Natal, apenas de passagem!

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Véspera de Natal. Na terra que deu vida ao Papai Noel, o cenário parece cuidadosamente montado, como os cenários de teatro que encantam o público no palco, enquanto escondem a complexidade dos bastidores: as tábuas expostas, os cabos elétricos, os caixotes e as cordas de sustentação. Há luzes demais piscando nas janelas, casas decoradas com um leve exagero e vitrines disputando a atenção das pessoas, que dividem o olhar entre o espetáculo e a tela do celular – pela quantidade de sacolas nas mãos, parece terem tido sucesso. A neve, que chegou há alguns dias em Ridgefield, dá o toque final a essa composição quase cinematográfica, que está no limite do real e do fantasioso.

No meio desse ritual, esbarrei em uma notícia publicada em jornal português: a vida na Terra, dizem os cientistas, pode ser 1,5 bilhão de anos mais antiga do que imaginávamos. Um bilhão e meio! Enquanto nos ocupamos em ajeitar os enfeites e garantir que os presentes estejam no lugar certo sob a árvore, a história do planeta, com sua vastidão quase infinita, parece debochar da nossa pressa de encontrar sentido em tudo.

Parei para pensar – pensando bem, parei mesmo foi para escrever, porque a escrita me apazigua. Que lugar ocupamos nessa linha do tempo que parece não ter fim? Diante da memória impressa nas camadas da Terra, nossa existência soa breve, quase imperceptível. E, mesmo assim, corremos, planejamos e insistimos em deixar marcas, como se pudéssemos desafiar a própria transitoriedade.

Será que é isso? Estamos aqui só de passagem? Ou carregamos, na essência, o desejo de sermos lembrados, de atendermos as expectativas e não decepcionarmos os outros, apesar de sabermos que o planeta seguirá adiante, imutável às nossas tentativas de gravar nossa presença na sua imensidão?

O Natal, com sua carga simbólica, tende a ser o momento certo para refletir sobre essas perguntas. É quando tentamos, entre uma compra e outra, nos reconectar ao que realmente importa: relações, afeto, pertencimento. Porém, questiono se conseguimos enxergar além da superfície. Não falo das listas de metas ou dos presentes acumulados sob o pinheiro, mas daquilo que nos amarra à própria Terra — algo que nos precede e também nos sucederá.

Vivemos em busca de algo que nem sempre conseguimos definir. Talvez seja isso que nos faz humanos: a necessidade de criar, imaginar, deixar rastros, mesmo cientes de que somos passageiros num trem que nunca estaciona. E, ainda assim, cada um de nós carrega um fragmento da história do universo.

Talvez o sentido não esteja em brigar contra o tempo, mas em aprender a andar ao seu lado. Reconhecer nossa finitude não como derrota, mas como chance de aproveitar cada passo. Aqui e agora, sobre um planeta que é ao mesmo tempo tão permanente e tão indiferente às nossas pressões.

E, já que estou só de passagem, resolvi deixar no bagageiro minhas implicâncias com os exageros natalinos e aproveitar o que há de melhor nesse momento: os abraços sinceros, as risadas que não cabem em embalagens e aquele irresistível cheiro de comida que parece aquecer até a alma. Afinal, a viagem é curta, mas ainda pode ser cheia de bons encontros.

Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: um jeito de olhar para o Natal

Decoração natalina na av. Paulista (Foto: Luis F. Gallo)

“Será que a troca de presentes, o amigo secreto, ocultam as relações de amor, de integração humana, de carinho que são o sentimento mais poderoso nessa época do ano?”

Jaime Troiano

O Natal é mais do que uma oportunidade de consumo; ele é um momento de encontro, afeto e tradição. Essa foi a mensagem central do comentário de Jaime Troiano e Cecília Russo no quadro Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, no Jornal da CBN. A dupla destacou que, apesar da força comercial da data, as marcas têm a responsabilidade de ir além da lógica mercadológica para resgatar os valores humanos e sociais desse período tão simbólico.

Troiano refletiu sobre o tom promocional das campanhas natalinas e o impacto emocional que elas podem gerar: “O que eu, como consumidor, gostaria de ver e ouvir neste Natal é um tom de voz muito menos promocional, muito menos agressivo e muito mais humano.” Ele apontou que a troca de presentes e as relações afetivas podem coexistir, mas o foco deveria estar nos laços que fortalecem a sociedade.

Cecília Russo complementou a discussão ao destacar um movimento crescente entre famílias, que buscam reduzir o consumo em nome de causas mais significativas: “Ano que vem, as pessoas vão se lembrar muito mais do conteúdo humano que as mensagens de Natal das marcas trouxeram do que apenas dos presentes.” Ela também ressaltou o poder dos jingles natalinos como símbolos de uma comunicação autêntica e emocional.

A marca do Sua Marca

A principal marca do comentário foi o convite para que empresas sejam mais humanas e empáticas em suas mensagens de Natal. A autenticidade, como ressaltado por Cecília, é o elemento que fará as marcas permanecerem na memória dos consumidores, enquanto os produtos serão apenas souvenirs de um momento mais significativo.

Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso

O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso vai ao ar aos sábados, logo após às 7h50 da manhã, no Jornal da CBN. A apresentação é de Jaime Troiano e Cecília Russo.

Dezembrite: o peso emocional das festas de fim de ano

Por Juliana Leonel

@profa.julianaleonel

Dezembro é, para muitas pessoas, o mês mais aguardado do ano: celebrações, reencontros e descanso marcam a época. No entanto, para quem enfrenta transtornos mentais, este período pode ser marcado pela intensificação das dificuldades emocionais e aumento do estresse. 

O fim do ano evidencia seus problemas de relacionamento, desamparo familiar e negligência, especialmente em momentos de confraternização. O impacto emocional provocado pela pressão social e pela expectativa de comemoração agrava o quadro psicológico, resultando em desequilíbrios emocionais significativos.

De acordo com um estudo da National Alliance on Mental Illness (NAMI), entre 24% e 40% das pessoas com transtornos mentais relatam uma piora nos sintomas durante o fim do ano.


São comuns, entre aqueles que vivenciam dificuldades emocionais nesta época, frases como:


“A vida está sem cor, como comemorar?”
“Fui abandonado pela minha família…”
“As pessoas se afastaram quando souberam do meu transtorno…”
“Eles não me querem por perto, dizem que eu estrago as festas…”
“Ainda tenho tantas demandas a cumprir…”

Nesse contexto, os ambulatórios de saúde mental intensificam seus esforços preventivos, considerando o alto índice de piora nos quadros psicológicos e o aumento dos casos de suicídio nesse período. Sentimentos de medo, culpa, ressentimento, ansiedade e depressão podem se tornar mais intensos, transformando dezembro em uma fase de sofrimento emocional.

Outro fator agravante é o balanço anual de realizações e planos para o futuro. Frustrações por metas não atingidas, comparações entre progresso e estagnação, e a pressão por novos objetivos e cobranças são grandes gatilhos de ansiedade. A cobrança por mudanças imediatas, especialmente após um ano repleto de desafios, gera insegurança e medo.

Algumas práticas são indispensáveis para proteger o bem-estar psicológico:

  1. Evite o abuso de bebidas alcoólicas e substâncias – Elas podem agravar o quadro emocional e aumentar a sensação de vulnerabilidade.
  2. Controle o excesso de consumo (alimentar, financeiro, etc.) – A pressão para “consumir mais” pode gerar frustração e estresse.
  3. Fique atento ao isolamento social e aos sinais de tristeza, solidão ou desesperança – O afastamento das pessoas pode aumentar a sensação de desconexão.
  4. Estabeleça metas realistas e valorize pequenas conquistas – Evite criar expectativas irreais e pressionar-se de forma exagerada.
  5. Converse se estiver triste ou ansioso – Falar sobre seus sentimentos ajuda a aliviar a tensão emocional.
  6. Pratique a empatia consigo e com os outros – Lembre-se de que todos têm suas batalhas; a compreensão mútua é um importante alicerce emocional.
  7. Acolha quem está em sofrimento ou luto – Se souber de alguém enfrentando uma doença ou perda, ofereça apoio e presença.

Dezembrite pode, sim, ser uma fase desafiadora. No entanto, com atenção, apoio adequado e práticas conscientes, é possível atravessar este período com mais leveza e menos desgaste emocional. Reconhecer as próprias necessidades e as dos outros torna-se essencial para que todos encontrem um espaço de acolhimento e  compreensão.

Juliana Leonel, psicóloga pela Universidade Paulista, mestre em Psiquiatria e Psicologia Médica pela Universidade Federal de São Paulo e professora universitária em tempo integral. Escreve a convite do Blog do Mílton Jung

Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: as estratégias vencedoras das marcas no Natal

Foto de George Dolgikh no Pexels

Em uma época onde o espírito natalino inunda os corações, algumas marcas se destacam pela sua habilidade em se associar com a prática de presentear. No quadro “Sua Marca Vai Ser Um Sucesso”, da rádio CBN, Jaime Troiano e Cecília Russo exploraram este fenômeno.

O Boticário, conhecida por suas fragrâncias e produtos de beleza, emergiu como uma referência no gênero. A marca, que começou em um aeroporto de Curitiba em 1979, capturou a atenção dos viajantes que buscavam presentes de última hora. Sua forte associação com o ato de presentear é evidenciada não apenas por seus produtos, mas também pela maneira como são apresentados – kits e embalagens cuidadosamente projetados.

Outro exemplo citado é a Imaginarium, conhecida por seus objetos inusitados e únicos, tornando-se um ponto de referência para presentes personalizados. A Granado também foi mencionada, com suas lojas convidativas e produtos como sabonetes líquidos e cremes, ideais para presentes.

No universo dos chocolates, marcas como Kopenhagen, Lindt e Cacau Show foram destacadas. Cada uma, dentro de seu espaço de posicionamento, consegue evocar a doçura e alegria associadas ao ato de presentear. A Cacau Show, particularmente, se sobressai devido à liderança inspiradora de Alexandre Costa, conectando ainda mais a marca com o conceito de relações interpessoais.

Havaianas, outra marca mencionada, é vista como um presente ideal tanto no Brasil quanto no exterior. E no mundo literário, livrarias como Livraria da Vila e Livraria da Travessa em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente, emergem como lugares perfeitos para encontrar um presente significativo.

Essas marcas, com suas estratégias e associações específicas, conseguiram ocupar um espaço especial no imaginário das festas de fim de ano, tornando-se sinônimos de presentes que trazem alegria e satisfação. É uma lição valiosa de marketing: entender e alinhar-se com as emoções e necessidades do consumidor pode transformar uma marca em um símbolo de celebração e afeição.

Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso

Todo sábado, você ouve um novo episódio do Sua Marca Vai Ser Um Sucesso apresentado por Jaime Troiano e Cecília Russo. O quadro vai ao ar às 7h50 da manhã, no Jornal da CBN. A sonorização é do Paschoal Junior:

Conte Sua História de São Paulo: o Natal em que nasci

Antonio Dionísio

Ouvinte da CBN

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Sou paulista e paulistano. Nasci na noite de Natal, no bairro da Consolação. Eram 25 de dezembro de 1963. Sou filho de migrantes pernambucanos. Meu pai, Antonino Dionísio Marques, de Vitória de Santo Antão, terra da Pitu, uma das mais conhecidas cachaças do Brasil. Minha mãe, Maria do Carmo. Natural de Correntes, na época distrito de Garanhuns.

Papai era era alfaiate e foi para São Paulo, em 1957, após trabalhar com Seu Bruno Perrelli, no Recife. Na capital paulistana, acompanhou a agitação política no fim dos anos de 1950 e início de 1960. 

Ele assistiu à partida inaugural do Estádio do Morumbi. Além do fato de ter acompanhado a construção do estádio, decidiu ver o jogo de estreia porque era torcedor ferrenho do rubro-negro Sport Recife. Não que seu time estivesse em campo, mas o anfitrião São Paulo receberia o Sporting de Lisboa, jogo que a equipe da casa venceu por 1 a 0, com gol de Peixinho.  Foi o que bastou para que Seu Antonino se transformasse em torcedor do tricolor paulista. Falava com entusiasmo de tudo que presenciou naquele dia.

Após os eventos de 31 de março de 1964 e se sentindo inseguro, enviou  para o Recife, sua esposa, minha mãe, e eu, no fim de abril. Ele e o irmão, João Dionísio, deixaram São Paulo, no mês de Sant’Ana, como o nordestino chama o mês de junho. 

Religiosamente, meu pai retornava à capital paulista para rever os amigos. Por várias vezes, eu o acompanhei. Ficávamos na casa de um cunhado dele que também era migrante e morava na rua Cuiabá, número 96, bairro da Mooca. Chegávamos a ficar até 20 dias.

Ao me formar no ensino superior, fiz um estágio, para aprimorar os conhecimentos em voleibol, no Esporte Clube Banespa e morei um tempo no bairro de Santo Amaro, na zona Sul. Quando a grana permitia, visitava o centro da cida e almoçava pastel com caldo de cana, no Mercado Público. 

Hoje, viajo menos a São Paulo, devido os afazeres. Vou eventualmente, a cada dois, três anos. Sempre que vou me emociono andando a pé pelo centro. Assim admiro melhor suas ruas, monumentos, parques, museus, exposições e tudo de bom que essa megalópole oferece.

Por restrições financeiras, faz uns seis anos que não saboreio aquele caldo de cana acompanhado de pastel, uma parada obrigatória sempre que assistia a um jogo da Taça São Paulo de Futebol Junior.

Por uma dessas coincidências que o destino nos apronta, meu pai morreu na manhã de um 25 de dezembro, quando eu estava completando 43 anos. Preparava um churrasco para comemorar meu aniversário e havia convidado seus parentes de Vitória de Santo Antão e os da minha mãe, da cidade de Correntes. A presença deles naquela data, ao menos serviu para que todos pudessem prestar uma homenagem ao Seu Antonino que, assim, como eu, adorava a cidade de São Paulo.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Antonio Dionísio é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Claudio Antonio. Seja você também uma personagem da nossa cidade. Escreva seu texto agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos visite o meu blog miltonjung.com.br ou ouça o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: nossa árvore de Natal

José Simões Neto 

Ouvinte da CBN


Nessa pandemia seguimos com o isolamento, consciente de estarmos preservando os demais e a nós mesmos e realimentando esperanças de um mundo menos isolado. Convivência familiar limitada e até impedida é remediada por vídeos chamadas. Nesse contexto, minha filha, Marília, casada com Daniel, e meus netinhos Oliver e Nina, ficaram a uma distância geográfica e sanitária impossível de vencer. Moram na Áustria, na cidade de Bregenz. Tanto eu como demais familiares acumulamos saudades sem fim.


Para engajar as crianças, a  Marília criou uma rotina dentro da tradição católica, forte na Áustria, de seguir as quatro semanas que precedem o Natal, celebrando o Advento. Atividade que registra em vídeos compartilhados com toda a família.


A cada dia meus netos de três a cinco anos buscam um dos envelopes pendendo de uma planta da sala, onde encontram a foto de um de nós  — tios, tias, primos e avós —- quando éramos crianças. Em raras ocasiões os pequenos identificam de pronto o personagem do dia. As dicas para identificá-los ficam escondidas pela casa, exigindo uma caça ao tesouro, coordenada pelos pais. Uma dica leva a outra dica. Ao final, descobrem uma cartinha escrita para eles pelo personagem do dia, com um foto recente. 


A árvore de Natal, então, ganha mais dois adereços: a foto de uma criança que fomos e a foto do que somos, amenizando a saudade, celebrando o advento e realimentando diariamente a esperanças de nos encontrarmos em breve.


José Simões Neto é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Claudio Antonio. Participe dos festejos de 468 anos da nossa cidade: escreva para  contesuahistoria@cbn.com.br com o tema “em cantos de São Paulo”. E ouça seu texto em uma ediçao especial do Conte Sua História de São Paulo

Conte Sua História de São Paulo: o Natal das Helôs

Talita Ribeiro

Ouvinte da CBN

Meus avós tiveram quatro filhas – as “Quatro Helôs” – cuja descendência já soma 112 integrantes, entre nativos e agregados. Reunir a família toda para o Natal, como fazíamos há 25 anos, agora nem pensar. Mas que eu pensava, pensava! 


Ainda mais neste ano, 2020, em que nem aos mais próximos tivemos acesso presencial. Desde março, eu precisei me reinventar, como muitos, e criar grupos de Whatsapp para dar aulas de bordado às minhas alunas, através de vídeos caseiros, fotos, textos, áudios e até ligações por vídeo pra cada uma. Que experiência! 


De repente a ideia: por que não formar um grande grupo de Whatsapp – 75 adultos – e preparar uma celebração de Natal com dia e hora marcados, todos juntos? Convoquei um primo de cada ramo “Helô”, para conseguirmos todos os nomes, idades e números de Whatsapp. Também cada primo se responsabilizou por conseguir dois ou três depoimentos por vídeo sobre como foi a vida na pandemia – temos queridos na África do Sul, Estados Unidos, Alto Paraíso, Cunha, Vinhedo, Ubatuba, Taubaté…. Entre ideia e execução, apenas oito dias! 


Criei um grupo de Whatsapp só meu, e lá fui acomodando as postagens, na ordem em que seriam apresentadas: fotos dos nossos avós, das “Quatro Helôs”, dos netos, dos bisnetos e dos trinetos. Depois, uma música de Natal muito popular nos nossos antigos Natais – com a letra para cada um cantar na sua casa e se imaginar cantando em grupo! Depois, o depoimento da prima da África do Sul, cujas crianças nem falam português – mas que apareceram no vídeo usando um aplicativo que as deixou com caras de gatinhos, focinho, orelhas… Uma graça! 


E assim fui mesclando as postagens, até chegar no ápice, que foi uma oração de esperança para o ano de 2021, seguida de um PowerPoint com fotos de absolutamente todos os integrantes da família, por ramo, tendo como fundo uma lindíssima música de Natal que dizia “This is the story”… A história de cada um… E tudo isso aconteceu no dia 19 de dezembro, às cinco da tarde. Por quase uma hora e meia, em que eu ia encaminhando postagem por postagem; aguardando o tempo necessário para que todos lessem, vissem ou ouvissem. Terminada a celebração, todos puderam escrever seus votos de Natal, postar selfies, fotos da pequena família, da infância e… Meu Deus, que festa! 


Estávamos todos dentro de uma grande sala virtual, nos curtindo, nos alegrando. Uma tia de 88 anos – a Helô caçula – chegou a dizer que foi o Natal mais emocionante da vida. No 25 de dezembro, reativamos o grupo e o deixamos aberto a tarde toda, para que todos compartilhassem suas lembranças e fotos dos Natais de cada pequena família! Desta enorme família das Helôs!


Talita Ribeiro é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Claudio Antonio. Participe dos festejos de 468 anos da nossa cidade: escreva para contesuahistoria@cbn.com.br com o tema “em cantos de São Paulo”. E ouça seu texto em uma ediçao especial do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: passeio de Natal

Neusa Stranghette

Ouvinte da CBN

Foto do ouvinte Luis F Gallo

Dezembro de 2005 ou 2006, quando ainda havia passeios para visitar a decoração de Natal do Banco Real, na Av. Paulista. Uma noite, em cinco amigos, nos encontramos na Praça da República e embarcamos no ônibus que fazia esse passeio. Nós e mais metade da população de São Paulo. Muito mais adultos do que crianças!

Se tivéssemos ido a pé teria sido mais rápido, o trânsito não andava. Mas chegamos e do lado de fora já estava lindo, encaramos a fila com disposição e naquele vai-e-vem, até encontramos mais três amigas vindas de São Caetano. Realmente, às vezes São Paulo é uma província.

Finalmente entramos e voltamos aos tempos de criança, embevecidas com Árvore de Natal, gnomos, renas, Papai Noel, as músicas de nossa infância que todos sabiam as letras. Que delícia!

A visita terminou, comemos um pacote de pipocas e pegamos o ônibus de volta para a Praça da República, onde chegamos mais ou menos 11 da noite. E agora? Tínhamos ido separados e estávamos em cinco, quase para o mesmo destino: eu, para Santa Cecília e quatro para Higienópolis. Táxi nenhum vai querer levar…

Mas é perto, vamos a pé, caminhar faz bem! 

Noite quente, bonita, pessoas passeando, tomando seu chopp nos barzinhos … pegamos a Marques de Itu, Amaral Gurgel, Alameda Barros onde eu fiquei, e os outros quatro seguiram para a Dr. Veiga Filho, felizes e encantados!!

São cerca de 15 anos e ainda podíamos andar a pé pela noite de São Paulo, sem nenhuma preocupação nem importunação. 15 anos para dizermos aquela sonora frase: que bons tempos! 15 anos e dos cinco, Norma e Janete já não estão entre nós. Pedro e Manoel mudaram para uma cidadezinha no interior de Minas (loooongeee); e só eu ainda estou aqui em Sampa para dizer que saudade para os tempos não tão antigos e para os amigos que se foram! 

Que saudade!!! 

Neusa Stranghette é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Claudio Antonio. Participe dos festejos de 468 anos da nossa cidade: escreva para contesuahistoria@cbn.com.br com o tema “em cantos de São Paulo”. E ouça seu texto em uma ediçao especial do Conte Sua História de São Paulo

Conte Sua História de São Paulo: o Natal com os primos da cidade

Por Marcos Horta

Ouvinte da CBN

 

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Minha mãe e seus dez irmãos são de Juiz de Fora, Minas Gerais. Aos poucos, cinco deles vieram para São Paulo em busca de um futuro melhor. Ela permaneceu lá e quando nasci, dois já haviam falecido. Assim, em Juiz de Fora ficaram ela e mais dois. Um deles solteiro e um pouco afastado da família; outro com esposa e dois filhos, com os quais convivíamos intensamente. Meu pai faleceu quando eu tinha três anos; e depois de um tempo minha mãe, que já sentia muita falta dos outros irmãos e irmãs, começou a passar os natais em São Paulo. 

Assim, a cada ano, víamos a família crescer. Uma irmã e um irmão tiveram cinco filhos cada um e outro teve duas filhas. A esposa de outro irmão falecido, em Juiz de Fora, veio para São Paulo também, com mais três filhos. Isso significava, a partir de um determinado ano, encontros entre 16 primos com idades muito próximas. Somando-se a eles três casais de tios, pais, mais duas tias solteiras —- e sempre outros primos e primas dos meus primos e seus pais —  que apareciam durante a noite de Natal, nunca tínhamos menos de 30 pessoas reunidas na casa de uma das irmãs da minha mãe.

Ela morava em um vilinha de cinco sobrados, travessa da rua Leandro Dupret, na Vila Clementino. Por esse momento eu esperava a eternidade de um ano, acrescida de mais alguns anos pela duração de oito horas e meia da viagem de ônibus entre Juiz de Fora e São Paulo. Mas eu sabia que valia a pena desde a chegada na rodoviária Júlio Prestes e seu telhado de acrílico colorido, passando pelo caminho para a casa da tia onde seria o Natal. Eu encantado com as luzes da cidade, até quando os tios nos levavam à rodoviária e lá acenavam pra nossa partida. 

Mas o Natal! Ah o Natal! 

Casa devidamente decorada com uma árvore enorme e linda esperando pelos presentes que seriam entregues pelo Papai Noel. Numa estratégia muito bem montada, os tios chegavam com sacolas cujos conteúdos nem os primos que vinham com eles sabiam. Depois que todos estavam lá, uma das tias ficava com as crianças, que subiam para os quartos para dormir. Os outros saíam para  a Missa do Galo, na época à meia-noite. Assim, o Papai Noel poderia entrar. Aceitávamos ir para cama. Dormir, era difícil. Eram mais de 15 crianças, cada uma com sua ansiedade, fora as risadinhas e cochichos. 

Quando os parentes voltavam da missa, éramos chamados e, ao descer as escadas, os olhinhos de cada um iluminavam a sala de tanto brilho diante da árvore rodeada de presentes. Antes de abri-los, tínhamos de cantar Noite Feliz e participar da ceia —- o que durava duas eternidades. Com tudo isso, fica fácil imaginar a alegria e o clima de união que pairava no ar inebriado de amor e embalado pelo som do violão e das músicas cantadas por tios e primos.

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Marcos Horta é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva suas lembranças e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite meu blog miltonjung.com.br e assine o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

O Natal no Morro da TV

Vista de Porto Alegre no Morro da TV (arquivo)

A história de Natal que vou contar, o caro e raro leitor de boa memória deste blog haverá de lembrar. Em um e outro texto, já rabisquei algumas reminiscências natalinas em família lá na minha casa de Porto Alegre —- trato-a como minha porque no bairro do Menino Deus morei desde os primeiros anos de vida até o dia em que embarquei para São Paulo e mesmo que isso tenha ocorrido no século passado, e algumas mudanças tenha sofrido, as paredes, o piso, o telhado ainda estão tomados por minhas memória afetivas.

Tão tradicional quanto a Missa do Galo à meia-noite era o ritual em família a espera do Papai Noel, no dia 24 de Dezembro. Enquanto fomos crianças, mantivemos a cerimônia que se iniciava no meio da tarde com um rigoroso banho de chuveiro sob a supervisão da mãe: “esfrega atrás da orelha”, “ensaboa a cabeça”, “não esquece de secar bem os dedos do pé”. Roupa nova e cabelos penteados, meu irmão, minha irmã e eu corríamos para o carro em que o pai nos levaria para passear. O destino sempre foi o mesmo: o Morro da TV, a poucos minutos de casa.

Por mais curta que fosse a viagem, a ansiedade nos acompanhava até o alto daquele morro. Nem tanto pelo belo visual que tínhamos disponível, com boa parte da orla do Guaíba no horizonte; ao fundo a chaminé do Gasômetro, ainda sem o restauro que lhe transformou em ponto turístico; e os prédios que marcavam a geografia do centro da cidade. Sabíamos que a saidinha era estratégica. Seria em tempo suficiente para o Papai Noel chegar e deixar os presentes embaixo da árvore —- se ficássemos em casa haveria o risco de flagrarmos o bom velhinho e quebraríamos a magia que ainda inundava nossas mentes.

Naquela época, não éramos apenas nós que subíamos o Morro. Outras crianças podiam ser encontradas lá em cima, sempre acompanhadas de perto pelos pais. As mães … bem, as mães curiosamente não apareciam. Deviam ter o mesmo problema que a minha que alegava compromissos de última hora para não nos acompanhar no passeio: aprontar os pratos da ceia, era o mais comum; outras vezes era a necessidade de dar os últimos retoques na limpeza da casa. As mães realmente faziam muitas coisas. Tinham tantos afazeres que nunca percebiam a passagem do Papai Noel.  Ele entrava, deixada os presentes, dava no pé e elas juravam que não tinham sequer ouvido algum barulho: — Bah, Mãe! Ano que vem vê se presta atenção!

Assim que voltávamos, já era possível ver o colorido das luzinhas da árvore de Natal refletindo no vidro da porta.  Mal a mãe nos recebia, subíamos correndo a escada sem dar bola para o alerta do pai: cuidado para não cair. Cair? Nós nos jogávamos no chão para identificarmos os nossos nomes nas caixas de presente espalhadas entorno da árvore. Pelo tamanho e formato tentávamos descobrir o que havia dentro. O cheiro dos pratos no fogão e o som com as músicas natalinas gravadas em uma fita K-7 preenchiam o ambiente, enquanto desembrulhávamos os pacotes. Tão excitante quanto saber a surpresa que nos havia sido reservada, era ver o que os irmãos tinham recebido —- os da minha irmã mais velha nem podia tocar; os do meu irmão mais moço, eram nossos.

Hoje não tem mais o pai nem a mãe. Também não sou mais o guri de calça curta daquele tempo. O Morro da TV foi tomado por facções criminosas e as famílias não são bem-vindas. Nem de casa podemos sair, sob o risco da contaminação. A despeito de transformações e restrições, persisto na ideia de acreditar que o Natal se faz presente todo o ano para nos lembrar que podemos sempre renascer, reinventar nossos caminho, reforçar nossas amizades, rever nossos comportamentos e nos renovarmos diante de Deus.

 Feliz Natal!