Nome sujo ?

Por Carlos Magno Gibrail

Imagem do album de Jose Luis Duron no Flickr

Zélia Cardoso, momentos antes de aprovação do plano econômico COLLOR DE MELO, dirige-se ao presidente e ressalta que a medida irá impactar toda a população. A ponto de matar cidadãos que estarão para efetuar cirurgias e não mais poderão fazê-las, etc..

O presidente reafirma a decisão, o plano não é micro, detalhes não serão levados em conta. Fica estabelecido um saldo bancário único, inadimplência geral e irrestrita pela proa. O resultado todos lembram, excluindo talvez parte da Câmara.

No mesmo país, numa reunião de diretoria, um consultor chama a atenção da gerência de crédito que está comemorando taxa de 0% de inadimplência. “Se continuarmos assim vamos perder clientes para a concorrência”
Para ter taxa zero cortou-se crédito de clientes que poderiam ter sido atendidos.

Vemos hoje uma mudança acentuada dentro dos condomínios, em função das novas regras para os inadimplentes, que num primeiro momento veio reordenar a relação dos condôminos. Entretanto observamos um crescer de autoritarismo e cerceamento aos moradores. Começa a ser cogitada a proibição do uso das dependências comuns e inclusive do elevador.

Estes excessos iniciam a criação de embaraços jurídicos e sociais.

No sistema bancário e no comércio os lobbies respectivos conseguiram uma informação BBB. Significa que o cidadão que tiver qualquer restrição fica automaticamente impossibilitado de pertencer ao sistema. A informação on line e geral cria uma transparência absoluta, que em princípio previne o atendimento ao mal pagador. Entretanto a falta de crédito leva a impossibilidade de o devedor socorrer-se do sistema para cobrir a dívida existente. Ignora-se o processo natural de cura, que é usar como antídoto o elemento causador do mal. Para sanar é usar o crédito em doses diferentes daquela que originou a anomalia. É assim na ciência natural com as bactérias e com o veneno da cobra.

E como uma pessoa que ficou inadimplente por ter perdido seu emprego, por exemplo, pode recuperar o seu status de bom pagador? Quitando a dívida, é claro. Mas para isso, deverá obviamente arrumar outro emprego. Certo? Para bancos, empresas financeiras e afins, errado. Pois eles não contratam quem está nas listas de pendências financeiras (leia-se Serasa, SNPC, Associações Comerciais).

E como essa pessoa pode proteger o seu patrimônio que restou? Fazendo seguro, certo? Para seguradoras, errado. Elas não fazem seguro para quem está nas listas de inadimplentes, mesmo que estes paguem à vista. É como se um devedor fosse à padaria e ao pedir meia dúzia de pãezinhos pagos a vista e  o padeiro dissesse: para você eu não vendo, pois você tem pendência financeira.

Sorte destes que as padarias ainda não alçaram o mundo das bancadas do Congresso. De 1997 a 2001 funcionou o Cadastro Positivo com o intuito de beneficiar o consumidor adimplente. Não se teve notícia que benefícios de ordem financeira tivessem sido dados. Apenas que uma juíza determinou que fosse avisado pelo Serasa através de carta registrada, o que encarecia o sistema e acarretou o fim.

Michel Temer prioriza a votação do Cadastro Positivo de Consumidores para os próximos dias. Cobrado por Fabio Barbosa, presidente da FEBRABAN, que sinaliza a diminuição da inadimplência e conseqüente queda das taxas de juros.

A PRO TESTE – Associação de consumidores protesta: “A regulamentação de um cadastro de bons pagadores levaria a uma situação discriminatória e, além disso, os bancos já possuem ferramentas necessárias para distinguir os consumidores, como os cadastros negativos. Na prática, funcionará como mais um funil pelo qual passarão ainda menos consumidores”.

É provável que estejamos na mesma situação dos impostos, que os reduzindo teríamos mais adimplentes, ou dos encargos trabalhistas, que se diminuídos os empregos aumentariam, cuja prova recente é a dos estagiários.

A Ciência Econômica ensina que melhor que maximizar é otimizar.Entre buscar extremos e limites, é mais sábio encontrar o equilíbrio. Para homens e máquinas, animais e plantas.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e toda quarta-feira paga sua dívida com seus leitores aqui no blog, com juros e correção monetária.