Às vésperas do encerramento do contrato com a Eletropaulo, estudo mostra que o custo para reativar linhas é pequeno e maior problema está na manutenção do sistema.

Por Adamo Bazani
Este ano se encerra o contrato com a Eletropaulo, responsável pela conservação da rede de trólebus na capital e região metropolitana. E a expectativa é que o trabalho fique ao encargo das gerenciadoras dos transportes nas duas áreas, SPTrans e EMTU.
Órgãos internacionais realizaram análises independentes sobre o assunto e concluíram que, apesar de todo o sucateamento que a rede da cidade de São Paulo é vítima, inclusive com redução de mais da metade de sua extensão nos últimos 10 anos, o trólebus ainda é a solução mais limpa, barata e viável. Necessita, porém, de soluções urgentes, com vistas ao conforto, agilidade e menor poluição.
Este repórter teve acesso a um estudo realizado pelo ITDP – Institut for Transportation e Development Policy (Instituto de Políticas e Desenvolvimento em Transporte), no quais seus técnicos analisaram as necessidades dos transportes na capital e nos municípios do ABC Paulista, desde 2008, e realizaram uma série de entrevistas com gestores, integrantes de órgãos públicos, motoristas e usuários.
O estudo diz entre outras coisas:
“… muitas cidades em muitos países revitalizaram suas áreas centrais priorizando modos de transportes elétricos e removendo os ônibus a diesel e automóveis privados. Sendo assim, no caso de São Paulo, as rotas de trólebus na área central seriam revitalizada e teriam melhor aproveitamento da rede…”
E prossegue:
“Mesmo que atualmente as condições econômicas dos trólebus não pareçam tão favoráveis, seria muito prejudicial à população que as linhas remanescentes sejam removidas de São Paulo.. Existe um risco de que o custo do diesel suba rapidamente no futuro, por ser uma reserva natural limita”
E finaliza::
“Portanto, o IDTP recomenda que São Paulo mantenha e modernize a frota de trólebus existente. As implicações ambientais e econômicas de qualquer outra decisão, dado o atual nível de incertezas, merece ser estudado com maior cuidado possível”
O órgão faz um alerta importante de que “remover completamente a existência do sistema de trólebus sem substituí-lo por uma alternativa muito limpa seria dar um passo atrás na política de combate à poluição de São Paulo”.
Os dados que aparecem no trabalho do IDTP são impressionantes.
Vamos pensar com os pulmões.
Se os 140 km de rede de trólebus atuais na capital fossem substituídos por ônibus diesel, mesmo modernos, seriam lançadas na cidade de São Paulo mais de 150 mil toneladas de CO2 por ano. A rede atual, que não é nem a metade do que era, transporta 2,56 milhões de passageiros por mês.
Às vésperas do fim do contrato com a Eletropaulo fica mais um alerta: o maior problema encontrado pelos técnicos é em relação justamente a manutenção da rede área. Isso faz com que nosso trólebus tenha menos capacidade de transporte por sentido, que em São Paulo é de 7.500 usuários, enquanto em Quito, no Equador é de 12 mil passageiros.
Reportagem publicada pelo Portal G1, em maio, dá conta que a manutenção é tão ruim, que há uma emenda nos fios a cada 58 metros, o que provoca desconforto para motoristas e usuários. (Leia aqui)
A foto, de acervo do grupo CMTCBUSSP, desperta saudade de uma época na qual a própria CMTC fazia a manutenção da rede, o que ocorreu entre 1949 e 1983, quando o serviço foi parar na Eletropaulo.
Adamo Bazani, busólogo, jornalista da CBN, que não quer ser obrigado a respirar 150 mil toneladas de CO2 por ano a mais.