O que você comeria com R$ 3,80 por dia ?

 

As 2.400 crianças abrigadas em cerca de 120 centros de assistência na cidade de São Paulo estão comendo salsicha e arroz – de baixa qualidade – com os R$ 2.289,00 mensais repassados pela prefeitura de São Paulo. Como cada entidade tem cerca de 20 meninos e meninas, ficam reservados apenas R$ 3,80 para cada criança por dia. Parece pouco ?

Eu não tenho dúvida, mas a Secretaria Municipal de Assistência Social formou uma comissão para que seja realizado um estudo que identifique quanto de dinheiro teria de ser repassado para as crianças se alimentarem decentemente. A secretária e vice-prefeita Alda Marco Antônio disse que, em no máximo oito dias, terá uma resposta.

O problema começou quando a merenda distribuída aos centros que atendem crianças vítimas de violência que era fornecida pela Secretaria Municipal de Educação passou a ser responsabilidade da área de Assistência Social. Em vez de entregar o alimento, a Secretaria decidiu repassar o dinheiro. Segundo Alda Marco Antônio, uma nutricionista foi quem fez o estudo e entendeu que com os pouco mais de R$ 2 mil seria possível alimentar todas as crianças. “Ela terá de responder por isso”, ameaçou.

A promotora de Justiça Dora Martin Strilicherk, da Promotoria de interesses difusos e coletivos da Infância e Juventude da Capital considerou tudo isso um absurdo, abriu inquérito, pediu explicações à prefeitura e até agora não recebeu uma só resposta para o caso. Alda Marco Antônio disse que não recebeu o questionamento da promotoria talvez por um “erro de comunicação”.

Como todos estão agora comunicados, a expectativa é que haja, em breve, uma solução.

Ouça aqui a entrevista com a promotora Dora Martin Strilicherk

E aqui você ouve a justificativa da secretária Alda Marco Antônio

Conselho de Alimentação já havia denunciado problema na merenda escolar

Com visitas às escolas da rede municipal, o Conselho de Alimentação Escolar já havia constatado problemas na qualidade da merenda escolar servida pelas empresas contratadas pela prefeitura de São Paulo, no ano passado. Na época, teria sido demonstrado que as escolas que mantinha serviço de merenda próprio ofereciam alimentação melhor aos alunos. Além disso, as merendeiras nas escolas onde o atendimento é terceirizado eram incentivadas a economizar na comida e ganhavam um bônus das empresas. Segundo o vice-presidente do conselho, José Ghiotto Neto, o que surpreendeu agora foram as denuncias de fraude feitas pelo Ministério Público do Estado.

Ghiotto, que representa os professores no órgão, lembra que o levantamento feito em 2008 foi levado à Câmara Municipal mas os vereadores não deram importância aos dados coletados. Ele reclama, também, da falta de estrutura e participação no Conselho de Alimentação Escolar.

Ouça a entrevista de  José Ghiotto