Grêmio 3 x 1 Bahia
Brasileiro – Olímpico Monumental

“Juiz ladrão, porrada é a solução; juiz ladrão, porrada é a solução”. A frase era repetida à exaustão por um coro desencontrado e de voz infantil e o som vinha do pátio da escola, onde meninos jogavam bola em uma quadra de terra sem muita estrutura nem goleiras com rede. Fiquei curioso para saber o que acontecia lá dentro e em vez de seguir meu passeio aproveitei o portão enferrujado semi-aberto para entrar. O alvo era um outro garoto que, com apito na boca, fazia trejeitos de árbitro impondo-se diante dos colegas, ditando regra, interrompendo o jogo a todo instante como se querendo mostrar que por mais talentosos que fossem os meninos em quadra nada seriam capazes de fazer diante da autoridade dele. Percebi, também, que os gritos tinham muito mais de humor do que de raiva, e a intenção era tirar uma da cara do amiguinho que, sabe se lá o motivo, em vez de jogar bola prefere controlar o jogo.
Quando assisto a uma partida como desta tarde no estádio Olímpico lembro-me da cena que vivi há alguns anos, em Porto Alegre, em escola estadual que existe até hoje perto da casa em que morava no bairro do Menino Deus. Esclareço desde já que não estou dizendo que o juiz Cláudio Francisco Lima e Silva, do Sergipe, seja ladrão e menos ainda defendendo a violenta solução proposta no versinho dos meninos. Mas sempre me pergunto o que leva alguém a decidir-se por esta profissão ingrata que se exercida com perfeição não será sequer percebida, talvez não mereça uma só menção na crônica do jogo. Que somente terá o privilégio de ver seu nome em destaque no primeiro parágrafo de uma reportagem esportiva se estiver metido em confusão.
Ao fim da partida de hoje vi em Seu Lima e Silva a mesma cara de menino safado e arteiro que havia naquele garoto da escola porto-alegrense. Em vez de medo pela forma agressiva com que os jogadores do Bahia reclamavam, ele parecia orgulhoso pelo dever cumprido, ou seja, ser mais importante em campo do que todos os jogadores. Com a colaboração de seus auxiliares, interferiu no andamento da partida, anulou gol legítimo, legitimou gol irregular, permitiu que a regra fosse descumprida por jogadores dos dois lados e ainda realizou a façanha de permitir que um jogador com dois cartões amarelos permanecesse em campo. (sim, no momento em que o Grêmio fez o gol da virada, Mancini do Bahia já teria que estar no vestiário)
Nem Zé Roberto que conduz e passa a bola com precisão rara no futebol brasileiro, nem Elano que arma e dribla com qualidade, nem o belo gol de Marcelo Moreno, nem o fato de o Grêmio permanecer por mais uma rodada no G4 serão mais falados do que as trapalhadas de Seu Lima e Silva. Seus erros impedem que os méritos sejam destacados assim como escondem as falhas de uma equipe que aceitou a reação do adversário mesmo jogando em casa. E o que mais me incomoda: me roubou a oportunidade de escrever um post sobre mais um momento de superação do Imortal Tricolor. E para isso não tem perdão: “juiz ladrão, porrada é a solução”.