Avalenche Tricolor: O meu herói

 

Figueirense 0 x 0 Grêmio
Brasileiro – Florianópolis (SC)

Com o despertador pronto para disparar às quatro e 20 da manhã, assistir aos jogos até quase meia noite torna impossível a atualização da Avalanche Tricolor logo após a partida, como costumo fazer desde que iniciei esta coluna no Blog. Aliás, tem gente que não consegue entender como acordo de madrugada para ir trabalhar mesmo tendo dormido tão pouco. É a necessidade: de ver o jogo e de trabalhar, não necessariamente nesta ordem de prioridade.

Ainda ontem, conversei por e-mail com a colega Carolina Morand que tão talentosamente (alguns diriam, perigosamente) me substituiu na apresentação do Jornal da CBN nos 15 dias de férias, no início de julho. Mãe recente, acordar cedo de mais exige alguns sacrifícios para ela. Falávamos sobre esta exigência do trabalho e comentava que nas manhãs seguintes aos jogos a tarefa era mais árdua, principalmente quando meu time era derrotado. Em tom de brincadeira, me respondeu: “acordar todo dia a esta hora, você é um herói”.

Nem tanto, Carolina, nem tanto.

Muitos trabalhadores já estão na rua, no ponto de ônibus ou batendo perna, quando começo meu caminho para a rádio, ainda em uma São Paulo escura, pela ausência do sol e precariedade da iluminação pública. Muitos, inclusive, obrigados a assumir função que não lhes agrada em nada. Estes, sim, são heróis do mercado de trabalho. Para mim, estar no ar, dentro de alguns minutos, na CBN, é motivo de prazer, que me leva a acordar entusiasmado, mesmo quando o desempenho do meu tricolor não está a altura da minha expectativa.

Confesso que quase lamentei o sacrifício da quarta à noite ao ver o árbitro assinalar aquele penalti já no fechar das cortinas – como diriam os antigos locutores de rádio. Fiquei pensando como seria complicada a manhã seguinte e quanto desperdício, principalmente após um jogo em que sua equipe não apresentou nada para lhe entusiasmar.

A defesa de Marcelo Grohe, porém, mudou meu cenário. Tive a sensação do gol marcado, da conquista alcançada e de ter sido testemunha de mais um feito incrível. Não era para tanto, afinal nosso goleiro apenas (?) impediu mais uma derrota no campeonato, além de corrigir uma injustiça cometida pelo árbitro. Mas quando se torce alucinadamente por um time e é preciso acordar tão cedo na manhã seguinte, aí sim Carolina, precisamos de heróis. Grohe foi o meu herói.

Avalanche Tricolor: Grohe é eficiente, humilde e importante

 

Grêmio 6 x 0 Inter SM
Gaúcho – Olímpico Monumental

Foram tantos pênaltis – marcados certos, marcados errados e não marcados – que o destaque da partida tinha de ser um dos protagonistas desta série. E apesar da goleada, escolho alguém que não marcou nenhum, evitou vários e jogou um bolão: Marcelo Grohe, nosso goleiro no jogo desta noite chuvosa, em Porto Alegre.

Ele é daquelas figuras que nunca vão aparecer na foto principal do time, mas todo time precisa dele. Reserva de Vítor, o melhor goleiro do Brasil, sempre que necessário surge com segurança e eficiência. Assim que o titular volta, retoma seu curso, compreende seu lugar e aceita seu papel. Humildade retribuída com o respeito que a torcida tem por ele.

Marcelo nasceu em Campo Bom, tem 24 anos, e hoje completou 80 jogos pelo Grêmio, em seis anos de clube. E foi comemorar a marca defendendo seu primeiro pênalti na equipe profissional.

É preciso explicar este pênalti. Ao contrário do que disse o árbitro, a bola não tocou na mão do Rafael Marques. Não contente com isso, errou mais uma vez, pois se tivesse havido irregularidade, teria sido dentro da área. Sinalizou fora e precisou o auxiliar dar o alerta.

Marcelo Grohe, acostumado a deixar tudo em ordem por onde passa, desfez as trapalhadas do árbitro ao defender a cobrança do pênalti. E revelou mais uma vez sua personalidade. Agradeceu a Renato Gaúcho que indicou para ele o lado em que o atacante chutaria. Completou o serviço, fazendo excelentes intervenções e não tenho dúvida de que foi este desempenho que deu tranquilidade para o time golear seu adversário.

Logo Grohe estará de volta ao banco, colaborando com o grupo, permitindo que a harmonia permaneça, respeitando a autoridade e ciente de que ser um solado deste exército tricolor é muito mais do que qualquer jogador pode sonhar.