Foram três dias seguidos dentro de um dos principais hospitais de Porto Alegre, capital gaúcha. O desfile de máscaras era constante nos corredores. Lavar às mãos em totens de gel espalhados por todos os cantos, uma obrigação. Na porta da emergência, algumas pessoas se acumulavam a espera de informação e atendimento. Os leitos de maternidade deram lugar a pacientes que não haviam contraído gripe – tenha ela qual fosse o nome -, mas exigiam cuidados emergenciais. Os “gripados” estavam em macas dentro de quartos feitos de cortina. Os graves foram para isolamento. Áreas de convívio passaram a receber pacientes, também. Em um só dia, havia 23 a espera de internação, mas sem apartamento.
Pendurados no celular, as pessoas davam detalhes da situação, falavam de colegas de trabalho que contraíram a doença. “Está todo mundo gripado por lá”, ouvi de um deles. “A gerente está com pneumonia”, comentou a moça na cafeteria.
Enfermeiros e auxiliares tiveram carga de trabalho aumentada há um mês e tentam ser solícitos apesar dos (im)pacientes.
Lá embaixo, o grupo de operários se esforçava para interferir o mínimo possível no cotidiano hospitalar enquanto conclui a obra de ampliação do setor de emergência. Assim que esta etapa se encerrar, nova área sofrerá intervenção para que mais leitos estejam à disposição da população.
No ar, muito mais do que pó, bactérias ou vírus, havia preocupação e medo. Tudo por causa da gripe.
Na primeira página do jornal e a qualquer hora que ligar o rádio, repetem-se os números de pessoas mortas pela gripe suína. Médicos, infectologistas, diretores de hospitais e políticos são entrevistados, um atrás do outro. Uns dizem uma coisa, outros dizem outras. Nem sempre esclarecem o que disseram.
O secretário estadual de Saúde muda de opinião a medida que se sente coagido pelo noticiário. As escolas do Estado decidem ficar fechadas e as particulares são forçadas a repetir o mesmo gesto, pressionadas pela opinião pública. As da capital (enfim, alguém pensa) abrirão pois sem a merenda escolar os alunos tendem estar mais frágeis a doenças.
Os que não estão por aqui telefonam preocupados com a gripe. Alertam para os sintomas que se aparecerem devem ser combatidos imediatamente, “de preferência longe desta cidade que não tem mais leitos”. Mas cuidado quando pegar o avião, afinal por mais de uma hora todos estarão confinados no mesmo ambiente expelindo perdigotos e afins.
O pânico está instalado em Porto Alegre por causa do risco de morte provocado pela gripe suína. Mas a verdade, que a paranóia não deixa ninguém enxergar, é que, até o momento que escrevo este texto, ninguém morreu contaminado pelo vírus H1N1 na maior cidade do Rio Grande do Sul.
O que fazemos é um desserviço à saúde.

