Reviravoltas na cobertura esportiva

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Os Jogos Olímpicos de Londres aproximam-se do seu encerramento. Este, a exemplo do que aconteceu na sua abertura, é de se imaginar, será outro espetáculo inesquecível. Duvido que, mesmo os mais exigentes turistas, jornalistas e telespectadores, ao fim e ao cabo desta Olimpíada, terão algum reparo a fazer sobre o que viram. Os que ficaram em suas casas assistindo ao que as emissoras de televisão mostraram, principalmente os felizes proprietários de tevês Full HD e 3D, com certeza, deliciaram-se com as sensacionais imagens que brotavam de seus aparelhos. Tomara que, daqui a quatro anos, quando chegar a vez de o Rio de Janeiro sediar os próximos Jogos Olímpicos, o Brasil possa também encantar o mundo, em todos os sentidos.

 

Fui um dos que tiveram a chance de acompanhar, em casa, boa parte dos jogos. Ao ver a cobertura realizada pelos meu colegas de profissão, invejando-os com santa invídia, lembrei-me da época em que compartilhei da experiência vivida na Inglaterra pelos jovens e veteranos jornalistas que lá ainda estão. Das Copas do Mundo que fui escalado para cobrir como narrador da Rádio Guaíba, a de 1974, na Alemanha, me dá saudade. Escrevi faz duas semanas, que a nossa chegada – minha e do comentarista Ruy Carlos Ostermann – começou com um susto. Achávamos que a nossa bagagem tivesse se perdido. Seria um mau começo. Para quem não leu o texto em que relatei essa história, esclareço que as encontramos no dia seguinte ao do nosso desembarque em Frankfurt. Estavam na sala de bagagens não reclamadas.

 

Conhecer a Alemanha – ou um pouquinho dela, porque jornalista e radialista não são turistas – foi muito agradável. Afinal, meu bisavô paterno,o primeiro dos Jung do meu ramo que desembarcou no Brasil, era alemão. A primeira etapa da nossa estada no país avoengo foi na industrializada cidade de Frankfurt. A equipe da Guaíba que nos precedeu, alugara um Fusca, depois trocado por um BMW. Ruy e eu viajamos com esse carro por boa parte das “bundesautobahnes”, as maravilhosas rodovias que, em 1974, já era excelentes. A última das nossas viagens foi, para mim, pelo menos, inesquecível. Precisamos sair de Honnover e ir até Essen. A maioria da equipe nos esperava hospedada em um hotel, nessa cidade. Lá pelas tantas, anoiteceu. Foi quando encontramos a primeira placa indicando que estávamos em Essen. Eu dirigia o BMW. O Ruy olhava para as placas. Andamos um pouquinho mais e começaram a surgir outras placas. Era um tal de Essen isso, Essen aquilo que parecia não ter fim. Tínhamos que tomar uma resolução. Então, entramos na próxima saída com esse nome na placa.

 

E agora? Sabíamos somente o nome do hotel em que se hospedavam os nossos companheiros. E mais nada. Não se via viva alma nas ruas. Quem sabe a gente parava numa cabina telefônica e ligava para um dos nossos? Não lembro quem atendeu e informou que tínhamos de entrar numa elevada, perto de onde nos encontrávamos. E veríamos o hotel. Chegamos aonde queríamos ir. Foram necessárias, porém, tantas voltas, subindo e descendo a elevada, que elas já ameaçavam se tornar infinitas, até que, finalmente, atinamos com a saída. Foram dois caras famintos e com sono que, ainda por cima, tiveram de suportar a gozação dos colegas.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Confusão com as malas da Copa (de 1974)

 

Por Milton Ferretti Jung

 


Vou contar, nesta quinta-feira, mais uma história de rádio. Gostaria de escrever sobre o que foi discutido pelos especialistas em mobilidade urbana, que estiveram em Porto Alegre na semana passada, representando vários países, para relatar o que foi feito nas suas cidades de origem visando a resolver os angustiantes problemas de trânsito. A nossa mídia, porém, tratou do tema apenas antes da realização do Congresso de Trânsito Idéias que Salvam Vidas.

 

Desde 1958, a Rádio Guaíba, com um ano de vida, transmitiu a sua primeira Copa do Mundo: a da Suécia. E deu sorte! Fomos campeões. Daí para a frente, a emissora rio-grandense esteve presente em todos os Mundiais. Como narrador, cobri a minha primeira Copa em 1974, na Alemanha. Lembro-me, como se fosse hoje, da viagem para a terra de parte dos meus ancestrais,os Jung. O comentarista Ruy Carlos Ostermann e eu embarcamos em Porto Alegre, rumando para São Paulo, de onde saímos em direção a Paris. Ali, trocaríamos de avião. Perdemos, porém, a conexão para Frankfurt porque o nosso voo chegou com atraso à capital francesa. Saímos a buscar um avião que nos levasse ao destino final. Pergunta daqui, pergunta dali, encontramos o que queríamos. Em pouco tempo, estávamos desembarcando na cidade alemã em que ficaríamos hospedados durante boa parte da Copa. Os primeiros jogos da seleção brasileira seriam disputados.

 

O nosso desembarque em Frankfurt ficou marcado pelo susto que o Ruy e eu levamos. Fomos para a esteira esperar a nossa bagagem. Malas e mais malas cruzaram à nossa frente, mas as nossas não apareciam. E tivemos de pegar um táxi portando somente a bagagem de mão. Depois de chegarmos ao hotel no qual os companheiros que nos precederam já estavam seguimos com eles para um jantar promovida pela FIFA. Minhas melhores roupas estavam na mala desaparecida. Passei o jantar inteiro constrangido por me sentir mal vestido, obrigado a continuar vestindo o terno que usara na viagem. Creio que com o Ruy ocorreu o mesmo. Dormimos preocupados. No outro dia, pela manhã, dirigimo-nos os dois para o aeroporto. Lá chegando, fomos ao depósito de bagagens não reclamadas. E lá estavam as nossas malas. Elas tinham seguido em outro avião, que não aquele em que fizéramos o trajeto Paris-Frankfurt, graças às etiquetas nas quais constava o nosso destino final. O nosso retorno ao Hotel Europe no BMW que a Rádio alugara para os nossos deslocamentos na Alemanha foi feito por dois radialistas sorridentes, bem diferentes dos que, um dia antes, haviam desembarcado imaginando que nunca mas veriam as suas malas.

 

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)