De desapego e liberdade

 

Por Maria Lucia Solla

 

Carmen Miranda – E o mundo não se acabou por thevideos no Videolog.tv.

 

Final de ano é como semana de véspera de prova; a gente estuda tudo o que não estudou durante o ano. É muita pressa. É engolir sem mastigar. Na contramão do fluxo, vou devagar. Remexo meus guardados para limpar, me desfazer, me desapegar, e me vejo cercada de papel por todos os lados. Adoro papel e me apego a ele. A limpeza é das boas. Papel é só o começo da saga, e me dou conta, no processo, de que não sou apegada, grudenta, mas estou apegada a um anel aqui, umas peças trazidas de viagens que só me trazem lembrança e sensação boas e uma coisa ou outra. É isso. Só as boas. E papel.

 

 

Sentei no chão, e dei de cara com o que não esperava encontrar. Assim de primeira, tirei um maço do meio de uma das pilhas e ganhei meu presente de Natal. Encontrei textos escritos por participantes de um trabalho de consciência, comunicação e expressão, em Extrema, Minas Gerais, e de outro aqui em São Paulo. Comecei a ler um por um, um daqui, outro de lá, lembrando da imagem de muitos deles, alguns sem associar o rosto ao nome, e fui me emocionando, fui crescendo, de fora pra dentro, de cima pra baixo e de baixo pra cima.

 

Com essa história que a gente vira e mexe constrói de acaba ou não acaba o mundo, a gente acaba se esquecendo de viver. Na opinião abalisadíssima da minha amiga Tânia, os Maias não escreveram mais porque acabou a tinta. Encurtaram a história, e pronto. Claro que comprei essa possibilidade, na hora, mas o fato é que a gente sempre inventa uma coisa ou outra para não se dar conta da vida que jorra, que se doa. Doa a quem doer.

 

No trabalho de encerramento daqueles eventos, pedi que os participantes olhassem para suas vidas aos oito anos e depois aos oitenta, e que escrevessem o que tinham visto, em muito poucas palavras.

 

Quanto ao passado, teve quem daria um dedinho para retocar, e teve quem se satisfez com o que viu e viveu; mas com o futuro foi diferente. O futuro mostrou satisfação, paz, celebração, realização de sonhos, certeza. No futuro tinha família, amigo, amor, aceitação do passado, que incluia aquele agora de cada um, naquele momento. Tinha consciência da colheita, tinha experiência de farol, tinha sonho, projeto e esperança. Sempre. Fruto de cada presente, de cada pensar, de sentir diferente do que se fez até então, a cada dia. Dá para reajustar esse brinquedo chamado Tempo, aceitando que ele não é linear, mas concomitante; e que podemos ter acesso a tudo isso agora, hoje, como presente, na hora, e sempre que quisermos. É só treinar.

 

Ou não.

 


Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung

Em BH, sete em cada 10 já abandonaram sacola plástica

 

As sacolas plásticas estão saindo aos poucos da vida dos mineiros, uma mudança de hábito provocada pela lei que proibiu o uso deste material no comércio de Belo Horizonte, em vigor há um mês. De cada dez moradores da capital, sete não usam mais as sacolinhas para levar as compras para casa, de acordo com a prefeitura.

Puxando o traça e fazendo as contas, deixaram de ser usados 13,5 milhões de sacolinhas e de ser jogado no meio ambiente 60 toneladas de plástico. Por outro lado, alguns funcionários perderam o emprego e uma parcela da produção da indústria do setor está parada.

Hoje, somente 15% dos consumidores estão levando para casa as sacolas de plástico, nos supermercados. Estas são feitas de amido do milho ou recicladas e custam R$ 0,19 cada uma. Os demais usam sacolas retornáveis , carrinhos de feira ou caixa de papelão.

A lei em vigor na cidade de Belo Horizonte havia sido apresentada em 2008 quando foi aprovada e sancionada pela prefeitura, mas jamais regulamentada. O prefeito Márcio Lacerda resolveu por ordem na casa – ou no lixo -, assinou dois decretos, um proibindo o uso da sacola plástica comum e o outro permitindo o uso das recicladas e oxiobiodegradáveis por até 120 dias.

Os fabricantes protestam contra a medida e alegam que tiveram de demitir funcionários devido a queda de 30% da produção provocada pela entrada em vigor da lei.

É importante verificar como os mineiros estão se comportando a medida que foi a primeira capital a adotar esta medida por lei. Na cidade de São Paulo a proibição se inicia em janeiro de 2012, tempo durante o qual o mercado terá de se adaptar.

A restrição às sacolas plásticas deve aumentar ainda mais, pois a proibição está em discussão na Assembleia Legislativa de São Paulo com o projeto de lei 226/201, de autoria da deputada Célia Leão (PSDB). O tema está agora nas comissões de Constituição e Justiça e de Meio Ambiente devendo ser realizadas, em breve, audiências públicas. Se for aprovado, o uso dessas sacolas estará probido nas 645 cidades paulistanas.

Rosângela Giembinsky, do Movimento Voto Consciente, chama atenção para a importância da presença do cidadão no debate: “Por ser projeto de grande abrangência com consequência de curto e longo prazos, o cidadão tem de dar sua contribuição. Vale o debate pois existem vários lados com interesse, as empresas que fabricam as sacolas, os supermercados que deixam de ter as despesas, o meio ambiente e o cidadão”

Por Extrema, moradores fiscalizam vereadores

 

A cidade de Extrema, mineira por natureza e vizinha 100 km da capital paulista, assiste ao surgimento de um movimento cidadão que deveria ser reproduzido em outros municípios brasileiros. Um grupo de moradores incomodado com o tom da conversa da prefeitura e dos vereadores em relação ao Plano Diretor, resolveu “invadir” a Câmara Municipal e, em especial, as audiências públicas.

No fim do ano passado, criaram o GAP (Grupo de Acompanhamento Parlamentar) inspirados no Movimento Voto Consciente que atua em São Paulo.

‘Não basta apenas votar. Para termos uma política transparente e sadia, é preciso acompanhar, fiscalizar, propor e mesmo ajudar nossos vereadores, deputados e senadores, representantes legítimos da sociedade, a melhor desempenhar seu papel” – diz o texto de ‘fundação’ do Gap que pode ser lido no Blog mantido pelo grupo.

Com o Gap Extrema, os moradores passaram a ter ideia mais apurada sobre os interesses que moviam os vereadores no debate em torno do Plano Diretor. As discussões das audiências públicas são divulgadas no blog e as tentativas para evitar a interferência do cidadão nos destinos da cidade são denunciadas.

Lá é possível saber que, enquanto se debatia a forma de ocupação urbana e rural do município, a prefeitura enviou para a Câmara projeto de lei complementar criando mais duas zonas industriais. E os vereadores disseram amém a intenção do Executivo. Esqueceram de discutir com o cidadão.

O GAP não esquece.

Adote um Vereador é destaque em Minas

A fiscalização do trabalho dos vereadores foi destacada em reportagem de primeira página do jornal O Estado de Minas, na edição desta segunda-feira. Reproduzo o texto que fala da campanha Adote um Vereador:

Fiscalização
Projeto incentiva “adoção” de vereadores

Alessandra Mello – Estado de Minas

Que tal adotar um vereador e acompanhar todos os seus passos, gastos com verbas indenizatórias e projetos até o fim de seu mandato? Essa é a proposta do projeto Adote um vereador, que usa a internet como ferramenta para que os cidadãos possam fiscalizar os políticos. Idealizada inicialmente pelo Instituto Ágora em Defesa do Eleitor e da Democracia, ela tem sido adotada por eleitores e também organizações não governamentais (ONGs), como o Movimento Voto Consciente, que há 22 anos acompanha o trabalho do Legislativo paulista, e a Transparência Brasil, que tem dado força para disseminar a ideia, que já faz sucesso nos Estados Unidos e Inglaterra. Surgida em janeiro deste ano, inicialmente na capital paulista, onde 17 dos 55 vereadores já foram adotados, a ideia está aos poucos se expandindo para outros estados, mas em Minas Gerais até hoje nenhum foi adotado. Quem se habilita? Pela proposta, os interessados escolhem os vereadores de sua cidade para acompanhar durante todo o mandato e se cadastram na Wiki, uma plataforma de uso coletivo na internet, onde são reunidos os links e informações dos “adotados” para quem quiser acompanhar. “O ideal é criar um blog gratuito e começar a partir daí a reunir informações sobre o trabalho dos vereadores, como presença nas votações e comissões, projetos aprovados e apresentados, doadores de campanha, declaração de bens e todo tipo de informação que for possível levantar”, conta o estudante de informática Joildo Santos, de 23 anos, um dos organizadores voluntários da campanha. Segundo ele, quem quiser pode se cadastrar no grupo de discussão do site do projeto para receber todas as instruções sobre como fiscalizar os representantes do Legislativo municipal e também como integrar a rede comunitária que divulga a iniciativa. Além do blog, o cidadão adotante pode informar ao vereador que seu trabalho passará a ser acompanhado e divulgado sistematicamente por meio do Wiki, que nada mais é que um site colaborativo, no qual os associados interferem no conteúdo, nos moldes da Wikipédia. “A gente sempre vê uma cobertura ampla do que acontece nos legislativos estaduais e também no Congresso, mas pouco nos municípios, principalmente nas cidades pequenas. E essa é uma fiscalização importante, pois o que mais nos afeta é o que acontece com a nossa cidade e com os recursos que ela dispõe”. Para um dos voluntário do Adote um vereador, o físico e programador Everton Zanella, de 25 anos, o uso da internet como ferramenta de combate à corrupção e de controle dos gastos públicos ainda é tímido no Brasil. “Mas nosso projeto é de longo prazo. A intenção é ampliar nossa rede para que nas próximas eleições municipais os eleitores possam ter uma boa base de dados para consultar antes de votar em alguém que já exerça cargo público”, afirma Zanella, responsável pela página principal do site colaborativo que reúne as informações sobre os vereadores adotados em todo o país. Segundo ele, quem se interessar em participar pode acessar os contatos no site para ter mais informações. O projeto, que é mantido por voluntários, pretende também dar cursos on-line para quem se interessar pela proposta.

Observações, apenas: Apesar dos nomes semelhantes, a iniciativa do Adote um Vereador nos moldes apresentados pela reportagem não foi do Instituto Ágora. A ONG realiza projeto envolvendo escolas e o legislativo. O Movimento Voto Consciente que promove o Adote é o de Jundiaí, interior de São Paulo, e o trabalho é exemplar. O Voto Consciente da capital paulista, que apoiaremos sempre, tem outros canais de atuação. E, finalmente, pela primeira vez o tema é abordado sem que seja feita vinculação com este jornalista, o que me entusiasma, pois a ideia original era agir como agitador da cidadania, mas deixar a organização aos que estivessem dispostos a se envolver no monitoramento, controle e fiscalização dos vereadores. Nosso agradecimento pelo apoio oferecido e parabéns a todos os voluntários.