Eu pago, eu limpo

 

Por Devanir Amâncio

Limpeza de boca de lobo

Cansado de esperar pelo serviço da Prefeitura, um comerciante e advogado, que pediu para não ter o nome citado, decidiu por conta própria limpar uma  boca-de-lobo danificada e transformá-la em boca-de-leão (rebaixamento de guia e instalação de grade de ferro, apropriada para entrada de garagem) ,em frente à Secretaria  Municipal de  Finanças de São Paulo, na  esquina da Pedro Américo com a Avenida São João (Edifício Andraus), onde tem sua empresa no subtérreo . A podridão, segundo ele, havia tomado conta do local.

Uma advogada, servidora da secretaria, que fumava na porta do prédio, perguntada sobre o que achava do bom exemplo do munícipe, em retirar tanto lixo da boca-de-lobo, na frente de uma Secretaria Municipal, respondeu : “Não sei o que dizer.”

O que levar da Cidade do Cabo

Direto da Cidade do Cabo

Cidade do Cabo da Table Montain

A beleza intransferível da Cidade do Cabo seria o melhor que teríamos para levar daqui para São Paulo, pensei logo que a Fabíola Cidral perguntou-me sobre o assunto durante o CBN São Paulo, desta terça-feira. Fui injusto com certeza com esta que é a mais europeia das cidades sul-africanas, pois uma atenção maior no entorno e veremos que há muito mais do que a natureza ofereceu.

A limpeza do Cabo chama atenção, mesmo com a cidade tomada de turistas desde o início do mês. São milhares deles desfilando todos os dias, em especial no Waterfront, sem que deixem espalhados pelas calçadas suas marcas. Tive a curiosidade de perguntar a moradores daqui se a situação se devia aos cuidados para a Copa do Mundo e estes me garantiram que a vida por aqui é assim.

Desconhecem a Lei Cidade Limpa, pois é possível encontrar nas empenas dos prédios alguns anúncios publicitários. A poluição visual, porém, é imperceptível, talvez resultado do respeito que têm pela paisagem da cidade, desenhada pela Table Mountain e a baía logo em frente. Mesmo as lojas não usam luminosos extravagantes e na rua principal, Long Street, se esforçam para manter o cenário do passado, com balcões de arquitetura vitoriana que se estendem sobre as calçadas.

Cidade do Cabo

O desrespeito arquitetônico mais gritante está no pé da montanha, onde uma empresa de construção usou de uma brecha na legislação para levantar três torres absurdas que rasgam o visual da cidade. Exageraram tanto que chamaram atenção dos locais e as autoridades foram obrigadas a impedir que a construção seguisse para cima. Foi concluída, está em funcionamento, mas é uma vergonha viver ali.

Hoje pela manhã, encontrei com o jornalista Daniel Piza, do Estadão, que foi nosso colega na CBN, também. E ele me alertou para outro fator interessante que muitas vezes passa despercebido de nossos olhos: a organização nos pontos turísticos. Comparamos a subida a Table Mountain, feita por um teleférico, e a subida ao Corcovado, no Rio de Janeiro, que já havia sido motivo de queixa de um artista chileno que conheci. Aqui, chegasse aos 1.000 metros de altura e se tem um enorme parque para andar de maneira segura e rápida para as condições. As filas, apesar de grande, fluem sem cansar, ao contrário das que encontramos na capital fluminense. A estrutura oferecida ao turista também é muito boa.

Isto se repete em todos os demais pontos de visitação.

Cap Bay e Table Montain

Levaria para São Paulo, o respeito que os motoristas tem com as faixas de segurança. Em um trânsito que anda na mão inglesa, principalmente na área turística, o pedestre tem preferência para atravessar as ruas. Aliás, apesar dos problemas alegados para deslocamento, temos um tráfego bem mais ameno que o da capital paulista, pois falamos de uma cidade com 1,3 milhão de moradores que vivem em um extensa área geográfica, o que faz com que a densidade demográfica seja baixa, muito diferente de São Paulo.

Falaria, também, do respeito aos ciclistas, fator que presenciei nos primeiros dias de visita à cidade, porém ouvi queixas de brasileiros especializados no tema que estiveram por aqui. Renata Falzoni, por exemplo, disse que correram riscos ao encarar ruas e avenidas da cidade. Na dúvida, que levemos apenas o que eu vi e deixemos por aqui o que ela identificou.

A reclamar o serviço de táxi, bastante precário, apesar de termos encontrado motoristas sempre simpáticos e perdidos. Sim, eles pouco conhecem a cidade, parece que desembarcaram por aqui dias atrás para faturar com o movimento da Copa. Aliás, não só parece, pois é o que acontece com vários prestadores de serviço.

Torcedores na Cidade do Cabo

Deixemos por aqui, também, a violência que impera nesta sociedade. Mas São Paulo também é muito violento ? Índices comparados, a taxa de homicídio na capital paulista é metade da que encontramos na Cidade do Cabo. A insegurança, aliás, leva os restaurantes a manter hábito estranho para nós, às 11 horas as cozinhas fecham e não servem a mais ninguém. Quem chegou atrasado terá de se virar em algum pub da área turística.

Uma última coisa que gostaria de levar na mala é o clima que tomou conta da cidade neste Mundial, mas para tal teremos, primeiro, que garantir a participação de São Paulo na Copa2014.

Portal da limpeza corre risco de virar factóide

 

Entulho na avenida Pacaembu (Foto: Eros Della Bernardina)

Acompanhar a qualidade da varrição das ruas pela internet, monitorando o trabalho dos garis através de fotografias, é a última do prefeito Gilberto Kassab (DEM). A ideia surgiu em reunião com as empresas prestadoras de serviço, sexta-feira passada, e tem de estar no ar semana que vem. Até a tarde desta terça-feira ninguém sabia explicar ao certo como funcionará o site.

O risco é que o Portal da Limpeza – nome sugerido por Gilberto Dimenstein – tenha o mesmo destino da página eletrônica que seria colocada no ar com a relação completa do valor do novo IPTU-2010 “na semana seguinte”, conforme promessa feita pelo secretário municipal de Finanças Walter Rodrigues, no dia dois de dezembro (ouça aqui), no CBN São Paulo. Na entrevista, ele disse que era uma ordem do prefeito. Os boletos de cobrança estão para chegar na casa dos paulistanos e o site não saiu.

Mesmo sem ainda ter em mãos o endereço do site que “vai acabar com as bocas de lobo entupidas na cidade”, o ouvinte-internauta Eros Della Bernardina pôs mãos à obra: fotografou boca de lobo completamente encoberta por entulho que está acumulado na avenida Pacaembu diante da sede do Memorial da América Latina, zona oeste da capital. Material que. aliás, não é responsabilidade das empresas de varrição.

A propósito: até esta terça-feira, a Limpurb – que coordena a limpeza pública na cidade – também não sabia informar as regras da lei que exige das empresas hora certa para recolher o lixo.

Na política, promessas não cumpridas tem nome: factóide.

Seja gari por um dia, em São Paulo

“Não importa que não venha a ganhar manchetes nos jornais nem aparecer na televisão. Seu gesto vai reproduzir em outras pessoas e tomar conta de São Paulo. Será um alerta educativo que produzirá mundças de comportamento”

Com o argumento acima, Devanir Amancio da ONG Educa São Paulo quer convencer o cidadão a aderir ao que ele chama de revolução comunitária, a Caminhada da Limpeza. Será hoje quando se realiza o Dia Mundial do Meio Ambiente. Todos estão convidados a serem gari por um dia e recolherem o lixo jogado na rua pelo próprio cidadão. A caminhada será no centro velho de São Paulo e dos muitos objetivos deste gesto cidadão está o de mostrar como ultrapassado é o modelo de varrição, coleta e destino do lixo, no Brasil. Para quem pretende aderir a Caminha da Limpeza tenha mais informações no telefone 3107-5470