Diego comemora mais um gol, em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA
O Grêmio pode garantir passagem à Série A daqui uma semana, jogando diante da torcida, foi o que disseram os jornalistas esportivos durante a jornada desta tarde de sábado. Vai depender da combinação de resultados dos demais jogos e, claro, de uma vitória em casa na próxima rodada.
Não me esforcei a entender essa matemática porque precisa tirar pontos daqui, colocar outros ali e somar onde é possível chegar. Perda de tempo, agora. A ascensão está próxima quase que por inércia. Mesmo que a campanha seja de altos e baixos, de vitórias, de algumas derrotas e de muitos empates, os adversários colaboram em seus tropeços. Se não der domingo que vem, dará na sequência. Temos três rodadas para alguma coisa dar certo. Talvez até consigamos subir enfrentando o Náutico, no Recife — o que, convenhamos, não seria uma novidade.
Hoje, foi mais do mesmo. Um time de contradições. Quando esteve melhor, não conseguiu transformar a performance em gol. Quando o desempenho piorou, marcou. Contou com a presença dentro da área de Diego Souza, o atacante que ainda tem torcedor com coragem de reclamar. Subiu mais alto e de cabeça concluiu para as redes. Como sempre.
No segundo tempo, o técnico decidiu “fechar a casinha” — no meu tempo chamavam isso de retranca. E foi aí mesmo que a “casinha” se abriu. Escalou nove jogadores da intermediária para trás: um goleiro, dois zagueiros, três laterais e três volantes. Com tal congestionamento não é de se surpreender que uma bola haveria de resvalar na mão de alguém. Pênalti visto pelo olho eletrônico. E cobrado no meio do gol. Gol! Como sempre.
De diferente mesmo só o fato de ter sido o primeiro ponto conquistado fora de casa sob o comando do novo-velho treinador — até aqui, longe da Arena, só havia somado derrotas. A despeito de tudo isso, voltaremos à Primeira Divisão, como sempre!
Geromel com a faixa nas cores do arco-íris, em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA
A bola roubada ainda no ataque, o movimento rápido dos jogadores de frente, o passe com velocidade e precisão e a conclusão estufando a rede estiveram presentes no único e necessário gol do Grêmio, nesta noite de terça-feira. Não tínhamos ainda nem mesmo 15 minutos de futebol na Arena quando a equipe comandada por Roger tomou à frente do placar e dava sinais de que dominaria a partida. Não foi bem assim que as coisas se desenrolaram, especialmente no primeiro tempo, quando o time deixou de ter a intensidade sempre pedida pelo técnico.
No segundo tempo, por curioso que pareça, a performance foi muita mais próxima daquilo que se imagina para o Grêmio nesta temporada, apesar de não termos conseguido marcar nenhum gol e sofrido com as estocadas do adversário. Chegamos com maior frequência ao ataque, vimos mais movimentação pelas pontas, aceleramos o passe e houve a exigida entrega de cada jogador em campo. Quem não conseguiu oferecer técnica, doou suor e no estágio atual é o que precisamos para a única conquista que nos move neste momento: voltar à Série A.
Ao fim e ao cabo, chegamos a nove jogos invictos e três vitórias seguidas em casa, marcamos 13 gols e tomamos apenas cinco, em 15 partidas — campanha suficiente para nos manter mais uma rodada entre os quatro primeiros colocados.
Começa a chegar a hora de o torcedor entender que o comportamento precisa mudar nas arquibancadas, também. A ressaca do rebaixamento não pode servir de desculpas para o desânimo. A dificuldade que o time ainda tem de encantar, vem sendo superada com o esforço do grupo.
Do lado de fora, a direção apresentou, na noite de hoje, aquele que pode ser o estopim para a retomada da avalanche que foi marca de nossa torcida — se não literalmente, porque está proibida, ao menos de forma simbólica: Lucas Leiva está de volta com a camisa 15, a mesma que vestiu na Batalha dos Aflitos, na sua estreia de temporada pelo Grêmio, em 2005. Fez parte do grupo que dois anos depois chegou à final da Libertadores, para após se consagrar no futebol da Europa.
Vamos aproveitar a manutenção no G4, a sequência de resultados positivos e o retorno de ídolo para “entrar em campo” e jogarmos juntos com o time. Ter orgulho do que conquistamos em nossa história, nos inspirarmos nessas glórias e ajudar o Grêmio a voltar à sua jornada campeã.
Eu sei que o desempenho tende a não motivar muita gente, mas poderíamos recuperar a alegria de ver o futebol, ocupando todos os espaços da Arena, levando o time a jogar embalado pelas cantorias e gritos de incentivo. Tem sido assim com alguns dos nossos principais adversários que mesmo tendo nível técnico muito semelhante ao nosso, jogam com uma motivação extra, graças ao apoio de seus torcedores.
Adoraria ver de volta a alegria daqueles rapazes que no fim dos anos de 1970 não tiveram medo do preconceito, das ameaças de uma gente selvagem e da própria repressão política e policial, que imperava na época, ao fundarem a Coligay, a primeira torcida assumidamente gay do país. Um grupo de jovens, gremistas e fanáticos que superaram todas as dificuldades — inclusive a escassez de títulos — para ocuparem seu espaço na arquibanca e na sociedade, sem precisarem esconder suas identidades.
A Coligay foi pioneira e surgiu em 1977, na mesma época em que o Grêmio retomaria o título gaúcho, e se manteve até 1983, quando fomos campeões do Mundo. Apesar da demora para ser reconhecida como patrimônio de nossa história, foi um marco na luta em favor da diversidade.
Se muitos clubes neste 28 de junho se identificaram com a causa LGBTQIA+, estampando as cores do arco-íris em seus uniformes e bandeiras, somente um time de futebol pode dizer com orgulho no coração ter acolhido a primeira torcida gay do País.
Que o entusiasmo da Coligay baixe sobre cada um dos nossos torcedores e possamos colocar em prática o lema da campanha de marketing que o Grêmio escolheu este ano: “quando time e torcida jogam juntos ninguém mata quem é imortal”.