Por Maria Lucia Solla
Ouça este texto na voz e sonorizado pela autora
Tem dia em que a gente está animado – movido pela alma – com o tanque cheio, sorriso atrevido, pele brilhando. Tudo muda quando a gente muda: pele olhar postura voz. Isso para falar só da parte de fora, a que dá para ver. Imagina lá dentro, as vias do sangue descongestionadas, o coração batendo ritmado, as glândulas que secretam hormônios fazendo o que têm que fazer. A receita dá certo, a gente fica palatável.
Agora, quando o bicho pega – e ele está sempre pronto para atacar na virada do minuto um para o minuto dois – o tanque vai a zero, as impurezas entopem os filtros, a pele murcha, os olhos caem, ficam opacos, o sorriso… que sorriso, tá doido? É o primeiro que se manda, e quando a gente puxa ele a força, vem deformado arrastado de má vontade. O intestino para de funcionar porque a gente está enfezado, a gente quer se esconder debaixo das cobertas e dormir para não viver, chora até os olhos perderem a forma, as sobrancelhas caírem e as olheiras beijarem o queixo, e mano olha para você e diz: para de chorar, não chora!
Tá doido?
São tantos os issos-e-aquilos que levam a uma e outra disposição, que nem sendo médico químico astrólogo físico acupunturista dietista psiquiatra vidente, daria para entender. Ninguém entende os próprios humores, vai entender os do outro? Se bem que olhar de fora dá uma perspectiva diferente, fora o fato de a pimenta arder em boca alheia.
Na fase animada basta o silêncio de alguém que se ama, que o clima muda, o coração aperta, a boca seca, e a respiração perde o compasso. Em baixa, basta um contato, e a gente logo abana o rabo. Digo isso com todo o respeito, porque observo a Valentina, e ela quase desparafusa o rabo quando está contente.
Assim, sem entender nada de nada, aposto no bom nível de equilíbrio que resulta da escolha consciente do que comer, de com quem conviver, do que fazer, do que ouvir e dizer, do que pensar, do que beber…
E você, aposta no quê?
Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.
Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung

