Avalanche Tricolor: Futebol de guri

 


Grêmio 3 x 0 Inter SM
Gaúcho – Olímpico Monumental

O Grêmio não convence. Mithyuê, 21, começa a jogada do lado direito e com um passe bonito na bola aciona Jonas, 26, que de primeira recua para Maylson, 21, que enfia a bola entre os zagueiros para que esta chegue mais uma vez a Jonas já na área. O atacante chama atenção da defesa que o segue para a direita e com um só toque deixa o gol vazio diante de Maysol que faz o seu segundo na partida.

Mas o Grêmio não convence. Então Mithyuê, 21, aparece do lado esquerdo, já dentro da área. Tem categoria para driblar e com mais um passe sutil dar a oportunidade de Fernando, 18, fazer o primeiro gol dele entre os profissionais.

E o Grêmio segue sem convencer. Ganhou a Copa Fernando Carvalho, é a melhor campanha da Copa Fábio Koff, tem nove vitórias seguidas e uma invencibilidade histórica em seu estádio e fez 3 a 0 no Inter de Santa Maria – resultado que em alguns manuais esportivos é chamado de goleada.

Nada disso cala os comentaristas esportivos que fazem das críticas ao Grêmio sua ladainha preferida. Esquecem que seis dos jogadores considerados titulares estão afastados por problemas médicos. Dão de ombros à dificuldade de Silas repetir o time dois jogos seguidos. São incapazes de enxergar o que se constrói no estádio Olímpico.

Além dos meninos que participaram diretamente dos três gols desta noite, em Porto Alegre, estavam em campo o indiscutível Mário Fernandes, 19, o atacante Bergson, 19, e o volante Adílson, 23. Gente nova, criada em casa, preparada para jogar futebol de verdade, no qual o toque de calcanhar é regalia dispensável se o bico da chuteira for mais apropriado para o momento. Que nem por isso deixam de tratar a bola com o respeito e o carinho (ou o carrinho) que esta exigir. Jogam um futebol de guri, não de moleque

O Grêmio não convence – repetirão eles amanhã nos jornais. O Grêmio vence !

Avalanche Tricolor: No calor das emoções


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Grêmio 2 x 1 São José
Gaúcho – Olímpico Monumental

Foi a primeira partida do ano que não assisti por inteiro. Aliás, não vi um só minuto do jogo, pois ao chegar em casa, após uma tarde em que política e cidadania foram o foco das conversas do Adote um Vereador, no Sesc Pompeia, liguei a televisão e os jogadores deixavam o gramado com mais uma vitória de virada no Gaúcho.

Nas entrevistas, ficaram em segundo plano o belo gol de Mithyuê e o oportunismo de Fábio Santos em jogo “amistoso” no qual o único objetivo era manter a invencibilidade no estádio Olímpico que completa um ano e cinco meses. Entenda as aspas em amistoso: o Grêmio havia garantido classificação à próxima fase com dois jogos de antecedência e o primeiro lugar no grupo na rodada anterior.

Os jogadores que encerraram a partida falaram em dificuldade para respirar, esforço sobre-humano e calor insuportável. Eram sobreviventes de uma estratégia insana de dirigentes incapazes de entender o que sofre o corpo exposto a atividade física sob o sol escaldante do verão gaúcho. Os mesmos que criticam a autorização para jogos disputados a mais de 2.500 metros de altitude, fazem vistas grossas a temperatura de quase 37º.

No Rio Grande do Sul, por imposição do Ministério Público, as partidas não podem ser jogadas quando os termômetros registram mais de 35º. O árbitro vai a campo com um medidor de temperaturas em mãos, e foi com base na informação de uma dessas maquininhas digitais que o Carlos Eugênio Simon autorizou o início do jogo. Bastava ver a expressão desses atletas após a partida para entender que seria impossível praticar futebol de qualidade.

Mesmo nestas condições, o torcedor assistiu ao primeiro gol de Mithyuê, um menino que aceitou trocar o título de ídolo do futsal por craque no futebol de campo. E não vai se arrepender – nem ele nem os torcedores. Tem talento, habilidade, inteligência e marca gols como o desta tarde em que acertou um belo chute de fora da área.

Ter deixado de assistir à partida deste sábado de Carnaval não chegou a me incomodar. Havia uma boa justificativa para tal, não fui cúmplice do desrespeito imposto aos atletas e, convenhamos, Mithyuê ainda vai jogar muita bola para a alegrai do torcedor gremista.

Avalanche Tricolor: O entrosamento dos meninos

 

Mário Fernandes do Grêmio (Foto: Diego Vara)

Santa Cruz 1 x 2 Grêmio
Gaúcho – Santa Cruz do Sul (RS)

Uma dor forte no pescoço me incomoda no momento em que escrevo este texto. Reflexo de uma das muitas brincadeiras com os meninos durante a Campus Party, na tarde de quarta-feira. Com movimentos bruscos consegui ótima pontuação no painel eletrônico, eles devem ter achado curioso ver o pai seguindo o ritmo do rock pesado que soava no estande e ganhei mais alguns pontos com a turma, afinal alcancei o nível mais alto da categoria. Mas que dói, dói. E cansa, pois as duas áreas do pavilhão na Imigrantes estavam cheias.

O encontro de aficcionados em computador e informática tem coisas bem interessantes, muitas complicadas para o meu conhecimento e outras sem nenhuma graça. Gostei de ver a maneira como aqueles jovens se entendem em meio ao caos sonoro e visual proporcionado pela mistura de palestras, jogos, promoções e computadores decorados e iluminados. Há um entrosamento quase natural não fosse boa parte no formato digital.

Alguns dos geeks que encontrei por lá tem a idade do grandalhão Mário Fernandes, 19, que nesta noite mais uma vez me enche os olhos com seu futebol de raça e habilidade, pouco comum a jogadores com o porte físico dele. Outros são até mais velhos do que Mithyuê, 20, ex-craque do futsal que ensaia jogadas de gente grande desde que entrou no segundo tempo.

A diferença desses jovens gremistas para os que encontrei na Campus Party é a falta de entrosamento. O time ainda está em formação e comete erros, mas tem mostrado uma capacidade incrível de se recuperar deles. Tanto é verdade que comecei a escrever este artigo antes mesmo de o jogo se encerrar. O Grêmio ainda perdia por 1 a 0, mas eu tinha convicção da virada.

É a terceira partida em quatro disputadas que o Imortal Tricolor justifica o apelido. Mais uma vez com a presença marcante de seus atacantes. Jonas fez o quarto gol na temporada ao dar um chapéu no zagueiro que começou na perna direita e terminou com a esquerda fulminando o goleiro adversário. E Borges, no estilo centroavante bom de bola, sacramentou minha previsão (Borges 3 x 1 Washington).

A propósito, lá na Campus Party, contei quatro meninos e uma menina vestindo a camisa do Grêmio contra apenas um fardado de vermelho. Um bom sinal levando em consideração que domingo tem Gre-Nal – e até lá minha dor no pescoço já terá passado.