar a identificar padrões e fornecer recomendações personalizadas para melhorar o bem-estar emocional. Além disso, essa tecnologia pode facilitar o acesso a informações, recursos e suporte que contribuem para a busca da felicidade pessoal. Lembrando sempre que as informações publicadas em IA devem ser referenciadas por diversas fontes e jamais entendidas como produto final.
Iniciativas para promover a felicidade
De volta à entrevista de Gallardo. O estudioso espanhol diz que governos, empresas e instituições de ensino têm adotado iniciativas para promover a felicidade e o bem-estar. Reconhecendo que a felicidade dos cidadãos, funcionários e alunos é fundamental para o sucesso e a harmonia dessas instituições, eles investem em condições que promovem o bem-estar, como meio ambiente saudável, espaços de convivência, programas de saúde mental e atividades que estimulem o desenvolvimento pessoal e emocional.
No entanto, é importante ressaltar que a felicidade não é um estado permanente e imutável. Ela é uma jornada que envolve altos e baixos, desafios e superações. Cada indivíduo tem sua própria definição de felicidade e suas próprias estratégias para alcançá-la.
É fundamental lembrar que a felicidade não está apenas nas conquistas materiais ou no alcance de metas externas, mas também no cultivo de um estado de espírito positivo, no cuidado com as relações interpessoais e no desenvolvimento pessoal. A busca pela felicidade deve ser pautada em valores autênticos, em alinhar nossas ações com nossos propósitos e em encontrar significado nas pequenas coisas do dia a dia.
Portanto, para ser feliz, é necessário cultivar uma mentalidade de gratidão, aceitação e resiliência. É preciso se conhecer, valorizar suas habilidades e limitações, e aprender a lidar com as adversidades. O autocuidado, o equilíbrio entre trabalho e lazer, e o investimento em relacionamentos saudáveis são essenciais para construir uma base sólida de felicidade.
Em suma, a felicidade é uma técnica que precisa ser praticada diariamente. Requer um comprometimento consigo mesmo, uma disposição para buscar o autoaperfeiçoamento e a disposição de espalhar alegria e bem-estar ao seu redor. É um caminho individual, mas também coletivo, em que cada um de nós pode contribuir para a construção de uma sociedade mais feliz e harmoniosa. Portanto, não espere que a felicidade simplesmente aconteça, mas sim, assuma o controle de sua vida e faça dela um espaço propício para a felicidade florescer.
Mia Codegeist é autor que abusa da inteligência artificial para compartilhar conhecimento sobre temas relevantes à sociedade.
Entenda como a semana de quatro dias está transformando a maneira como trabalhamos
Você já ouviu falar da semana de quatro dias? Essa nova abordagem do mundo corporativo está ganhando espaço no Brasil e promete trazer benefícios significativos tanto para a produtividade quanto para o bem-estar dos colaboradores. Renata Rivetti, especialista em psicologia positiva e felicidade no trabalho, diretora da Reconnect Happiness at Work, é responsável por estudos que começam a ser realizados com empresas brasileiras para descobrir como a semana de quatro dias pode revolucionar a forma como trabalhamos. Ela foi entrevista pelo programa Dez Por Cento Mais, no YouTube, apresentado pela jornalista Abigail Costa e a psicóloga Simone Domingues, que colaboram com este blog.
A busca por eficiência e produtividade tem sido uma constante nas empresas, mas muitas vezes estamos presos em um ciclo de interrupções, reuniões improdutivas e falhas na comunicação. Essa sobrecarga geralmente está relacionada à ineficiência e falta de planejamento, ao invés de uma verdadeira busca por maior produtividade. Renata Rivetti destaca que é essencial repensar nossos métodos de trabalho e adotar uma abordagem mais inteligente e focada.
O fenômeno do burnout tem se tornado mais comum em diversas partes do mundo. No Brasil, as denúncias contra empregadores têm aumentado consideravelmente. No Japão, o índice é alarmante — 70% da população economicamente ativa diz ter tido burnout (conforme informação publicada em edição da revista Exame, em 2020). Renata, que esteve recentemente na capital japonesa, compartilha sua experiência ao observar as pessoas exaustas e até dormindo no transporte público ao longo de todo o percurso. Para ela, essa obsessão pela produtividade e apegada ao trabalho está fazendo com que seja necessário repensar nossas prioridades. A mudança se faz urgente!
A Microsoft do Japão foi uma das pioneiras a adotar a semana de quatro dias e obteve resultados surpreendentes. Através da implementação de regras que restringiam a quantidade e duração de reuniões, a empresa conseguiu aumentar a eficiência e produtividade dos colaboradores. Mudanças simples no dia a dia podem fazer toda a diferença, e a ideia de trabalhar menos e melhor está se tornando uma realidade.
Empresas brasileiras aderem a estudo da semana de quatro dias
No Brasil, a aceitação do projeto da semana de quatro dias tem sido positiva. Com o objetivo de aumentar a produtividade e promover um melhor equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, a proposta é que profissionais se comprometam a trabalhar durante quatro dias, mantendo a mesma produtividade de cinco dias, e sejam recompensados com um dia extra de folga. A repercussão do projeto tem sido significativa com mais de 350 empresas tendo revelado interesse em participar dos estudos no país. Desde microempresas até multinacionais de grande porte, diversos setores da economia estão se engajando nessa iniciativa. A Four Day Week Global, em parceria com a Reconnect, está liderando esse movimento, promovendo sessões informativas para as empresas. Segundo Renata, o engajamento tem sido surpreendente, refletindo a demanda crescente por uma abordagem mais equilibrada e saudável em relação ao trabalho.
É importante ressaltar que a semana de quatro dias não implica em redução salarial. O objetivo é que as empresas possam alcançar o mesmo resultado em um tempo menor, proporcionando aos colaboradores um dia extra de descanso e lazer. Renata Rivetti destaca que muitos participantes dos pilotos relataram uma mudança significativa em suas rotinas, comprometendo-se a abandonar hábitos improdutivos e reorganizar sua jornada de trabalho. O resultado foi um aumento da eficiência e um maior sentimento de realização.
Semana de quatro dias é uma tendência global
A tendência da semana de quatro dias está alinhada com um movimento global em busca de uma nova concepção de trabalho, onde o bem-estar e a qualidade de vida dos colaboradores são valorizados. Afinal, trabalhar menos horas não significa necessariamente uma diminuição da produtividade. Pelo contrário, ao reduzir o tempo gasto em atividades ineficientes e promover uma maior concentração nas tarefas essenciais, é possível obter resultados ainda melhores.
As empresas interessadas em participar desse movimento devem se cadastrar no site da Reconnect Happiness at Work e participar das sessões informativas para entender os detalhes e requisitos do piloto, . O projeto terá a duração de seis meses, a partir de novembro, e proporcionará uma experiência única de experimentar uma nova forma de trabalho.
Com a semana de quatro dias, o Brasil se une a outros países que estão adotando essa abordagem e colhendo os benefícios tanto para os negócios quanto para os colaboradores. É uma oportunidade de repensar a forma como encaramos o trabalho, valorizando não apenas a quantidade de horas dedicadas, mas também a eficiência, a qualidade de vida e a busca por um equilíbrio saudável.
Em um mundo em constante transformação, é essencial abraçar iniciativas que promovam a felicidade e o bem-estar no ambiente de trabalho. A semana de quatro dias surge como uma alternativa promissora, trazendo consigo a possibilidade de trabalhar menos e trabalhar melhor. É hora de repensar nossos métodos e adotar uma abordagem mais inteligente, que valorize tanto a produtividade quanto o bem-estar dos colaboradores.
Assista à entrevista completa de Renata Rivetti ao Dez Por Cento Mais na qual fala também sobre estratégias para se alcançar a felicidade no trabalho e cuidados que as pessoas devem ter para não transformarem a busca pela felicidade em uma obsessão que poderá trazer resultados frustrantes:
Leia também o texto a seguir sobre a semana de quatro dias publicado neste blog
“Se eu tento buscar a felicidade diretamente, eu corro o grave risco de me sentir ainda mais ansioso e angustiado”
Gustavo Arns, empreendedor
Tem uma parte da felicidade que é humana, portanto vale para todos os seres humanos do planeta. Tem uma parte que é cultural e por assim ser dependerá de fatores como a região e o meio em que você vive. Uma pequena parcela é individual ou seja subjetiva e vai se diferenciar de uma pessoa para outra. Quer um exemplo? Ao fazer atividade física você vai produzir hormônios como a dopamina e a endorfina que oferecem uma sensação de satisfação. Isso é humano! É do coletivo! Agora, se a atividade que vai lhe oferecer felicidade é a musculação na academia, o futebol com os colegas, a sessão de alongamento ou o yoga em casa, dependerá de uma escolha individual, daquilo que atenderá melhor suas expectativas.
Compreender as diferentes camadas que nos levam à felicidade é um dos papeis da psicologia positiva, tema para o qual se dedica Gustavo Arns, idealizador do Congresso Internacional da Felicidade. Na entrevista que fiz com ele no Mundo Corporativo da CBN, olhamos para dentro das organizações para entender se é possível ser feliz no trabalho. Antes de chegar a essa resposta, Gustavo recorre a definição de felicidade descrita por Tal Ben-Shahar, professor de Harvard e uma das maiores referências internacionais no tema. Para ele, a felicidade é a combinação de cinco elementos: o bem-estar físico, emocional, intelectual, relacional e espiritual.
“A gente pode levar esses mesmos conceitos para dentro das organizações e nós podemos, também, olhar com um pouco mais de calma para essa questão, também importante, do sentido do significado, do propósito, das realizações que são uma parte bastante tangível no trabalho”.
O professor de pós-graduação de psicologia positiva da PUC do Rio Grande do Sul, com base em pesquisas científicas, diz que o investimento no bem-estar do colaborador tem relação direta com dois aspectos: a produtividade e a satisfação do cliente, que são fundamentais para o sucesso da empresa. Além disso, há redução do absenteísmo, maior retenção de talentos, cresce o engajamento e diminui o gasto com plano de saúde. entre muitas outras vantagens. O desafio é alcançar esse estágio conjugando vida pessoal e profissional diante da aceleração dos processos, da pressão por resultados e da comunicação instantânea que não respeita mais hora de expediente.
É difícil ser feliz em um cenário desses? Sem dúvida! A tendência é depararmos com o estresse, a ansiedade e as angústias. Nessas situações, vale ressaltar que a ciência da felicidade não surge para encobrir esses problemas:
“Muitas pessoas acreditam que uma vida mais feliz seria uma vida livre de tristeza ou livre de estresse ou livre de ansiedade. Isso é humanamente impossível. Todas essas emoções fazem parte da vida humana e vão nos acompanhar a vida toda. O que a ciência da felicidade nos mostra é que o bem-estar emocional está na forma como nós lidamos com cada uma dessas emoções”.
Para tanto, Gustavo sugere que sejamos educados emocionalmente porque apenas assim saberemos lidar com essas situações complexas, caso contrário estaremos fadados a trocar de emprego diante de cada frustração na ilusão de que a felicidade está sempre na outra empresa. Ou no salário maior. Eis aqui outro aspecto que precisa ser mais bem entendido: reajuste salarial é bom mas não é a razão de ser da felicidade.
“Aquelas pessoas que vão mudando de trabalho esperando encontrar menos ansiedade e menos estresse é pouco provável que isso aconteça, porque este é um trabalho que deve ser feito interno. Isso é um trabalho de autoconhecimento. Isso é um trabalho de autodesenvolvimento e que as empresas de alguma forma podem auxiliar os seus colaboradores”.
O papel dos líderes é fundamental para que se crie um ambiente saudável dentro das organizações, refletindo no bem-estar dos profissionais. No entanto, percebe-se que lideranças tóxicas persistem no comando de muitas empresas. Uma das opções seria trocar de chefe, possibilidade que não está à disposição de todos os profissionais. Nesses casos, Gustavo sugere que as pessoas se fortaleçam internamente de forma que a toxicidade do líder cause doença e desequilíbrio emocional:
“Você vai cuidando das condições básicas, físicas, sono, alimentação, exercícios que vão te dando disposição, vitalidade, energia pra gerir melhor essas emoções”.
Para entender outros aspectos da busca pela felicidade na vida —- incluindo a profissional — assista ao programa completo do Mundo Corporativo da CBN, com Gustavo Arns:
Colaboram com o Mundo Corporativo: Priscila Gubiotti, Rafael Furugen, Bruno Teixeira e Renato Barcellos.
“Grande desafio é a gente conseguir fazer com que os líderes eles abracem esse novo pensamento e levem em cascata para os seus departamentos, para a diretorias pra gerências para a gente conseguir construir novas gerações capazes de terem esse comportamento mais humano e feliz”
Rodrigo de Aquino, comunicólogo
Transformar o ‘ganhar, ganhar e ganhar’ em “ganha-ganha-ganha” é bem mais do que um jogo de palavras, é uma transformação cultural que a empresa precisa encarar para se tornar sustentável, oferecendo a oportunidade para que as relações de negócios sejam baseadas em valores humanos. E se é de humanidade que estamos falando, é preciso trazer para a discussão interna nas empresas os temas da felicidade e do bem-estar que são tão necessários quanto complexos; tão complexos quanto subjetivos.
No Mundo Corporativo ESG, Rodrigo de Aquino, comunicólogo, consultor e fundador do Instituto DignaMente, destacou que um dos pilares da felicidade é o estudo das virtudes, onde encontramos o caminho do meio com mais Justiça, Sabedoria e Temperança:
“E aí, onde é que moram as virtudes na filosofia? Elas têm morada na Ética. Então, quando eu tenho uma conduta ética, quando eu tenho uma conduta mais digna, eu acabo gerando relações mais positivas e eu tenho um impacto diretamente na governança e, obviamente, eu também tenho um impacto no meio ambiente. Então, esse é o primeiro ponto que a gente pode trazer para falar sobre essa relação entre felicidade e o ESG”.
Assim que o Rodrigo trouxe esse olhar para a nossa conversa, a primeira coisa que me veio à mente foram as reclamações frequentes de colaboradores e funcionários das mais diversas empresas com a maneira com que os relacionamentos se dão no ambiente profissional — ou isso não acontece aí na sua empresa? Você é uma pessoa de sorte! De maneira geral, há muitas queixas aos processos e formas impostos na realização do trabalho, mesmo naquelas organizações que dizem estar comprometidas com a governança ambiental, social e corporativa. Para quem se apresenta ao mercado como uma empresa dedicada às práticas ESG, não pautar o tema da felicidade e o bem-estar é abdicar de parcela da responsabilidade que assumiu.
“A gente vive nesse mundo tão polarizado, entre o bem e o mal, o positivo e o negativo que, às vezes, não tem esse momento de respirar olhar e falar assim: ‘deixa eu entender qual é o caminho do meio‘. A gente começa a pensar em em uma palavra que está muito em voga que é a empatia. Como que eu consigo parar e olhar a realidade do outro, calçar o sapato do outro, antes de eu sair metralhando verdades, antes de eu sair cuspindo impropérios”.
No esforço de olhar a vida pela ótica do outro, descobre-se que muitos dos nossos comportamentos — às vezes, bem intencionados — são prejudiciais ao crescimento dos nossos parceiros de negócio e colaboradores. Ao trazer esse ponto para a nossa conversa, Rodrigo lembra frase clássica de Peter Druker, papa da administração e gestão moderna: “a cultura come a estratégia no café da manhã“. Ou seja, as práticas criadas para tornar a empresa mais humanas são inúteis diante dos padrões culturais enraizados na organização, diante do comportamento dos líderes, dos valores éticos e morais que pautam as decisões e dos métodos de trabalho impostos aos funcionários.
Um exemplo são as empresas que para combater o excesso de trabalho criam mecanismos que desconectam da rede corporativa o computador do colaborador nos horários fora de expediente ou desligam as luzes da sede ao fim deste expediente. Se os processos internos não mudarem e a pressão excessiva por entregas e resultados for mantida, em breve, os funcionários estarão encontrando formas de burlar essas barreiras, porque sabem que o estresse pela cobrança será maior.
Das formas para substituir o círculo vicioso em círculo virtuoso nas relações de trabalho e de negócios, Rodrigo sugere que se comece por entender a jornada do empregado dentro da empresa e se identifique os pontos de tensão e atrito, atuando diretamente neles com pequenas mudanças que —- assim como uma pedra jogada dentro de um lago — podem ganhar uma enorme dimensão.
Investir na comunicação é fundamental, também. A começar por criar canais de escuta e incentivar os funcionários a falarem o que sentem e precisam, sem barreiras hierárquicas; oferecendo segurança para que hajam assim, sem medo de represálias. A informação sobre as práticas implantadas também têm de circular e ser absorvida por todos, sob o risco de haver constrangimentos que prejudiquem qualquer política de bem-estar. Um exemplo usado por Rodrigo é o das empresas que decidem criar ações afirmativas para incentivar a diversidade, mas se esquecem de investir no letramento de seus colaboradores para colocar todos na mesma sintonia.
Sobre medida que precisam ser trabalhadas internamente nas corporações, Rodrigo de Aquino faz um alerta:
“Cada organização tem um conjunto de pessoas diferentes que precisam então de soluções diferentes. A gente tem que tomar muito cuidado com coisas de prateleira: ‘vamos tentar reproduzir em série essas ações’. Porque cada pessoa é uma pessoa. Quando a gente fala de felicidade e bem-estar é um conceito subjetivo e isso, quando eu coloco para uma organização, também preciso pensar na subjetividade desses conceitos”.
Assista à entrevista completa com Rodrigo de Aquino ao Mundo Corporativo ESG.
O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas, no canal da CBN no YouTube e no site da CBN. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN, aos domingos, às dez da noite, e fica disponível em podcast.
No livro “Em busca de sentido”, Viktor Frankl, médico psiquiatra e judeu, descreve sua experiência nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Nessa obra, Frankl faz uma análise sobre a vida e os comportamentos humanos, destacando situações extremas, envolvendo sobretudo o sofrimento e a desesperança. Ele mesmo havia perdido o pai, a mãe, o irmão e a esposa nos campos de extermínio de judeus; passou fome, frio e sofreu inúmeras agressões.
A morte parecia óbvia naquela condição.
Frankl sobreviveu e nos deixou não apenas um relato, mas uma profunda reflexão sobre como as pessoas conseguem reagir e encontrar um sentido para a vida, mesmo após experiências tão devastadoras.
Pessoas que passaram pelo holocausto. Pessoas que são vítimas de violência, de guerras, de inundações e deslizamentos de terra… pessoas que muitas vezes não têm mais o que e nem como.
Não negam ou minimizam o seu sofrimento numa tentativa de discurso positivo. Ao contrário, o encaram minuciosamente. Recolhem seus cacos e descobrem que apenas uma nova versão de si mesmos possibilitará construir um novo caminho.
Caminho que demanda aceitação. Caminho que exige autocompaixão pela impotência de mudar o passado.
Com o coração rasgado em dor e um vazio na alma, experimentam uma espécie de morte, de quem se era, de quem se pretendia ser… Mas conseguem renascer.
Não é à toa que o mito da fênix é usado para explicar essa condição humana: um pássaro que após morrer ressurge das próprias cinzas, possuindo uma capacidade incrível de suportar cargas muito pesadas durante o voo.
Assim como a fênix, essas pessoas ressurgem porque não se ancoram no passado, mas porque encontram no futuro um convite à vida, numa possibilidade de ir além de si mesmas.
Buscar um sentido para a vida não se restringe ao alcance de um objetivo ou meta específica: envolve inteireza! Envolve compreender a vida em sua totalidade, incluindo o sofrimento e a morte que dela fazem parte, mas sem perder de vista as oportunidades e felicidades que ela também nos oferece.
Não há protocolos para se lidar com as fatalidades da vida. Não há preparo prévio para se lidar com o sofrimento. Cada um será capaz de reagir à sua maneira. Como nos ensinou Frankl: “Quando já não somos capazes de mudar uma situação (…), somos desafiados a mudar a nós próprios”.
Aceita o desafio?
Simone Domingues é psicóloga especialista em neuropsicologia, tem pós-doutorado em neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do canal @dezporcentomais, no YouTube. Escreveu este artigo a convite, no Blog do Mílton Jung.