Conte Sua História de SP: infância paulistana

 

Por Adriana Cavalcanti
Ouvinte-internauta

 

Ouça este texto sonorizado pelo Cláudio Antônio

 

Quando volto no tempo e penso em meus pais criando cinco filhos, sinto o maior orgulho de pertencer a esta família e a esta cidade tão linda chamada São Paulo. Uma das fases mais marcantes foi a minha infância. Imagine educar e ao mesmo tempo entreter cinco filhos na década de 1960.

 

Meus pais fizeram isso com maestria. Lembro como se fosse hoje de nossos piqueniques no Museu do Ipiranga e no Zoológico. Dentro de uma DKW Vemaguete Rio, de cor marrom, lá íamos nós – meu irmão e eu, os menores, no colo de minhas irmãs. No porta malas uma cesta com guloseimas e uma grande lata térmica na cor vermelha. Uma espécie de “cooler” à moda antiga. Inesquecível.

 

E foi também inesquecível nossa mudança do bairro do Ipiranga para o Jardim da Saúde. Foi em 1966 e eu tinha três anos, a menor da turma. Morávamos na Rua Loreto. Acho que na época havia cerca de quatro casas na rua, que ainda era de terra, assim como todo o bairro. Um lugar e uma época propícios para brincar sem se preocupar com os carros e a violência.

 

Um das brincadeiras era empinar pipa. Nos fins de semana, a família inteira empinava as pipas feitas por nós mesmos. Havia uma coleção delas pendurada na garagem de casa. Era uma delícia. Acho que meus pais se divertiam muito mais do que a gente.

 

Cresci naquele bairro. Meus irmãos e eu saíamos de casa cedo e só voltávamos na hora das refeições, geralmente acompanhados de alguns amigos. Brincávamos o dia inteiro nos fins de semana e durante as férias. O portão e a porta de casa ficavam sempre abertos.

 

As primeiras pedaladas também foram lá. Ganhei minha primeira bicicleta com seis ou sete anos. Era uma vermelha com rodinhas, que rapidamente foram retiradas pelo meu pai assim que aprendi a pedalar.

 

Um tempo que guardo bem na memória.

 

Hoje, tenho uma filha de 14 anos. Infelizmente, ela não sabe o que é brincar na rua. Mas com certeza aprendeu como aproveitar o que a cidade de São Paulo nos oferece. Ainda frequentamos o Museu do Ipiranga, o Zoológico e outros locais bacanas na cidade. Mas acabamos elegendo o Parque do Ibirapuera como o quintal de nossa casa. É lá que pratico as minhas corridas pela manhã e aproveito para assistir a São Paulo amanhecendo. É um momento único, encantador. É lá, no parque, que minha filha, desde pequena, e eu nos aventuramos pelas alamedas, brincamos, andamos de bicicleta e de patins. É lá também, no Ibirapuera, que conhecemos algumas pessoas maravilhosas que fizeram diferença em nossas vidas.

 

São Paulo é isso. Uma imensa cidade cheia de lugares especiais, para todos os gostos. Mas para aproveitá-la é preciso seguir o que aprendi com meus pais: viver intensamente ao lado de quem se ama.

 

Adriana Cavalcanti é personagem do Conte Sua História de São Paulo.Marque uma entrevista no Museu da Pessoa. Ou mande seu texto para Milton@cbn.com.br.

Conte Sua História de SP: Meu pai do Ipiranga

 

Mayra Moya é filha do seu Antonio que nasceu em São Paulo no início do século passado. A história dele está diretamente ligada a da cidade e a forma como os bairros se desenvolveram, em especial o Ipiranga:


Ouça a história de Antonio Moya sonorizado por Cláudio Antonio

Foi em 13 de outubro de 1920 que cheguei a São Paulo. Recebi o nome do meu pai e avô: Antonio Moya Carlete. Meus pais, imigrantes, recebiam o primeiro de cinco filhos, no bairro do Ipiranga.

O pai era espanhol, de Calasparra/Mursia; minha mãe, de família italiana, de Venezia Giulia. Se conheceram e se casaram em S. Paulo.

Nós moramos durante muitos anos na Rua Almirante Lobo, no bairro do Ipiranga. Pude acompanhar o crescimento do bairro e da cidade através da construção de casarões imponentes, das muitas linhas de bonde e da chegada de imigrantes.

Minha infância e adolescência foram muito felizes. Meus tios, irmãos do meu pai, moravam todos vizinhos. Espanhol, italiano e português se misturavam em nosso vocabulário, mas não tínhamos problemas em nos comunicar com toda família e amigos.

Lembro do Grupo Escolar São José, onde fiz o curso primário. Ficava perto do Museu da Independência e o longo trajeto era sempre uma aventura com primos e muitos amigos.

Quando eu tinha uns 10 anos, lembro que as boiadas passavam 3 vezes por semana, vindas da Estação de Trem, pela Rua do Manifesto, subindo a Almirante Lobo em direção ao matadouro na Vila Mariana. Era perigoso e tínhamos que ficar dentro de casa pois sempre havia a possibilidade de um estouro da boiada, mas a gente se divertia.

Na Revolução de 1932, anunciavam nas rádios que os paulistas estavam vencendo. No entanto, as tropas oficiais passaram em frente de casa para tomar o palácio do Governo. Como não conheciam a cidade, ficavam pedindo informações como chegar ao centro de SP. A gente falava que era só seguir a linha do bonde.

Na década de 1940 fiz curso de pilotagem na Escola Santos Dumont e no Campo de Marte, enquanto concluia a Contabilidade. Cheguei a ser convocado para a guerra, mas enquanto estava esperando para viajar, a guerra acabou.

Me casei em 1945 e em seguida fui morar na R. Agostinho Gomes, também no Ipiranga. E foi nessa casa, na década de 1950, que nasceram meus três filhos.

Em 1960 mudamos para Santos, onde ficamos por cerca de 10 anos.

Voltamos para cá, no início dos anos 70, desta vez para o bairro de Moema. Na época era um lugar tranqüilo e pouco movimentado. Quando chegamos, na Av. Ibirapuera ainda passava o bonde que vinha da Vila Mariana e ia até Sto. Amaro. A Av. dos Bandeirantes era só um projeto… As avenidas Rubem Berta e 23 de Maio estavam em construção. Os comentários eram que não havia tantos carros para tantas avenidas…

Realmente, na década de 1970 era muito fácil e tranquilo circular por essas avenidas e pelo bairro.

Ficamos por cerca de dois anos na Av. Sabia, bem perto do Largo de Moema e depois construí uma casa, na Av. dos Carinás, onde estamos até hoje.

Chegamos antes do Shopping Ibirapuera e vimos ele ser construído e mudar as características do bairro.

O bairro cresceu de uma maneira incrível.

Foi aqui que minha esposa e eu assistimos aos nossos filhos se formarem, casarem e os netos começarem a chegar. São seis netos e um bisneto.

Infelizmente, depois de 64 anos juntos, minha esposa nos deixou. Partiu em 2009, deixando muitas saudades e boas lembranças.

Antonio Moya Carlete é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Você participa enviando seu texto ou marcando uma entrevista no Museu da Pessoa.

Conte Sua História de São Paulo: O ponto de partida

 

Elvis Campello nasceu em 1976 na cidade de São Paulo. E foi na noite boêmia noite paulista, na mais famosa esquina da cidade, que ele descobriu sua profissão e construiu sua história. A história ele contou ao Museu da Pessoa em janeiro de 2010, comemorando o aniversário da cidade:

Ouça o texto de Elvis Campello sonorizado por Cláudio Antônio

Minha história com São Paulo, nos últimos anos, foi construída à noite. Tudo começou há 12 anos, quando eu terminei o ensino médio, na época o colegial, e queria cursar a faculdade de publicidade, meu sonho até então.

Eu trabalhava em um escritório de advocacia na Avenida Ipiranga, mas com salário que eu ganhava lá, seria impossível pagar o curso superior que eu queria fazer. Meu irmão e alguns amigos de bairro faziam “bicos” como segurança nos barzinhos e casas noturnas na região dos Jardins, e logo eu me encaixei ali com eles. Eu trabalhava de dia no escritório, e nos finais de semana, à noite, eu ganhava um dinheiro a mais como segurança, mesmo sendo um magricela que não punha medo em ninguém.

Comecei a reparar no trabalho dos garçons e barmen das casas onde eu trabalhava, e me chamou mais atenção ainda quando eu descobri que eles ganhavam, no mínimo, três vezes mais do que eu. Pensei: “se eu ganhasse isso, conseguiria pagar minha faculdade de publicidade!” Enchia o saco de todos eles, perguntando como eu fazia para trabalhar como barmen ou como garçom, até que me indicaram um curso e eu fui atrás. O problema é que o curso, que duraria três meses, era só na parte da manhã.

Eu tive que arriscar: largar o escritório na Avenida Ipiranga e ir ali para perto, no Largo do Arouche, no Sindicato do Bares e Restaurantes de São Paulo, fazer o curso de garçom e Bartender. Na última semana de curso, fui indicado para trabalhar em uma casa de shows na Vila Madalena, reduto de bares e restaurantes em São Paulo. Um novo mundo se abriu para mim. Vindo da periferia, eu trabalhava agora em uma outra realidade. Atendia pessoas finas (educadas ou nem tanto), atores famosos, cantores, repórteres e políticos, inclusive, o na época eterno candidato a presidência do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva! Sim, eu já servi cachaça para o Lula, uma dose de “Espírito de Minas”, uma excelente cachaça. Tem bom gosto o rapaz!

Eu chegava em casa cheio de história para contar, todo empolgado. A noite foi uma escola para mim. Conheci muitas pessoas (interessantes ou não), fiz amigos, adquiri responsabilidade, maturidade e quase casei com uma cliente. Me apaixonei pela profissão que até então seria apenas passageira. Deixei de lado a vontade de fazer uma faculdade de publicidade e resolvi cursar hotelaria.

A faculdade me deu mais experiência ainda na área, e me abriu portas para outras casas noturnas, bares e hotéis da cidade, além de me proporcionar a possibilidade de passar toda minha experiência pelo mundo dos alimentos e bebidas. Fui convidado a ser professor de garçom e bartender.

Começar a dar aulas foi fantástico e, junto com a euforia, veio um novo desafio: aprender a ensinar! Não pensei duas vezes e me matriculei num curso de Pós Graduação em Docência em Gastronomia, para adquirir as técnicas da didática do ensino.

Hoje sou professor de Sala & Bar em um dos mais conceituados centro de estudos do Brasil. Pelas minhas mãos já passaram mais de mil alunos, que hoje, espalhados por São Paulo, capital mundial da gastronomia, preparam cocktails ou servem mesas.

Em troca do que a noite de São Paulo me deu (uma profissão, respeito, amigos e um amor) eu devolvo a ela profissionais capacitados, que carregam em suas bandejas ou misturam em suas coqueteleiras alegria, sonhos, expectativas e histórias.

O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar sábados, às 10 e meia, no programa CBN SP. Você participa enviando seu texto ou agendando uma entrevista no site do Museu da Pessoa.

Acordo garante skate com restrições no Ipiranga

 

O Parque da Independência, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, seguirá servindo de cenário para skatistas da cidade, mas algumas regras serão impostas para reduzir o número de acidentes e controlar abusos que estariam incomodando outros frequentadores do local. Quem informa é a Associação de Skatistas Quintal do Ipiranga através do Ivan Ribeiro que publicou o texto a seguir aqui no Blog. A discussão se iniciou após a tentativa da administração do parque de eliminar o skate do interior do parque em uma medida que seria adotada com o objetivo.

Saiba como ficará a prática do skate no Parque:

1- O Skate vai ficar no Pq. da Independência?

Sim, mas com algumas adequações nos horários durante os finais de semana e feriados. A partir da primeira semana de Setembro, o Skate no museu será liberado em horário livre de Segunda a Sexta – feira, já nos finais de semana e feriados fica proibido a prática do esporte nos horários entre 13h00 e 17h00, devido ao grande número de pedestres e ao índice de acidentes que em 95% dos casos ocorreram nesses padrões.

2 – O uso de Equipamentos de Segurança

É galera, a partir de setembro, também será cobrado para todo mundo, sem exceções, o USO DE CAPACETE NA LADEIRA, principalmente para quem for local no pico, pois o exemplo vem de casa, e para não deixar os de fora zuarem o nosso ”barraco” temos que sair na frente e cobrar quem não estiver protegido.

3 – Conduta do Skatista no Parque

Bom, quanto a isso acho que ninguém precisa de lição de moral, mas vale lembrar alguns pontos importantes que foram cobrados inclusive pelos nossos parceiros. A MACONHA NÃO PODERÁ SER CONSUMIDA DENTRO DO PARQUE, , e para que possamos proteger nosso espaço devemos dar exemplo e conversar com a pessoa que estiverem usando, para que pare ou vá para fora da área. O mesmo vale para bebidas alcoólicas na ladeira, ninguém está proibido de tomar aquela gelada maravilhosa na ladeira, mas questionaram o fato de skatistas descerem a rampa com a breja na mão e pedimos a colaboração de todos.

É isso ai família Quintal do Ipiranga e simpatizantes a nossa causa, conseguimos manter o skate no museu e exercemos o nosso direito a cidadania, brigamos, conversamos e no final tudo está ficando bem mesmo com as restrições que acordamos junto com a Prefeitura.

Em duas semanas vamos colocar alguns Banners dentro do parque para avisar os pedestres e skatistas sobre as mudanças e adequações que estão por vir e esperamos mesmo A COLABOROÇÃO DE TODOS, pois não foi fácil chegarmos a esta conquista e o skatista sabem bem disso.

Preconceito é causa da proibição, diz skatista

 

Manifestação de skatistas no Parque da Independência (Foto:Quintal do Ipiranga)

Manifestação de skatistas no Parque da Independência (Foto: Site Quintal do Ipiranga)

Falta diálogo e sobra preconceito. É o que pensa o vice-presidente da Associação de Skates Quintal do Ipiranga Bruno Rinaldi Hupfer sobre a tentativa de se proibir a prática do esporte no parque da Independência. Para ele, o preconceito fica claro quando a administração e o conselho gestor dão a entender que os skatistas não são frequentadores do parque: tratam o assunto como se os visitantes estivessem de um lado e os praticantes do esporte de outro.

Ouça a entrevista com Bruno Rinaldi Hupfer, do Quintal do Ipiranga

Bruno ficou satisfeito em saber, pelo CBN SP, que haverá uma re-discussão a propósito do tema no dia 5 de agosto, na sede da administração do parque. Entende que será a oportunidade de apresentar um plano para uso do local elaborado pelos skatistas que, segundo ele, não foram ouvidos até o momento.

A Associação desconhece registro de acidentes nos quais skatistas tenham provocado ferimentos em outros frequentadores do parque. No entanto, admite que é preciso que se evite o uso do skate nos horários em que o movimento de pedestres é muito grande.

Leia, também:

Secretário quer acordo com skatistas

Skate ameaçado no Museu do Ipiranga

Conte Sua História de São Paulo: Artista capilar e poeta

 

José Ferreira de Carvalho

Foram dois diplomas em Portugal, antes de chegar ao Brasil para abrir seu próprio negócio. Aqui, desenvolveu outra habilidade, a poesia, exercitada nos jardins do Museu do Ipiranga, no bairro em que foi morar, em 1954. O senhor José Ferreira de Carvalho, no depoimento gravado pelo Museu da Pessoa para o Conte Sua História de São Paulo, lembra da infância na cidade portuguesa de Vila De Aguiar e fala com orgulho da sua profissão: barbeiro. Perdão, seu José, artista capilar. “E sem frescura” como faz questão de ressaltar.

Ouça a história de José Ferreira de Carvalho, em depoimento sonorizado por Cláudio Antonio

Você também pode contar um capitulo da nossa cidade. Agende uma entrevista no telefone 2144-7150 ou pelo site do Museu da Pessoa.

Conte Sua História de São Paulo: Café no centro

 

Veronice Ribeiro (à direita) fala a CBNMuseu da Pessoa

O sanduíche com guaraná, aos 7 anos de idade, apreciados em um café no centro de São Paulo, ainda estão na lembranca da ouvinte-internauta Veronice Ribeiro que gravou seu depoimento para o Conte Sua História de São Paulo. Ela nasceu no Ipiranga, ainda na década de 40, e relembra parte da festa do quatro centenário da capital, além das marchinhas de Carnaval que embalavam os foliões nas ruas da cidade

Ouça a história de Veronice Ribeiro sonorizada por Cláudio Antonio

Você também pode participar deste quadro que vai ao ar aos sábados, logo após às 10 e meia da manhã, no CBN SP. Agende um entrevista pelo telefone 011 2144-7150 ou no site do Museu da Pessoa e Conte Sua História de São Paulo.

Jardineira faz viagem ao passado em São Paulo

Por Adamo Bazani

Passeio de Jardineira em Tradicional Bairro de São Paulo é uma viagem na história da cidade. O ronco do motor remete a uma época saudosa, mesmo que desconhecida para muitos.

É possível mesmo com o corre-corre de São Paulo, os imóveis e prédios modernos e a grande população, dar uma volta ao passado? Matar saudade ou sentir um pouquinho de uma época que muitos admiram, mas não viveram?

Sim, é possível. E as “máquinas do tempo”, são duas Jardineiras, ônibus antigos, bem diferentes da configuração dos veículos atuais. Uma de 1931 e outra de 1932.

O passeio nestes ônibus é uma dica para quem gosta de veículos de transporte coletivo, para quem é interessado na história da cidade de São Paulo ou, simplesmente, para quem está cansado da mesmice do Shopping e Cinema.

E os simpáticos ônibus parecem uma máquina do tempo mesmo.

Quando os motores Ford dos anos 30 são ligados e os veículos começam a transitar pela região do Ipiranga, tradicional bairro de São Paulo, palco da Independência do Brasil, a sensação é de estar numa época gostosa.

É claro, os velhos ônibus são ultrapassados pelos novos, como os Caio Mondego Articulados de última geração da Viasul, que passam pela região. É possível ver trânsito, o caos da cidade, mas, também, com as vagarosas avançadas das Jardineiras, pode-se notar uma São Paulo diferente, que passa rápido pela nossa frente, mas que não é percebida.

A começar pelas ruas de paralelepípedo que ainda são conservadas no bairro.

A guia da viagem mostra edificações que nos fazem imaginar como era uma São Paulo mais tranqüila, mais simples, mas ao mesmo tempo, mais clássica.

E na viagem no tempo, que dura 25 minutos em média, é possível ver que desde o início do século passado, São Paulo já era a cidade das diversidades.

Em algumas ruas, casas ainda com a janela e a porta que dão direto para a calçada, bem no estilo operário do bairro. Construções simples e aconchegantes. Em outras ruas, grande edificações, como o próprio Museu do Ipiranga, o Mosteiro onde viveu e morreu a beatificada Madre Paulina, hoje ocupado por uma faculdade, mas com as características mantidas, o casarão onde morou o famoso advogado e figura importante na história de São Paulo, Ricardo Jafet, entre outras preciosidades do bairro do Ipiranga, escondidas pelas modernidades e principalmente pela correria do cotidiano.

E dirigir uma Jardineira dessa é uma arte.

Para se ter idéia, a direção do veículo de menos de 6 metros de comprimento é tão pesada, que é mais confortável fazer as estreitas curvas do Ipiranga com os gigantes Caio Mondego, de 18 metros. As quatro marchas têm de ser trocadas no tempo certo. A suspensão é dura, mas o balanço da Jardineira é gostoso.

O ronco do motor é diferente e chama a atenção, mesmo de quem não é busólogo. Prova disso foram as pessoas que tiravam fotos e faziam perguntas nas paradas das Jardineiras.

Mas por que Jardineira? Porque não eram chamadas de ônibus, nome de origem francesa, do final do século XIX, que significa “para todos”, remetendo a algo coletivo.

Mais uma vez a história explica. Segundos profissionais mais antigos e a guia do passeio, o nome se dá por causa das operárias dos anos 30, da região da Mooca e Ipiranga, bairro cujo nome era escrito com Y (Y significava Rio, e o restante do nome, vermelho).

Os ônibus com as laterais abertas transportavam na ida e na volta as operárias, que usavam chapéus floridos. Por este formato de carroceria, toda aberta na lateral e pelas flores dos chapéus, taxistas, artesãos, padeiros e até os próprios motoristas falavam que os ônibus pareciam Jardineiras, e o nome pegou.

O cheiro da gasolina (nesta época no Brasil os ônibus não eram a Diesel) misturava-se com o perfume das operárias.

Ser cobrador era uma profissão de risco. Ele andava no estribo do veículo em movimento, que patinava nas subidas de barro,como da Rua Bom Pastor.

O passeio vale a pena.

Para quem é da época, saudades; para quem gosta de ônibus e de história, uma mina de ouro; para a criançada, uma diversão. Aliás, para ver como o passado tem vida: quando viajamos na Jardineira, crianças de 5, 6, 7 anos, diziam coisas do tipo: “Andar de ônibus antigamente era legal” – falavam alegres, como se de alguma maneira tivessem vivido a época.

As Jardineiras percorriam o Ipiranga, Mooca, Brás, Praça João Mendes até o centrão de São Paulo.

São mais de 70 anos de ônibus muito bem preservados. Será que em 2079, se houver um Caio Mondego preservado, hoje um dos mais modernos, haverá um passeio assim? Que sensação ele deve passar?

Serviço

Operarias e seus chapeus floridos deram nome a estes onibus

Operárias e seus chapéus floridos deram nome a estes ônibus

Os passeios são feitos aos finais de semana, das 9h às 16h. A passagem é de 5 reais, para manter os veículos, o passeio pelas ruas do Ipiranga (que se transforma do Ypiranga) e do Sacomã dura cerce de 25 minutos. Apesar de parar no Museu do Ipiranga e em outros pontos, o embarque só é possível na Rua Huet Bacelar, 407 – Ipiranga, em frente ao Aquário de São Paulo.

Adamo Bazani, é busólogo, repórter da CBN e um jovem saudosista.

Procura-se um ícone do Ipiranga. Dom Pedro, não vale

Era um riacho e por lá passava Dom Pedro I quando decidiu gritar pela independência, no século 18. Talvez nem tenha dito nada tão imponente como aparece nos livros de história, mas foi suficiente para colocar o Ipiranga no mapa do Brasil. Verdade que a região só foi entrar no mapa de São Paulo lá pela segunda metade do século 19 com a estrada de ferro que ligava Santos a Jundiaí integrando o vilarejo ao restante da cidade.

Do bairro industrial dos anos 70, o Ipiranga se transformou em residencial. E horizontal. Construtoras tentam ocupar os vazios urbanos que ainda existem e se esforçam para valorizar a cara de interior que persiste na região. A Gafisa lançou campanha para  descobrir os novos ícones do bairro.

Da maior família que ainda mora por lá ao casamento mais antigo do Ipiranga. Da pessoa mais alta ao que tem maior número de amigos no Orkut. Do nome mais comprido a melhor nota no ENEM. Do dono do carro mais velho à pessoa mais viajada. Todos que comprovarem ser merecedor de um desses títulos podem ganhar Ipods, canetas, GPS, malas e viagens, dependendo a categoria. Quem indicar os nomes também leva.

Claro que tudo tem seu preço. As inscrições e apresentações serão em um dos estandes da construtora e, certamente, você terá de ouvir aquele papo de vendedor. Mas fique tranquilo, é sem compromisso.

Saiba mais no site do “Procuram-se Ícones do Ipiranga”.