Por Dora Estevam
No próximo verão você vai, com certeza, usar pelo menos uma vez uma camiseta listrada. Se já não a usa.
Digo isso porque nos desfiles de tendências Verão’11 Paris, Milão e NY, todos apresentaram modelos com o tema LISTRAS ou náutico se preferir, tanto no feminino como masculino.
Mademoiselle Chanel (1883-1971) que gostava de usar duas cores – em plena juventude – sentiu-se atraída pela camiseta de um pescador e a transformou em uma peça da coleção; peça que nunca mais foi esquecida por estilistas do mundo inteiro.
E eu te digo, caro leitor, Chanel gostava de homens, por isso a inspiração no uniforme masculino. É verdade, enquanto os outros criadores de moda se exorcisavam de vivências infantis para as suas criações, Coco se inspirava em oficiais da cavalaria e escolas abastadas. Por isso, os casacos sem gola e a famosa camiseta listrada, não esquecendo das calças masculinas. Notavelmente a camisola listrada sem gola ou gola canoa (como era chamada a camiseta na época) era uma das peças preferidas de madame Chanel.
Mas nem só de glamour vivem as listras. No passado, elas eram usadas apenas por pessoas “do bem”: prostitutas, palhaços, boêmios. Na cultura medieval, ocupações como açougueiros, moleiros e outras consideradas menos nobres é que podiam usar roupas listradas.
As listras eram tidas como divisor de águas; o não puro, o transgressor, aquilo que dividia, que mudava, tudo contado no livro “The devil’s cloth: a history of stripes” escrito pelo historiador de arte francês Michel Pastoureau.
Quando as listras começaram a ser popularizadas, elas eram feitas somente em peças íntimas; achavam que as listras podiam tocar apenas as partes “sujas” do corpo. Com o tempo todos os objetos que significavam proteção de barreiras contra a sujeira do nosso corpo eram listrados.
Já reparou como a maioria dos pijamas são listradinhos. Pois é, os medievais acreditavam que as listras serviam para impedir a influência nefasta dos demônios nos sonhos. Elas serviam como um filtro de proteção. No mundo contemporâneo podemos identificar as listras em muitos produtos do nosso uso; as roupas esportivas, pastas de dente, códigos de barras; e, sem dúvida, o vai e vem da moda.
Vertical ou horizontal. Até esta questão virou polêmica, veja só: quando o significado das duas cores foi mudando, elas passaram a ser usadas pela aristocracia, mas somente as listras verticais; as horizontais, imagina, eram usadas pelos serviçais e pessoas mais comuns.
Mas elas chamaram atenção pra valer nas revoluções (elas representavam transgressão, lembra?), a ponto de virarem figurinha fácil em bandeiras; pelo mesmo motivo, tornaram-se as queridinhas de artistas rebeldes.
A polêmica não para. Eu diria que nos dias atuais a preocupação é outra: se engorda ou emagrece.
A listra continua vilã. Vai engordar o quê? Vai emagrecer o quê? A roupa emoldura o seu corpo, não faz milagre – nem o tubinho preto. Ajuda se você tentar usar o velho e bom senso na hora de tirar uma dessas do armário.
De qualquer forma, o que importa é se você gosta e está com a produção em mente. Vá em frente e combine o que puder. Ou faça como os “transgressores”.
Adoro quando vejo páginas e páginas nos editoriais de revistas com as fantásticas produções de xadrez com listra e floral. Acho bem divertido. As variações são incontáveis. Modelos como blusas, vestidos, terninhos (risca de giz), tudo ganha poder quando o motivo é listrado. Agora já sabemos o porquê de os estilistas usarem listras nas coleções.
Listrado é simples, chique e sempre moderno.
Dora Estevam é jornalista e escreve sobre moda e estilo no Blog do Míton Jung, às vezes vestindo listras
