Dinamarca, voto e ajuda social: a verdade que ninguém te conta!

Trabalho com a ‘caverna do diabo’ aberta à minha frente. Enquanto converso com os ouvintes pelo microfone, na tela do meu computador, centenas de mensagens são despejadas pelo WhatsApp. Entre uma entrevista e outra, chegam informações de todo tipo: agradecimentos, críticas e sugestões de pauta, tanto quanto ofensas pessoais, denúncias infundadas e as correntes que prometem revelar “a verdade escondida” sobre algum assunto.

O que me chama a atenção não é o volume de mensagens — que já faz parte da rotina —, mas a confiança com que muitas delas são enviadas. Ouvintes, pessoas que nos acompanham há anos, repassam informações falsas com a mesma segurança de quem anuncia a previsão do tempo: “Vai chover amanhã, pode se preparar.”

Outro dia, recebi uma mensagem afirmando que, na Dinamarca, toda pessoa que recebe ajuda social perde o direito de votar. O texto ainda sugeria: “Compartilhe se quiser que o Brasil faça o mesmo!” Essas mensagens não apenas espalham desinformação. Elas revelam preconceitos guardados: a ideia de que quem precisa de auxílio social não saberia votar com autonomia ou de que os problemas do país se resumem a um “voto comprado”.

A realidade é que, na Dinamarca, quem recebe assistência do governo não só pode votar como participa ativamente da vida democrática. O país investe em proteção social justamente para garantir dignidade e participação de todos.

Mas por que tantas pessoas continuam acreditando nessas histórias?

Uma das razões é o viés de confirmação. Quando alguém já acredita que programas sociais servem para manipular votos, qualquer mensagem que alimente essa visão será rapidamente aceita. É como se cada um de nós tivesse um filtro invisível que escolhe o que confirmar e o que descartar, conforme nossa conveniência.

Outro ponto é o formato: textos curtos, diretos, carregados de emoção e indignação. Ao provocar raiva ou medo, aumentam a chance de serem repassados antes mesmo de qualquer reflexão.

Há também o recurso de citar países tidos como exemplares — caso da Dinamarca ou da Suécia — para dar um ar de credibilidade. Quem vai verificar se isso realmente ocorre? Quase ninguém. Talvez um jornalista.

Para conter o avanço dessas mentiras, temos três ações à nossa disposição:

Desconfiar. Antes de encaminhar qualquer mensagem, vale perguntar: quem escreveu? Existe alguma fonte oficial? A informação aparece em veículos de imprensa reconhecidos? Ah, você não confia na “grande mídia”? Quem sabe, então, pesquisar nas milhares de fontes disponíveis na internet?

Conversar. Em vez de ironizar quem compartilha, é mais eficaz explicar, com calma, onde está o erro e mostrar a informação correta. Ou seja, despender um tempo do seu dia para ajudar na disseminação da verdade.

Apoiar projetos de checagem. Hoje, várias iniciativas se dedicam a verificar fatos e disponibilizam o resultado gratuitamente.

Receber mensagens faz parte do meu trabalho — muitas nos pautam, e tantas outras nos levam a refletir sobre como estamos praticando o jornalismo. Corrigi-las, também. Mais do que desmentir boatos, é preciso convidar o público a cultivar a curiosidade, questionar, buscar outras fontes. Neste cenário em que a verdade disputa espaço com versões fabricadas, cada um de nós se torna guardião da boa informação.

Em tempo: Sim, o título deste texto foi escrito no melhor estilo “corrente de WhatsApp” — daqueles que gritam para chamar sua atenção. Afinal, se funciona para espalhar boatos, por que não usar para espalhar a verdade?

Desinformação faz mal para o coração

Cardiologistas estão preocupados com os efeitos da desinformação na área da saúde e aproveitam o mês de fevereiro, quando temos o Dia da Internet Segura, para discutir o tema em videocast. Tive o privilégio de ser convidado para compartilhar parte da minha visão sobre o assunto e, ao mesmo tempo, entender o quanto é danosa a forma irresponsável com que conteúdos relacionados à saúde são abordados por influenciadores, alguns da própria área médica.

O programa foi mediado pelo dr Pedro Duccini, coordenador da Cardiologia do hospital Vivalle Rede D’or São Luiz, e teve a presença do dr Lorenzo Tomé, professor universitário e CEO da SDConecta, uma plataforma de comunidades médicas.

Duccini me provocou a lembrar de mentiras que circulam pela internet e estejam relacionadas à área da saúde. 

Por curioso, havia deparado com uma delas no mesmo dia da gravação. Um ouvinte do Jornal da CBN me enviou mensagem que circula em WhatsApp sobre um suposto vírus mortal e sem sintomas que estaria devastando comunidades e, claro, para o qual não se dava publicidade para não prejudicar o Carnaval brasileiro. Na mensagem, estava o link de uma fala de Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, sobre o assunto. 

Fui pesquisar e logo descobri que a gravação de Adhanon se referia a um alerta para que os países estejam preparados para futuras pandemias e não se referia ao tal vírus “escondido pela grande mídia”. Apesar de essa desinformação não prejudicar a saúde da população, dissemina o pânico e tira o foco do que realmente é importante. 

Outra mentira disseminada nas redes sociais é a que assistimos no Brasil em defesa da venda de cigarros eletrônicos. Patrocinada por fabricantes do produto, a campanha pela liberação dos vapes tenta convencer legisladores, comunidade médica e população em geral de que esse “cigarro”em formato de pendrive reduz os danos do cigarro convencional. A verdade é que causa danos aos pulmões e mata.

Na lista de desinformação podemos incluir as fórmulas mágicas de emagrecimento, as dietas da moda que fazem milagres no corpo humano e os multivitamínicos que prometem curar uma enormidade de doenças e prevenir de tantas outras. 

E por aí vemos como é árdua a batalha contra o que se determinou chamar de “fake news” (contra a minha insignificante vontade). Há interesses milionários por trás dessas informações falsas, há a ansiedade das pessoas em encontrarem fórmulas fáceis para resolver problemas complexos, há falta de tempo e paciência para apurar a verdade e há tecnologia suficiente para engajar cidadãos a este conteúdo. Uma sinergia de fatores que pode levar as pessoas à morte, o que me permite dizer que desinformação faz mal para o coração.

O videocast Conexão SOCESP, produzido pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, estará no ar em breve.

Em busca de uma vacina para fake news

Foto de Kaboompics .com no Pexels

Fake news está moda. Tá na boca de todo mundo. Tá na troca de mensagens pelo WhatsApp, e nada de braçada no Telegram — a plataforma preferida dos terraplanistas. Tá em discussão nas redações e em estudos na academia. Tá sendo usada por muita gente. E abusada, enche a nossa paciência. Quinta passada conversei com estudantes e eles queriam saber minha opinião. Quarta que vem, voltarei ao tema em congresso virtual. Dia desses apareci no ClubHouse, e tome fake news —- ops … e tome discussão sobre fake news.

É um fenômeno sobre qual falamos muito e entendemos pouco. Verdade que bem mais do que há alguns anos quando foram fortes suficientes para desestabilizar candidaturas —- haja vista o que fizeram com Marina Silva, em 2014 — e robustecer candidatos — como no fatídico 2018. Atualmente, assistimos ao estrago que faz na saúde pública, enfraquecendo o combate à Covid-19 e fortalecendo a desconfiança sobre as vacinas. É assassinato em primeiro grau.

De minha parte, que não gosto de modismos na comunicação,  tenho batido na mesma tecla, a começar pelo esforço em desconstruir a farsa que está estampada no nome próprio do crime. Você, caro e cada vez mais raro leitor deste blog, já deve ter lido por aqui o que se transformou em meu mantra pela informação saudável: 

“se é fake, não é news, se é falso, não é notícia; é falcatrua! O princípio da notícia é a busca da verdade; da falcatrua, é a entrega da mentira.”

Ao longo do tempo, fomos aprendendo a lidar com a desinformação, especialmente aquela manipulada pela autoridade constituída. Porque uma coisa é o seu vizinho fofoqueiro dizendo mentiras sobre sua vida; mas quando o mentiroso tem status e mandato, o crime é federal e precisa ser combatido de forma estratégica. 

Há quem defenda que não devemos sequer noticiar o absurdo. O problema é que autoridade que mente é notícia. Acreditamos que desmentir a autoridade com nota pé na reportagem fosse suficientemente forte para dar um basta na declaração mentirosa em destaque na manchete. Ledo engano. Passamos a incluir na própria reportagem o flagrante da mentira. Também não resolveu. O desmentido precisou encontrar espaço na manchete, espremido entre a autoridade e a sua mentira. 

Hoje, já temos cientistas e estudiosos da comunicação que desenham fórmulas na tentativa de conter a propagação da desinformação, sem abrir mão do papel do jornalista de reproduzir o que é notícia. 

Em “Por que mentiras óbvias fazem boa propaganda”, vídeo baseado em estudo da RAND Corporation, um think tank de política global, vê-se uma estratégia comum de governos populistas e mentirosos: geram uma enxurrada de informação falsa, produzida em alta velocidade, sem nenhum compromisso com a realidade ou nexo causal entre uma coisa e outra. Chamaram isso de ‘firehosing’, que surge  da ideia do grande  fluxo de água da mangueira de um bombeiro — no caso da mentira com o intuito de colocar ainda mais fogo na narrativa.

Essa tática nos remete a constatação já dita neste blog, com base em pesquisa publicada no Journal of Experimental Psychology, que com o bombardeio de informações, o tempo dedicado a cada uma delas diminuiu; e quanto menos tempo se tem para uma informação, maior é a probabilidade de acreditarmos nela, mesmo que seja falsa

A proposta para contrapor a mentira vem do linguista americano George Lakoff, apresentada no formato de sanduíche, em 2018. Professor emérito de ciências cognitivas e linguística na UC Berkeley, Lakoff analisa o discurso político na sua profundidade para extrair dele elementos que possam proteger a verdade e a Democracia —- sim, geralmente, a mentira está na contramão dos valores democráticos, porque é explorada com o objetivo de perpetuar pessoas e pensamentos no poder.

O que George Lakoff batizou de verdade-sanduíche foi assim resumido pelo próprio autor: 

  • Comece com a verdade — o primeiro frame leva a vantagem na mente humana
  • Aponte a mentira — evite reproduzir as palavras específicas do mentiroso.
  • Volte para a verdade. Sempre repita verdades mais do que mentiras.

Em um hipotético país em que o presidente eleito defendesse o uso de remédio para vermes como droga para combater vírus, o fato seria assim noticiado ao aplicarmos o método Lackoff:

“Não há evidências de que a ivermectina, usada para vermes, proteja contra a Covid-19. O presidente Jair Bolsonaro recomendou o remédio em ato público, mas nenhuma pesquisa científica sustenta esta tese, e médicos já afirmaram que o remédio pode causar efeitos colaterais perigosos”.

É um ótimo exercício para conter as mentiras oficiais, mas não suficiente para impedir que a desinformação contamine um público que já tem baixa imunidade em virtude de seu viés político, caráter, ignorância ou falta de atenção. Nós, jornalistas, seguiremos sendo desafiados diariamente a encontrar alternativas para seguir informando de maneira séria, responsável e precisa. Até que fake news vire démodé. 

A responsabilidade ética da comunicação corporativa no combate à desinformação

Empresas têm de ter canais abertos e transparentes de comunicação (Foto: Pixabay)

 

A comunicação corporativa precisa se engajar no combate à desinformação, a começar pelo desenvolvimento de programas pedagógicos para seus colaboradores —- pelas mãos dos quais passam e são repassadas quantidades enormes de mensagens falsas sobre os mais diversos temas, inclusive sobre a própria empresa. A Rádio Corredor se potencializou com a velocidade digital e não se limita mais ao ambiente do  escritório.  Pessoal bem preparado e canais de comunicação abertos e transparentes tendem a reduzir a algaravia do chão de fábrica ou da sala de cafezinho; e ganham mais importância ainda para aproximar profissionais que trabalham à distância, desde o início da pandemia.

O poder de influência das empresas e sua capacidade de investimento devem se voltar para proteger a sociedade e sustentar projetos jornalísticos que se transformam em contraponto às mentiras propagadas voluntária ou involuntariamente. É uma responsabilidade ética que as corporações devem assumir diante da sociedade.

Esses são alguns dos temas que conversei com André Felipe de Medeiros, em entrevista concedida ao podcast FalAção, da Aberje —- Associação Brasileira de Comunicação Empresarial:

O jornalismo precisa respeitar o tempo de apurar e de noticiar; senão deixa de ser jornalismo

Foto Pixabay

Nunca o jornalismo foi tão imediato como agora. Do microfone no rádio à câmera na televisão, o tempo para publicar a notícia é o tempo de acionar o botão do … NO AR. Na internet, a urgência aparece em alertas na tela do celular antes mesmo do texto ter sido publicado. Os jornais sem tempo para imprimir o fato, atualizam o site com manchete em letras garrafais, mesmo que o repórter ainda não tenha dado ponto final; e usam as redes sociais para levar ao público a informação com o crédito que a história lhes concedeu. 

Confundem aqueles que, primeiro, identificam o fazer jornalismo apenas como o ato de publicar um fato, quando há uma série de ações que precede a esse ato. Confundem mais ainda — seja lá com qual for a intenção, talvez apenas desconhecimento — quando veem no avanço tecnológico a necessidade de mudanças em características que são próprias do jornalismo: a busca incessante da verdade, o apuro dos fatos, a relevância no que é interesse público e o direito ao contraditório. Essa jornada exige tempo e responsabilidade —- em uma equação que desafia o cotidiano de repórteres, editores e analistas, pois a medida que diminui o tempo entre o fato e a sua publicação, aumenta a responsabilidade de quem publica o fato. 

Estruturas menores, profissionais com menos experiência, crescimento da competitividade e investidores preferindo o entretenimento ao enfrentamento, típico do jornalismo, têm prejudicado essa dinâmica nas redações —- e isso ninguém nega, é fato e nós jornalistas gostamos de trabalhar com fatos: em dez anos, 83% dos jornais brasileiros reduziram o número de profissionais, 13% mantiveram a equipe no mesmo tamanho e apenas 3% declararam ter aumentado seu time, conforme estudo feito pelo jornalista Ricardo Gandour e publicado no livro “Jornalismo em retração, poder em expansão” (Summus Editorial).

As redes sociais tornaram o processo ainda mais complexo ao dar agilidade na entrega da informação —- confirmada ou não —- e a oferecer a todos o mesmo poder e espaço, diferenciado-os apenas pelo alcance que cada um capacitou-se a ter e pela forma como os algoritmos impulsionam ou não essa mensagem. Esse cenário gera uma concorrência desleal; enquanto uns se alvoroçam nas redes publicando o que bem entendem, se satisfazendo em traduzir tuítes e replicar fatos sem confirmação, desde que tenham potencial de agitar a galera a espera do engajamento da arquibancada digital, sem se preocuparem com a responsabilidade de seus atos e opiniões;  outros —- e os jornalistas fazem parte desses outros, ou deveriam fazer —- têm compromisso ético imposto pela profissão que exercem. “Eu acho”, “ouvi falar”, “dizem por aí”, “não tenho certeza, mas …” são expressões que se repetem com frequência no dia a dia das nossas conversas, no bate papo de boteco, na troca de mensagem entre amigos e colegas e dominam as redes sociais; porém jamais podem ocupar o espaço destinado a objetividade jornalística,  um dos fundamentos no exercício de noticiar. 

O jornalista é refém da verdade e esta nem sempre é encontrada na mesma velocidade exigida pela sociedade contemporânea que sofre de ansiedade informacional. Porém, assim como o tempo de maturação da notícia, do levantamento de dados e da confirmação de versões tem de ser respeitado, equilibrar os três pilares que sustentam o trabalho jornalístico —- isenção, correção e agilidade —- é essencial para nossa sobrevivência. É preciso, sim, noticiar de forma livre e independente, sem cumplicidade com governos e empresas; ser correto na apuração e na relação com a fonte; tanto quanto ágil na publicação —- entendendo que essa rapidez no informar tem de estar pautada na razoabilidade do tempo entre o fato ocorrido e o fato publicado. Quanto menor o tempo, mais correta for a apuração e mais precisa a notícia, melhor para o jornalismo e para a sociedade.

Dia 2 de abril, o Dia Internacional da Checagem #FactCheckIt

 

 

Foi bom enquanto durou. Agora, resolveram estragar a brincadeira dos tempos de criança. E a coisa perdeu a graça, ficou séria demais e com impacto incalculável na vida das pessoas e na reputação das organizações.

 

Falo do 1º de abril, Dia da Mentira, lembrado ontem, em meio a distribuição dos ovos de Páscoa. Quem nunca caiu numa lorota contada pelos amigos? Na escola, em casa ou lá na Saldanha Marinho, onde morei na minha infância, fui vítima da gurizada um sem-número de vezes.

 

Lembro dos jornais, revistas e programas de rádio que sempre abriam páginas e falas para trazer uma informação ridiculamente falsa, que todos sabiam que era mentira. Na maioria das vezes, nos divertiam. Em outras, pensamos: pena que não é verdade!

 

Os maus-caracteres tomaram para si a prática, profissionalizaram o negócio e passaram a espalhar a ideia para propositalmente influenciar a opinião pública e prejudicar pessoas e instituições.

 

Com a ajuda digital, a mentira, que sempre identificamos como sendo algo com perna curta, passou a alcançar facilmente seus alvos no outro lado do mundo. E ganhou nome e sobrenome: fake news.

 

Hoje, nós que fazemos jornalismo sofremos duplamente com essa história: os que não não gostam de notícias contrárias, dizem que somos fabricantes de fake news; os que não gostam do outro lado, ao forjarem informação confundem as coisas e tentam nos levar para a vala comum.

 

Na contra-mão das notícias fraudulentas ou forjadas, se fortaleceram grupos especializados em checar fatos: Agência Lupa, O Truco e Aos Fatos, apenas para citar algumas empresas que atuam aqui no Brasil. A maioria delas faz parte da International Fact-checking Network (IFCN), que reúne 140 membros pelo mundo, e promove nesta segunda-feira, dia 2 de abril, o Dia Internacional da Checagem.

 

Como se percebe, a data é proposital. Vem logo depois do Dia da Mentira. Quer chamar atenção para a importância de termos jornalistas capacitados apurando informações e em busca da verdade.

 

Na campanha #FactCheckIt produziram um vídeo, que você assiste na abertura deste post, resultado de ação desenvolvida em várias partes do mundo, nas quais o cidadão foi provocado a responder se para ele a verdade importa ou não.

 

No site da IFCN, você encontra ainda uma série de artigos que nos ajudam a refletir sobre o tema e desconfiar quando estamos sendo alvos de uma notícia mentirosa.

 

Uma boa maneira de você, que não é jornalista, ajudar no combate a mentira, é pensar duas vezes antes de dar cliques, likes e compartilhar as informações que recebe nas redes sociais.

 

Afinal, tenho certeza que para você a verdade importa.

A Boa Mentira: para quando quiser pensar além do seu umbigo

 


Por Biba Mello

 


FILME DA SEMANA:

“The Good Lie”
Um filme de Phillipe Falardeau.
Gênero: Drama
País:USA

 

 

Uma aldeia no Sudão é atacada por guerrilheiros e apenas algumas crianças sobrevivem. Elas caminham por um longo período até chegar em um acampamanto das Nações Unidas. Uma missão humanitária as levam, após muitos anos, para viver em solo americano.

 

Por que ver: É um filme baseado em relatos verídicos, a história é tocante e profunda. A atriz Reese Whitherspoon fica em segundo plano como coadjuvante e nos ajuda a entender que somos todos iguais; e assim nos leva a pensar um pouco além do conforto de nossa vida urbana. Em uma frase que chega a ser engraçada pela ingenuidade e ignorância de um dos personagens, ele questiona a um criador de gado lá no EUA: “devo me previnir contra algum animal perigoso?- criador – qual animal? E o rapaz responde – Leão”.

 

Como ver: Sempre que quiser sair de algum momento “raso”de sua existência e pensar além do seu próprio umbigo.

 

Quando não ver: Se você estiver em um momento “curtir a vida”…Vai quebrar o clima te botando rapidinho com os pés no chão.

 


Biba Mello, diretora de cinema, blogger e apaixonada por assuntos femininos.

A mentira no mundo corporativo

 

 

Nas palestras para executivos e empresas um dos pontos que destaco é que a mentira jamais deve pautar a política de comunicação corporativa. Quando houver informações que devem ser mantidas em sigilo, seja por questões estratégicas seja por questões legais, o porta-voz deve ser sincero, pedir desculpas se for o caso e dizer de forma direta que não pode comentar o assunto. Se possível, ofereça alguma dado que seja útil ao interlocutor demonstrando boa vontade em atendê-lo. Porém, jamais, em nenhuma situação, por mais grave que seja, minta. A mentira fragiliza a corporação e seus profissionais. Agora ou daqui a pouco, nós vamos descobrir a verdade.

 

A mesma regra deve prevalecer nas relações internas dos profissionais, no entanto é evidente que os mentirosos estão à solta. Afinal, a mentira é inerente ao ser humano e muitas vezes garantia de sobrevivência não apenas nas corporações. Há os que mentem para agradar e os que mentem para escapar de situações constrangedoras. Há os que mentem para prejudicar e os que mentem para se beneficiar. Há mentiras aceitas socialmente e mentiras reprováveis. O maior cuidado que devemos ter é quanto a dimensão e o efeito desta mentira.

 

Em 29 anos de redação cruzei por muitos mentirosos. E, confesso, contei as minhas também. Espero que nenhuma tenha prejudicado colegas ou empresa. Nunca foi esta a intenção nem soube de mal que tenha sido cometido por este ato. Vale o destaque: mentir para o público nem pensar, é condenável, é execrável, um desserviço à sociedade. Podemos, como jornalista, não publicar toda a verdade em determinados momentos porque esta se constrói no decorrer dos fatos e não a temos desde os primeiros instantes. Nem sempre ao se cobrir casos jornalístico se tem o domínio de todos os acontecimentos e para se chegar a verdade final são necessárias investigações mais profundas. De qualquer forma, busca-se sempre publicar a verdade daquele momento, que pode ser transformada diante de novas informações.

 

Um caso engraçado de mentiroso: um ex-colega – omito o nome não para mentir, mas para nos preservar – era incapaz de ouvir qualquer assunto sem contar algo extraordinário do qual teria feito parte. Os que conheciam a fama dele, costumavam provocar alguns assuntos apenas para ver como se sairia. Uma das histórias mais interessantes foi quando ouviu grupo de colegas falando de acidentes de avião e ele, sem constrangimento, contou que já havia pilotado e, por habilidade e sorte, conseguira escapar de uma tragédia ao pousar o monomotor sobre a rede de fios elétricos. Tentou convencer os colegas ainda de que Dolores Duran compôs para ele a música ‘A Noite do Meu Bem’, em 1959, e, em uma de suas viagens à Washington, foi convidado por assessor de JFKennedy para visitá-lo na Casa Branca. Não estou mentindo, não. Foi isso mesmo que ele contou. Se duvidar, pergunte ao meu pai, também colega do referido. Foi ele, aliás, que, em texto publicado aqui no Blog do Mílton Jung, apelidou nosso companheiro de rádio de Barão de Münchhausen, nascido no século 18, que serviu ao exército alemão e de tantas histórias extraordinárias e inverossímeis virou personagem de livro infanto-juvenil e de filmes para o cinema.

 

Infelizmente assisti a casos de mentiras que me levaram a questionar o comportamento ético do jornalista. Conto um dos que mais me incomodaram: uma ex-colega foi pautada a cobrir um assunto pois seu diretor de departamento tinha interesses comerciais no produto que seria apresentado. Ao retornar para a redação, o editor tentou entender qual o interesse jornalístico da reportagem e a jornalista, sincera, explicou a situação. Ao ser cobrado, o diretor negou que tivesse pautado a repórter. Ela foi demitida e o mentiroso garantiu seu emprego por mais alguns anos, a despeito do peso que levou na consciência. Em situações como essa, quando seu superior mente, é preciso avaliar bem se vale a pena permanecer naquele ambiente de trabalho e quanto estas situações podem prejudicar a sua imagem profissional.

 

Quanto a colegas mentirosos é sempre bom usar uma régua simples. Mentiras engraçadas, sorria; mentiras brandas, releve; mentiras graves, denuncie ou vá para bem longe para não ser contaminado.

A versão brasileira do Barão de Münchhausen

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Os mais novos, imagino, jamais ouviram falar no Barão de Münchhausen e, muito menos, de Karl Friedrich Hieronymus Von Münchhausen. Mas essa pessoa, com nome difícil de pronunciar, a menos que se tenha algum conhecimento de sua língua – a alemã – existiu e entrou na história. O Barão nasceu no dia 11 de maio de 1720 e viveu durante 77 anos. Foi militar e senhor rural alemão. Sua vida rendeu, inicialmente, uma série que ficou célebre ao ser compilada por Rudolf Erich Raspe, com o título de “As Loucas Aventuras do Barão de Münchhausen”. Os livros destinavam-se, de maneira especial, a leitores juvenis. Contavam histórias fantásticas, alegadamente vividas pelo Barão que, em sua carreira militar, serviu não apenas ao exército do seu país, mas ao da Rússia. Depois de participar de duas campanhas contra os turcos, retornou para casa e começou, sabe-se lá por que, a espalhar relatos inacreditáveis, como, por exemplo, o de uma fuga durante a qual entrara em um pântano e, para não afundar e se afogar, puxou-se pelos próprios cabelos ou, dependendo da versão, pelo cardarço de suas botas.

 

Quem conta um conto, aumenta um ponto. Ou vários pontos. No caso de Münchhausen, tantos foram os exageros, que até o Barão os achou demasiados. Diziam que ele fizera viagens em balas de canhão e jornadas para a lua. Suas histórias, no entanto, não foram postas somente em livro e traduzido em várias línguas, mas rendeu um filme. Esse chegou aos cinemas da Alemanhã no auge da Segunda Guerra – 1943 – e foi usado pelo governo nazista para celebrar os 25º aniversário da UFA, a principal companhia cinematográfica do país. O Barão voltou ao cinema em 1989, quando Terry Gillian, que havia integrado o grupo cômico Monty Python, lançou a sua versão das “Aventuras do Barão de Münchhausen”.

 

Tenho um querido colega, cujo nome prefiro omitir, não vá ele pretender me cobrar direitos autorais, que é um emérito contador de histórias em que é protagonista, segundo ele, todas “reais”. Não são tão fantásticas quanto as do Barão, algumas das quais que me permiti apresentar aos leitores mais jovens deste blog, se é que esses existem. Aí está a primeira. Falávamos sobre aviões, se a memória não me falha, quando o nosso ou o meu Barão – como acharem melhor – contou-me que já havia sido piloto. E lembrou de uma ocasião em que o aparelho sofreu uma pane e ele se obrigou realizar pouso de emergência: desceu sobre uma rede de fios elétricos. Não deu, e não pedi maiores detalhes. Creio que, depois daquela aterrissagem, perdeu o jeito de voar: sentiu-se mal na primeira viagem aérea que fizemos juntos.

 

Esta é a segunda e, quem sabe, possa ser considerada mais “creativa” do que a primeira história. Adiléia Silva da Rocha, que ficou famosa com o nome artístico de Dolores Duran, cantora que nasceu no dia 7 de janeiro de 1930 e morreu com 29 anos, fez sucesso na sua época. Entre suas canções,havia uma que, relatou-me o Barão, ela fez em sua homenagem: “A noite do meu bem”. Ao ouvir a peta, fiquei imaginando o meu colega dançando com Dolores Duran e essa lhe sussurando ao ouvido que a música havia sido composta quando ela pensava nele.

 

A terceira história de hoje é a mais fantástica deste texto. O Barão, em uma de suas idas a serviço para os Estados Unidos, desembarcou em Washington. Nunca explicou direito como JF Kennedy ficou sabendo de sua presença em um hotel da capital americana. Não demorou, o telefone de seu apartamento tilintou. Imaginem, um assessor de JFK, falando português, transmitiu-lhe um convite do Presidente. Este queria recebê-lo nos jardins da Casa Branca…para um cafezinho.

 

Para encerrar as baronescas criações ou, melhor dizendo, invenções, existe a que o colega relatou quando foi à Argentina para cobrir uma competição automobilística. Depois de realizar o seu trabalho, contou-me que não encontrava condução para retornar ao seu hotel, no centro de Buenos Aires. Resolveu, então, seguir a pé até o seu hotel no centro de Buenos Aires. Eis que, de repente, um carro que ia na mesma direção, parou ao seu lado. O senhor que estava ao volante abriu a porta e, ”hablando español”, o convidou para entrar:

 

– Amigo,venga conmigo!

 

O Barão olhou para o gentil cavalheiro e, espantado, o reconheceu. O cidadão era, adivinhem, o lendário campeoníssimo Juan Manuel Fangio.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Lentes e vozes da mídia

 

Por Carlos Magno Gibrail

Na segunda feira, o ministro da saúde Alexandre Padilha respondeu ao Mílton Jung, que na reunião preparatória ao encontro com a presidenta Dilma sobre as últimas enchentes, realizada domingo das 18hs às 21hs, em nenhum momento se falou de Bezerra.

Ora, mais fácil e mais inteligente era ter respondido que não poderia entrar no assunto. Mas a sinceridade não tem sido muito usada. Por ausência de inteligência ou por desconsideração com ouvintes e eleitores.

A verdade é que a escola de Maluf está ultrapassada. Aquela velha técnica de ignorar as perguntas que não interessam. Grosseria e tanta. Todavia, menos maniqueísta e simulada do que o modelo de Kassab. O alcaide responde com avaliação que pode levar incautos à loucura, dando nota máxima para erros que considera acertos.

Tudo indica que será uma tendência. O ministro do interior, o pernambucano Fernando Bezerra, já a adotou. Acusado pelo Ministério Público de proteger seu nicho eleitoral levando 80% das verbas nacionais e também praticado fisiologismo, está negando tudo. Ao mesmo tempo em que avalia sua administração como de alta performance.

É uma nova escola política cujo antídoto não será a melhora da economia e nem da educação nacional, mas da ética e do controle pela mídia, com lentes e microfones. É o que nos diz o premiado jornalista Nicholas Kristof do New York Times, sobre os fatos políticos da maior economia do mundo e uma das nações mais bem formadas.

E Kristof desabafa: “Nós jornalistas, às vezes saímos de uma entrevista coletiva de um político sentindo a necessidade urgente de um banho”.

Enquanto Congressistas e demais figuras políticas não fazem nada produtivo, estudantes e astros de Hollywood têm dado exemplos de maturidade e conexão com problemas sociais globais da mais alta significância.

Angelina Jolie dirigiu e está apresentando um filme sobre as atrocidades na Bósnia. Bem Afleck é hoje um especialista sobre o Congo. George Clooney tem seguido o caminho de Darfur no Sudão assim como Mia Farrow tem feito viagens no deserto para atender e entender os aflitos da região.

Entretanto, as lentes e as vozes da mídia norte americana, segundo Kristof, tem preferido dar espaço a republicanos e democratas se acusarem diante de espectadores e ouvintes. Afinal sai mais barato e talvez dê mais audiência, do que cobrir as exemplares atividades dos astros. Quando não fazem pior, ao darem mais destaque a separação de George Clooney do que às suas proezas assistenciais.

Como vemos, lá como cá, a solução está nos leitores e eleitores, que através da mídia poderão pressionar a ética necessária.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras.