Quem precisa de 30 fones de ouvido em casa?

 

Bagunca1_Fotor

 

Provocado pelo texto que publiquei recentemente, sob o título A assustadora verdade sobre o excesso de coisas dentro de nossas casas e nossas vidas, tive a curiosidade de olhar como andavam as coisas nos meus armários, gavetas e caixas. Aproveitei assim o último dia de férias para esta tarefa que prometia ser diversificada, mas que se resumiu a primeira etapa ou ao primeiro desafio que encontrei: as três gavetas da bagunça eletrônica.

 

A existência da gaveta da bagunça é quase necessidade do ser humano, pois seria impossível colocar todos os materiais selecionados por categorias. Somente casas especializadas são capazes de criar espaço para tanto, como as lojas de ferramentas ou de peças de automóvel, onde os produtos são separados por utilidade, tamanho, cor e outros quetais, facilitando o controle do vendedor e a busca do comprador.

 

Em casa, costumamos colocar os livros em uma estante que se transforma em biblioteca e a gaveta para o material de escritório que tende a estar próxima da nossa mesa de trabalho; tem ainda o balcão com divisões para utensílios de cozinha, com pratos, copos, talheres e panelas selecionados em grupos; tem o armário com as roupas, com cabides para casacos e calças, as gavetas para camisas, cuecas e meias, e na parte mais alta as roupas de cama ou as que usamos com menos frequência.

 

Por mais organizado que você seja, e eu tento ser, existem itens que não se encaixam em uma categoria específica e se acumulam em algum lugar qualquer, de preferência naquela que chamamos de a gaveta da bagunça: controle remoto reserva do portão da garagem, rolo de barbante e chaves sobressalentes podem se misturar a pequenos parafusos que vieram junto com o aparelho de televisão e velas para o caso de falta de luz, claro que acompanhadas de uma caixa de fósforo.

 

BaguncaFio1_Fotor

 

Jogar esta variedade de itens em um mesmo lugar ao contrário do que muitos entendem não é desorganização, mas a estratégia que usamos para ajudar nossa memória a encontrá-los sempre que necessário. É a gaveta dos sem-categoria. Quer vela, tá lá … a não ser que você seja um admirador de velas e tenha uma variedade tal que mereça uma espaço próprio.

 

Claro que a medida que vamos acumulando coisas, a tendência é que a visão que temos da gaveta da bagunça fique um pouco embaralhada e a mesma perca sua funcionalidade. Por isso, de vez em quanto é bom abri-la e ver se não tem peça sobrando ou itens que já deveriam ter um lugar só para eles.

 

Na casa de um ‘suposto’ organizador contumaz, como eu, mantenho diferentes gavetas de bagunça, e a que me tornou refém do trabalho na despedida das férias foi a que reúne materiais eletrônicos. Fiquei impressionado com o que tirei lá de dentro, a ponto de quase ter abortado a operação, fechado a gaveta e deixado as coisas para outro dia. Procrastinar, porém, não é a melhor estratégia quando se busca organizar a vida (ou as coisas).

 

BaguncaApple_Fotor

 

Encontrei lá dentro quatro aparelhos de telefone celular para os quais não tenho nenhuma finalidade, pois são de tecnologia ultrapassada e sequer merecem lugar na coleção de algum especialista. O meu primeiro celular, um Gradiente “tijolão”, já tem o devido destaque na estante onde estão também cinco ou seis câmeras de vídeo e fotografias antigas, inclusive a Polaroid, um palm top Zire 71 e o gravador com o qual iniciei minha carreira profissional. Com os celulares velhos, havia seus carregadores e algumas baterias tão inúteis quanto seus pares.

 

Muitos fios se embaralhavam e exigiram certa destreza para separá-los. Tinha cabo de áudio, cabo de internet, cabo de telefone, cabos com USB, pequenos e grandes, conexão de USB para USB e mais um monte de terminações para as quais não tenho a menor ideia de como usar. Adaptadores universais de tomadas tinham três, um deles com flechas para a mais estranha das tomadas que conheci, as da Africa do Sul. Se você acha as nossas sem muito nexo, não sabe o que está perdendo.

 

Encontrei quase uma categoria à parte, na bagunça eletrônica, a dos produtos da Appel. Fontes de energia de aparelhos aposentados, mouse sem uso, adaptadores para iPhones e uma câmera iSight que não lembro de ter usado alguma vez no meu primeiro MacBook, que, aliás, também mantenho guardado em casa, fazem parte desta coleção. Todos sobreviveram nesta faxina com a expectativa de que meu conselheiro particular para o tema, Sergio Miranda, ex-editor da MacMais e atual apresentador do @pontoreview no #loopinfinito, dê mais uma dica matadora.

 

BaguncaFone_Fotor

 

O que mais me assustou mesmo foi contar 20 fones de ouvido do tipo intra-auriculares (sim, na foto só aparecem 19 porque o vigésimo encontrei depois). E só coloquei na conta aqueles que estavam guardados e sem uso, coisa que aliás a maioria deles permanecerá. Se incluir os que tenho em casa para ouvir música no celular e som no computador de mesa e notebook, é provável que chegue a mais de 30. Qual a necessidade de se ter mais de 30 pares de fones de ouvido em uma casa onde vivem apenas quatro pares de ouvidos? Não pense que os comprei. Vieram juntos com um celular, um equipamento de som, computador e qualquer outra coisa que tenha saída de áudio, o que nos remete a uma das principais razões de acumularmos este monte de traquitana: o preço é baixo, está inserido no valor do aparelho e sequer percebemos seu custo. É fácil tê-los. Difícil é se desfazer deles.

 

Coloquei-os em um saco plástico com o intuito de dar um fim nestes fones que só ocupavam espaço. Em outros dois sacos, juntei baterias, fios redundantes, adaptadores de celular e algumas outras coisas para as quais não entendia bem o objetivo. Muitos outros itens permaneceram, mesmo com a quase certeza de que jamais os utilizarei. Mas vai que ….

 

Aí está outro problema: adquirimos as coisas, guardamos, ocupamos o lugar e não usamos. Na hora de decidir o que fazer com aquela peça, melhor deixar ali porque talvez um dia, sabe-se lá quando e em que situação, eu precisarei dela. É provável que este dia nunca chegue, mas teimo em mantê-la na gaveta.

 

A incursão às gavetas da bagunça eletrônica resultaram em uma redução de cerca de 40% das peças que estavam guardadas, mas ainda me deparo com outra dificuldade: o que fazer com o material que pretendo descartar? Talvez este seja o problema mais complicado neste processo.

 

Jogar no lixo nem pensar. Apesar disso, é para onde vai boa parte deste material. A Abrelpe, que reúne empresas do setor de limpeza pública, calculou, em 2012, que cerca de 40% dos resíduos sólidos urbanos tiveram destino impróprio. Ou seja, quase 24 milhões de toneladas de lixo foram descartados de maneira incorreta em lixões e aterros sanitários. Um crime do qual não quero fazer parte.

 

Devolver aos fabricantes, seria a melhor solução, desde que houvesse estrutura para o bom funcionamento da logística reversa. No Brasil, lei de 2010, já prevê responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Nesse processo, os produtores de um eletroeletrônico, por exemplo, têm que prever como será a devolução, a reciclagem daquele produto e a destinação ambiental adequada, ensina ((o))eco, portal desenvolvido por jornalistas que integram a ONG Associação O Eco.

 

Temo, porém, que se chegar em uma revenda e tentar deixar o material por lá, vou ser mandado de volta para casa com o saco cheio (duplamente cheio). Se aceitarem o material, não tenho nenhuma garantia de que seu destino será o recomendado. Imagino eu, vá parar lá no lixão de dois parágrafos acima.

 

Entidades que vendem ou manipulam este material podem ser outra saída.

 

Você conhece alguma?

 

Aqui em São Paulo, costumo entregar para o Lar Escola São Francisco que mantém o Bazar Saburá, na Vila Mariana. Lá seus funcionários e voluntários separam, selecionam e vendem o que for possível e com o dinheiro financiam o trabalho de assistência que realizam. O que acontece com as coisas que acumulam em seus depósitos, não sei ao certo, mas são a esperança de que alguém pode me ajudar a dar um jeito nas minhas gavetas da bagunça.

 

Se você tiver outra boa ideia, será bem-vinda.

 

Em breve, me comprometo a seguir em frente na aventura em busca de coisas que estão sobrando aqui em casa. Mas a primeira experiência me deixou um pouco assustado, pois a persistirem os sintomas corro o sério risco de me equiparar àquelas famílias de classe média americana, que vivem em Los Angeles, alvos de pesquisadores da UCLA, que mantinham, em média, 300 mil itens, nas suas residências — pesquisa que está em destaque no texto A assustadora verdade sobre o excesso de coisas dentro de nossas casas e nossas vidas .

Pôr do sol no lixão

 

Por Devanir Amâncio
ONG Educa SP

Pôr do Sol no lixão no Grajau

Vale a pena ver o pôr do sol do lixão ao longo da rua Cláudio Artaria, Jardim Gaivotas, Parque Residencial Cocaia, região do Grajaú, extremo sul de São Paulo. Para chegar ao lixão do pôr do sol é só pegar o trem e descer na estação Grajaú e depois pegar o ônibus Jardim Gaivotas e descer no ponto final. Procure pela Vera Lúcia(foto), ela mora no bairro há 14 anos e conhece tudo sobre a vila. O Jardim Gaivotas, bairro com mais de 10 mil habitantes, às margens da Represa Billings, também é uma boa pedida para quem gosta de pescar […].

Dona Vera e os moradores suspeitam de uma empreiteira que prestava serviço para a Subprefeitura do Socorro na construção de uma praça comunitária e o asfaltamento da rua Cláudio Artária (um quilômetro). Têm quase que certeza que a empreiteira desapareceu com dinheiro andiantado pela Prefeitura. Segundo os moradores a rua consta como asfaltada na subprefeitura . Os moradores vão reclamar no Ministério Público. Trecho da rua não tem luz, o que leva os moradores apelarem para o uso de celulares e isqueiros para não caírem em poças d’água. É o que sempre faz Francisco das Chagas, que trabalha como porteiro na Vila Olímpia. Em noites de muito calor as crianças têm a rua sem asfalto como espaço de lazer .Francisco criticou a publicidade do Natal Iluminado da Prefeitura.

Lixão no Grajau

Vilma Rosa de Jesus, moradora próximo ao lixão, diz que há pelo menos seis anos a Prefeitura não faz a limpeza do local e desabafa: “Não aguento mais receber cartinha de vereador”. Ao ser informada da campanha “Adote um Vereador”, reagiu com humor: “Nem lembro mais o nome do homem, como vou adotá-lo? Ele ganhou e desapareceu, como a empreiteira . Só sei descrevê-lo.”

Condomínios de luxo mantém “lixão doméstico”

 

Lixão residencial

O desmoronamento de parte dos 600 mil metros cúbicos de lixo amontoados no aterro sanitário de Itaquaquecetuba, na Região Metropolitana de São Paulo, que ocorreu segunda-feira (25/04), é apenas uma das cenas que revelam a forma incompetente com que o Brasil administra os resíduos sólidos.

Despercebida pela maioria de nós, outra imagem desta tragédia urbana se reproduz diante de alguns dos mais ricos condomínios da capital paulista, todos os dias. São famílias pobres, muitas desgraçadas, que ficam a espera do “lixo” despejado pelos moradores de bairros como o Panamby e o Morumbi, na zona sul da capital.

Sacos se acumulam aguardando a empresa de coleta. Antes que o caminhão chegue, mães, pais e crianças pequenas cercam o local. Como se estivessem diante de gôndolas de supermercado – nem mesmo o carrinho para as compras é esquecido – escolhem o que de melhor têm a disposição.

Latinhas de cerveja e refrigerante são as preferidas da maioria, pois têm saída mais fácil. Garrafas PET e de vidro, também ajudam a formar a renda familiar. Os papéis nem sempre são aproveitados pois ficaram contaminados pela mistura com o lixo comum. Comida, muito pouco (ainda bem).

Em São Paulo, capital, conseguimos substituir os lixões por dois aterros sanitários que, hoje, esgotados, geram até 20 mega watts por hora de energia elétrica, cada um, a partir da captação dos gases metano e carbônico, numa demonstração de que poderíamos gerenciar melhor esta questão.

No entanto, ainda fazemos da porta dos condomínios uma espécie de lixão doméstico, sem que isto cause, aparentemente, constrangimento aos seus moradores. Gastamos fortunas para manter as salas de ginástica, quadras de tênis, áreas de lazer, piscinas enormes mas somos incapazes de nos organizarmos para a separação dos resíduos sólidos. Preferimos jogar tudo fora transferindo aos outros a responsabilidade pelo que consumimos.

E como o consumo está em alta, produzimos sete vezes mais lixo em 2010 do que no ano anterior, conforme estudo divulgado nesta semana pela Abrelpe – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Foram 61 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, em todo o Brasil. Você que lê este texto foi responsável por cerca de 378 quilos de lixo, em média. Se mora em São Paulo, acumulou 1,328 quilo por dia – pois vive na região que mais “sujeira” fez no ano passado.

Responsabilizar o aquecimento da economia pelo aumento da produção de lixo é varrer para baixo do tapete o verdadeiro problema enfrentado pelo País.

As prefeituras investem pouco em políticas de coleta seletiva. Na capital paulista, existem apenas 16 centrais de reciclagem para atender os 96 distritos – número que não cresce faz seis anos. Do material que é recolhido pelos caminhões da coleta seletiva mais de 1/3 vão parar no lixo comum. Faltam campanhas que incentivem a separação e programas pedagógicos que preparem a população. A cobrança da taxa do lixo, que poderia trazer pelo bolso a consciência que nos falta, quase causou uma revolução na cidade.

A esperança de que isto mude está na Lei de Resíduos Sólidos, a Lei do Lixo, em vigor desde o ano passado e que impõe responsabilidade aos municípios e ao poder público, mas também às empresas que fabricam e vendem, assim como às pessoas que compram e consomem.

Temos o compromisso de acabar com os lixões até 2014. Você pode começar a fazer isso agora na porta do seu condomínio.

Texto originalmente escrito para o Blog Adote SP, da revista Época SP

Cánto da Cátia: Minha Casa, Meu Lixão

 

Fazenda Joaninha

O Sítio da Joaninha era um antigo lixão que atendia as cidades do ABC Paulista, em especial Diadema e São Bernardo do Campo. Hoje, moram pouco mais de 600 famílias, boa parte assustada desde que vieram no noticiário a tragédia do Morro do Bumba, no Rio de Janeiro. A repórter Cátia Toffoletto conversou com alguns dos moradores que estão por lá há quase 20 anos, outros chegaram recentemente. Todos, porém, estão cansados de ouvir promessas das autoridades públicas.

Na reportagem da Cátia Toffoletto a descrição do que é viver no Sítio da Joaninha, nome singelo para uma área que pode causar tanto mal.

No CBN SP, entrevistei o geólogo do IPT Eduardo Macedo que se mostrou preocupado com a situação de famílias que moram sobre aterros sanitários ou lixões. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas fez estudo há 10 anos por ali e nunca mais voltou. Eduardo Macedo explica os riscos para as famílias estabelecidades nestas áreas que serviram de depósito de lixo no passado.