Avalanche Tricolor: essas mal traçadas linhas

Grêmio 1×2 Fluminense
Brasileiro – Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)

Era para sair de campo com os três pontos, manter viva a fantasia da Libertadores e encerrar a temporada ao lado do torcedor com algum alento. Talvez até encontrar uma trégua nessa relação instável, cheia de tropeços, que sustentamos com o futebol gremista ao longo do ano. Uma vitória ajudaria a apagar, ainda que por alguns instantes, os reveses causados por nossas próprias falhas, pelos azares que cruzaram o caminho e pelas arbitragens que nos tomaram pontos valiosos — especialmente, embora não exclusivamente, neste Campeonato Brasileiro.

Acreditava, com uma boa dose de teimosia, que esta Avalanche — escrita tarde da noite, para desespero de quem madruga — pudesse trazer linhas firmes, bem desenhadas, celebrando o renascimento de um time e a promessa de um ano novo mais generoso. A temporada, porém, insiste em esfregar no rosto a realidade que temos evitado encarar. E ironicamente me faz lembrar Lulu Santos, como aquele amigo que aparece na hora errada com uma verdade desconfortável: “nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia”. Sigo acreditando que será, sim. Só não será agora.

O Grêmio mostrou lampejos de um futebol mais organizado na segunda metade do campeonato. Redescobriu o talento impressionante de Arthur, que precisa ser mantido no elenco se quisermos, em 2026, voltar a ser competitivos. Encontrou também um centroavante eficiente, Carlos Vinícius, cuja ausência por suspensão pesou demais neste jogo.

Há outros jogadores que, recuperados fisicamente, podem contribuir nas competições que começam já em janeiro. E existe a expectativa — sempre ela — de contratações capazes de elevar o nível do time e do grupo.

O placar desta noite, no entanto, praticamente fechou a porta por onde ainda passava uma réstia de sonho: uma combinação improvável de resultados até a última rodada que nos levasse a Liberadores, esperança demais para quem produziu de menos ao longo do ano. A atuação, hoje, nem foi ruim, embora tenhamos sucumbido a um adversário mais consistente na temporada. E ainda apareceram os acasos, sempre prontos para cumprir seu papel de protagonistas — como aquelas mal traçadas linhas que validaram o primeiro gol do Fluminense.

De minha parte, quem sou eu para julgá-las? Se já me vejo às voltas com a dificuldade de desenhar melhor as próprias linhas desta Avalanche, imagine querer analisar as linhas traçadas pelo VAR.

Avalanche Tricolor: com os olhos mais velhos e abertos

Fluminense 1×0 Grêmio
Brasileiro – Maracanã, RJ/RJ

Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Foi um fim de semana de reencontro, abraços e presença da família. Completei 62 anos, na sexta-feira, e recebi a visita dos meus parentes de Porto Alegre. Um deles, meu irmão, ainda mora na casa da Saldanha, onde praticamente nasci. É o endereço vizinho ao saudoso estádio Olímpico, ambos parte de um território afetivo que ainda pulsa em mim — cenário de muitas das minhas histórias da infância e adolescência, algumas já confessadas nesse espaço.

Brinquei nas calçadas da Saldanha, joguei taco, bola de gude e futebol; andei de bicicleta, pulei corda (sempre desajeitado) e fiz mais um monte dessas coisas comuns para a época. O trajeto até o estádio, sem precisar da companhia dos pais, era sinal de autonomia, mesmo que a distância não fosse grande. Considerando que no início nem atravessar a rua era permitido, quando fui autorizado a ir ao Olímpico sozinho era como se tivessem expedido minha carteirinha de “gente grande”.

No Olímpico, vivenciei momentos marcantes. E não estou falando apenas das emoções dos dias de futebol. Fiz amizades, tive aprendizados, amadureci nas perdas e me lambuzei nas conquistas. Uma série de situações com as quais me deparei jogando futebol e basquete, mas, também, conversando com pessoas mais velhas, compartilhando confidências com mais jovens e observando o comportamento humano.

Parcela do que sou depois de mais de seis décadas de vida foi construída por lá. Isso explica por que o Grêmio se tornou tão importante para mim. Por outro lado, o tempo me fez trocar o fanatismo insano pela paixão racional. Gritava com o juiz antes mesmo do apito, encontrava um culpado externo para cada tropeço em campo e acreditava que bastava vestir a camisa para vencer. Hoje, continuo fanático — não perco um jogo, sofro a cada passe errado, vibro com cada gol. Mas minha paixão ganhou um contorno mais racional. Passei a entender melhor o que somos capazes de entregar, a reconhecer as limitações do time e a aceitar que, muitas vezes, a culpa não está lá fora, mas dentro de casa. Sigo acreditando, mas com os pés no chão e os olhos abertos.

E o que vi na noite de sábado, no Maracanã, me deixou pouco confiante em relação ao que podemos alcançar nas próximas rodadas do Campeonato Brasileiro — que as mudanças ocorram o mais breve possível. Consola saber que, na sala de casa, aqui em São Paulo, de onde assisti ao Grêmio, eu estava cercado pela família que veio comemorar meu aniversário.

Avalanche Tricolor: só faltam seis jogos

Fluminense 2×2 Grêmio
Brasileiro – Maracanã, Rio de Janeiro/RJ

Time comemora gol de Braithwaite. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Minhas redes sociais têm reproduzido nestes últimos dias uma série de momentos memoráveis do Grêmio. Revi o gol de Luan contra o Lanús, na Libertadores de 2017. Rolando a tela do Instagram, encontrei lances da batalha contra o Peñarol, em 1983. Por uma dessas circunstâncias que só o destino é capaz de explicar, até a vitória contra a Portuguesa, em 1996, quando conquistamos pela segunda vez o Brasileiro, apareceu na tela do meu celular. Todas são cenas que mexem com minha memória afetiva e me fazem pensar quantas glórias tivemos o privilégio de assistir nessas mais de seis décadas de vida.

Aqueles tempos estão distantes do futebol que assistimos recentemente. Libertadores e Copa do Brasil vemos apenas pelo retrovisor. O Campeonato Brasileiro, que no ano passado ainda conseguimos chegar em segundo lugar, tem sido um martírio atrás do outro. Cada partida é um drama. Nunca se tem certeza do que seremos capazes. Conquistamos um ponto aqui e outro acolá. Quando fazemos três, torcemos para os demais concorrentes empacarem no lugar.

Hoje, nos restou festejar um resultado alcançado na bacia das almas. Após sairmos na frente em um contra-ataque com boa participação de Aravena e conclusão de Braithwaite, não suportamos a pressão do adversário e tomamos a virada. O gol de empate, já nos acréscimos, veio de uma jogada fortuita de ataque em que Nathan Fernandes, que andava esquecido no elenco, conseguiu alcançar a bola com calcanhar e a fez, inadvertidamente, encontrar Arezo dentro da área. Reinaldo, em uma excelente cobrança de pênalti, igualou o placar.

Sei que já fui bem mais feliz ao comemorar Libertadores, Brasileiros e Copas do Brasil. Já sofri com viradas históricas, assim como vibrei em partidas heróicas. Mas, atualmente, na escassez de resultados e conquistas, o que me resta é valorizar cada ponto conquistado, ainda que na bacia das almas, e lembrar que, por mais que o Grêmio esteja distante das glórias de outros tempos, a paixão tricolor permanece intacta. Porque torcer é isso: é saber festejar o mínimo, é não desistir diante das dificuldades e é manter viva a esperança de que um dia o ciclo das vitórias voltará a girar ao nosso favor. Diante das atuais circunstâncias, não tem como exigir muito mais do que um empate no Maracanã. Só faltam seis jogos!

Avalanche Tricolor: a dura lição que o Grêmio precisa aprender

Fluminense 2 (4) x 1 (2) Grêmio

Libertadores – Maracanã, Rio de Janeiro/RJ

Foto de Lucas Uebel/GremioFBPA

O Grêmio, mais uma vez, nos deixou com aquela sensação amarga de uma oportunidade perdida. E, embora seja doloroso ver o time que amamos ser eliminado, há uma lição poderosa que podemos tirar disso: o peso da prepotência nas nossas decisões.

Em muitos momentos da vida, somos tentados a acreditar que as vitórias do passado garantem os sucessos do futuro. É fácil nos agarrarmos às conquistas anteriores, esquecendo que cada nova batalha requer o mesmo empenho, a mesma humildade e, muitas vezes, até mais dedicação do que a última. O Grêmio já nos deu tantas alegrias, tantas taças levantadas que, às vezes, podemos cair na armadilha de achar que o simples peso da camisa é suficiente para vencer qualquer desafio. Mas o futebol, como a vida, não perdoa a arrogância. Não é porque fomos grandes ontem que seremos invencíveis hoje.

Aqui entra o mito da imortalidade, uma marca tão forte do Grêmio. Esse mito, que nos enche de orgulho e nos dá esperança em momentos difíceis, precisa ser entendido na sua verdadeira essência: é uma metáfora, uma inspiração, mas não um fato concreto. A imortalidade, no futebol, não é sobre nunca cair, mas sobre sempre se levantar. E, mesmo assim, devemos reconhecer que cada nova ascensão exige esforço, trabalho e, sobretudo, humildade — e tenho a sensação de que esta nos tem feito falta.

Aceitar nossas fragilidades, admitir que nem sempre fazemos as melhores escolhas, não diminui nossos méritos — ao contrário, os enaltece. Há força em reconhecer que podemos falhar, que às vezes o adversário é melhor, que as condições nem sempre estão a nosso favor. Esse reconhecimento não é fraqueza, mas sabedoria. Afinal, quem entende suas limitações está mais preparado para superá-las.

Assim, ao olharmos para mais essa eliminação, é essencial entender que o mito da imortalidade serve para nos motivar a seguir em frente, a lutar com coragem, mas não para nos cegar diante das nossas fragilidades. Aceitar que somos falíveis, que podemos e iremos falhar, não enfraquece o Grêmio — ao contrário, o fortalece, pois nos permite aprender, evoluir e, quem sabe, nos preparar melhor para as vitórias futuras.

Que o mito continue a nos inspirar, mas que jamais nos esqueçamos de que, no futebol, como na vida, a imortalidade é uma ideia, um ideal, e não uma realidade garantida. A verdadeira grandeza está em como reagimos quando confrontados com a nossa mortalidade, quando reconhecemos que, mesmo caindo, somos capazes de nos reerguer, mais fortes e mais sábios. Mas para isso é preciso alguém disposto a aceitar a crítica e rever seus conceitos.

Avalanche Tricolor: o Grêmio resiste na Libertadores!

Grêmio 2×1 Fluminense

Libertadores – Couto Pereira, Curitiba PR

Reinaldo marca dois em vitoria gremista. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

A vitória de virada, nesta noite gelada de Curitiba, está em sintonia com as conquistas recentes na Libertadores. Apesar do que ocorria no Campeonato Brasileiro e da desclassificação na Copa do Brasil, o Grêmio conseguiu expressar a bravura que sempre marcou sua história na competição sul-americana.

Esta foi a quarta partida que disputamos na Libertadores desde o drama causado pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Durante esse período, obrigado a treinar longe de Porto Alegre e sem o direito de jogar em seu estádio, o Grêmio goleou o The Strongest, da Bolívia, venceu o Huachipato, no Chile, e empatou com o Estudiantes. Essa sequência de jogos nos classificou para as oitavas de final, contrariando as expectativas de muitos que previam nossa eliminação da Libertadores.

No jogo em que nos despedimos do Couto Pereira, em Curitiba, mesmo saindo atrás no placar, mais uma vez o time encontrou forças para reverter o resultado e levar a vantagem para a partida de volta, no Rio de Janeiro. Apesar de algumas dificuldades técnicas, o Grêmio soube reagir com intensidade no ataque, pressionou o adversário e aproveitou as chances que surgiram.

O pênalti resultou dessa pressão, especialmente pelo lado direito, onde Soteldo encontrou espaço para seus dribles e cruzamentos. Reinaldo empatou com uma cobrança clássica e precisa: um chute forte, alto e sem chances para o goleiro. Três minutos depois, novamente pelo lado direito e com Soteldo provocando a falta, abriu-se o caminho para a virada. Reinaldo, com seu talento para bater na bola, marcou o gol da vitória.

A expulsão de Rodrigo Ely – em uma decisão injusta do árbitro, que viu apenas a agressão do zagueiro gremista e não puniu a atitude também antidesportiva de Ganso – serviu para tornar a vitória ainda mais dramática. Tivemos de jogar mais de dez minutos com um jogador a menos, mas vencemos, mesmo assim. A decisão foi adiada para a semana que vem, como era de se esperar.

O que importa é que o Grêmio, apesar de tudo, de todos e de si mesmo, resiste na Libertadores!

Avalanche Tricolor: saudade de ti!

Grêmio 1×0 Fluminense

Brasileiro – Centenário, Caxias do Sul/RS

Gustavo Nunes abraçado pelo time no gol da vitórai. Foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Estávamos de volta ao Rio Grande do Sul. Ainda não era a nossa Arena, mas era a nossa gente. Não que nossa gente tenha nos faltado nestas duras semanas que o futebol nos proporcionou. Esteve presente em especial no Couto Pereira, em Curitiba, casa que adotamos diante da condição de desalojados que as enchentes nos impuseram. 

Não era na Arena, mas já era no Rio Grande. E no Rio Grande raiz. Do interior. Com campo maltratado, grama rala e bola quicando desgovernada. Para o clima ficar ainda mais apropriado, os termômetros marcavam aquém dos 10 graus. Tiveram de levar aquecedor a gás para o vestiário, enrolar-se em cobertor na casamata e vestir luvas. Aquele Rio Grande que nos forjou campeões do mundo.

Foi neste ambiente que conquistamos nossa primeira vitória nas últimas oito rodadas no Campeonato Brasileiro. A última vez que havíamos vencido na competição ainda estávamos no mês de abril, período pré-diluviano. De lá para cá havíamos somado seis derrotas e um empate, o que nos colocou naquela zona … aquela-que-não-deve-ser-nomeada.

Contra um adversário tradicional e ferido como nós, diante dos maus resultados, vencer era preciso. E o Grêmio venceu. Antes de chegar à vitória, mostrou intensidade na marcação, roubou bola no meio de campo, movimentou-se pelos dois lados e se aproximou da área. A carestia de centroavante, porém, seguia nos punindo. Mesmo quando estávamos perto do gol, a falta de cacoete, às vezes de tranquilidade e às vezes de talento, nos levavam a desperdiçar os ataques.

Tínhamos a impressão de que novamente seríamos punidos pelo pecado de não termos um centroavante de ofício. Até que no momento mais improvável, já no segundo tempo, em que o adversário começava a se assanhar, um jogada pelo lado direito nos fez chegar ao gol. 

Pavón, que se fez presente na maior parte dos nossos ataques, apesar da imprecisão nos chutes, deu um passe precioso para João Pedro, ala que tem se revelado um dos melhores e mais equilibrados jogadores do Grêmio. Da linha de fundo, onde recebeu a bola, João Pedro cruzou para a entrada da pequena área. Havia cinco jogadores gremistas entrando para atacar o gol. Gustavo Nunes foi quem aproveitou a oportunidade e estufou a rede com um chute de primeira. Gol merecido para um guri que tem mostrado futebol qualificado e muito superior a maioria de seus colegas.

Desde a semana passada quando empatamos no Brasileiro, tenho a impressão de que a sorte está se amasiando com o Grêmio. Em tempos recentes, chutes como o de Gustavo Nunes se espraiavam para o alto e além. Na melhor das hipóteses encontrariam o travessão. Desta vez, não. Foi certeiro. No ângulo. Gol! Gol da vitória, porque dali para a frente, contamos com a imposição da nossa defesa e marcação que impediram qualquer risco maior. O que, convenhamos, foi outro mérito que nos diferenciou das partidas anteriores.

Na tarde desse domingo, matamos a saudade do Rio Grande. Mas saudade mesmo eu estava sentido é de ti, vitória!

Avalanche Tricolor: a despedida memorável de Suárez no palco do Maracanã

Fluminense 2×3 Grêmio

Brasileiro – Maracanã, Rio de Janeiro, RJ

Suárez prestes a marcar em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Era a última dança. Assim os cronistas esportivos se referiam a partida final de Luis Suarez no futebol brasileiro. Do Grêmio e seus torcedores, Luisito despediu-se no fim de semana, na Arena. Foi uma festa muito particular, Linda e emocionante! Para nunca mais esquecer! Havia, porém, um último ato a ser realizado e este deveria ser no maior palco do futebol mundial: o Maracanã. 

É uma daquelas coincidências que somente os deuses, que interferem nos destinos deste esporte, são capazes de desenhar. O gramado em verde e bola jamais havia assistido a um gol de Suárez. E estava lá, disposto a lhe dar essa oportunidade na hora do adeus.

A música que as torcidas cantavam, a voz ao fundo dos locutores esportivos e a batucada proporcionada pela chuteira em choque com a bola estavam sintonizadas para acompanhar o ritmo imposto por Suárez. Aos 36, véspera dos 37 anos, consagrado por todos os lugares que jogou, o craque uruguaio demonstrava um desejo que somente os apaixonados pelo futebol são capazes de ter. Quase juvenil!

Era o jogo derradeiro do nosso craque, aquele que com seus pés fez poesia, que com dribles delineou sonhos no campo, que com gols escreveu história — algo que ele não se cansa de repetir a despeito de um joelho que teima em doer. Foi a superação desta dor, somente possível pelo prazer que tem em jogar, que o permitiu chegar até o espetáculo final. 

Ele não desperdiçaria as circunstâncias.

O passe que recebeu de Villasanti e a posição dos seus marcadores pareciam sincronizadas para permitir que o campo ficasse livre para Suárez correr em disparada ao gol, aos 43 minutos do primeiro tempo. Em uma jogada que há algum tempo tem evitado para não aumentar o desgaste físico, ele escapou dos marcadores e, em uma corrida cadenciada pela bola que conduzia, foi se aproximando da área. Quando todos esperavam um chute à distância, Suárez imaginava um lance ainda mais lindo. Driblou o goleiro e chutou com precisão para deixar definitivamente sua marca nas redes do Maracanã.

Ele queria mais. E os deuses voltaram a interferir. No segundo tempo, quando o Grêmio já havia virado o placar a seu favor, um novo lance para o estádio. Um pênalti! Um dos raros momentos do futebol em que todos são convocados a assistir. Como se estivesse no roteiro deste filme, o Maracanã se perfila para ver Suárez brilhar. Ele brilha e se diverte com a bola. Dá uma cavadinha, tira o goleiro de cena, e sai para beijar seus três dedos pela última vez jogando no Brasil.  

A última dança termina! Mas a memória desse momento permanecerá para sempre. No olhar de cada um de nós, torcedores e apaixonados pelo futebol, havia um brilho de lágrimas nos olhos e um sorriso de agradecimento pela jornada que compartilhamos nestes últimos 11 meses.

E se não bastasse a beleza desta dança final, Suárez antes de soltar nossa mão nos deixou um presente inesperado: o vice-campeonato brasileiro!

Avalanche Tricolor: os “guri” estão de volta!

Grêmio 2×1 Fluminense

Brasileiro – Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

A festa do gol da virada em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Os “guri” voltam ao protagonismo. Da defesa ao ataque, foram eles os destaques desta vitória que nos repõe no G4 — enquanto escrevo esse texto, ainda somos vice-líder e com um jogo a menos do que os concorrentes diretos. Eles foram importantes tanto evitando como marcando gols. 

Gabriel Gandro, mesmo que ainda tenha seu nome visto com ressalva por parcela do torcedor, demonstra competência a cada partida. Fez defesas difíceis embaixo dos paus quando fomos pressionado e despachou a bola da área com segurança quando esta era a única opção. 

Nos dois gols que tomou — um deles salvo pelo VAR — foi mais vítima do que algoz. Saiu de campo com o troféu de “Craque da Partida” o que não é pouca coisa se considerarmos que tivemos um jogo de alto nível com jogadores demonstrando talento em diversos fundamentos e nos dois times. 

Tem confirmado a escolha da comissão técnica diante da crise de goleiros que sofremos recentemente, com casos de indisciplina e queda de produção de algumas das nossas principais promessas para a posição. Na conta de Gandro, claro, tem ainda a classificação para a semifinal da Copa do Brasil na defesa de pênaltis.

Guri que voltou a se destacar, após uma sequência de partidas abaixo da sua capacidade, foi Bitello que apareceu bem dentro da área para receber o passe preciso de Suárez e chutar cruzado no gol de empate. Mesmo que ainda não tenha retomado o futebol que o levou a ser titular indiscutível, ocupando uma posição no meio de campo ou no ataque, conforme o esquema escolhido pelo técnico, hoje foi bastante útil na marcação e nas arrancadas para o campo do adversário. 

(Em tempo, se alguém entre os raros e caros leitores desta Avalanche tiver o WhastApp do Bitello, por favor, passe esse recado para ele: em qualquer situação, sempre que partir para o ataque, mesmo que um companheiro esteja mais bem posicionado, mete a bola no Luis Suárez. Você nunca vai estar errado, guri!)

Da base, também, Ferreirinha tem se mostrado essencial para a retomada dos bons resultados nas duas competições que estão em jogo. Nesta tarde de domingo, marcou pela primeira vez desde que voltou de lesão. Até então aparecia bem na assistência e hoje completou na rede um belo chute dentro da área após troca de passe com Fábio, pela direita. Firma-se como titular e tem competência para desequilibrar a marcação e ser a “válvula de escape” nos contra-ataques. Não tem medo de decidir e isso faz diferença.

De todos os guris, o que provocou maior comoção não marcou nem evitou gols. Estava no banco e pouco tocou na bola nos minutos em que esteve em campo. Refiro-me a Luan, que já jogou futebol suficiente para ser tratado como “Rei da América” e retorna ao Grêmio após uma série de percalços na carreira. 

A torcida gritou o nome de Luan quando ainda estava prestes a substituir Bitello como para lembrá-lo de quem ele foi e de quem queremos que ele volte a ser um dia. Vê-lo recuperado e prestando bons serviços à camisa tricolor será o “estado da arte” de um personagem que fez história no Grêmio. A história dos “guri” do Grêmio!

Avalanche Tricolor: eu só quero é ser feliz

Grêmio 1×0 Fluminense

Brasileiro – Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Diego Souza comemora em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

O árbitro havia apitado o fim do jogo mas antes de comemorar qualquer coisa ainda procurei para ver onde a bola estava. Precisava me certificar de que nada de errado ainda poderia acontecer. No gol que marcamos, aos 28 do segundo tempo, não foi diferente: apesar da explosão repentina de quem vê a bola na rede, segurei a alegria até a certeza de que não teria o que revisar. 

Torcer para o Grêmio nesta temporada tem sido um sofrimento atrás do outro. Mesmo nos momentos em que o futebol pode nos proporcionar alguma satisfação, surge algo para nos frustrar. 

A bola é lançada na área, seu zagueiro a despacha para longe, mas de alguma maneira ela desvia no braço de um companheiro, e o pênalti é descoberto. Seu atacante é derrubado antes de finalizar em gol: pênalti a seu favor — pode contar com o erro na marca fatal. Seu time sai na frente, faz um gol impossível, e em seguida sofre a virada para provar que a felicidade é um sentimento fugaz, nesses tempos de carência.

Por isso, nesta noite, foi surpreende ver que o técnico decidiu lançar o time para frente, apostar em gente com energia e disposição. Que o lance que deu origem ao gol adversário foi em “flagrante” impedimento — só identificado pela linha virtual do VAR — e, portanto, foi anulado. Que quando Mateus Sarará recebeu a bola próximo da área adversária, ninguém se aproximou para impedir o cruzamento. Que o zagueiro foi incapaz de segurar Diego Souza no chão. Que nosso goleador foi capaz de saltar mais alto do que todos, manusear a cabeça e desviar a bola para dentro do gol — sem nenhuma suspeita de irregularidade.

Se o Grêmio jogou bem ou não, deixo para o analista analisar.

Se o resultado muda nosso rumo no campeonato, deixo para o destino nos destinar. 

Hoje, como se canta na canção:

“eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz

Onde eu nasci, é

E poder me orgulhar …”

Avalanche Tricolor: sintomas positivos, nesta manhã de domingo

Foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

O domingo começa com um sabor diferente e melhor, a despeito de estar a espera do resultado de um exame PCR que, imagino, confirmará, que narinas fechadas, tosse seca, dor de cabeça e alguma vertigem podem ser apenas sinais de mais um resfriado, comum nesta época do ano. Começa diferente porque entre todos os sintomas, não tenho na garganta aquele gosto amargo de quem dorme e acorda, rodada após rodada, na lanterna do Campeonato Brasileiro. 

Em tom de alívio, Scolari, ao fim da partida de ontem, decretou ainda na beira do gramado do Maracanã: não somos mais o último colocado.

Pode ser muito pouco para quem entrou na competição falando na busca do título, mas era tudo que queríamos — e podíamos — ouvir de melhor ao fim da décima-segunda rodada. Especialmente porque a vitória veio quando não ser derrotado já nos parecia suficiente, diante do que tem sido o desastre deste início de campanha no Brasileiro. 

Sob o comando de Scolari, não perdemos. Empatamos o Gre-Nal, mantendo a escrita; saímos em vantagem na disputa da vaga à próxima fase da Sul-Americana; e, agora, ganhamos pela primeira vez no campeonato nacional em partida também fora de casa. Três pontos que vieram no último minuto regulamentar de uma rara bola lançada na área que encontrou um jogador do Grêmio à disposição para recebê-la, Alisson, o que acabou culminando em um pênalti requerido pelo VAR. E muito bem cobrado por Pinares, que acabara de entrar em campo e iniciado a jogada que resultou na nossa vitória.

Nada pode ser mais importante do que os três pontos, mas a demonstração de que nosso sistema defensivo ficou mais consistente e chegou à terceira partida sem ser vazado também é motivo de satisfação, nesta manhã de domingo. Assim como ter visto a comemoração de um grupo que transmitia mensagens contraditórias e de aparente e perigosa cisão.  A festa do gol, com intensa participação de jogadores que haviam recém deixado o campo e a vibração de alguns atletas que perderam a posição com a chegada do técnico, demonstram que o Grêmio está unido e começa a retomar seu velho espírito guerreiro. A persistirem os sintomas, em breve, Scolari terá razões bem mais dignificantes para exaltar ao fim da partida.