Ypiranga 1×2 Grêmio
Gaúcho – Colosso da Lagoa, Erechim RS

Saudade é sentimento complexo e contraditório, pois pode ser ao mesmo tempo doloroso e reconfortante, triste e bonito, nostálgico e esperançoso. Sente-se por algo ou alguém que está ausente, distante ou que não pode ser alcançado novamente. Lembro dela tomando meu coração nos primeiros meses de vida em São Paulo quando, em 1991, deixei para trás família, amigos e Porto Alegre. Havia semanas mais difíceis do que outras, especialmente quando a messe era pesada por aqui. Era como se a insegurança se torna-se solo fértil para a nostalgia, quase um desejo de voltar ao passado. Superei e hoje já moro há mais tempo em terras paulistanas do que morei na minha cidade natal.
O Grêmio é das coisas que trouxe comigo no coração — e isso qualquer um dos raros e caros leitores desta Avalanche sabem. Dele não tenho saudades porque está onipresente na minha vida. Não há um cenário que eu ocupe em que o tricolor gaúcho não seja citado. É minha referência. E neste domingo não havia outro programa a fazer a não ser sentar-me diante da televisão e assistir ao jogo disputado em Erechim, pela semifinal do Campeonato Gaúcho.
Entramos em campo com uma sequência rara de partidas invictas que começou ainda no fim do ano passado. Vinte jogos sem nenhuma derrota só havia acontecido uma vez nessas duas décadas do século 21. Portanto, a confiança tomava conta dos gremistas, mesmo tendo de enfrentar o adversário em sua casa e pisando em um gramado de baixa qualidade. A jogada que culminou no gol de Luis Suárez foi belíssima pelo talento demonstrado na troca de passes e no chute certeiro de nosso atacante. Era o prêmio para o time que até então tinha a supremacia técnica e tática na partida. E desenhava uma trajetória tranquila para mais uma final de campeonato.
Infelizmente, porém, o Grêmio não soube expressar essa superioridade em gols. Perdeu pênalti e perdeu oportunidades claras, no primeiro tempo. Para depois perder o ímpeto, perder a organização, perder na marcação, perder no tempo de bola, perder qualidade e se perder no jogo. Para quem estava tão bem acostumado com vitórias, haveria outras perdas a lamentar: jogadores lesionados e o capitão Kannemann expulso — sem contar aqueles que servirão suas seleções enquanto estivermos decidindo a vaga à final, no próximo fim de semana. Em especial no segundo tempo, o Grêmio fez uma apresentação que lembrou os times de 2021 e 2022. E desses times não tenho nenhuma saudade.
Em tempo: em uma tarde em que tudo deu errado, não quero esquecer de registrar a bela homenagem que o time fez a Lucas Leiva que anunciou a aposentadoria do futebol devido a um problema no coração, nesta semana. Todos os jogadores entraram em campo com o nome do nosso meio campo nas costas. E Suàrez ainda escreveu na camiseta que vestia embaixo da principal: “Lucas, o nosso coração está contigo, estamos juntos”. Lucas Leiva, este sim, deixará saudade!