Por Maria Lucia Solla
Esta semana me trouxe o assunto da droga, a legal e a ilegal, e comecei a escrever sobre a relação entre o homem e ela, sem defender nem atacar ela ou ele, mas acreditando que a proibição dela é a galinha dos ovos de ouro dele.
Pois não é que um braço da bandidagem agarrou minha mão e meus pensamentos e me fez mudar de assunto! Vou contar como foi.
Fui levar meu carro para a Inspeção Veicular e saí de casa com antecedência, por duas razões: primeiro porque conheço o trânsito da cidade, e depois porque me conheço; me perco à toa. Pesquisei o trajeto que deveria fazer para não errar, e errei. Entrei à direita numa rua antes daquela onde devia entrar. Respirei fundo, voltei e acertei. Só faltava o apoio de alguém que me confirmasse que eu estava na direção certa. Pensei: melhor parar num posto de gasolina; é mais seguro. E errei mais uma vez. Vi um posto e percebi que dois funcionários me observavam. Adivinhavam que eu ia em busca de informação e vieram até a minha janela. Gentileza, pensei; e errei de novo.
Fiz a pergunta, e um deles apontou dizendo que o local da Inspeção era vizinho do posto. Do lado de lá do muro. Que bom, obrigada! Engatei a ré, e um deles, o mais alto, perguntou se o extintor estava dentro da validade. Respondi que não tinha certeza, mas que aquela não era hora de cuidar daquilo. Ele insistiu, disse que era melhor verificar porque se estivesse vencido, meu carro não seria liberado na inspeção. Fiquei surpresa; tem certeza? A gente vê isso acontecer todo dia por aqui dona. O cidadão leva o carro lá, o extintor está vencido e nem fazem a vistoria. Tem que começar tudo de novo, entrar na Internet, fazer o agendamento… Achei melhor acabar logo com a história, olhamos o extintor, e não é que venceu no mês passado! O extintor venceu e o senhor também. Quanto custa um novo? Ele não tinha arma na mão.
A parada no posto me custou alguns reais e cinco minutos. Paguei. Agradeci. O local da Inspeção era do outro lado do muro, o que me ajudou a acreditar no “vendedor de extintor”. Continuei a errar. Terminada a inspeção quis confirmar que eles examinam mesmo o extintor para liberar o veículo. Não, eu tinha sido mais uma vítima do golpe.
Voltei ao posto sem me dar conta de que tinha atingido o alerta máximo do meu nível de tolerância, e já cheguei dizendo que não tinha medo de bandido e nem medo de morrer. Tudo bem que exagerei, e não me orgulho do que fiz, mas era o que eu tinha no momento. O cidadão mais alto não está, me disse o baixinho que fazia dupla com ele. Olhei em volta e vi os ratos se esgueirando, se amotinando.
No final consegui o extintor vencido e o meu dinheiro de volta. Passei na padaria, pedi a maior bomba de chocolate do balcão, vim para casa, me deliciei com uma super xícara de café e só agora, mais de trinta horas depois, me dei conta do perigo que corri, do tamanho da tristeza que senti por termos nos transformado nisso que está aí fora, à espreita para atacar. Tenho medo de bandido, sim, dos que usam armas e dos que nem precisam delas.
Só mais uma coisa: eu amo a vida e não tenho medo, mas não estou a fim de morrer.
Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e organiza curso de comunicação e expressão. Aos domingos, escreve no Blog do Mílton Jung
