Conte Sua História de São Paulo: o verde e a lagoa do campo de golfe dos Matarazzo

Por João Nunes

Ouvinte da CBN

Photo by Thomas Ward on Pexels.com

“Daqui a pouco são cinco horas, hora do guardinha ir embora….”

E lá ía eu e meus amigos em corrida pelo verde do São Francisco Golf Club nadar nas lagoas do clube fundado pelo conde Luiz Eduardo Matarazzo, em 1937. Ficava em Osasco que não época era um bairro de São Paulo — que viria a se emancipar em 1962.

Aquelas tardes de verão eram lindas. O gramado quase que nivelava com as águas que refletiam o brilho do sol que já se punha —  o suficiente para alguns mergulhos e várias travessias.

Às vezes até dava tempo de ir ao “Green 7” onde logo acima havia as amoreiras. Era subir e se encher de amoras; uma delícia.

Até que uma vez, o guardinha que ia embora às cinco não foi embora e nos surpreendeu ameaçando atirar. Ele tinha fama de disparar com espingarda de chumbinho. Eu sempre morri de medo do guardinha. Naquele dia, nunca corri tanto.

Minha surpresa foi, tempos depois, vê-lo passando em frente de casa e cumprimentando o meu pai. Eles eram amigos.

Bons tempos aqueles de infância, começo dos anos 1960, em que aprendi a nadar nas lagoas do São Francisco Golf Club. Tempos  de doces lembranças.

João Nunes é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Venha participar você também desta série especial em homenagem aos 469 anos da nossa cidade com textos sobre locais em que o verde e o meio ambiente foram preservados na capital paulista. Escreva agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. E vamos juntos comemorar mais um aniversário de São Paulo

Conte Sua História de São Paulo 463: as cocheiras dos Matarazzo, na Pompeia

 

Por Osnir G. Santa Rosa

 

 

Vi e participei de fatos dignos de nota desde que nasci na capital de todos os paulistas. Isso lá no início dos anos de 1940. Naquela época, milhares, milhões de famílias vinham para a cidade de São Paulo. A luta por moradia era terrível. Ainda não havia favelas. As pessoas se amontoavam em horrorosos cortiços.

 

Meu pai ingressou nas Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, na Vila Pompeia, zona Oeste da cidade, para dirigir os caminhões da Ford que substituiriam, como de fato substituíram, os veículos de tração animal.

 

Lá, havia 80 cocheiras muito bem preparadas para os muares que seriam, diríamos assim, despedidos. Ao mesmo tempo, a dona da casa em que nasci, na rua Duílio, no bairro da Lapa, também zona Oeste, pressionava minha família a devolver o imóvel porque havia quem estivesse disposto a pagar mais …

 

Meus pais estavam em polvorosa.

 

Foi quando meu pai soube que os animais já tinham sido dispensados do trabalho. Ele voou para lá a fim de assegurar uma das 80 cocheiras onde entendia ser possível viver com a família até conseguir outra casa.

 

Teve uma das maiores decepções de sua vida, que seria repleta de tantas outras decepções: todas as cocheiras já estavam ocupadas por outras famílias que, assim como a nossa, não encontravam um lugar decente para morar.

 

O Conte Sua História de São Paulo tem sonorização de Cláudio Antonio e narração de Mílton Jung.

Conte Sua História de São Paulo: o desfile de carro dos Matarazzo

 


Por Darcy Gersosimo
Ouvinte-internauta

 

 

Ouça este texto sonorizado pelo Cláudio Antonio, no Jornal da CBN

 

Era o ano de 1942. Eu tinha sete anos. Morávamos na Rua Visconde de Parnaíba, 2851, bairro do Brás. A casa lá está. Construída em 1911. A única que não foi reformada no quarteirão. Morei ali com meus saudosos pais durante alguns anos. Bons tempos… Parecia uma pacata cidade do interior.

 

Meus avós paternos eram italianos e os maternos espanhóis. De origem modesta, simples, vivíamos muito felizes. Naquela época, pela manhã, eu via passar um senhor com algumas cabras com um sininho tilintando dependurado no pescoço. Ele tirava leite delas na hora e vendia para quem quisesse comprar. Diziam que era um ótimo fortificante para as crianças.

 

Eu via os caminhões da Companhia Antarctica Paulista deixar barras de gelo nas portas das residências. Eu achava que naquelas casas morava “gente rica”, porque eles tinham uma geladeira. Ingenuidade! Ficava admirado ao ver passar as carroças das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo puxadas por robustos cavalos holandeses, com grandes patas, entregando as massas alimentícias da marca Petybom. O recolhimento de lixo também era feito por carroças puxadas por cavalos. Os “lixeiros” iam despejando as latas cheias deixadas ao lado de nossas portas e depois as devolviam.

 

Certo dia vi passar muitos automóveis de luxo, subiam a Rua Visconde de Parnaíba. Fiquei admirado pois não era comum ver tantos carros em cortejo, a não ser quando acompanhavam um enterro. Muitos anos depois fiquei sabendo que foi o dia do casamento dos pais do Senador Eduardo Suplicy. Os automóveis conduziam os convidados que iam para a grande festa na antiga Chácara Piqueri, no Tatuapé.

 

Eu poderia escrever muito mais sobre esse tempo maravilhoso, pois tenho muitas outras histórias para contar, mas sei que não devo me alongar.

 

Darcy Gersosimo é personagem do Conte Sua História de São Paulo. Você pode nos ajudar a contar mais capítulos da nossa cidade. Escreva para milton@cbn.com.br e vamos juntos comemorar os 459 anos da nossa cidade.

Matarazzo fora da prefeitura

 

Uma entrevista ao CBN São Paulo, com Fabíola Cidral, teria sido o ponto final na relação entre o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o ex-secretário das Subprefeituras, Andréa Matarazzo (PSDB). Há duas semanas, ele disse que a sujeira na região central da cidade se devia a corte no pagamento para as empresas que fazem a varrição. Quem faz esta avaliação é o jornal Estado de São Paulo, em reportagem assinada pelos jornalistas Diego Zanchetta e Sílvia Amorim.

Matarazzo chegou a ser apresentado pela Veja SP como o xerife da cidade, após ações com destaque na mídia de fechamento de casas noturnas e lojas de luxo por falta de alvará. Desde o início da atual gestão, lia-se notas e notícias sobre a perda de poder dele. A criação da Secretaria Municipal de Controle Urbano era outro sinal claro de esvaziamento de quem chegou a prefeitura como homem forte de José Serra (PSDB).

O avanço pífio do projeto de recuperação da Cracolândia, centro de São Paulo, durante a primeira gestão, levou a prefeitura a mudar sua estratégia de atuação e tirou da Secretaria das Subprefeituras, sob o comando de Matarazzo, a administração do processo de revitalização da área.

Nota oficial divulgada pela prefeitura de São Paulo tem tom completamente diferente. Diz que a saída teria sido decisão dele e agradece pela dedicação à cidade. Sabe-se, porém, que notas oficiais são apenas “oficiais” e a história se conta no bastidor.

Fora da prefeitura, a expectativa é que Andréa Matarazzo se una a equipe que prepara a campanha de José Serra à presidência da República.

Ex-pacientes querem salvar Hospital Matarazzo

As irmãs Aldeneide e Luana dos Santos Freitas foram pacientes do antigo Hospital Matarazzo, na Bela Vista. Tinham problemas respiratórios durante toda a infância e ficaram curadas pouco antes da instituição ser fechada. Luana, aliás, nasceu na maternidade Condessa Filomena Matarazzo, em 1984. A mãe delas também frequentava as salas de ortopedia, otorrino e clínica geral.

A intimidade com o local as levou de volta à instituição, curiosas que estavam para descobrir o que iria acontecer com aquela área por enquanto abandonada próximo da avenida Paulista. O que viram foi chocante, segundo elas próprias descrevem. O hospital, marco da história paulistana, em pedaços.
As imagens acima foram feitas por elas, o texto abaixo, também. Como salvar o Hospital Matarazzo, é desafio de quem acredita na preservação da história, em São Paulo:


Havia 16 anos que eu não pisava no Hospital Matarazzo, que eu não tinha mais notícias concretas sobre esta instituição que faz parte das minhas lembranças de infância. Até que no ano passado minha irmã e eu resolvemos fazer pesquisas para saber o que havia acontecido com o hospital e ficamos indignadas com o que descobrimos.

O Hospital Matarazzo, tombado pelo Condephaat e pelo Conpresp em 1986, foi comprado pela PREVI ( Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil ) ainda em 1993, mesmo ano em que foi fechado. A intenção era implementar um empreendimento imobiliário do escritório do arquiteto Júlio Neves. Segundo o projeto, grande parte do hospital seria demolida para a construção de um shopping e flats comerciais.

A PREVI conseguiu que o Hospital Matarazzo fosse destombado pelo Condephaat e conseguiu até alvará da prefeitura, autorizando as demolições. Mas graças a uma Ação Civil Pública movida por associações da Bela Vista o destombamento foi anulado e o projeto foi embargado. A PREVI recorreu e o processo ainda está na justiça.

A partir dessas descobertas quisemos ver com nossos próprios olhos a situação em que se encontrava o hospital. Então, em julho do ano passado, agendamos com a PREVI nossa primeira visita.

A reação que tivemos ao rever o hospital foi de choque, seguido por uma grande tristeza no que se transformou aquele lugar que frequentamos durante nossa infância . Se transformou num espectro, um lugar sem vida , repleto de lembranças de um tempo que não volta mais !

Continuar lendo