Pôr do sol no lixão

 

Por Devanir Amâncio
ONG Educa SP

Pôr do Sol no lixão no Grajau

Vale a pena ver o pôr do sol do lixão ao longo da rua Cláudio Artaria, Jardim Gaivotas, Parque Residencial Cocaia, região do Grajaú, extremo sul de São Paulo. Para chegar ao lixão do pôr do sol é só pegar o trem e descer na estação Grajaú e depois pegar o ônibus Jardim Gaivotas e descer no ponto final. Procure pela Vera Lúcia(foto), ela mora no bairro há 14 anos e conhece tudo sobre a vila. O Jardim Gaivotas, bairro com mais de 10 mil habitantes, às margens da Represa Billings, também é uma boa pedida para quem gosta de pescar […].

Dona Vera e os moradores suspeitam de uma empreiteira que prestava serviço para a Subprefeitura do Socorro na construção de uma praça comunitária e o asfaltamento da rua Cláudio Artária (um quilômetro). Têm quase que certeza que a empreiteira desapareceu com dinheiro andiantado pela Prefeitura. Segundo os moradores a rua consta como asfaltada na subprefeitura . Os moradores vão reclamar no Ministério Público. Trecho da rua não tem luz, o que leva os moradores apelarem para o uso de celulares e isqueiros para não caírem em poças d’água. É o que sempre faz Francisco das Chagas, que trabalha como porteiro na Vila Olímpia. Em noites de muito calor as crianças têm a rua sem asfalto como espaço de lazer .Francisco criticou a publicidade do Natal Iluminado da Prefeitura.

Lixão no Grajau

Vilma Rosa de Jesus, moradora próximo ao lixão, diz que há pelo menos seis anos a Prefeitura não faz a limpeza do local e desabafa: “Não aguento mais receber cartinha de vereador”. Ao ser informada da campanha “Adote um Vereador”, reagiu com humor: “Nem lembro mais o nome do homem, como vou adotá-lo? Ele ganhou e desapareceu, como a empreiteira . Só sei descrevê-lo.”

Subprefeito reconhece falhas na Ilha do Bororé

 

A casa na Ilha do Borore

A esperança é pouca para quem mora na Ilha do Bororé e arredores. É o que constato após ouvir o subprefeito da Capela do Socorro Valdir Ferreira falar das carências não apenas do local, mas de todo o bairro do Grajau, extremo sul de São Paulo. Sem verba e sem poder, tem pouco o que fazer – foi o que deixou claro na entrevista ao CBN SP. Se o assunto for creche municipal, iluminação pública, construção de vias para acesso entre outras melhorias necessárias, os moradores terão de esperar uma decisão da prefeitura.

Ouça a entrevista com o subprefeito de capela do Socorro, Valdir Ferreira.

Sobre a varrição, Valdir Ferreira disse que só é feita em vias com calçamento. E no Bororé existe apenas uma. O restante da Ilha tem serviço de limpeza mas sem a frequência que a região exige, principalmente por ser uma área de preservação.

Nem mesmo o número de moradores é conhecido pelos administradores. O subprefeito diz que devem ser 7 mil pessoas por lá, mas confessa ser difícil acompanhar o crescimento por ser área de grande adensamento. Tem muitos locais ocupados irregularmente e, segundo Ferreira, isto atrapalha as negociações para construção de creche, escola e equipamentos públicos.

Não concorda que os moradores do Bororé estejam abandonados. O Grajau, está. Não por esta administração, tenta nos convencer. Foram anos sem investimento, comenta.

E a creche ?
Ainda depende da secretaria de educação – diz o sub

E o calçamento da estrada que dá acesso à Ilha ?
Ainda depende da Secretaria do Verde – diz o sub

E as pessoas ?
Estamos conversando – diz o sub

E a Bororé?
Vai continuar esperando – digo eu.

Um passeio na esquecida Ilha do Bororé

 

Tem nome de Ilha, mas é península. Está em São Paulo, mas distante dos paulistanos. Tem crianças, mas não tem creche; tem vida, mas falta atenção. A Ilha do Bororé há algum tempo me tem sido apresentada por Devanir Amâncio, da ONG EducaSP, que colabora com textos e imagens no Blog. Para chegar lá, o melhor é pegar a balsa que sai da avenida dona Belmira Marim, no Grajaú, em direção à ilha.

Desta vez, Devanir Amâncio foi até lá, conversou com moradores e ilustrou o material com uma série de fotografias que publico em slideshow para você entender melhor do que estamos falando.

Vamos aproveitar este alerta para cobrar, no CBN São Paulo, respostas das autoridades públicas e conversar com a iniciativa privada para entender por que a região está esquecida.

Ouça a entrevista com Devanir Amâncio, no CBN SP e, abaixo, leia o texto enviado ao Blog do Mílton Jung:

O entorno da Represa Billings , na  Ilha do Bororé, região do Grajaú, extremo sul  da capital, está sujo e  degradado. A antiga ideia do  projeto de reciclagem modelo na Ilha, da Secretaria Municipal do Verde e do  Meio Ambiente,  não decolou. Pelas ruas não se vê lixeiras, o serviço de varrição inexiste, e algumas  placas que orientam os visitantes estão danificadas, corroídas pelo tempo; o cruzeiro, marco do povoamento da Ilha, segundo os moradores, está deteriorado. O saneamento básico e a iluminação são precários.

Um crime contra a infância que mereceria atenção especial do Ministério Público: trezentas crianças não têm creche. Pasmem ! A Ilha do Bororé, em seus 120 anos, nunca teve creche. O que é   sério nos tempos  modernos, inaceitável e prejudicial ao desenvolvimento humano da criança , trazendo para sempre consequências negativas em seu aprendizado (…) 

Na Ilha, cobra-se R$150 por mês para cuidar de uma criança. Reciclagem? Passaram-se anos do propalado discurso de vida sustentável, e, hoje, o que existe é um  único latão enferrujado – próximo à represa – com  o símbolo da reciclagem, espécie de lixeira coletiva, onde o lixo fica por dias a fio. Talvez os cerca de quatro mil habitantes desse pacato sítio urbano, e os milhares de frequentadores  do local, até turistas internacionais, merecessem estrutura melhor, inclusive posto policial fixo e banheiro público que não tem.
 
A esquecida Ilha do Bororé, desprestigiada ou ignorada pelos poderes públicos, é cheia de assuntos palpitantes, tem o seu lado triste, mas também tem a líder social Antônia Batista dos Santos, de 53 anos, a “Zinha”, mulher  forte, de mãos calejadas,  que acredita e luta para construir uma creche comunitária. O projeto já está bem adiantado. Ela não desiste, há tempo tenta convencer o Subprefeito da Capela do Socorro, Valdir Ferreira, a visitar e  conhecer a realidade sofrida do bairro Ilha.

Menino do Grajaú, a culpa não é da bananeira

 

Casas construídas em condições precárias nos barrancos desabam e matam famílias inteiras. Nesta quinta-feira, apenas um garoto de seis anos sobreviveu e logo saberá que a mãe, o pai e a irmã de nove anos foram soterrados no barraco em que viviam no Jardim Grajaú, extremo sul de São Paulo. Bem perto dali, quatro casas haviam sido interditadas pelo risco que havia de uma tragédia. A do garoto não tinha recebido aviso prévio mas veio a baixo assim mesmo.

Outra lição que o menino terá, em breve, é jamais plantar bananeira no terreno em que mora, pois este espécie de árvore só nasce em local com muita umidade e se estiver no morro é por que o lençol freático está ralo, aumentando o risco de escorregamento.

Ouça a explicação do coronel Luiz Massao Kita, da Defesa Civil do Estado de São Paulo, sobre o efeito das bananeiras

Antes, porém, que alguém ensine ao garoto recém-orfão de que a causa da tragédia foram as bananas que ele tanto gostava de pegar no pé, que saiba os motivos que levaram a família dele para o barranco. Que entenda a responsabilidade daqueles que tem o poder para definir políticas de habitação popular; daqueles que permitiram que a família dele fosse explorada e ocupasse áreas de risco; daqueles que deixaram de investir o dinheiro dos impostos em ações de combate as enchentes para fazer propaganda de si mesmo.

O menino sobrevivente do Grajau ainda tem muito a aprender, em São Paulo.