Conte Sua História de São Paulo 463 anos: minha padaria em Higienópolis

 

Por Paulo Mayr

 

 

Estou em Higienópolis e na minha padaria tem de tudo.

 

O João, homem experiente de uns 70 e poucos anos, já me contou emocionado que mais de uma vez, quando era estudante, havia apenas um ovo na geladeira para o jantar. Formou-se em Direito. Desde sempre, trabalhou. Começou como boy. Quando se formou, já era gerente na área administrativa e não quis voltar à estaca zero no Direito. Aposentou-se como Diretor. Nunca redigiu uma única petição na vida, mas não sai de casa sem o anel vermelho de doutor.

 

O Reinaldo formou-se na Poli. Também se aposentou em alto cargo, mas em empresa pública. Executivo dinâmico de outrora, hoje a primeira, a segunda, a terceira e a milésima impressão que se tem dele é de que vive para polemizar. Seja o assunto que estiver em baila, ele sempre tem uma opinião, a que dê mais margem para discussões intermináveis. Não pense que entro no jogo dele, não: ele diz uma coisa, seja qual for, eu concordo lacônica e monossilabicamente.

 

Os donos da padaria são o pai e dois irmãos. De manhã, o irmão mais velho, um encanto de pessoa, se desdobra em dez. O irmão da tarde chega a ser famoso no bairro: não há um único cliente com quem ele já não tenha se desentendido. O da manhã bate escanteio e corre pra área pra cabecear. A primeira coisa que o da tarde faz ao chegar é tirar uma atendente do balcão e bota ela no Caixa. Ele vai para a calçada acende um cigarro e lá permanece.

 

Com frequência, alguém estaciona ocupando duas vagas. O segurança não tá nem aí. Certamente, imagina que a função dele é evitar um novo 11 de setembro.

 

A Drika, hoje minha amiga, que toda semana janta em casa, é loira, magra, muito bonita, filha de comerciante famoso e rico, bem estabelecido na José Paulino.
Apesar de toda mordomia, prefere ganhar a vida como sacoleira: vende roupas para funcionárias e clientes da padaria, além das balconistas das lojas vizinhas.

 

A figura mais curiosa: um cara que está sempre de óculos escuros e falando ao celular. O assunto, digo, a cifra é sempre a mesma: ou está comprando empresas de alguns milhões de dólares, ou está vendendo empresas de outros milhões de dólares. Eu imaginava que fosse um milionário exótico que, em vez de fechar negócios no escritório, que, certamente, tinha no prédio mais sofisticado da Faria Lima, ficava ali mesmo na padaria tomando decisões de tal envergadura. Pois bem, garantiram-me que nunca há pessoa alguma na outra ponta da linha do celular. Ele está sempre falando sozinho, só para impressionar a plateia.

 

Faça chuva ou faça sol, bato ponto diariamente na padaria. Onde mais me divertiria tanto sem pagar um único centavo de couvert artístico?

 

Paulo Mayr é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Você pode contar também sua história na cidade: envie o texto para milton@cbn.com.br. 

Conte Sua História de SP: Minha Cidade Tiradentes

 

No Conte sua História de SP, Márcia Cristina de Oliveira nascida em 1975 que nos primeiros anos da década de 1980, se mudou para a Cidade Tiradentes. O hoje famoso bairro da zona leste de São Paulo era, então, apenas um conjunto habitacional em construção, com poucas crianças para Márcia e seu irmão brincarem. Mas logo ela ganhou dois grandes companheiros para a aventura de testemunhar o nascimento de um bairro. História que Márcia contou ao Museu da Pessoa:

Ouça o texto de Márcia Cristina de Oliveira, sonorizado por Cláudio Antonio

Eu tinha 7 anos quando vi um bairro nascer. O bairro em questão é a Cidade Tiradentes, uma Cohab que virou bairro. Mudei-me para a Cidade Tiradentes aos 7 anos. Quando cheguei, não tinha nada. Nenhum tipo de comércio ou escola e até por causa disso eu perdi um ano de estudos.

O que mais me deixava contente em morar nesta Cohab era a promessa que meu pai fez, a mim e ao meu irmão: assim que tivéssemos nossa casa, ele nos daria um cachorro e duas bicicletas de corrida. Então, morar em um lugar onde não havia muitas criança para brincar, somente mato por todos os lados, me deixava muito contente. Meu pai cumpriu sua palavra e nos deu nosso primeiro cachorro, chamado Buner. Ele era lindo.

Alguns meses depois, ganhamos as duas bicicletas. Já era Natal nessa época. Com o passar do tempo, a Cohab, que começou com poucos moradores, virou um bairro da zona leste de São Paulo. E, por incrível que pareça, tirando minha casa, eu vi cada prédio, cada loja, cada escola ser construída, tijolo por tijolo. É muito emocionante poder dizer que eu vi o nascimento de um novo bairro.

Márcia Cristina de Oliveira é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Claudio Antonio. O texto foi enviado ao Museu da Pessoa. Conte a sua historia de São Paulo, agende uma entrevista em áudio ou vídeo ou envie seu texto para o site http://www.museudapessoa.net. Sábado que vem, tem mais.

Conte Sua História de São Paulo: O ponto de encontro

 

Mário Cezar Nogalez
Ouvinte-internauta do CBN SP

Dia Mundial Sem Carro na 23 de Maio

Ouça o texto “Ponto de Encontro” sonorizado por Cláudio Antônio

Nos idos do anos de 1998, fazia eu consultoria para a implantação de um hotel lá na Vila Ema, com a obra já finalizada e com a decoração quase pronta, equipe já contratada e fornecedores na ponta da agulha. Tudo pronto para começar a operar.

Faltando 15 dias para a inauguração do Hotel,estava com todos os convites enviados e com 80% confirmados para tão galante festa. Como um dos proprietários era parlamentar, então políticos, colunistas e colunáveis estariam presentes a tão suntuoso momento.

Eu, belo e tranqüilo, pois estava com os trabalhos em dia, resolvi me dar uma folguinha (para quem não sabe, hoteleiros quase nunca descansam).

Enquanto curtia com minha namorada (hoje, minha esposa, uma outra historia), passei no hotel para checar se estava tudo em ordem e voltando para a casa decidimos almoçar proximo mesmo. Como moramos na Mooca, opções de boa comida não falta.

Pois bem, voltando, estávamos seguindo pela Av. Paes de Barros e o trânsito naquele dia estava engarrafado por conta de muitos carros na Avenida (e olha que era 1998), e então, conversando com a bela namorada, vi que o trânsito ao meu lado andou, logo engatei a primeira marcha e BUM, bati no carro da frente.

Desci do carro. Buzinadas e xingamentos dos demais motoristas. Logo me prontifiquei a pagar qualquer estrago com o outro motorista, porém, foi parachoque com parachoque e não aconteceu nada com nenhum dos carros.

Quando trocamos cartões, me dei conta de que o motorista era Agente de Viagem, e ele de que eu era Consultor Hoteleiro, e, protamente, entreguei mais um convite para a festa de inauguração.

Enfim, este encontro de parachoques foi o ponto de encontro de um cliente para o hotel que nunca imaginaria que iria conseguir.


Mario Cezar Nogales é autor desta história. Você também participa enviando seu texto ou arquivo de áudio para contesuahistoria@cbn.com.br. O programa Conte Sua História de São Paulo vai ao ar aos sábados, às dez e meia da manhã, no CBN SP.