Por Carlos Magno Gibrail

Desde a denuncia contra a NIKE, em fins da década de 90, da existência de trabalho de crianças na confecção de seus produtos, notícias similares têm surgido até hoje. A mais recente atingiu o GEP, empresa brasileira de 57 anos, das marcas Cori, Luigi Bertolli, Emme e Lab. Portfólio que, a partir de setembro, contará com a americana GAP.
A acusação do Ministério do Trabalho, do Ministério Público e da Receita Federal é que 28 bolivianos estavam confeccionando roupas das marcas Luigi Bertolli e Emme em uma oficina fechada de aliciadores bolivianos, em regime ilegal, trabalhando o dobro e ganhando a metade.
Na verdade os bolivianos estavam prestando serviço para a Silobay, empresa com atestado de participação da ABVTEX, entidade fiscalizadora do setor, e por isso contratada pelo GEP. Ainda assim o GEP não refugou a solicitação das autoridades e, rapidamente, atendeu o chamamento, cumprindo com todos os requisitos administrativos e pecuniários, independentemente da evidente responsabilidade da Silobay. Fato que mereceu destacado elogio publicado na FOLHA, da desembargadora Ivani Contini Bramante, do Tribunal Regional do Trabalho e representante do CNJ, e da juíza Patrícia Therezinha de Toledo, da Vara Itinerante de Combate ao Trabalho Escravo, que acompanharam a fiscalização: “A GEP deu um exemplo aos empresários do setor ao assumir sua responsabilidade social diante da situação dos trabalhadores”.
Entretanto, as engrenagens do sistema de mão de obra intensiva, como é o caso da moda, vão além da exploração do homem no trabalho. Os impostos excessivos, os custos de ocupação em permanente elevação, a concorrência predatória asiática, podem levar empresários a contratar preços de mão de obra muito abaixo de mercado para a sobrevivência. Os bolivianos, por exemplo, chegam a oferecer R$ 5,00 para fechar um blazer cujo preço normal é de R$ 18,00. Os chineses, bem esses podem fazer “negócios da China” e espantar potenciais e promissoras oficinas brasileiras de costura intensivas de mão de obra. É uma situação que exige tomada de posição e decisão dos setores envolvidos.
Do governo esperamos a estratégia para não exportar empregos ao deixar de propiciar as condições necessárias de competitividade às empresas brasileiras e facilitar a importação de roupas.
Da Nike temos a experiência com o fato e a solução encontrada, dita por Mark Parker, CEO mundial, em entrevista à Veja: “Criamos uma divisão de sustentabilidade corporativa, na qual há gente dedicada exclusivamente à inspeção das fábricas e dos fornecedores dos quais compramos”.
Do GEP, empresa que participei durante 40 anos, certamente teremos o fortalecimento da firme estratégia operacional e a visão sustentável que seu principal executivo nunca abriu mão.
Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras.