Cidade de meu andar, deste já tão longo andar!

 

Por Milton Ferretti Jung

 

A casa da rua 16 de Julho com destaque para a pracinha, em Porto Alegre

A casa da rua 16 de Julho com destaque para a pracinha, em Porto Alegre

 

Tivesse eu nascido,migrado, emigrado ou imigrado para a capital paulista,iria me candidatar ao “Conte sua história de São Paulo”,com leitura do Mílton e matéria por ele compilada em livro. Como sou caxiense de nascimento e porto-alegrense por adoção,resta-me acompanhar os relatos,sempre interessantes,de pessoas que,por vários motivos,saíram de outros lugares e fixaram residência em São Paulo.

 

O que eu posso fazer em troca da impossibilidade de escrever sobre a minha vida na Paulicéia Desvairada,para usar o titulo de um livro de Mário de Andrade – poeta,escritor,crítico literário e uma série de outras especialidades correlatas – é me contentar em produzir um texto acerca das minhas ruas preferidas no meu já “longa morar” nesta cidade que me acolheu ainda nenê. Mário Quintana,o meu poeta favorito, não vai ficar brabo por eu o ter, mais ou menos parafraseado,valendo-me daquela que é uma das minhas poesias favoritas de sua lavra.

 

A primeira rua da capital gaúcha na qual morei,a Conselheiro Travassos,só lembro pelas fotos da Agfa do meu pai,guardados em um álbum,em que apareço na janela da casa paterna e,pouco mais tarde,no meu primeiro aniversário. Nessa rua moravam também os meus tios e o meu primo Gildo,cinco anos mais velho do que eu. Formou-se em medicina e virou médico de toda a família. Quando ganhei a minha bicicleta Centrum,uma preciosidade sueca,visitava os meus tios – Alfredo e Gilda,esta irmã do meu pai – que,além de me hospedarem quando minha irmã Mirian pegava alguma doença infecciosa,ainda me davam a chance de ver uma jovem que eu tentava namorar. O meu primeiro namoro sério começou em uma quermesse da paróquia do Sagrado Coração de Jesus,então em construção. Foi numa dessas quermesses que conheci Ruth, aquela com quem casaria e se tornou mãe dos meus filhos. Eu era um dos locutores da Voz Alegre da Colina. Foi nas festinhas da igreja que decidi qual seria a minha profissão. Alguns anos depois fiz a minha estreia no metier que acabei exercendo,entre outros,durante 60 anos.

 

Na época em que comecei a namorar Ruth,morava na Rua 16 de Julho. Nessa,o meu pai construiu a sua primeira casa:um sobrado,com grande quintal e cheio de espaços vagos nos quais jogávamos futebol. A 16 de Julho se juntava com a Zamenhoff,em uma pracinha,na qual se jogou de tudo,situada bem na frente da casa paterna. Paralela,corria a Marcelo Gama,onde Ruth morou até que a sua família se mudasse para a Rua do Parque e antes ainda de nos casarmos. Nossa primeira moradia foi no andar térreo de um edifício construído na esquina da Paraná com a Cairu. Foi essa a primeira casa da Jacqueline. O Mílton,com um ano,foi morar naquela em que,hoje é habitada pelo Christian com a sua família,isto é,na Saldanha Marinho.

 

Ficou difícil de encaixar uma que foi muito importante na minha vida e onde não morei,mas,isto sim,trabalhei durante quatro anos:a Rádio Canoas,local do segundo estúdio dessa emissora,a Avenida Eduardo,cujo nome acabou dando lugar ao de um presidente dos Estados Unidos:Franklin Delano Roosvelt. Ruth e os seus pais,já escrevi,moravam na Rua do Parque. Eu ia de bonde até a Avenida Eduardo,se fosse trabalhar,ou descia mais adiante:bem na frente da residência dos Müller. Não perdíamos os bailes de carnaval,os adultos e os infantis,na Sociedade Gondoleiros. Essa,voltando no tempo,manteve piscina na qual nos banhávamos no verão. Já a Rádio Canoas costumava transmitir os bailes das debutantes e os comícios que,em épocas de eleições,eram realizados na Avenida Eduardo. À boca pequena diziam que a Canoas pertencia a Leonel Brizola.Recordo-me que Hermano Sperb era o gerente da Emissora,então instalada em um edifício da Avenida Eduardo. Seria um dos homens de confiança de Brizola.

 

A Avenida Eduardo era,igualmente,durante o carnaval,local de desfile das escolas de samba da Zona Norte da cidade. Ruth e eu sempre achávamos um jeito, também de passear por essa Avenida nas horas vagas. As lojas eram bem atraentes.Por isso,tirantes as ruas em que morei,repito,tenho como preferida pelo que representou para mim,a velha e querida Avenida Eduardo. Não me perguntem se ela mudou muito depois que deixei de a usar para namorar e trabalhar. Prefiro não saber o que fizeram da nossa Avenida Eduardo além de trocarem o seu nome,assim como os vereadores atuais resolveram fazer com a Avenida Castelo Branco.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, publicas seus textos no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Tem biblioteca e biblioteca, assim como laranja e banana

 

Bibliotecas de São Paulo e Mario de Andrade

O sucesso da Biblioteca São Paulo, no Parque da Juventude, ex-Carandiru, alerta para a situação dos demais equipamentos públicos que prestam serviço semelhante. São 62 sob responsabilidade do município, na capital paulista, além da Mário de Andrade, fechada há três anos para reforma, a segunda maior do País. Para Quartim de Moraes o modelo de gestão da nova biblioteca estadual, uso de Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, é um dos motivos que levam a qualidade da iniciativa: “comprovou a agilidade e eficiência de um modelo de gestão que permitiu a sua instalação completa e sua inauguração em prazo inacreditavelmente curto para uma obra pública desse porte”, escreveu no Estadão de terça (leia tudo aqui) e repetiu no CBN SP de hoje.

Jornalista e editor associado da Global Editora, Quartim fez contraponto ao citar a demora para reconstrução da Biblioteca Mário de Andrade, na avenida Consolação, que está “à espera de que a burocracia oficial se entenda sobre objetivos, custos e prazos de uma reforma há décadas reclamada, já muito bem concebida e planejada, mas que ninguém ousa prever quando será finalmente completada”.

Carlos Augusto Calil, secretário municipal de Cultura, ousa: em março ou abril será entregue a biblioteca circulante – área pública – e até o fim do ano todas os demais setores. Nega, porém, que a demora esteja relacionada ao modelo de gestão da instituição. Esta teria ocorrido pela complexidade do trabalho e surpresas que foram encontradas na reforma: desde quadrilha que roubava livros a bichos que consumiam livros. Para ele, comparar a biblioteca São Paulo com a Mário de Andrade é misturar “laranja com banana”.

Ouça a entrevista de Quartim de Moraes ao CBN SP

Ouça o que disse o secretário Carlos Augusto Calil ao CBN SP

Pra fechar: depois da promoção em relação a inauguração da Biblioteca São Paulo muita gente foi surpreendida ao dar de nariz na porta, na segunda-feira de Carnaval, único dia da semana em que o equipamento fica fechado. Esperavam que por ser um feriado prolongado e a biblioteca uma atração, estivesse aberta. Talvez seja de repensar a escala de trabalho para atender a demanda nestes dias em que o cidadão tem oportunidade de andar pela cidade e visitar os locais mais interessantes.