Dinheiro na mão é solução…

Por Carlos Magno Girbail

Imagem do álbum de Andyzeo, no Flickr

Há três décadas o cartão de crédito veio de meio dígito de participação no comércio de bens e serviços para mais de 70% nos dias de hoje. Tal expansão em um mercado livre deveria ter gerado aumento de empresas do setor. A reação foi inversamente proporcional: extraordinário crescimento da demanda e redução das empresas fornecedoras.

Fenômeno mundial encontrou no Brasil solo fértil e propício para anomalias econômicas. Cartéis, oligopólios e monopólios já existentes devem ter inspirado Visanet e Redecard a deter 92% do mercado no segmento de crédito e 95% no débito.

Paulo Sant’Ana,  gaúcho  e jornalista , dentro de um oligopólio da comunicação, já em 1993 denunciava :“País do cartel. Tudo está cartelizado, o leite, o pão, o cigarro, a cerveja, o remédio, ai de quem ferir os preços uniformes quando os produtores são múltiplos; quando não o são, pobres dos que se sentem impotentes para enfrentar os monopólios. E os agentes desta verdadeira exploração que são os preços únicos só falam em liberdade mas só pensam em dinheiro…. Que economia de mercado é esta? Que país é este? Mas será que não estão vendo que isto tudo vai ter que explodir?”

O cartel do cimento já tem décadas. Investigação do Ministério da Justiça (Secretaria de Direito Econômico, Advogacia-Geral da União e Polícia Federal) demonstrou tentáculos do acordo entre Votorantin, Camargo Corrêa, Cimpor, Lafarge, Holcim, Itabira, Soelcom, Itambé, etc. www.crimesdocolarinhobranco.adv.br/livro

O mercado para os cartões de crédito ficou tão grande e a oferta tão concentrada que o governo vai fazer uma ofensiva para desmontar o oligopólio existente, detectado por amplo diagnóstico do setor, feito pelo Banco Central (BC), Secretaria de Direito Econômico (SDE) e Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE).

“Com lucratividade muito acima da média praticada na economia brasileira, o ganho do setor de cartões de crédito supera o do sistema financeiro. Em sua ofensiva contra o que considera oligopólio no mercado de cartões de crédito, o governo tentará convencer os acionistas de Visanet e Redecard a que eles próprios tomem a iniciativa de se desfazer de dois dos três negócios que controlam no mercado. Se a estratégia não funcionar, a Secretaria de Direito Econômico deverá denunciar, por prática monopolista, os contratos de exclusividade. Visanet e Redecard são credenciadores exclusivos no país das bandeiras Visa e Mastercard, respectivamente. Hoje, as empresas de cartão de crédito controlam todo o processo: credenciamento, fornecimento de terminais de pagamento, captura e processamento de transações, encaminhamento de pedido de autorização e compensação e liquidação”. Valor Econômico.

O senador Adelmir Santana autor de projetos na área de meios de pagamento e também analista de mercado acredita que o executivo vai encampar a tarefa de regulamentar a área. “O setor precisa sofrer uma intervenção do Estado. O mercado de cartões sempre foi auto-regulado, o que favoreceu a existência de taxas excessivas e práticas monopolistas, cuja conta, em última instância, quem paga é o consumidor. Por isso, está carecendo de um marco regulatório que abranja as relações dos cartões com consumidores e empresas comerciais”.

Ganhos exorbitantes ou controles totais do mercado são menos gritantes do que a estratégia que privilegia a maximização em detrimento da otimização. Ou, para falar a linguagem de Porter, dos clusters da Vantagem Competitiva, ignorar incrementos de produtividade, aportes de inovação e estímulo a criação de novas empresas, é no mínimo operar com metas apenas de curto prazo.

O monopólio a longo prazo evidencia menos estímulo ao crescimento do mercado e pode jogar contra o próprio monopolista. No caso brasileiro certamente  míope diante de tanto lucro fácil.

Estamos identificando um crescer de estabelecimentos que oferecem apenas um cartão, o que mesmo convergindo com o cartão do consumidor pode deixá-lo insatisfeito na medida em que prefira usar outro que tenha melhor data de pagamento.

Além disso, operações maiores como Shoppings Centers aderiram ao cartão monopolista, que obriga a posse de dinheiro caso não se possua aquele cartão.

São situações que começam a irritar o consumidor e gerar uma antipatia colocando as operadoras de cartão de crédito iguais aos demais serviços oligopolizados do país.

Dinheiro na mão é solução…    ou vendaval.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda, não sai mais de casa sem dinheiro no bolso e escreve às quartas-feiras no Blog do Milton Jung