O ônibus que foi Miss

 

Por Adamo Bazani

O sucesso e o carisma de Martha Rocha, nossa Miss Brasil dos anos 50, foi enorme a ponto de uma encarroçadora ter fabricado um modelo especial com o nome dela para destacar a beleza e o charme do ônibus.

Marta Rocha Rodoviário

Muitos conhecem a história de uma das figuras da moda e beleza mais marcantes do país: a bahiana Martha Rocha. Em 1954, após ser Miss Bahia, ela ganhou o concurso nacional e foi para os Estados Unidos bastante cotada para conquistar o Miss Mundo. A decepção do Brasil foi grande. Apesar de todo o favoritismo, a jovem conseguiu apenas o segundo lugar, perdendo para a americana Miriam Stevenson.

Na época, para “consolar a nação”, que torcia por Martha como se fosse final de Copa do Mundo (de futebol), jornalistas brasileiros disseram que ela perdeu por causa de duas medidas a mais nos quadris. Algo que foi desmentido depois, de acordo com revistas especializadas. Marta só teria perdido porque os organizadores queriam resgatar o interesse dos americanos em concursos de beleza. As TVs e imprensa nos Estados Unidos investiam muito nestes eventos e queriam algum retorno

Cá entre nós, ganhar de uma brasileira em beleza não é tarefa fácil. Mas nosso espaço é para relatar novidades e histórias sobre transporte coletivo e você deve estar se perguntando: o que tudo isso tem a ver com ônibus?

Muito. É que a figura de Martha Rocha foi tão significativa por sua beleza e charme – e um pouco pelo sentimento de injustiça que dominou os brasileiros na época – que a miss ganhou enorme projeção. Seu nome virou marca, referência de beleza, referência de Brasil.

E a Caio – Companhia Industrial Americana de ônibus, fundada em 19 de dezembro de 1954 por José Massa (avô do piloto Felipe Massa) -, não perdeu tempo. A empresa tinha no papel um projeto de ônibus a ser lançado nos anos 50: grande, com linhas belas para época, de duralumínio. Casou o útil ao agradável. A Caio batizou seu ônibus com o nome da nossa Miss Brasil (e Miss Mundo de coração).

Marta Rocha Elétrico

O desenho novo para época, a qualidade dos materiais e a versatilidade fizeram do ônibus um dos maiores sucessos dos anos 50, sendo comprado por diversas empresas operadoras. E o apelo do nome ajudou bastante. O modelo, projeto para ser rodoviário, logo foi usado como urbano, interurbano e até trólebus.

O caso ressalta aspecto sempre presente neste Ponto de Ônibus. De diferentes maneiras é possível ver refletida no transporte de passageiros a realidade social, política, urbanística, cultural e, também, comportamental do País – nem que seja da beleza da mulher brasileira.


Adamo Bazani é repórter da CBN e busólogo. Às terças-feiras estaciona seu ônibus aqui no Blog do Mílton Jung sempre de olho nas belezas que rodam nas cidades brasileiras.