Avalanche Tricolor: Eu sou campeão !

 

Grêmio 2 (0) x 1 (1) Inter
Gaúcho – Olímpico Monumental

Gremio campeão

Um guri de meia com os punhos cerrados e os braços esticados canta o hino do Grêmio sobre o travessão da goleira que fica do lado do campo em que está a torcida Da Geral. Ele acabara de jogar sua terceira partida vestindo a camisa do Imortal Tricolor consagrando um sonho de criança e se sagrando Campeão Gaúcho. Neuton – que aceita ser chamado Nilton – já havia comemorado roubadas de bola, gesticulado com raiva chutes para a lateral e feito a torcida vibrar com uma escapada pela linha de fundo e um cruzamento que lhe renderam o escanteio e o nocaute ao adversário.

Incorporou naquele momento minha vontade neste domingo. Estar lá no alto, cantar com todo gás e perder a voz com o grito de campeão. Muitas vezes foi isso mesmo que fiz, pulei ao lado de todos os torcedores, o suor escorreu pelos cabelos – era um tempo em que eles eram fartos -, a garganta parecia explodir junto com a emoção e cantei o hino repetidas vezes sem jamais cansar.

Placar 1987Comemorei como um torcedor alucinado na arquibancada até o fim da minha adolescência, mas festejei também na época em que repórter de campo me ofereciam a chance de participar da jornada final, como na foto que aparece neste post, feita em 1987. Fui campeão, ainda, narrando pela televisão a decisão da Copa do Brasil, em 2001. E nestes anos todos que estou em São Paulo, diante da TV, sentado – às vezes, em pé – no sofá de casa, vibrei com gritos contidos para não assustar a vizinhança.

Por isso, me emocionei ao ver a felicidade de Neuton na imagem fechada da televisão. Poderia ter me fixado na alegria de Jonas e na brincadeira de Hugo, na corrida pelo gramado de Leandro, na satisfação do primeiro título do capião Vitor, no sorriso do atacante Borges.

Mas em um futebol de jogadores ciganos que perambulam de um clube para o outro, sem tempo de construir sua paixão, são estes guris que nasceram ali na redondeza do Olímpico Monumental é que conseguem revelar quanto pode ser sincero o beijo no escudo de seu time. Eles sabem o valor de uma vitória sobre o rival de sempre.

Jovens que há pouco brincavam de futebol na várzea, batiam bola no meio da rua e narravam suas próprias jogadas, são estes que comemoram como sempre comemorei os títulos de meu time. Sem esperar nada em troca, sem imaginar para onde aquela conquista me levará. Apenas, única e exclusivamente, pelo prazer de gritar:

“O meu Grêmio é campeão !”

Avalanche Tricolor: Toninho, o guri de coragem no Gre-Nal

 

Inter 0 x 2 Grêmio
Gaúcho – Beira Rio

Twitter Milton Jung

Com esta mensagem acordei no Twitter esta manhã e refletia sentimento que não se baseava apenas na luz que vazava a janela de casa, aqui em São Paulo. Havia um azul no céu que teimava em aparecer, apesar das nuvens que se esforçavam pra estragar o cenário. A confiança estava nos sinais que chegavam, nas coisas pequenas que surgiam daqui e dali.

No rodapé do caderno de esporte, uma foto do goleiro Vitor ilustrava a chamada para o Gre-Nal que decidiria o Campeonato Gaúcho. Não era nenhum atacante que estava ali, o driblador de plantão ou o goleador do momento. Nem um destaque especial para os jogadores daqueles que “se acham” vencedores de tudo. Era o nosso goleiro, o maior do Brasil , que em campo à tarde justificaria a demonstração de respeito dos jornalistas esportivos de São Paulo.

Estadão Vítor

Os sinais não paravam por aí.

Na primeira página do Estadão, uma camisa do Grêmio estava no alto. Vestida por um menino de 8 anos, Antonio Lazarotto Campanelli, que a convite de reportagem sobre a nova “opinião pública” escreveu em um cartaz a mensagem que gostaria de enviar para o mundo:

Estadão Grêmio

Parabéns, Toninho ! Você é guri corajoso. Não esperou o Gre-Nal deste domingo para gritar à caneta o que seu coração já lhe dizia. Em poucas palavras encarou aqueles que ainda duvidavam do potencial deste time. O Grêmio de Silas é uma equipe constantemente desafiada pelos críticos e por seus próprios torcedores, sempre aguardando um aceno, um lance, uma conquista a mais.

Ganhou a primeira fase do campeonato gaúcho, fez a melhor campanha entre todos, mas não era o suficiente. Superou um, dois, três adversários na Copa do Brasil, chegou às quartas-de-final, mas … Sempre aparecia um mas a duvidar da gente. E a nos dar dúvidas, também.

Para Toninho, não. Para este menino nascido em Porto Alegre, o Grêmio não precisava provar nada, pois mesmo jovem conhece a saga do Imortal Tricolor. E sabe que coragem é nossa marca, confiança é o que nos leva a vitória.

Foi você jovem gremista, mais do que o céu e o Vítor, quem me contaminou e me fez crer que algo de bom estava reservado para este domingo. E como estava.

Twitter Neuton

Foi, aliás, um outro jovem, Neuton, 20 anos, que dentro de campo só fez aumentar minha certeza. Com um carrinho sem medo da falta que seria marcada, logo no início da partida, fez sua estreia no time profissional. Dali pra frente, encarou os marcadores em arrancadas pela esquerda, driblou dentro da área, deu chutão para lateral e comemorou cada roubada de bola como somente os gremistas são capazes de comemorar, sem nenhuma vergonha na cara. Passou no teste.

Houve outros corajosos em campo nem tão jovens como o ala Neuton ou o torcedor Toninho. Mas vou citar apenas mais um e que seja uma homenagem a todos que começam a entender o compromisso que assumiram ao vestir o manto tricolor: Rodrigo.

Nosso zagueiro encarou o adversário que teve o atrevimento de lhe agredir na entrada do gol que defende, não teve medo da punição do árbitro pois sabia que ali era momento de mostrar quem manda dentro da área. Mancou parte do jogo, sem nunca tirar o pé. E foi decisivo ao “chutar” a bola de cabeça e marcar o primeiro gol do Grêmio. Rodrigo, o Patrão da Área, foi, hoje, o das duas áreas.

Os sinais deste domingo se completaram com o gol de Borges que nos ofereceu uma vantagem considerável para a partida final no Olímpico Monumental. Sua comemoração com cambalhotas e piruetas me fez lembrar André Catimba, e a final de 1977, quando assisti ao primeiro título gaúcho do Grêmio.

O de 2010 ainda não vencemos, mas teimo em acreditar na mensagem que recebi ao fim de uma boa conversa durante todo o jogo pelo Twitter

Twitter Marcia Pilar

Avalanche Tricolor: Que noite !

 

Grêmio 1 x 2 Pelotas
Gaúcho – Olímpico Monumental

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A noite em que até o capitão Vitor se atrapalhou e não defendeu nenhum pênalti. A noite em que o maestro Douglas errou mais passes do que acertou. A noite em que Jonas não foi o peladeiro com que nos acostumamos e sumiu em campo. A noite em que o juiz decidiu apitar todas contra nós. Esta noite só podia ser aquela em que deixaríamos para trás nossa invencibilidade e nossas marcas históricas.

Porque esta noite em algum momento teria de chegar. E como esta era inevitável que fosse agora, em tempo de se recuperar, pensar, treinar e se preparar para a decisão do Campeonato Gaúcho, para a qual estamos convocados antecipadamente – não esqueça disso, caro corneteiro de plantão.

Somos craques em desmentir os astros, em driblar o que nos haviam preparado de pior, portanto temos apenas que nos resignar e aprender quando algo como o que ocorreu nesta noite se concretiza.

Somos o Grêmio e sabemos como ninguém que o destino não é uma história acabada, nós é que temos de escrever seu último capítulo e isto só é feito por aqueles que não desistem nunca, que não vencem na véspera.

Lição aprendida, bola pra frente, pois somos nós os Imortais !

Avalanche Tricolor: Tá na história

 

Juventude 1 x 2 Grêmio
Gaúcho – Olímpico Monumental


Foi a décima-quinta vitória consecutiva na temporada, marca jamais alcançada por nenhum outro time que vestiu a camisa do Grêmio. O Imortal 2010 faz sua própria história sob a desconfiança dos adversários e mesmo de muitos torcedores que ainda temem a próxima partida – seja esta qual for. É talvez este olhar receoso que desafia os jogadores tricolores e os fazem superar as expectativas, a registrarem ao fim deste feriado de Páscoa a melhor campanha do futebol brasileiro com 88% de aproveitamento.

A quem lembrar que boa parte destes jogos foi válida pelo Campeonato Gaúcho, bom não esquecer que mesmo equipes respeitadas pela crítica não foram capazes de alcançar esta sequência vitoriosa em temporadas anteriores. Não custa citar que o “Queridinho da Crônica” enfrentando os mesmos adversários não somou 15 vitórias em toda a competição. Classificou-se na bacia das almas para esta próxima fase, na qual o Grêmio chega como líder absoluto.

O Grêmio tem decidido suas partidas nos primeiros 15 minutos, foi assim nas quatro últimas. Jonas, mesmo sozinho no ataque, é o goleador do ano (13 gols) e merece todos nossos aplausos. Não vejo hora dele se reencontrar com Borges, fora há mais de um mês por lesão.

Douglas, o 10, é o Tcheco com mais saúde. Forte para dividir, mais ainda para manter a bola em seus pés. É capaz de encontrar companheiros em lugares que a televisão não mostra (tudo bem que os diretores de TV, no PPV, não têm se esmerado muito no corte das imagens). Tem um passe preciso e lança com açúcar e afeto como fez no primeiro gol.

É preciso, porém, que se abra um parágrafo nesta Avalanche para destacar um jogador que tem sido fundamental nesta campanha. Experiente, firme e talentoso, o zagueiro Rodrigo, que chegou neste ano, joga com pinta de quem logo se transformará em “Cherifão do Tricolor”. A presença dele no time fechou espaços que permitiam o assédio constante dos adversários, no início do ano (lembra quantas vezes tivemos de virar o placar ?). Hoje foi forte quando preciso, tranquilo na medida certa e ainda se deu ao luxo de despachar uma bola da nossa área, aos 40 e tantos minutos do segundo tempo, de calcanhar (só não precisa exagerar, prefiro bem mais uns carrinhos de vez em quando).

Jonas, Douglas e Rodrigo ainda precisam fazer mais, muito mais, para merecerem o título de Imortal, necessitam confirmar este título Gaúcho, seguir em frente na Copa do Brasil, abrir caminho na Libertadores e azarar os “Queridinhos da Crônica˜. Mas já podem dizer por aí que após mais esta vitória, a décima-quinta seguida, entraram para a história. E eu me orgulho disto.

Em tempo: Recebo informação de Arigatô que a marca de 15 vitórias consecutivas é sul-americana. Confira no Blog Imortal Tricolor.

Avalanche Tricolor: Grêmio, o líder e o melhor

 

Grêmio 2 x 1 Novo Hamburgo
Gaúcho – Olímpico Monumental


Campeão do 1o. turno, líder isolado do 2o, líder geral do Campeonato, 49 vitórias em casa, 13 partidas invicto e as 12 últimas com vitória. Nem sempre os números mostram a realidade, mas estes são incontestáveis. Põem o Grêmio, não a frente dos adversários no Rio Grande do Sul,  a frente de todos os demais no Brasil, mesmo daqueles aplaudidos como fantásticos. O Imortal tem aproveitamento de 82% na temporada.

Há quem ainda assim olhe de revesgueio, como diriam os patrícios lá no Sul.

Para estes, temos mais do que números, temos jogadores. No gol, Vítor é o melhor goleiro do Brasil, que não bastasse fazer com perfeição seu trabalho, ainda se dá ao luxo de defender pênaltis, como nesta noite. Na defesa, Mário Fernandes dá gosto de assistir pela forma como marca e se desmarca. Poderia incluir Rodrigo pela eficiência, mas este parece preferir o anonimato de uma marcação bem feita e um carrinho certeiro em lugar de qualquer elogio festeiro.

No meio, me permitam elogiar alguém esquecido pela crítica: Douglas. Por mais que admire Tcheco, o atual camisa 10 gremista está a frente dele neste momento. Joga com segurança, recupera-se com rapidez, limpa o lance com uma tranquilidade irritante (para o adversário), tem visão do que ocorre dentro de campo e lança com precisão. Soma-se aquele cabelo a lhe oferecer uma cara de vingador, cara de quem sabe vestir a camisa tricolor.

Lá na frente, mesmo sem o goleador Borges, surgem duas figuras curiosas, Maylson e Jonas. Desengonçados para correr e driblar, passam seus adversários e poucas vezes deixam de marcar gols. Quando não é um, é outro. Às vezes, são os dois.

No lado do campo, Silas dá sinais de que encontra o time ideal, e sabe que logo terá todos os demais titulares prontos para entrar. Mesmo os mais exigentes torcedores cansaram de vaiá-lo, reconhecendo os avanços de uma equipe que, hoje, marcou de forma incansável até resolver o placar em pouco mais de 15 minutos de partida.

O Grêmio supera marcas a cada rodada. Faltam apenas dois jogos, Esportivo e Votoraty, para alcançar a sequência recorde de 14 vitórias do Campeão Gaúcho de 1979, treinado por Orlando Fantoni, time de Manga, Anchieta, Paulo César Caju, Tarciso e Éder. Lembra-me, em alguns lances, o Grêmio-Show, Tetracampeão com Mazarópi, Bonamigo, Cuca, Cristovão, Lima e Valdo, de 1988.

Você deve estar me achando otimista de mais a esta altura do campeonato. Talvez esteja mesmo e, em breve, veremos que este time que está em campo não é o Grêmio de 79 nem de 88, menos ainda o de 81, Campeão Brasileiro, ou o de 83, Campeão da Libertadores e Mundial. É apenas o Grêmio de 2010. E isso não é pouca coisa.

Avalanche Tricolor: Obrigado, Serginho !

 

Ypiranga 1 x 3 Grêmio
Gaúcho – Erechim


Seu Getúlio estava lá, garboso. Ao lado dele havia mais dois ex-presidentes, dos quais não me orgulho pelo que fizeram. Érico parecia bem acompanhado. Pude ver no entorno dele Capitão Rodrigo, Vasco Bruno, Quitéria e Ana Terra. Ou seria imaginação minha ? Eduardo Bueno diante de tantos personagens tinha muita história para contar. E não parou de falar (nunca para). Neste quesito tinha Nico Nicolaiewsky como parceiro.

Por falar em músico, Elis Regina cantarolava o hino com Kleiton Ramil fazendo a segunda voz, eles seguiam o ritmo de uma banda eclética que tinha da guitarra de Humberto Gessinger a sanfona de Renato Borghetti na formação. Pra descrever este momento único da história do Imortal Tricolor não faltavam jornalistas: Lenyr Martins , Mário Marcos e Paulo Sant’Ana – com o Vasquez ‘chargeando’ todo feito.

Até agora não entendi bem o que eu fazia nesta festa de ilustres gremistas que acometeu meus sonhos na tarde deste domingo. Sei, porém, quem foi responsável por este delírio: Serginho Xavier, jornalista de mão cheia, editor da Placar, gaúcho e, acima de tudo, gremista fanático – mesmo que tente me convencer de que “o tempo foi passando, o fanatismo foi diminuindo ano a ano, até por exigências profissionais. Virar jornalista me ensionou a ver o mundo por diversos pontos de vista”.

Esse amigo de arquibancada acaba de escrever “O dia em que me tornei … GREMISTA”, pela Panda Books. Livro desses que cabe no bolso e não sai da memória da gente principalmente quando somos surpreendidos ao ver nosso nome na lista de “Torcedores Ilustres”.

Não merecia tanto, Serginho. Não estou a altura desta turma toda que você nominou. Mas agradeço. Sua gentileza me fez sonhar um sonho quase impossível. Sonho tão bom que quando acordei, o Grêmio já estava vencendo a 11a. partida seguida na temporada. E de virada, se superando, como sempre foi na nossa história.

Avalanche Tricolor: Futebol de guri

 


Grêmio 3 x 0 Inter SM
Gaúcho – Olímpico Monumental

O Grêmio não convence. Mithyuê, 21, começa a jogada do lado direito e com um passe bonito na bola aciona Jonas, 26, que de primeira recua para Maylson, 21, que enfia a bola entre os zagueiros para que esta chegue mais uma vez a Jonas já na área. O atacante chama atenção da defesa que o segue para a direita e com um só toque deixa o gol vazio diante de Maysol que faz o seu segundo na partida.

Mas o Grêmio não convence. Então Mithyuê, 21, aparece do lado esquerdo, já dentro da área. Tem categoria para driblar e com mais um passe sutil dar a oportunidade de Fernando, 18, fazer o primeiro gol dele entre os profissionais.

E o Grêmio segue sem convencer. Ganhou a Copa Fernando Carvalho, é a melhor campanha da Copa Fábio Koff, tem nove vitórias seguidas e uma invencibilidade histórica em seu estádio e fez 3 a 0 no Inter de Santa Maria – resultado que em alguns manuais esportivos é chamado de goleada.

Nada disso cala os comentaristas esportivos que fazem das críticas ao Grêmio sua ladainha preferida. Esquecem que seis dos jogadores considerados titulares estão afastados por problemas médicos. Dão de ombros à dificuldade de Silas repetir o time dois jogos seguidos. São incapazes de enxergar o que se constrói no estádio Olímpico.

Além dos meninos que participaram diretamente dos três gols desta noite, em Porto Alegre, estavam em campo o indiscutível Mário Fernandes, 19, o atacante Bergson, 19, e o volante Adílson, 23. Gente nova, criada em casa, preparada para jogar futebol de verdade, no qual o toque de calcanhar é regalia dispensável se o bico da chuteira for mais apropriado para o momento. Que nem por isso deixam de tratar a bola com o respeito e o carinho (ou o carrinho) que esta exigir. Jogam um futebol de guri, não de moleque

O Grêmio não convence – repetirão eles amanhã nos jornais. O Grêmio vence !

Avalanche Tricolor: Bem cedinho

 

Avenida 1 x 3 Grêmio
Gaúcho – Santa Cruz (RS)

Tenho de acordar às seis da manhã e mesmo que me acostume a dormir tarde, assistir aos jogos que encerram a rodada da noite de quarta é sempre um esforço a mais. Principalmente por este compromisso de publicar a Avalanche Tricolor imediatamente após a partida. Minha jornada esportiva particular se encerra no começo da madrugada. Sem contar que com o jogo em andamento, não consigo fazer outras tarefas que precisam ser concluídas antes de dormir.

Se você é daqueles que apoiam o fim dos jogos que se iniciam às nove e 50 da noite, esqueça. Apesar de saber que o ideal é que os jogos se iniciassem mais cedo, não farei coro a ideia. O futebol está em um regime profissional e vem da televisão parcela importante do dinheiro que permite a compra dos jogadores que tanto reclamo. Alguma concessão os clubes tem de fazer.

Lembro, ainda, que apenas uma das partidas e somente da rodada de quarta-feira é que leva o torcedor a este sacrifício. Todas as demais são mais cedo nem por isso o público é maior. Nesta noite, por exemplo, o estádio dos Eucaliptos – de arquibancadas acanhadas e gramado esburacado – estava lotado, em Santa Cruz do Sul. Sei que não era preciso muito. Mas o que quero dizer é que não é o horário que afasta o torcedor, é a falta de infra-estrutura e segurança.

O vereador petista Enio Tatto está com projeto de lei que pede o encerramento das partidas no máximo às 11 da noite. Que me desculpe o parlamentar – torcedor do Grêmio assim como eu, mesmo morando há muitos anos em São Paulo -, mas esta questão me parece perfumaria. Muito mais significativa será a discussão em torno de outros ítens da proposta dele que prevê a identificação do comprador dos ingressos, bilhetes nominais, obrigações para os cartolas que doam entradas às organizadas e punição aos baderneiros com o afastamento dos estádios.

Você deve se perguntar por que falo deste assunto se poderia mais uma vez “rasgar seda” para o Imortal Tricolor. Primeiro, porque para escrever sobre este tema não precisava esperar até o fim da partida; segundo, porque com 59 segundos de jogo o Grêmio já vencia e começava o segundo turno como encerrou o primeiro: vencendo e na liderança.

Avalanche Tricolor: A Taça é nossa

 

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Grêmio 1 x 0 Novo Hamburgo
Gaúcho – Olímpico Monumental

Minutos antes de confirmar o título, havia apenas um atacante no time. Assim mesmo, foi ele quem estava disputando a bola na intermediária. Tínhamos cinco defensores, entre zagueiros e alas; seis com Vitor, o melhor goleiro do Brasil, que é nosso ponto de equilíbrio. Diante deles, três volantes em campo – e foi dos pés de um, Ferdinando, que surgiu o único gol da partida, feito lá no primeiro tempo e de bola parada como gostam de desmerecer os comentaristas esportivos.

A falta era distante da goleira, mas de frente para ela. Tinha uma barreira enorme para atrapalhar o ataque gremista. Foi então que Ferdinando fez aquilo que a gente costuma fazer em campo de várzea: dá uma bica na bola, daquelas de espalhar jogador adversário pra todo lado. Foi um chutão, também, nas muitas críticas que se voltam contra ele.

É que Ferdinando caiu na antipatia do torcedor no primeiro minuto de jogo. Não deste, mas o da sua estreia na temporada. A bronca mais amena: é o “queridinho” do Silas – como destacou em manchete o portal Terra agora há pouco -, só porque esteve com ele por dois anos no Avaí (SC). Mesmo sendo um destruidor de jogadas (do adversário, lógico) é vaiado quase sempre. Talvez pela dificuldade em resolver o que vai fazer com a bola depois que a tira dos pés inimigos.

Tinha de ser dele o gol nesta decisão em que as jogadas mais emocionantes foram carrinhos com dois pés no alto, um deles cometido por Rochemback, corridas intermináveis de Hugo e Fábio Santos para evitar que a bola saísse pela lateral e uma despachada de Maylson para jogá-la bem além da lateral. Talvez seja um pouco de exagero meu: houve dribles do Mário Fernandes, também, e poucos chutes em direção ao gol, mas gostei mesmo foram dos carrinhos e chutões – até porque embalados pelo canto do hino rio-grandense que ecoava nas arquibancadas do Olímpico Monumental.

Você que lê esta Avalanche deve imaginar que a partida que decidiu a Taça Fernando Carvalho (sim, é o nome do ex-presidente do co-irmão), que vale o 1o. turno do Campeonato Gaúcho, com tantos jogadores para destruir e quase nenhum para criar, foi feia e mal-jogada. Tem toda razão, foi mesmo. E quem disse que para ser campeão tem de jogar bonito ? Pra ser campeão tem de chegar à frente do adversário, seja em pontos, em gols ou na divida da bola.

E o Grêmio cumpriu seu papel e por isso é campeão.

Avalanche Tricolor: Um time se constrói

 


Grêmio 4 x 1 Inter SM
Gaúcho – Olímpico Monumental

Foram 13 finalizações, quatro gols marcados, somente dois chutes contra e apenas cinco minutos para decidir o jogo e se habilitar a primeira final da temporada, domingo que vem, quando estará em disputa o 1º turno do Campeonato Gaúcho. Estes são os números que resumem a história de mais uma vitória do Imortal Tricolor diante de sua torcida e embaixo de um insuportável calor que fez o time impor ritmo despretensioso no segundo tempo.

Mesmo assim haverá críticas ao fato de, em mais uma partida, termos tomado um gol, o décimo-quarto em 11 disputadas neste ano. Lembrarão que em praticamente todas o time saiu em desvantagem(e virou o placar na maioria, mas isto não parece ser levado em consideração). E, claro, alguém colocará em dúvida a capacidade do técnico Silas comandar o Grêmio (até concordo que ainda terá que mostrar muito mais até convencer a todos).

No jogo dos números se esquece de olhar a alma de uma equipe, o movimento de seus jogadores, o esforço medido de acordo com a necessidade de cada momento e o olhar cúmplice de colegas que estão juntos há pouco mais de um mês. Não aparece o carrinho para buscar a bola que escorrega pela lateral, a dividida com o adversário que arrisca a própria integridade física para não perder a jogada e coloca em risco a sequência no campeonato ou a troca de passe qualificada, com velocidade e para frente.

Foram nessas cenas que apareceram isoladas nos 90 e poucos minutos da partida – a maioria jamais será reprisada na transmissão da televisão – que a história de um time se constrói. E foram elas que me chamaram atenção nesta noite infernal (34º) no estádio Olímpico em que os torcedores cantaram e aplaudiram quase o tempo todo, pois identificaram – assim como eu – que algo de muito bom está para acontecer neste ano.

Os gols de Rafael Marques, Borges (11 em 11 jogos), Fábio Rochemback e Hugo apenas ilustraram o que o Grêmio fez em campo, serviram para abrir os olhos de quem comenta com o preconceito e a desconfiança – estes sentimentos que, historicamente, encaramos e somos obrigados a superar a todo momento.

Domingo que vem – pouco me interessa quem será o adversário – estaremos em campo mais uma vez para mostrar que há um amadurecimento e estamos a caminho de um grande conquista. Que pode ocorrer daqui uma semana ou no decorrer do ano, mas que irá ocorrer. Temos um time.