De expectativa a mãos à obra

Por Maria Lucia Solla

Veja e ouça o texto De expectativa a mãos à obra apresentado pela autora

Falamos pouco de nós, mas falamos muito do outro e da sua vida, sentados no trono do eu-sei, do eu-faria-diferente, do ela-é-louca, do ele-é-babaca.

Na melhor das hipóteses, a gente faz isso porque, na vida do outro, ou participa como coadjuvante ou mero espectador. E nesse espia daqui, julga e condena dali, não dá para esquecer que de perto ninguém é normal. Nem aquele que sai muito bem na foto do jornal.

Também tem o fato de termos sido desenhados com dois olhos na frente, e do lado de fora da cabeça. Como cultivamos a ideia de que a vida é só o que vemos do nariz para frente, olhamos para fora o tempo todo.

Para a semana que entra, proponho uma boa olhada, de você para você; uma observação cuidadosa do teu dia-a-dia. Atenção à tua volta, ao teu comportamento e sua consequência. No teu ritmo, é claro, mas sem perder tempo, pois já está se esgotando a prorrogação do segundo tempo.

E, aproveitando a deixa do tempo: é mentira que tempo é dinheiro.
Tempo é vida e brilha mais, quanto mais ela for vivida.


Alerta

Se você aceitar as provocações deste livro, não espere grandes vendavais que cheguem para transformar você num outro você.

Na expectativa do vendaval você pode perder a brisa que vem com poder de transformar, gradativa mas definitivamente, o cenário da tua vida. Do jeitinho que você quiser.

Uma pequena descoberta com a consciência focada no momento vivido, e não pendurada nos fios da memória ou da expectativa; a percepção de um único comportamento teu, por menor e mais insignificante que possa parecer, transforma.

Você vai encontrar algumas sugestões de exercícios, por aqui. Se decidir fazê-los, vá anotando se há diferença no você de antes e depois deles. Fale ou escreva sobre o que conseguiu transformar, e sobre a consequência da transformação.

Perceba mais; compare menos

Agora, não dá para ignorar o outro e fechar-se em concha, pois se o outro não existisse você não saberia nada de você. A vida do outro se mostra como cardápio de possibilidades, e te provoca. E é aí que está a chance; na provocação.

O julgar o outro transforma-se em exercício do fazer escolha, do reforçar decisão ou do reverter processo.

E então você observa a tua casa de muitas moradas, o teu templo – o de dentro e o de fora -, e faz uma bela faxina. Decide o que fica e o que vai; o que entra, e o que sai.

Do ático ao porão,
ponha para funcionar um belo e forte pano de chão.

Tenho me virado como bolacha em boca de velho, como diz a dona Ruth, e tenho sangrado as unhas – as de dentro e as de fora –
limpando, escolhendo, pegando nas mãos o relicário do meu apego
e permitindo que ele vá embora.

E você,
em que estado estão as tuas casas?
Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.

Maria Lucia Solla é terapeuta e professora de língua estrangeira. Aos domingos, abre sua casa e suas emoções, no Blog do Mílton Jung, a espera de que você a ajude a reescrever “De bem com a vida mesmo que doa”