Uma hora e 5 minutos de pedalada, 30 minutos de mais diversão, e cheguei a sede da prefeitura de São Paulo convencido de que a bicicleta é um meio de transporte para mim também. Que é uma alternativa para o cidadão, nunca tive dúvida, haja vista o número de pessoas que se deslocam na cidade seja por vontade seja por necessidade. Pesquisa divulgada pelo Nossa São Paulo, ontem, mostra que para 227 mil paulistanos a bicicleta é o caminho para deixar o carro em casa – ou não tê-lo.
Já o Heródoto Barbeiro deve ter ido dormir com a certeza de que o helicóptero não é uma opção das mais seguras. Pagou o mico de ficar no chão, devido ao tempo fechado na cidade no fim da tarde desta quinta-feira quando se realizou o Desafio Intermodal, dentro das comemorações da Semana da Mobilidade.
É isso mesmo: o helicóptero perdeu por W.O no seu confronto direto com a bicicleta. Sei lá se por medo de estragar o cabelo na garoa ou por falta de visibilidade mesmo, meu experiente colega nada pode fazer com seu brevê que leva a assinatura de Santos Dumont. Não bastasse ter entregue os pontos antes mesmo de encarar a disputa, ainda enfrentou congestionamento para deixar o Campo de Marte, pela Marginal Tietê, na zona norte.
O Desafio Intermodal não é uma competição de velocidade ou performace. O que se busca é mostrar à cidade as diferentes possibilidades que temos para nos locomover. E, principalmente, que podemos reduzir o tempo desperdiçado no trânsito. Mesmo estudo da Nossa São Paulo, citado no primeiro parágrafo, informa que o tempo médio para se deslocar entre as atividades diárias do paulistano é maior do que 2h40.
Acostumado a usar a bicicleta como instrumento de lazer, encarei o desafio pessoal de utilizá-la como meio de transporte. O percurso que se iniciou no número 1000 da Berrini, zona sul, foi de aproximadamente 13 quilômetros e tinha como ponto final a prefeitura, ao lado do Viaduto do Chá, no centro.
Acompanhado pelo experiente ciclista Mig, que me passou todas as instruções necessárias, e pelo colega de rádio Leonardo Stamillo, seguimos por ruas secundárias dos bairros do Brooklin, Moema, Ibirapuera, Paraíso, Liberdade e centro. Como iniciante a ideia era fugir do trânsito pesado.
Mesmo assim houve momentos em que tive de pedalar entre ônibus e carros; e forçar o pedal para encarar subidas como a da Abílio Soares, logo após ter apreciado a paisagem noturna do Parque do Ibirapuera. Parei para gravar imagens e depoimentos para o Stamillo que tentava me seguir com uma câmera de vídeo. E conversar com outros ciclistas que participavam do evento.
Fiz questão de parar sobre a 23 de Maio e apreciar o trânsito congestionado lá embaixo. Quase uma vingança de quem várias vezes esteve preso no asfalto. Será o Heródoto aquele Kombi atravancando a avenida ?
Na Vergueiro e Liberdade, uma transgressão. Transformamos a motofaixa em ciclofaixa com a aceitação dos poucos motociclistas que passavam por ali, após às sete e meia da noite. E nesta experiência, a constatação de que a cidade precisa abrir corredores para bicicletas, também. Não é por acaso que 25% dos entrevistados na pesquisa do Nossa São Paulo dizem que usariam a bicicleta como meio de transporte se houvesse a construção de ciclofaixas.
Andar de bicicleta me ofereceu a oportunidade de ver São Paulo de uma maneira diferente, mais próxima e com mais calma, quase como se eu tivesse a chance de tocar a cidade inalcançavel para quem está dentro do carro.
O risco no trânsito existe para todos nós e quanto mais frágeis somos nesta “cadeia alimentar” mais nos transformamos em alvo. Minha sorte de iniciante, porém, impediu que tomasse sustos no caminho. A responsabilidade de meu guia, também. Aprendi que não se deve ter medo no tráfego pesado, mas respeito – de todas as partes.
Quando cheguei na prefeitura, todos os participantes já estavam por lá. Haviam feito caminhos mais curtos, mais rápidos e sem paradas prolongadas.
Logo alguém me provocou: vai vender o carro ?
Ainda não, mas ele vai ficar muito mais tempo guardado na garagem, com certeza.
Quanto ao Heródoto Barbeiro, vou ligar o Jornal da CBN bem cedinho para ouvir as justificativas deste aviador frustrado. E deixo o convite para que no ano que vem, ou a qualquer momento em edição extraordinária, ele encare comigo uma pedalada pela cidade.