Por Milton Ferretti Jung
Os mais novos, imagino, jamais ouviram falar no Barão de Münchhausen e, muito menos, de Karl Friedrich Hieronymus Von Münchhausen. Mas essa pessoa, com nome difícil de pronunciar, a menos que se tenha algum conhecimento de sua língua – a alemã – existiu e entrou na história. O Barão nasceu no dia 11 de maio de 1720 e viveu durante 77 anos. Foi militar e senhor rural alemão. Sua vida rendeu, inicialmente, uma série que ficou célebre ao ser compilada por Rudolf Erich Raspe, com o título de “As Loucas Aventuras do Barão de Münchhausen”. Os livros destinavam-se, de maneira especial, a leitores juvenis. Contavam histórias fantásticas, alegadamente vividas pelo Barão que, em sua carreira militar, serviu não apenas ao exército do seu país, mas ao da Rússia. Depois de participar de duas campanhas contra os turcos, retornou para casa e começou, sabe-se lá por que, a espalhar relatos inacreditáveis, como, por exemplo, o de uma fuga durante a qual entrara em um pântano e, para não afundar e se afogar, puxou-se pelos próprios cabelos ou, dependendo da versão, pelo cardarço de suas botas.
Quem conta um conto, aumenta um ponto. Ou vários pontos. No caso de Münchhausen, tantos foram os exageros, que até o Barão os achou demasiados. Diziam que ele fizera viagens em balas de canhão e jornadas para a lua. Suas histórias, no entanto, não foram postas somente em livro e traduzido em várias línguas, mas rendeu um filme. Esse chegou aos cinemas da Alemanhã no auge da Segunda Guerra – 1943 – e foi usado pelo governo nazista para celebrar os 25º aniversário da UFA, a principal companhia cinematográfica do país. O Barão voltou ao cinema em 1989, quando Terry Gillian, que havia integrado o grupo cômico Monty Python, lançou a sua versão das “Aventuras do Barão de Münchhausen”.
Tenho um querido colega, cujo nome prefiro omitir, não vá ele pretender me cobrar direitos autorais, que é um emérito contador de histórias em que é protagonista, segundo ele, todas “reais”. Não são tão fantásticas quanto as do Barão, algumas das quais que me permiti apresentar aos leitores mais jovens deste blog, se é que esses existem. Aí está a primeira. Falávamos sobre aviões, se a memória não me falha, quando o nosso ou o meu Barão – como acharem melhor – contou-me que já havia sido piloto. E lembrou de uma ocasião em que o aparelho sofreu uma pane e ele se obrigou realizar pouso de emergência: desceu sobre uma rede de fios elétricos. Não deu, e não pedi maiores detalhes. Creio que, depois daquela aterrissagem, perdeu o jeito de voar: sentiu-se mal na primeira viagem aérea que fizemos juntos.
Esta é a segunda e, quem sabe, possa ser considerada mais “creativa” do que a primeira história. Adiléia Silva da Rocha, que ficou famosa com o nome artístico de Dolores Duran, cantora que nasceu no dia 7 de janeiro de 1930 e morreu com 29 anos, fez sucesso na sua época. Entre suas canções,havia uma que, relatou-me o Barão, ela fez em sua homenagem: “A noite do meu bem”. Ao ouvir a peta, fiquei imaginando o meu colega dançando com Dolores Duran e essa lhe sussurando ao ouvido que a música havia sido composta quando ela pensava nele.
A terceira história de hoje é a mais fantástica deste texto. O Barão, em uma de suas idas a serviço para os Estados Unidos, desembarcou em Washington. Nunca explicou direito como JF Kennedy ficou sabendo de sua presença em um hotel da capital americana. Não demorou, o telefone de seu apartamento tilintou. Imaginem, um assessor de JFK, falando português, transmitiu-lhe um convite do Presidente. Este queria recebê-lo nos jardins da Casa Branca…para um cafezinho.
Para encerrar as baronescas criações ou, melhor dizendo, invenções, existe a que o colega relatou quando foi à Argentina para cobrir uma competição automobilística. Depois de realizar o seu trabalho, contou-me que não encontrava condução para retornar ao seu hotel, no centro de Buenos Aires. Resolveu, então, seguir a pé até o seu hotel no centro de Buenos Aires. Eis que, de repente, um carro que ia na mesma direção, parou ao seu lado. O senhor que estava ao volante abriu a porta e, ”hablando español”, o convidou para entrar:
– Amigo,venga conmigo!
O Barão olhou para o gentil cavalheiro e, espantado, o reconheceu. O cidadão era, adivinhem, o lendário campeoníssimo Juan Manuel Fangio.
Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)